Eleições: O que defendem os candidatos das câmaras mais afetadas por incêndios?

10-09-2017
marcar artigo

Dinheiro Vivo/Lusa 10 Setembro, 2017 • 11:48 Partilhar este artigo Facebook

Facebook Twitter

Twitter WhatsApp

WhatsApp E-mail

E-mail Partilhar

A aposta em plantas autóctones, conciliando-a melhor com as áreas de eucaliptal, mas sem fundamentalismos e ideias de acabar da noite para o dia com o pinheiro-bravo, o eucalipto ou as acácias infestantes, surge como o tema mais discutido entre os vários candidatos às câmaras municipais de Pedrógão Grande, Góis, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, ouvidos pela agência Lusa.

Em quase vésperas de eleições municipais, a dura realidade que o Verão tornou impossível de ignorar - a (in)capacidade de resposta do país a fogos florestais - está a obrigar os candidatos dos diferentes partidos a evidenciar claramente quais as suas ideias e opções para o combate aos incêndios, notando-se a defesa do regresso de alguns programas municipais ou regionais que serviam para proteger ou monitorizar as florestas mas que foram descontinuados, e o avanço de mais apoios económicos, seja para a prevenção, seja para o combate à desertificação.

Mas olhemos para os casos de cada câmara de forma individual, numa leitura que deve ser também acompanhado do diagnóstico feito por quase uma centenas de autarquias, no verão passado, em relação aos diversos problemas e obstáculos que enfrentam para lidar com os fogos.

Góis:

Três dos quatro candidatos à Câmara de Góis reconhecem a necessidade de reflorestar com espécies autóctones as áreas devastadas pelo fogo, em junho, mas alertam que o retorno económico do eucalipto pode ajudar a travar a desertificação.

A ideia de conciliar a plantação de árvores de crescimento lento, como o carvalho e o castanheiro, com a manutenção de algumas áreas de eucaliptal, para assegurar rendimentos aos proprietários rurais no médio prazo, é partilhada por José Rodrigues (Grupo de Cidadãos Eleitores Independentes por Góis), Maria de Lurdes Castanheira (PS) e Rui Sampaio (PSD).

Já a CDU, que candidata António Flores Tavares à presidência da autarquia, lamenta que "anos sucessivos de políticas erradas" tenham despovoado o interior de Portugal, onde "grandes áreas" montanhosas acolheram a monocultura do pinheiro e depois do eucalipto.

Sem mencionar as espécies no seu manifesto autárquico, a coligação do PCP com os Verdes converge, no entanto, com as outras candidaturas quanto à necessidade de "assegurar o ordenamento florestal" no concelho de Góis, no distrito de Coimbra.

"Se o produtor não ganhar dinheiro com a floresta, não reinveste e aumentará o abandono e a probabilidade de incêndios", disse à agência Lusa o vereador do PS José Rodrigues, que agora se candidata pelo movimento Independentes por Góis, que em 2013 conquistou dois dos cinco mandatos do executivo liderado pela socialista Lurdes Castanheira.

A floresta "é vital para o concelho de Góis", afirmou José Rodrigues, procurando demonstrar que "sem floresta não há turismo, paisagem, qualidade ambiental e da água, caça, pesca ou produtos endógenos".

"Estou completamente convencida de que a aposta tem de ser no ordenamento da floresta", declarou à Lusa, por seu turno, Lurdes Castanheira, que se recandidata a um terceiro mandato na Câmara Municipal.

Na sequência dos incêndios que eclodiram em Pedrógão Grande e Góis, no dia 17 de junho, e que se propagaram a municípios vizinhos, causando pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, o Governo, com apoio da Assembleia da República, decidiu avançar com um projeto-piloto de reflorestação das áreas queimadas, que inclui a realização do cadastro das propriedades.

"Góis não pode caminhar para a exclusividade" de árvores que não integravam a floresta primitiva, como o eucalipto, segundo a candidata do PS, que defende a promoção "da biodiversidade e da floresta de uso múltiplo", que inclua também medronheiros, carvalhos, castanheiros e outras folhosas.

