Costa Silva. Tailandeses da PTTEP “não têm cultura de despedir pessoas”

15-10-2019
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"Bárbara Silva e Hugo Neutel (TSF)" 12 Outubro, 2019 • 08:00 Partilhar este artigo Facebook

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António Costa Silva é presidente da Partex, a petrolífera fundada há 81 anos, com projetos de exploração de petróleo e gás no Médio Oriente, Brasil, Angola, e vendida em junho pela Fundação Gulbenkian à empresa pública tailandesa PTT Exploration and Production (PTTEP). O negócio ainda não está concluído e os trabalhadores tentaram impugnar nesta semana a venda em tribunal. Com uma carreira ligada ao ensino, na área das minas e exploração de petróleo, Costa Silva já passou pela Sonangol e foi escolhido pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos para liderar o novo Conselho dos Combustíveis.

Os trabalhadores da Partex tentaram impugnar a venda da empresa ao grupo tailandês PTTEP. Que leitura faz desta opção?

Estes processos são sempre muito complicados. A espécie humana não gosta de mudar e compreendo a ansiedade dos trabalhadores. Estão preocupados, apesar da garantia dada pelo comprador de que mantém todos os postos de trabalho nos próximos dois anos. Mas a PTTEP foi a melhor escolha para a Partex. Foi um processo moroso que envolveu 14 companhias internacionais. Foi escolhida a PTTEP, que tem uma capitalização bolsista de 16 mil milhões de dólares, produz 327 mil barris por dia e tem uma estratégia para o futuro, onde se inclui a Partex. Querem fortalecer a sua presença na Ásia e penetrar no Médio Oriente. Fizeram tentativas anteriores mas não conseguiram consolidar a sua posição e encontraram na Partex uma plataforma que consideram muito importante para crescer a companhia no Médio Oriente e em países de expressão portuguesa. Estão presentes no Brasil com dois projetos de exploração e são um dos grandes investidores no projeto em Moçambique. Pediram-nos ajuda nestas geografias.

A Fundação Gulbenkian sublinhou que os funcionários são membros da família, mas depois da venda foram confrontados com a possibilidade de perderem o emprego ao fim dos 24 meses. É natural a apreensão?

É natural e temos de respeitar. Temos tido interações muito fortes com o acionista atual

e com o futuro acionista explicando as preocupações dos trabalhadores e procurando que sejam tomadas medidas, algumas em andamento outras em decisão, que possam responder a essas preocupações nestes processos, que às vezes são traumáticos.

Mas agora há esta novidade….

A impugnação dos trabalhadores diz respeito ao acionista atual e à posição que o governo português tomou, e aí mantenho a minha serenidade e frieza. Vamos aguardar. Evidentemente reflete um mal-estar em relação ao futuro e à convicção que os trabalhadores têm que daqui a dois anos se podem colocar questões difíceis. O meu entendimento não é esse, de todas as interações que tenho tido com o acionista futuro. Parece-me uma companhia muito convicta no facto de ter apostado na Partex para gerar mais valor no Médio Oriente. A nossa luta é para dar um novo horizonte à Partex. O acionista atual tomou a decisão de não investir mais no petróleo e no gás, temos de respeitar essa decisão. As portas do futuro estão em aberto e, com mais ou menos sobressalto, vamos lá chegar.

Acredita que os receios dos trabalhadores não vão ser concretizados?

Quando olho para a PTTEP, eles não têm a cultura de despedir pessoas. São muito meticulosos. Estudaram a Partex longamente, de todas as companhias internacionais que participaram no processo foram os que colocaram mais questões, fizeram uma radiografia completa, identificaram o potencial não só dos ativos mas também dos trabalhadores e das suas valências técnicas, que são muito importantes para fazer a diferença na indústria. A Partex tem 80 trabalhadores e os nossos parceiros no Médio Oriente são a Shell, a Total, são grandes companhias internacionais. Temos um modelo de negócio que triunfou ao longo destes anos porque apostamos na formação das pessoas, desde a escolha até à sua formação. E é por isso que a companhia se distingue. Eles compreendem e isso é um ativo valioso que temos de tratar da melhor maneira em termos de futuro.

