Listas de deputados provocam tensões no CDS e guerra com a 'jota'

05-05-2019
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A composição das listas de deputados fez deflagrar no CDS várias frentes de incêndio, que foram despontando desde quinta-feira, dia 5 (quando Assunção Cristas apresentou as suas escolhas para deputados em Conselho Nacional) e não dão sinais de parar. Apesar de a líder ter motivos para estar satisfeita - conseguiu conjugar vários dos seus objetivos, como colocar mulheres na linha da frente e incluir independentes nas listas - estruturas como as do Porto, Braga, Bragança ou Viana mostram desconforto. Mas não são os únicos focos de tensão: há distritais que entraram em clima de guerra civil ou deputados acusados de 'pára-quedismo'.

Os 'jotas' ficaram a ferver com a escolha de Sebastião Bugalho, o jovem de 23 anos, ex-jornalista, que Cristas escolheu para o sexto lugar da lista em Lisboa - e que é independente. Na JP, a escolha caiu muito mal: os militantes, que têm pedido repetidamente uma renovação da média de idades no grupo parlamentar, acreditam que os jovens escolhidos por Cristas deveriam pertencer à juventude do partido. No Facebook, há posts que se referem ao talento desnecessariamente "importado". E esta semana, numa reunião da JP-Lisboa, os militantes ameaçaram não fazer campanha na capital - o que poderia ser um rombo substancial em vésperas de eleições e mais uma prova de força do presidente da estrutura, Francisco 'Chicão' Rodrigues dos Santos, contra a direção.

O caso tomou novas proporções esta sexta-feira, uma vez que, perante o que fonte da direção da 'jota' descreve como uma "insurreição das bases", que se recusam a fazer o papel de "idiotas úteis", os dirigentes lisboetas da juventude do partido decidiram pedir uma reunião a Assunção Cristas, da qual fizeram depender o futuro das relações entre as duas organizações e a decisão de fazer campanha em Lisboa. Até porque, recordam os jovens, o seu representante na lista de Lisboa, que é o secretário-geral da JP, Fracisco Kreye, vai em décimo segundo lugar, bem atrás de Bugalho, pelo que interpretam a escolha como um "péssimo sinal" da preferência de Cristas pela "independência" em detrimento da "militância". Enquanto os mais novos apontam para o curto currículo de Bugalho e dizem ter opções de maior mérito dentro da JP, os candidatos a deputados mais velhos saúdam a escolha - já há quem se diga "sebastianista" e quem acuse os 'jotas' de se comportarem como uma "seita".

Guerra no Porto

Já se sabia que o Porto seria um dos casos mais complicados que Assunção Cristas teria em mãos, mas neste caso os problemas multiplicam-se até dentro da própria estrutura. Recuemos ao ano passado: Fernando Barbosa, atual presidente da distrital, concorreu contra Cecília Meireles, vice do partido, apresentando-se contra o candidato das bases, tendo como principal bandeira a escolha dos candidatos a deputados feita pelas estruturas locais. Com o confronto vencido, foi tempo de (tentar) pôr em prática essa prioridade... Mas Cecília acabou mesmo, como o Expresso já noticiara, por ser a cabeça de lista do CDS no Porto, relegando Barbosa para terceiro lugar (atrás de Chicão, que vai em segundo). Nem a direção do partido colocava outra hipótese, tendo a vice experiência e notoriedade a nível nacional.

O conflito não demorou a abrir feridas dentro da distrital: militantes do Porto começaram a duvidar das negociações que Barbosa teria feito com a presidente do partido, assegurando para si um lugar, até porque Cristas falou, no Conselho Nacional, no "acordo" a que chegou com o Porto - acordo esse que as fontes oficiais da distrital dizem não ter existido. "O presidente disse-me que não negociou [o lugar]", diz Fernando Peres, vice-presidente da estrutura portuense. "Isto nunca foi votado na comissão política da distrital. Nenhum dos nossos vices reuniu [com Cristas] ou sabe de acordo algum. Começo a ouvir muita coisa que me soa mal". Uma versão que é contestada por fonte oficial da direção ao Expresso: o lugar, assim como os restantes, foi mesmo conversado - e diretamente com o presidente da distrital.