Para Lurdes Castanheira, o futuro de Góis requer "uma intervenção equilibrada", que permita a existência de algumas áreas de eucaliptal, tendo em conta os rendimentos que proporciona, mas dando prioridade às árvores de folha caduca, envolvendo a Câmara, as juntas de freguesia e os compartes dos baldios no processo.

Rui Sampaio, candidato da coligação "Góis Mais" (PSD/CDS) salientou à Lusa também a necessidade de "dar prioridade às espécies endógenas", mantendo espaços de eucaliptal, mas sem aumentar as áreas ocupadas por esta espécie exótica.

"Mas não se pode abdicar de todo da plantação de eucaliptos", defendeu, alertando que tal opção iria "retirar às pessoas o rendimento" das suas propriedades, maioritariamente de pequena dimensão.

Na ótica de Rui Sampaio, "tem de haver bom senso e equilíbrio" na aplicação das medidas legislativas aprovadas para o setor, para não acentuar a tendência da desertificação.

"Não há espécies assassinas. Todas ardem com mais ou menos intensidade. Mas não podemos ter manchas contínuas da mesma espécie", reiterou o candidato independente José Rodrigues.

A candidatura de António Flores Tavares, da CDU, realça ainda "a necessidade de valorizar os pequenos produtores e compartes dos baldios".

Figueiró dos Vinhos:

Três dos quatro candidatos à Câmara de Figueiró dos Vinhos, distrito de Leiria, veem com bons olhos um projeto de reflorestação para uma maior diversificação da floresta, mas há quem sublinhe que não se pode ser radical.

O candidato do PS e atual presidente de Câmara, Jorge Abreu, o candidato do PSD, Filipe Silva, e o candidato pelo Movimento Figueiró Independente (MFI), Carlos Lopes, pretendem reforçar os mecanismos de proteção civil e todos defendem uma floresta diferente para o concelho afetado pelo incêndio de Pedrógão Grande, apesar de diferenças no discurso.

Jorge Abreu considera que, aquando da aplicação do projeto-piloto de reflorestação na área afetada por aquele grande incêndio, será necessário criar "restrições à plantação de espécies mais combustíveis, nas áreas mais próximas dos aglomerados populacionais, da rede viária" ou de espaços industriais, turísticos e outros, permitindo apenas espécies mais resistentes ao fogo nessas zonas.

O candidato socialista defende ainda que se deve avançar com ações para minimizar "a exposição aos fenómenos climatéricos", aplicar uma estratégia de gestão florestal e definir perímetros de proteção junto às localidades onde a realização do cadastro, limpeza e corte de arvoredo tem de ser prioritário.

Já Filipe Silva, candidato pelo PSD, sublinha que não se pode deixar a floresta ou considerar que "o inimigo é o eucalipto", considerando que a base da economia local passa, "em particular, pela floresta intensiva e pelo eucalipto".

Dessa forma, para o atual presidente da União de Freguesias de Figueiró dos Vinhos e Bairradas não se deve abandonar a exploração do eucalipto, mas garantir uma "floresta mais diversificada", com partes de "floresta intensiva, de proteção e de conservação".

Para Filipe Silva, há que "olhar para a floresta de outra forma" e potenciar "o uso múltiplo" deste recurso, nomeadamente através da caça, da pesca ou do turismo em meio rural.

A posição do candidato pelo MFI, Carlos Lopes, não é muito diferente no que diz respeito à floresta, referindo que, apesar de se ter de ordenar de forma diferente a floresta, não se pode ser "fundamentalista" e "banir a plantação dos eucaliptos".

"Seria um erro, em termos económicos", disse à agência Lusa o ex-deputado do PS, considerando que é preciso criar uma estratégia a partir da base, falando com os proprietários e habitantes locais para avançar com experiências que não passem pelos eucaliptos, mas que também possam ser rentáveis.

Segundo Carlos Lopes, será necessário haver incentivos para os proprietários de forma a avançar-se com outro tipo de explorações.

