Portas entra na campanha: país está “desequilibrado a favor das esquerdas radicais”

22-05-2019
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É como uma grande fotografia de família, daquelas que só se tiram no Natal ou, em contexto político, quando as eleições estão à porta: à entrada do mercado de Cascais, juntaram-se esta terça-feira os pesos pesados do CDS Paulo Portas e António Pires de Lima, bem como a líder Assunção Cristas, para cumprimentar os candidatos Nuno Melo e Pedro Mota Soares. Era o aquecimento para o mega jantar de campanha do CDS que pôs Cristas a dar uma aula de ideologia, Portas sobre Europa e Nuno Melo a ressuscitar fantasmas de Estaline a Thatcher, passando pelo de Ricardo Robles - tudo para 'malhar' na esquerda.

Portas discursou em segundo lugar, mas foi o seu regresso e a sua palestra sobre Europa (dada em 22 minutos, “estão a ver como as pessoas podem melhorar?”), com direito a recados nacionais, que teve o efeito de levantar a sala. Primeiro, um recado aos eleitores “não socialistas”: o país “padece de um desequilíbrio excessivo a favor das esquerdas mais radicais”, e “nunca a prosperidade se construiu com essas forças”. Estava dado o mote para a apresentação do CDS como força de direita moderada, uma moderação que deve ficar “à frente da demagogia” na Europa.

O combate "moderação e bom senso versus extremismos" acabou por ocupar boa parte do discurso, ou conjunto de “meditações” e “lições”, do ex-líder. Do “ADN dos conservadores”, lembrou Portas, faz parte “uma inata rejeição do caos e uma inclinação natural para a ordem”. E por isso mesmo não vale a pena procurar respostas simplistas para problemas complexos, nem fazer uso do politicamente correto para contrariar os populismos. Por um lado, reconheceu, os moderados têm culpa: abandonaram combates políticos sobre migrações, comércio livre ou globalização. Mas, por outro, uma certeza: “Ainda não vi no mundo um único governo populista competente”.

Os recados dispararam em vários sentidos - sobre o Brexit, considerou Portas que ali reside a prova de que “a democracia direta não é necessariamente a melhor”, porque há “respostas complexas que não cabem numa resposta de sim ou não”, e defendeu que os eurodeputados britânicos não deveriam ter direito a votar nas futuras presidências europeias; falou das migrações para lamentar a falta de memória de uma Europa pouco solidária; criticou a política feita nas redes sociais contra as "vanguardas que querem substituir as instituições ocidentais"; e ainda fez uma incursão pelo tema da regionalização, para rejeitar “réplicas e imitações” de outros países.

nuno botelho

Mas as várias voltas pelas lições de Portas acabaram por funcionar como um bumerangue: de volta a Portugal, de volta à política nacional. Porque agora “não faltam socialistas convertidos ao equilíbrio das finanças públicas”, porque “as cativações e os impostos são o novo nome da austeridade”, mas sobretudo porque defende que o Governo continua sem ver o que o CDS “já sabia”: “Quem não quer depender dos FMI da vida, dos seus acertos e erros, não endivida o país”. No final, desejos de sorte aos que vão este ano a eleições: “Que não vos falte a força e não vos falte a fé”. Um remate aplaudido de pé pela sala inteira: o regresso do ex-líder carismático soube bem.

Costa quer Conselho Europeu?

“Paulo, muito obrigada por te juntares a nós”. O agradecimento de Assunção Cristas ao homem que lhe passou a pasta da liderança deu lugar a uma aula de ciência política misturada com uma boa dose de otimismo, a que se juntou ainda uma crítica feroz a António Costa.

Primeiro, a ciência política: Cristas fez questão de situar o CDS, que “está onde sempre esteve”, mas, como isto é variável, convém localizar com precisão. O CDS de Cristas é o “do centro e da direita democrática, da tolerância, da moderação, que rejeita qualquer extremismo”, frisou, semanas depois de Nuno Melo ter provocado uma polémica ao não considerar o espanhol Vox um partido de extrema-direita. Com um lembrete sobre a linha liberal na economia do partido: “[O CDS] luta para que cada pessoa possa sonhar, liberta das amarras de um Estado que nos puxa para baixo com impostos que nos estrangulam”. Mais: “Sabe que é preciso aumentar o bolo da economia para depois melhor distribuir, e isso faz-se baixando impostos. Respeita o setor social e o privado”. E, com isso, estava explicado o CDS.