O desentendimento com a direção, defende Fernando Peres, expõe um centralismo sistémico: "São mais os que falam deste problema a cada eleição". Até porque a distrital já estava irritada com o lugar que lhe foi destinado nas listas para as europeias: ficou com a nona posição, sendo que só as duas primeiras são consideradas elegíveis.

Críticas de pára-quedismo

Os ataques mais frequentes têm sido ao chamado 'pára-quedismo' - ou a prática de colocar deputados em distritos com os quais não têm ligação. Em Bragança, a escolha de Nuno Moreira, filho do histórico Adriano Moreira, como cabeça de lista provocou a demissão da líder da distrital, Carla Tavares. Na carta em que a ex-responsável anuncia a decisão, e a que o Expresso teve acesso, Tavares diz ter ficado com impressão, pela conversa que teve com Assunção Cristas, de que Moreira fazia parte da lista do distrito mas que não a encabeçaria, nem sequer teria interesse nisso. Por isso, garante ter ficado surpreendida com a decisão - e considera "desprezível" não ser um brigantino a liderar a lista, o que lhe traz "descrença e alguma desilusão pela noção de pequenez e de quão insignificantes são os transmontanos no panorama político nacional do CDS ou para as altas esferas do partido". A mesma fonte da direção desmente esta versão ao Expresso, assegurando que Cristas comunicou à dirigente local que Moreira lideraria os candidatos a Bragança.

De Coimbra chegou outra carta dirigida à presidente do partido, desta feita assinada por Miguel Mattos Chaves, presidente da concelhia de Figueira da Foz, para dar nota do "desagrado" e "incómodo" com a escolha de Rui Lopes da Silva, ex-jornalista e chefe de gabinete de Cristas, como cabeça de lista por Coimbra. Reclamações semelhantes sucederam-se em Braga, onde o cabeça de lista volta a ser o lisboeta Telmo Correia - Altino Bessa, líder da concelhia e vereador pelo CDS, publicou no Facebook uma troca de comentários em que o deputado assume que "talvez fizesse" mais sentido ser candidato por Lisboa: "Sobretudo para mim", escreve Telmo.

Outros casos são os dos lisboetas João Rebelo, que foi parar a Faro, círculo por onde Teresa Caeiro, que está de saída do Parlamento, se tinha candidatado; Chicão, que concorre em segundo lugar no Porto; ou Filipe Anacoreta Correia, colocado em Viana (por onde era eleita a deputada Ilda Araújo Novo, também de saída). As escolhas têm sido atacadas por críticos da atual direção como o ex-deputado Raúl Almeida, que no Facebook comentou: "A nota mais negativa fica para a reincidência na lisboetização do país através da colonização de quase todos os lugares elegíveis por candidatos de Lisboa. Será que Assunção não conhece ninguém competente fora de Lisboa?".

A direção, contudo, mostra-se satisfeita com as escolhas: na semana passada, Cristas dizia ao Expresso ter conseguido "um ótimo resultado na conjugação da experiência com a novidade". A presidente do partido apostou nas mulheres: são elas que lideram os dois maiores círculos, com Cristas em Lisboa e Cecília Meireles no Porto. Mas também nos independentes, com os ex-jornalistas Sebastião Bugalho, Raquel Abecasis e Rui Lopes da Silva a entrarem nas listas; e nos jovens, com as escolhas de Bugalho e de Chicão para Lisboa e Porto. O 'tetris' só não funcionou num caso, apontam - e lamentam - tanto fontes da direção como do grupo parlamentar: a deputada Vânia Dias da Silva, que tinha concorrido em segundo lugar por Braga, e em quem Cristas tinha vindo a apostar, não conseguiu lugar na quota a que a direção tem direito, restando apenas a pequena hipótese de ser indicada pelas estruturas locais.