Contactado pela Lusa, o candidato à Câmara pela CDU, Fernando Valdez, escusou-se a prestar declarações.

Castanheira de Pera:

Os candidatos à Câmara de Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, concordam com a necessidade de se criar uma floresta diferente, propondo também comunidades resilientes, mais vigia e produção de conhecimento.

A candidata do PSD, Alda Correia, considera que se tem de aproveitar "ao máximo a oportunidade" de refazer a floresta, bem como apostar na prevenção, onde "nada está feito".

Para a cabeça de lista social-democrata, é necessário que o concelho tenha uma palavra a dizer sobre o projeto-piloto de reordenamento florestal para a zona afetada pelo incêndio de Pedrógão Grande, considerando também que a autarquia pode ter um "papel mais interventivo e presente", nomeadamente com ações de formação e sensibilização da população.

Alda Correia defende ainda a necessidade de haver técnicos especializados no município, bem como a criação de uma infraestrutura de ensino - "um polo universitário ou de ensino profissional" - para a aplicação de conhecimento na área da floresta.

"Deposito muita esperança na iniciativa do Governo e que pode traduzir-se numa mudança na forma como os territórios de baixa densidade são perspetivados", disse à agência Lusa o candidato do PS, Gonçalo Lopes, considerando que há que aproveitar o momento para se criar uma outra floresta.

Nesse sentido, acredita que a autarquia poderá dar "o exemplo", ao encetar uma nova estratégia de plantação e de exploração "nos terrenos das comissões de compartes" para mostrar que "é possível ter a floresta ordenada sem comprometer a rentabilidade".

O candidato socialista defende ainda a atualização da cartografia de risco do município, assim como os planos de emergência, a criação de comunidades resilientes e a aposta em subprodutos da floresta, como o mel ou os cogumelos.

Também Miguel Barjona, que lidera a candidatura da coligação CDS/MPT à Câmara de Castanheira de Pera, considera que será necessário atualizar a cartografia de risco, propondo também a implementação de projetos de tempos livres na serra para os jovens no verão, como forma de fazer vigilância dos incêndios.

O candidato realça também que não pretende uma monocultura de eucalipto no concelho e afirma que será necessário criar pontos de água, requalificar os caminhos florestais e promover a plantação de espécies autóctones.

Segundo Miguel Barjona, será também necessário uma "importante ajuda" do Governo, face aos "grandes problemas financeiros" que o município enfrenta, recordando que a autarquia está em situação de reequilíbrio financeiro.

"Não podemos ter manchas contínuas de pinheiros ou de eucaliptos", afirma o cabeça de lista da candidatura da CDU à Assembleia Municipal de Castanheira de Pera, António Rodrigues, sublinhando que o papel principal na alteração da floresta cabe ao Governo.

Para António Rodrigues, a vigilância que era feita por jovens na Serra da Lousã também "tinha um impacto positivo".

O candidato da CDU recorda ainda que o concelho é "um dos mais pequenos do país" e com grandes problemas na criação de emprego, sendo também necessárias "medidas económicas" para combater a desertificação, que, no seu entender, está também associada ao desordenamento da floresta.

As eleições realizam-se a 01 de outubro. Em 2013, o PS conquistou dois mandatos e a liderança da Câmara, o PSD dois e um movimento independente um mandato.

Pedrógão Grande:

Mais sapadores florestais, perímetros de defesa, um uso múltiplo da floresta e mais recursos por parte do Governo são algumas das ideias que as candidaturas à Câmara de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, defendem.

O atual presidente da Câmara, Valdemar Alves, eleito pelo PSD mas cabeça de lista pelo PS às autárquicas de 01 de outubro, considera que a primeira ação a desenvolver passa por controlar as espécies invasoras "e semear ou plantar plantas autóctones para reduzir a perda de biodiversidade".

Para o candidato, será também necessário "recuperar as faixas de gestão combustível, pontos de água e caminhos, proteger encostas e controlar a erosão dos solos".