Depois, o otimismo: diz Cristas que “quem quer deitar o CDS abaixo” não conseguiu, e que o partido, como sempre, prefere as sondagens de rua - ou o calor que sente nas pessoas quando as cumprimenta no terreno - aos estudos de opinião. Mas foi sobre o atual Governo que Cristas se mostrou menos do que otimista. Não teve pudor em assumir que estas eleições europeias são mesmo “a primeira volta das legislativas”: “Foi o repto lançado por António Costa”, responsável primeiro pela nacionalização destas eleições, “e não o rejeitamos”.

Por todos os motivos e mais alguns: porque “é um Governo mau”, que governa com base na família, que desperdiçou “quatro anos da melhor conjuntura europeia e internacional de sempre”, que carrega nos impostos e corta no investimento. Mas, sobretudo, porque “só tem um fim: a sua própria manutenção”. Da acusação ao Governo no geral para Costa no particular foi um passo, tendo Assunção Cristas verbalizado uma ideia que já paira, pelo menos na imprensa internacional, há alguns dias: a de que o primeiro-ministro estará interessado em candidatar-se à presidência do Conselho Europeu. “Os olhos de António Costa”, a quem aponta uma “ambição cega”, “já não estão aqui”. “O seu olhar está na presidência do Conselho Europeu”, acusou. “Vejam as notícias, olhem para o périplo que fez esta semana. Está a fazer uma verdadeira campanha à custa de todos nós. E para quê? Para não ter de reparar os estragos de quatro anos de governação adiada. Só lhe interessa a sua vida e carreira. António Costa não serve Portugal, serve-se de Portugal”.

A difícil tarefa de Nuno Melo

Nuno Melo ficou com a tarefa de discursar a seguir a Paulo Portas e antes de o jantar ser servido, o que, como se costuma dizer, é uma tarefa difícil mas alguém tem de a fazer. E fê-lo com os ataques mais fortes à esquerda, confirmando o objetivo eleitoral que tem fixado: ficar à frente do PCP e do BE, com quem surge taco a taco nas intenções de voto, nas eleições europeias. Para isso, ressuscitou nomes e casos polémicos em série.

nuno botelho

O candidato foi lembrar a União Soviética e as práticas de apagar antigos líderes das fotografias para fazer comparações com os partidos de esquerda portugueses (o CDS tem passado o dia a divulgar a fotografia de um cartaz do Bloco de Esquerda colado por cima de outro, do CDS). Outro sinal de propaganda, insistiu, foi a falsa acusação que Marisa Matias lhe fez no debate desta segunda-feira, ao dizer que Melo votou contra a diretiva europeia para reduzir os plásticos. “Há velhos tiques estalinistas que nunca se esquecem”, concluiu o candidato.

O discurso seguiu por aí: recordou a polémica da “bosta da bófia”, o caso Robles, a esquerda que “continua no PREC” enquanto o CDS “tem orgulho no 25 de abril, troçou de Francisco Louçã por apoiar o Bloco “desde a sofisticada Sardenha”. Feitas as contas ao que correu mal na governação socialista com “os votos da esquerda”, repetiu que o partido não é nem será bengala do PS, lembrando a frase de Portas em 2015, reagindo à formação da geringonça: “Quando correr mal, não nos venham pedir ajuda”. E outra de Thatcher: “O socialismo é muito bom até se esgotar o dinheiro dos outros”. Com recado final para o PSD: “Nós não nos diluímos no cinzento do centrão”.

Acabado o discurso do candidato, chegou finalmente a altura de servir o vinho e o bacalhau. A campanha segue dentro de momentos, agora reforçada pelos apoios de peso que ficaram para a fotografia de família do CDS.