A composição das listas de deputados fez deflagrar no CDS várias frentes de incêndio, que foram despontando desde quinta-feira, dia 5 (quando Assunção Cristas apresentou as suas escolhas para deputados em Conselho Nacional) e não dão sinais de parar. Apesar de a líder ter motivos para estar satisfeita - conseguiu conjugar vários dos seus objetivos, como colocar mulheres na linha da frente e incluir independentes nas listas - estruturas como as do Porto, Braga, Bragança ou Viana mostram desconforto. Mas não são os únicos focos de tensão: há distritais que entraram em clima de guerra civil ou deputados acusados de 'pára-quedismo'.

Os 'jotas' ficaram a ferver com a escolha de Sebastião Bugalho, o jovem de 23 anos, ex-jornalista, que Cristas escolheu para o sexto lugar da lista em Lisboa - e que é independente. Na JP, a escolha caiu muito mal: os militantes, que têm pedido repetidamente uma renovação da média de idades no grupo parlamentar, acreditam que os jovens escolhidos por Cristas deveriam pertencer à juventude do partido. No Facebook, há posts que se referem ao talento desnecessariamente "importado". E esta semana, numa reunião da JP-Lisboa, os militantes ameaçaram não fazer campanha na capital - o que poderia ser um rombo substancial em vésperas de eleições e mais uma prova de força do presidente da estrutura, Francisco 'Chicão' Rodrigues dos Santos, contra a direção.

O caso tomou novas proporções esta sexta-feira, uma vez que, perante o que fonte da direção da 'jota' descreve como uma "insurreição das bases", que se recusam a fazer o papel de "idiotas úteis", os dirigentes lisboetas da juventude do partido decidiram pedir uma reunião a Assunção Cristas, da qual fizeram depender o futuro das relações entre as duas organizações e a decisão de fazer campanha em Lisboa. Até porque, recordam os jovens, o seu representante na lista de Lisboa, que é o secretário-geral da JP, Fracisco Kreye, vai em décimo segundo lugar, bem atrás de Bugalho, pelo que interpretam a escolha como um "péssimo sinal" da preferência de Cristas pela "independência" em detrimento da "militância". Enquanto os mais novos apontam para o curto currículo de Bugalho e dizem ter opções de maior mérito dentro da JP, os candidatos a deputados mais velhos saúdam a escolha - já há quem se diga "sebastianista" e quem acuse os 'jotas' de se comportarem como uma "seita".

Guerra no Porto

Já se sabia que o Porto seria um dos casos mais complicados que Assunção Cristas teria em mãos, mas neste caso os problemas multiplicam-se até dentro da própria estrutura. Recuemos ao ano passado: Fernando Barbosa, atual presidente da distrital, concorreu contra Cecília Meireles, vice do partido, apresentando-se contra o candidato das bases, tendo como principal bandeira a escolha dos candidatos a deputados feita pelas estruturas locais. Com o confronto vencido, foi tempo de (tentar) pôr em prática essa prioridade... Mas Cecília acabou mesmo, como o Expresso já noticiara, por ser a cabeça de lista do CDS no Porto, relegando Barbosa para terceiro lugar (atrás de Chicão, que vai em segundo). Nem a direção do partido colocava outra hipótese, tendo a vice experiência e notoriedade a nível nacional.

O conflito não demorou a abrir feridas dentro da distrital: militantes do Porto começaram a duvidar das negociações que Barbosa teria feito com a presidente do partido, assegurando para si um lugar, até porque Cristas falou, no Conselho Nacional, no "acordo" a que chegou com o Porto - acordo esse que as fontes oficiais da distrital dizem não ter existido. "O presidente disse-me que não negociou [o lugar]", diz Fernando Peres, vice-presidente da estrutura portuense. "Isto nunca foi votado na comissão política da distrital. Nenhum dos nossos vices reuniu [com Cristas] ou sabe de acordo algum. Começo a ouvir muita coisa que me soa mal". Uma versão que é contestada por fonte oficial da direção ao Expresso: o lugar, assim como os restantes, foi mesmo conversado - e diretamente com o presidente da distrital.