Após estas ações, deverá ser implementado o programa de reordenamento florestal, "perímetros de defesa em torno das localidades e rodovias, aumentar dispositivo de sapadores florestais, repovoar as zonas e o potencial agrícola e florestal apoiando o empreendedorismo no setor primário", defendeu Valdemar Alves, numa resposta enviada por correio eletrónico à agência Lusa.

O candidato pelo PSD e antigo presidente do município, João Marques, sublinha que será necessário apostar num "uso múltiplo da floresta" - agricultura, pecuária, turismo e ambiente.

Nesse sentido, João Marques considera que o verdadeiro reordenamento florestal terá de passar pelos proprietários dos terrenos e pela sua organização em entidades como zonas de intervenção florestal, associações ou cooperativas, por forma a garantir uma "convivência de diferentes espécies" de árvores.

"O entusiasmo dos proprietários depende também da rentabilidade que possam vir a ter", notou, considerando que deve haver incentivos para os proprietários que se juntem, assim como um fomento da utilização dos terrenos para diferentes atividades - da exploração de árvores de crescimento lento ao mel ou à pastorícia.

O cabeça de lista à Assembleia Municipal de Pedrógão Grande pela CDU, Amílcar Campos, frisa que compete ao Governo promover o reordenamento florestal, sublinhando que é necessário haver meios e recursos para avançar com o projeto.

"A aposta em monoculturas do que quer que seja está absolutamente errada. É preciso haver uma maior diversidade de espécies", disse à agência Lusa o candidato.

Para Amílcar Campos, o projeto de reordenamento florestal terá de respeitar as linhas de água e a natureza do terreno, garantindo uma solução que seja um compromisso entre todos os interesses, do económico ao técnico.

Quanto à prevenção de incêndios, o candidato frisa que a elaboração e aplicação do Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, escutando populações e bombeiros, é o caminho.

A agência Lusa tentou contactar a candidata do CDS, Amélia Magalhães, mas sem sucesso.

Em 2013, o PSD conquistou três mandatos e o PS dois.

Dinheiro Vivo/Lusa 10 Setembro, 2017 • 11:48 Partilhar este artigo Facebook

Facebook Twitter

Twitter WhatsApp

WhatsApp E-mail

E-mail Partilhar

A aposta em plantas autóctones, conciliando-a melhor com as áreas de eucaliptal, mas sem fundamentalismos e ideias de acabar da noite para o dia com o pinheiro-bravo, o eucalipto ou as acácias infestantes, surge como o tema mais discutido entre os vários candidatos às câmaras municipais de Pedrógão Grande, Góis, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, ouvidos pela agência Lusa.

Em quase vésperas de eleições municipais, a dura realidade que o Verão tornou impossível de ignorar - a (in)capacidade de resposta do país a fogos florestais - está a obrigar os candidatos dos diferentes partidos a evidenciar claramente quais as suas ideias e opções para o combate aos incêndios, notando-se a defesa do regresso de alguns programas municipais ou regionais que serviam para proteger ou monitorizar as florestas mas que foram descontinuados, e o avanço de mais apoios económicos, seja para a prevenção, seja para o combate à desertificação.

Mas olhemos para os casos de cada câmara de forma individual, numa leitura que deve ser também acompanhado do diagnóstico feito por quase uma centenas de autarquias, no verão passado, em relação aos diversos problemas e obstáculos que enfrentam para lidar com os fogos.

Góis:

Três dos quatro candidatos à Câmara de Góis reconhecem a necessidade de reflorestar com espécies autóctones as áreas devastadas pelo fogo, em junho, mas alertam que o retorno económico do eucalipto pode ajudar a travar a desertificação.

A ideia de conciliar a plantação de árvores de crescimento lento, como o carvalho e o castanheiro, com a manutenção de algumas áreas de eucaliptal, para assegurar rendimentos aos proprietários rurais no médio prazo, é partilhada por José Rodrigues (Grupo de Cidadãos Eleitores Independentes por Góis), Maria de Lurdes Castanheira (PS) e Rui Sampaio (PSD).