Existe o risco de a Partex continuar a ser da Gulbenkian?

Para mim, a Fundação Gulbenkian é passado. Já estou a olhar para o futuro. Tomaram esta decisão porque a certa altura uma das grandes concessões do Médio Oriente tinha de ser renovada e o investimento era na ordem dos 500 milhões de dólares, um valor que consideraram excessivo face ao resto da sua carteira. A decisão de alienação foi tomada. Agora estamos num processo de minimizar os riscos. O que vai acontecer muito provavelmente é o novo acionista dirigir uma carta a todos os trabalhadores da Partex com a sua visão para o futuro, o seu modelo de negócio e as garantias em termos de desenvolvimento de carreiras. A PTTEP está não só no petróleo mas também no gás, o mais limpo dos combustíveis fósseis, que vai desempenhar um papel crucial na transição energética. Tivemos sempre essa preocupação, a Partex trilhou esse caminho, e o que se verifica agora é uma convergência grande com a PTTEP, porque é uma companhia que aposta fortemente no gás. Estão no projeto de Moçambique e vão investir 11 mil milhões de dólares no segmento do gás nos próximos cinco anos. Está em curso uma mutação do modelo de negócio do petróleo para o futuro.

A Gulbenkian acabou por prejudicar a Partex?

A Gulbenkian decidiu, nos últimos anos, não investir neste setor e a Partex sofreu com isso porque houve vários projetos interessantes no Médio Oriente em que fomos convidados a participar e à última hora a decisão foi negativa.

Vídeo: “O novo acionista reconhece valor à Partex”

Quando é que a venda poderá estar concretizada?

Estamos na fase final. Esperamos que até ao fim do ano o negócio seja concluído, que a PTTEP seja o novo acionista da Partex, que diga claramente à empresa e aos trabalhadores qual é a sua visão para o futuro, qual o investimento que quer fazer. Sabemos que no Médio Oriente todos os projetos que identificámos, quer na parte do petróleo quer no gás, eles estão completamente disponíveis para fazer o investimento. Omã é um dos países que vai criar um hub de gás porque houve descobertas importantes no país. Em Moçambique, a PTTEP também vai estar nesse segmento e pensamos que as nossas valências também em termos do gás natural liquefeito e de toda a tecnologia e know-how que temos na área serão valorizadas pela PTTEP.

Este deadline para o negócio com a PTTEP estar fechado até ao final do ano é compatível com o processo de impugnação que deu entrada no tribunal? Já falou com os acionistas?

Não me compete falar com os acionistas sobre isso. O acionista atual é que está envolvido nisso e o governo também, são eles que têm de clarificar essas posições. Não posso comentar porque são questões jurídicas que o tribunal vai avaliar. A minha preocupação é tentar manter, dentro das melhores condições possíveis, o barco à tona, dialogar com todas as partes, perceber que estes processos de mudança são sempre traumáticos, mas tudo isto nos faz crescer. O que tenho é uma grande convicção sobre o futuro porque acredito na Partex, acredito na nossa equipa de trabalho, acredito nas pessoas e acredito que o futuro se faz a partir de convicções.

Sabe se há contactos entre o governo e o acionista atual?

Eu sou muito cioso das minhas funções, compete-me dialogar com os acionistas sobre as matérias da empresa mas não me compete pronunciar sobre tribunais, acho que é outro mundo. Temos de aguardar.

A instabilidade no Médio Oriente está a fazer subir o preço do petróleo. Consegue contabilizar prejuízos eventuais para a Partex decorrentes disso?

Somos afetados sobretudo a partir das oscilações do preço do petróleo, mas a Partex, como está organizada hoje, é uma companhia muito competitiva. Temos um break-even do petróleo que é relativamente baixo, portanto a companhia consegue realizar mais-valias com preços do petróleo relativamente baixos, na ordem dos 30 dólares por barril. Embora existam essas flutuações, conseguimos resistir porque temos um portfólio diversificado, estamos presentes em muitos destes países onde os custos de produção são relativamente baixos e usamos tecnologia muito avançada.