O desentendimento com a direção, defende Fernando Peres, expõe um centralismo sistémico: "São mais os que falam deste problema a cada eleição". Até porque a distrital já estava irritada com o lugar que lhe foi destinado nas listas para as europeias: ficou com a nona posição, sendo que só as duas primeiras são consideradas elegíveis.

Críticas de pára-quedismo

Os ataques mais frequentes têm sido ao chamado 'pára-quedismo' - ou a prática de colocar deputados em distritos com os quais não têm ligação. Em Bragança, a escolha de Nuno Moreira, filho do histórico Adriano Moreira, como cabeça de lista provocou a demissão da líder da distrital, Carla Tavares. Na carta em que a ex-responsável anuncia a decisão, e a que o Expresso teve acesso, Tavares diz ter ficado com impressão, pela conversa que teve com Assunção Cristas, de que Moreira fazia parte da lista do distrito mas que não a encabeçaria, nem sequer teria interesse nisso. Por isso, garante ter ficado surpreendida com a decisão - e considera "desprezível" não ser um brigantino a liderar a lista, o que lhe traz "descrença e alguma desilusão pela noção de pequenez e de quão insignificantes são os transmontanos no panorama político nacional do CDS ou para as altas esferas do partido". A mesma fonte da direção desmente esta versão ao Expresso, assegurando que Cristas comunicou à dirigente local que Moreira lideraria os candidatos a Bragança.

De Coimbra chegou outra carta dirigida à presidente do partido, desta feita assinada por Miguel Mattos Chaves, presidente da concelhia de Figueira da Foz, para dar nota do "desagrado" e "incómodo" com a escolha de Rui Lopes da Silva, ex-jornalista e chefe de gabinete de Cristas, como cabeça de lista por Coimbra. Reclamações semelhantes sucederam-se em Braga, onde o cabeça de lista volta a ser o lisboeta Telmo Correia - Altino Bessa, líder da concelhia e vereador pelo CDS, publicou no Facebook uma troca de comentários em que o deputado assume que "talvez fizesse" mais sentido ser candidato por Lisboa: "Sobretudo para mim", escreve Telmo.

Outros casos são os dos lisboetas João Rebelo, que foi parar a Faro, círculo por onde Teresa Caeiro, que está de saída do Parlamento, se tinha candidatado; Chicão, que concorre em segundo lugar no Porto; ou Filipe Anacoreta Correia, colocado em Viana (por onde era eleita a deputada Ilda Araújo Novo, também de saída). As escolhas têm sido atacadas por críticos da atual direção como o ex-deputado Raúl Almeida, que no Facebook comentou: "A nota mais negativa fica para a reincidência na lisboetização do país através da colonização de quase todos os lugares elegíveis por candidatos de Lisboa. Será que Assunção não conhece ninguém competente fora de Lisboa?".

A direção, contudo, mostra-se satisfeita com as escolhas: na semana passada, Cristas dizia ao Expresso ter conseguido "um ótimo resultado na conjugação da experiência com a novidade". A presidente do partido apostou nas mulheres: são elas que lideram os dois maiores círculos, com Cristas em Lisboa e Cecília Meireles no Porto. Mas também nos independentes, com os ex-jornalistas Sebastião Bugalho, Raquel Abecasis e Rui Lopes da Silva a entrarem nas listas; e nos jovens, com as escolhas de Bugalho e de Chicão para Lisboa e Porto. O 'tetris' só não funcionou num caso, apontam - e lamentam - tanto fontes da direção como do grupo parlamentar: a deputada Vânia Dias da Silva, que tinha concorrido em segundo lugar por Braga, e em quem Cristas tinha vindo a apostar, não conseguiu lugar na quota a que a direção tem direito, restando apenas a pequena hipótese de ser indicada pelas estruturas locais.

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