Já a CDU, que candidata António Flores Tavares à presidência da autarquia, lamenta que "anos sucessivos de políticas erradas" tenham despovoado o interior de Portugal, onde "grandes áreas" montanhosas acolheram a monocultura do pinheiro e depois do eucalipto.

Sem mencionar as espécies no seu manifesto autárquico, a coligação do PCP com os Verdes converge, no entanto, com as outras candidaturas quanto à necessidade de "assegurar o ordenamento florestal" no concelho de Góis, no distrito de Coimbra.

"Se o produtor não ganhar dinheiro com a floresta, não reinveste e aumentará o abandono e a probabilidade de incêndios", disse à agência Lusa o vereador do PS José Rodrigues, que agora se candidata pelo movimento Independentes por Góis, que em 2013 conquistou dois dos cinco mandatos do executivo liderado pela socialista Lurdes Castanheira.

A floresta "é vital para o concelho de Góis", afirmou José Rodrigues, procurando demonstrar que "sem floresta não há turismo, paisagem, qualidade ambiental e da água, caça, pesca ou produtos endógenos".

"Estou completamente convencida de que a aposta tem de ser no ordenamento da floresta", declarou à Lusa, por seu turno, Lurdes Castanheira, que se recandidata a um terceiro mandato na Câmara Municipal.

Na sequência dos incêndios que eclodiram em Pedrógão Grande e Góis, no dia 17 de junho, e que se propagaram a municípios vizinhos, causando pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, o Governo, com apoio da Assembleia da República, decidiu avançar com um projeto-piloto de reflorestação das áreas queimadas, que inclui a realização do cadastro das propriedades.

"Góis não pode caminhar para a exclusividade" de árvores que não integravam a floresta primitiva, como o eucalipto, segundo a candidata do PS, que defende a promoção "da biodiversidade e da floresta de uso múltiplo", que inclua também medronheiros, carvalhos, castanheiros e outras folhosas.

Para Lurdes Castanheira, o futuro de Góis requer "uma intervenção equilibrada", que permita a existência de algumas áreas de eucaliptal, tendo em conta os rendimentos que proporciona, mas dando prioridade às árvores de folha caduca, envolvendo a Câmara, as juntas de freguesia e os compartes dos baldios no processo.

Rui Sampaio, candidato da coligação "Góis Mais" (PSD/CDS) salientou à Lusa também a necessidade de "dar prioridade às espécies endógenas", mantendo espaços de eucaliptal, mas sem aumentar as áreas ocupadas por esta espécie exótica.

"Mas não se pode abdicar de todo da plantação de eucaliptos", defendeu, alertando que tal opção iria "retirar às pessoas o rendimento" das suas propriedades, maioritariamente de pequena dimensão.

Na ótica de Rui Sampaio, "tem de haver bom senso e equilíbrio" na aplicação das medidas legislativas aprovadas para o setor, para não acentuar a tendência da desertificação.

"Não há espécies assassinas. Todas ardem com mais ou menos intensidade. Mas não podemos ter manchas contínuas da mesma espécie", reiterou o candidato independente José Rodrigues.

A candidatura de António Flores Tavares, da CDU, realça ainda "a necessidade de valorizar os pequenos produtores e compartes dos baldios".

Figueiró dos Vinhos:

Três dos quatro candidatos à Câmara de Figueiró dos Vinhos, distrito de Leiria, veem com bons olhos um projeto de reflorestação para uma maior diversificação da floresta, mas há quem sublinhe que não se pode ser radical.

O candidato do PS e atual presidente de Câmara, Jorge Abreu, o candidato do PSD, Filipe Silva, e o candidato pelo Movimento Figueiró Independente (MFI), Carlos Lopes, pretendem reforçar os mecanismos de proteção civil e todos defendem uma floresta diferente para o concelho afetado pelo incêndio de Pedrógão Grande, apesar de diferenças no discurso.