É como uma grande fotografia de família, daquelas que só se tiram no Natal ou, em contexto político, quando as eleições estão à porta: à entrada do mercado de Cascais, juntaram-se esta terça-feira os pesos pesados do CDS Paulo Portas e António Pires de Lima, bem como a líder Assunção Cristas, para cumprimentar os candidatos Nuno Melo e Pedro Mota Soares. Era o aquecimento para o mega jantar de campanha do CDS que pôs Cristas a dar uma aula de ideologia, Portas sobre Europa e Nuno Melo a ressuscitar fantasmas de Estaline a Thatcher, passando pelo de Ricardo Robles - tudo para 'malhar' na esquerda.

Portas discursou em segundo lugar, mas foi o seu regresso e a sua palestra sobre Europa (dada em 22 minutos, “estão a ver como as pessoas podem melhorar?”), com direito a recados nacionais, que teve o efeito de levantar a sala. Primeiro, um recado aos eleitores “não socialistas”: o país “padece de um desequilíbrio excessivo a favor das esquerdas mais radicais”, e “nunca a prosperidade se construiu com essas forças”. Estava dado o mote para a apresentação do CDS como força de direita moderada, uma moderação que deve ficar “à frente da demagogia” na Europa.

O combate "moderação e bom senso versus extremismos" acabou por ocupar boa parte do discurso, ou conjunto de “meditações” e “lições”, do ex-líder. Do “ADN dos conservadores”, lembrou Portas, faz parte “uma inata rejeição do caos e uma inclinação natural para a ordem”. E por isso mesmo não vale a pena procurar respostas simplistas para problemas complexos, nem fazer uso do politicamente correto para contrariar os populismos. Por um lado, reconheceu, os moderados têm culpa: abandonaram combates políticos sobre migrações, comércio livre ou globalização. Mas, por outro, uma certeza: “Ainda não vi no mundo um único governo populista competente”.

Os recados dispararam em vários sentidos - sobre o Brexit, considerou Portas que ali reside a prova de que “a democracia direta não é necessariamente a melhor”, porque há “respostas complexas que não cabem numa resposta de sim ou não”, e defendeu que os eurodeputados britânicos não deveriam ter direito a votar nas futuras presidências europeias; falou das migrações para lamentar a falta de memória de uma Europa pouco solidária; criticou a política feita nas redes sociais contra as "vanguardas que querem substituir as instituições ocidentais"; e ainda fez uma incursão pelo tema da regionalização, para rejeitar “réplicas e imitações” de outros países.

nuno botelho

Mas as várias voltas pelas lições de Portas acabaram por funcionar como um bumerangue: de volta a Portugal, de volta à política nacional. Porque agora “não faltam socialistas convertidos ao equilíbrio das finanças públicas”, porque “as cativações e os impostos são o novo nome da austeridade”, mas sobretudo porque defende que o Governo continua sem ver o que o CDS “já sabia”: “Quem não quer depender dos FMI da vida, dos seus acertos e erros, não endivida o país”. No final, desejos de sorte aos que vão este ano a eleições: “Que não vos falte a força e não vos falte a fé”. Um remate aplaudido de pé pela sala inteira: o regresso do ex-líder carismático soube bem.

Costa quer Conselho Europeu?

“Paulo, muito obrigada por te juntares a nós”. O agradecimento de Assunção Cristas ao homem que lhe passou a pasta da liderança deu lugar a uma aula de ciência política misturada com uma boa dose de otimismo, a que se juntou ainda uma crítica feroz a António Costa.

Primeiro, a ciência política: Cristas fez questão de situar o CDS, que “está onde sempre esteve”, mas, como isto é variável, convém localizar com precisão. O CDS de Cristas é o “do centro e da direita democrática, da tolerância, da moderação, que rejeita qualquer extremismo”, frisou, semanas depois de Nuno Melo ter provocado uma polémica ao não considerar o espanhol Vox um partido de extrema-direita. Com um lembrete sobre a linha liberal na economia do partido: “[O CDS] luta para que cada pessoa possa sonhar, liberta das amarras de um Estado que nos puxa para baixo com impostos que nos estrangulam”. Mais: “Sabe que é preciso aumentar o bolo da economia para depois melhor distribuir, e isso faz-se baixando impostos. Respeita o setor social e o privado”. E, com isso, estava explicado o CDS.