Jorge Abreu considera que, aquando da aplicação do projeto-piloto de reflorestação na área afetada por aquele grande incêndio, será necessário criar "restrições à plantação de espécies mais combustíveis, nas áreas mais próximas dos aglomerados populacionais, da rede viária" ou de espaços industriais, turísticos e outros, permitindo apenas espécies mais resistentes ao fogo nessas zonas.

O candidato socialista defende ainda que se deve avançar com ações para minimizar "a exposição aos fenómenos climatéricos", aplicar uma estratégia de gestão florestal e definir perímetros de proteção junto às localidades onde a realização do cadastro, limpeza e corte de arvoredo tem de ser prioritário.

Já Filipe Silva, candidato pelo PSD, sublinha que não se pode deixar a floresta ou considerar que "o inimigo é o eucalipto", considerando que a base da economia local passa, "em particular, pela floresta intensiva e pelo eucalipto".

Dessa forma, para o atual presidente da União de Freguesias de Figueiró dos Vinhos e Bairradas não se deve abandonar a exploração do eucalipto, mas garantir uma "floresta mais diversificada", com partes de "floresta intensiva, de proteção e de conservação".

Para Filipe Silva, há que "olhar para a floresta de outra forma" e potenciar "o uso múltiplo" deste recurso, nomeadamente através da caça, da pesca ou do turismo em meio rural.

A posição do candidato pelo MFI, Carlos Lopes, não é muito diferente no que diz respeito à floresta, referindo que, apesar de se ter de ordenar de forma diferente a floresta, não se pode ser "fundamentalista" e "banir a plantação dos eucaliptos".

"Seria um erro, em termos económicos", disse à agência Lusa o ex-deputado do PS, considerando que é preciso criar uma estratégia a partir da base, falando com os proprietários e habitantes locais para avançar com experiências que não passem pelos eucaliptos, mas que também possam ser rentáveis.

Segundo Carlos Lopes, será necessário haver incentivos para os proprietários de forma a avançar-se com outro tipo de explorações.

Contactado pela Lusa, o candidato à Câmara pela CDU, Fernando Valdez, escusou-se a prestar declarações.

Castanheira de Pera:

Os candidatos à Câmara de Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, concordam com a necessidade de se criar uma floresta diferente, propondo também comunidades resilientes, mais vigia e produção de conhecimento.

A candidata do PSD, Alda Correia, considera que se tem de aproveitar "ao máximo a oportunidade" de refazer a floresta, bem como apostar na prevenção, onde "nada está feito".

Para a cabeça de lista social-democrata, é necessário que o concelho tenha uma palavra a dizer sobre o projeto-piloto de reordenamento florestal para a zona afetada pelo incêndio de Pedrógão Grande, considerando também que a autarquia pode ter um "papel mais interventivo e presente", nomeadamente com ações de formação e sensibilização da população.

Alda Correia defende ainda a necessidade de haver técnicos especializados no município, bem como a criação de uma infraestrutura de ensino - "um polo universitário ou de ensino profissional" - para a aplicação de conhecimento na área da floresta.

"Deposito muita esperança na iniciativa do Governo e que pode traduzir-se numa mudança na forma como os territórios de baixa densidade são perspetivados", disse à agência Lusa o candidato do PS, Gonçalo Lopes, considerando que há que aproveitar o momento para se criar uma outra floresta.

Nesse sentido, acredita que a autarquia poderá dar "o exemplo", ao encetar uma nova estratégia de plantação e de exploração "nos terrenos das comissões de compartes" para mostrar que "é possível ter a floresta ordenada sem comprometer a rentabilidade".

O candidato socialista defende ainda a atualização da cartografia de risco do município, assim como os planos de emergência, a criação de comunidades resilientes e a aposta em subprodutos da floresta, como o mel ou os cogumelos.

Também Miguel Barjona, que lidera a candidatura da coligação CDS/MPT à Câmara de Castanheira de Pera, considera que será necessário atualizar a cartografia de risco, propondo também a implementação de projetos de tempos livres na serra para os jovens no verão, como forma de fazer vigilância dos incêndios.

O candidato realça também que não pretende uma monocultura de eucalipto no concelho e afirma que será necessário criar pontos de água, requalificar os caminhos florestais e promover a plantação de espécies autóctones.

Segundo Miguel Barjona, será também necessário uma "importante ajuda" do Governo, face aos "grandes problemas financeiros" que o município enfrenta, recordando que a autarquia está em situação de reequilíbrio financeiro.

"Não podemos ter manchas contínuas de pinheiros ou de eucaliptos", afirma o cabeça de lista da candidatura da CDU à Assembleia Municipal de Castanheira de Pera, António Rodrigues, sublinhando que o papel principal na alteração da floresta cabe ao Governo.

Para António Rodrigues, a vigilância que era feita por jovens na Serra da Lousã também "tinha um impacto positivo".

O candidato da CDU recorda ainda que o concelho é "um dos mais pequenos do país" e com grandes problemas na criação de emprego, sendo também necessárias "medidas económicas" para combater a desertificação, que, no seu entender, está também associada ao desordenamento da floresta.

As eleições realizam-se a 01 de outubro. Em 2013, o PS conquistou dois mandatos e a liderança da Câmara, o PSD dois e um movimento independente um mandato.

Pedrógão Grande:

Mais sapadores florestais, perímetros de defesa, um uso múltiplo da floresta e mais recursos por parte do Governo são algumas das ideias que as candidaturas à Câmara de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, defendem.

O atual presidente da Câmara, Valdemar Alves, eleito pelo PSD mas cabeça de lista pelo PS às autárquicas de 01 de outubro, considera que a primeira ação a desenvolver passa por controlar as espécies invasoras "e semear ou plantar plantas autóctones para reduzir a perda de biodiversidade".

Para o candidato, será também necessário "recuperar as faixas de gestão combustível, pontos de água e caminhos, proteger encostas e controlar a erosão dos solos".

Após estas ações, deverá ser implementado o programa de reordenamento florestal, "perímetros de defesa em torno das localidades e rodovias, aumentar dispositivo de sapadores florestais, repovoar as zonas e o potencial agrícola e florestal apoiando o empreendedorismo no setor primário", defendeu Valdemar Alves, numa resposta enviada por correio eletrónico à agência Lusa.

O candidato pelo PSD e antigo presidente do município, João Marques, sublinha que será necessário apostar num "uso múltiplo da floresta" - agricultura, pecuária, turismo e ambiente.

Nesse sentido, João Marques considera que o verdadeiro reordenamento florestal terá de passar pelos proprietários dos terrenos e pela sua organização em entidades como zonas de intervenção florestal, associações ou cooperativas, por forma a garantir uma "convivência de diferentes espécies" de árvores.

"O entusiasmo dos proprietários depende também da rentabilidade que possam vir a ter", notou, considerando que deve haver incentivos para os proprietários que se juntem, assim como um fomento da utilização dos terrenos para diferentes atividades - da exploração de árvores de crescimento lento ao mel ou à pastorícia.

O cabeça de lista à Assembleia Municipal de Pedrógão Grande pela CDU, Amílcar Campos, frisa que compete ao Governo promover o reordenamento florestal, sublinhando que é necessário haver meios e recursos para avançar com o projeto.

"A aposta em monoculturas do que quer que seja está absolutamente errada. É preciso haver uma maior diversidade de espécies", disse à agência Lusa o candidato.

Para Amílcar Campos, o projeto de reordenamento florestal terá de respeitar as linhas de água e a natureza do terreno, garantindo uma solução que seja um compromisso entre todos os interesses, do económico ao técnico.

Quanto à prevenção de incêndios, o candidato frisa que a elaboração e aplicação do Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, escutando populações e bombeiros, é o caminho.

A agência Lusa tentou contactar a candidata do CDS, Amélia Magalhães, mas sem sucesso.

Em 2013, o PSD conquistou três mandatos e o PS dois.

marcar artigo