Depois, o otimismo: diz Cristas que “quem quer deitar o CDS abaixo” não conseguiu, e que o partido, como sempre, prefere as sondagens de rua - ou o calor que sente nas pessoas quando as cumprimenta no terreno - aos estudos de opinião. Mas foi sobre o atual Governo que Cristas se mostrou menos do que otimista. Não teve pudor em assumir que estas eleições europeias são mesmo “a primeira volta das legislativas”: “Foi o repto lançado por António Costa”, responsável primeiro pela nacionalização destas eleições, “e não o rejeitamos”.

Por todos os motivos e mais alguns: porque “é um Governo mau”, que governa com base na família, que desperdiçou “quatro anos da melhor conjuntura europeia e internacional de sempre”, que carrega nos impostos e corta no investimento. Mas, sobretudo, porque “só tem um fim: a sua própria manutenção”. Da acusação ao Governo no geral para Costa no particular foi um passo, tendo Assunção Cristas verbalizado uma ideia que já paira, pelo menos na imprensa internacional, há alguns dias: a de que o primeiro-ministro estará interessado em candidatar-se à presidência do Conselho Europeu. “Os olhos de António Costa”, a quem aponta uma “ambição cega”, “já não estão aqui”. “O seu olhar está na presidência do Conselho Europeu”, acusou. “Vejam as notícias, olhem para o périplo que fez esta semana. Está a fazer uma verdadeira campanha à custa de todos nós. E para quê? Para não ter de reparar os estragos de quatro anos de governação adiada. Só lhe interessa a sua vida e carreira. António Costa não serve Portugal, serve-se de Portugal”.

A difícil tarefa de Nuno Melo

Nuno Melo ficou com a tarefa de discursar a seguir a Paulo Portas e antes de o jantar ser servido, o que, como se costuma dizer, é uma tarefa difícil mas alguém tem de a fazer. E fê-lo com os ataques mais fortes à esquerda, confirmando o objetivo eleitoral que tem fixado: ficar à frente do PCP e do BE, com quem surge taco a taco nas intenções de voto, nas eleições europeias. Para isso, ressuscitou nomes e casos polémicos em série.

nuno botelho

O candidato foi lembrar a União Soviética e as práticas de apagar antigos líderes das fotografias para fazer comparações com os partidos de esquerda portugueses (o CDS tem passado o dia a divulgar a fotografia de um cartaz do Bloco de Esquerda colado por cima de outro, do CDS). Outro sinal de propaganda, insistiu, foi a falsa acusação que Marisa Matias lhe fez no debate desta segunda-feira, ao dizer que Melo votou contra a diretiva europeia para reduzir os plásticos. “Há velhos tiques estalinistas que nunca se esquecem”, concluiu o candidato.

O discurso seguiu por aí: recordou a polémica da “bosta da bófia”, o caso Robles, a esquerda que “continua no PREC” enquanto o CDS “tem orgulho no 25 de abril, troçou de Francisco Louçã por apoiar o Bloco “desde a sofisticada Sardenha”. Feitas as contas ao que correu mal na governação socialista com “os votos da esquerda”, repetiu que o partido não é nem será bengala do PS, lembrando a frase de Portas em 2015, reagindo à formação da geringonça: “Quando correr mal, não nos venham pedir ajuda”. E outra de Thatcher: “O socialismo é muito bom até se esgotar o dinheiro dos outros”. Com recado final para o PSD: “Nós não nos diluímos no cinzento do centrão”.

Acabado o discurso do candidato, chegou finalmente a altura de servir o vinho e o bacalhau. A campanha segue dentro de momentos, agora reforçada pelos apoios de peso que ficaram para a fotografia de família do CDS.

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