Como é que vê o futuro da Partex numa altura em que só se fala de transição energética, descarbonização e até a demonização dos combustíveis fósseis. Como é que a Partex se vai reinventar?

Trabalhando na área, acho que não é justo demonizar os combustíveis fósseis. Evidentemente que houve excessos, sobretudo na questão das emissões de CO2, mas o carbono é a molécula da vida. Não podemos descarbonizar o planeta, o carbono é a base da vida e a existência de CO2 na atmosfera é benéfica em muitos aspetos, porque impede as radiações letais de atingirem o planeta. As soluções são simples: substituir as centrais a carvão por centrais a gás. As emissões de CO2 são 60% inferiores.

Vídeo. Venda concluída até dezembro

A Partex poderá ser mais gás e menos petróleo no futuro?

Já temos mais gás no nosso portfólio, portanto essa diversificação vai funcionar. O gás é muito versátil: pode servir para a geração elétrica, é o mais limpo dos combustíveis fósseis, pode-se articular com as energias renováveis, onde no passado apostámos e que esperamos que a PTTEP possa também apostar. No futuro, a partir do gás é possível produzir hidrogénio e a economia do hidrogénio pode ser uma das grandes soluções para o sistema energético.

Há data para o fim do petróleo?

Não há uma data. O sistema de transportes mundial ainda depende 95% do petróleo, mas vai diminuir. Para cumprir os objetivos de Paris em termos de emissões, temos de diminuir cerca de 15% o consumo de petróleo e aumentar 15% o consumo de gás. Isto é fazível. Acredito que as companhias, não só as de petróleo e gás mas todas as do setor da energia, estão numa grande convulsão e tenho ideia que este conceito de companhias multienergia, olhando para várias fontes e dando atenção à necessidade de reduzir as emissões de CO2, pode galvanizar esta transformação. É possível e desejável.

Perfil

O engenheiro de minas que é poeta

António Costa Silva é o atual presidente da comissão executiva do grupo Partex Oil and Gas, com projetos de exploração e produção de petróleo e gás no Médio Oriente (Abu Dhabi, Omã, Cazaquistão), Brasil e Angola. É também professor no Instituto Superior Técnico de Lisboa, onde se licenciou em Engenharia de Minas. Seguiu-se o mestrado em Engenharia de Petróleo no Imperial College, em Londres, e um doutoramento repartido entre Portugal e o Reino Unido. Iniciou a sua atividade profissional na petrolífera angolana Sonangol e recentemente foi escolhido pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos para liderar o novo Conselho para os Combustíveis. Além de gestor, é poeta.

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António Costa Silva é presidente da Partex, a petrolífera fundada há 81 anos, com projetos de exploração de petróleo e gás no Médio Oriente, Brasil, Angola, e vendida em junho pela Fundação Gulbenkian à empresa pública tailandesa PTT Exploration and Production (PTTEP). O negócio ainda não está concluído e os trabalhadores tentaram impugnar nesta semana a venda em tribunal. Com uma carreira ligada ao ensino, na área das minas e exploração de petróleo, Costa Silva já passou pela Sonangol e foi escolhido pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos para liderar o novo Conselho dos Combustíveis.

Os trabalhadores da Partex tentaram impugnar a venda da empresa ao grupo tailandês PTTEP. Que leitura faz desta opção?

Estes processos são sempre muito complicados. A espécie humana não gosta de mudar e compreendo a ansiedade dos trabalhadores. Estão preocupados, apesar da garantia dada pelo comprador de que mantém todos os postos de trabalho nos próximos dois anos. Mas a PTTEP foi a melhor escolha para a Partex. Foi um processo moroso que envolveu 14 companhias internacionais. Foi escolhida a PTTEP, que tem uma capitalização bolsista de 16 mil milhões de dólares, produz 327 mil barris por dia e tem uma estratégia para o futuro, onde se inclui a Partex. Querem fortalecer a sua presença na Ásia e penetrar no Médio Oriente. Fizeram tentativas anteriores mas não conseguiram consolidar a sua posição e encontraram na Partex uma plataforma que consideram muito importante para crescer a companhia no Médio Oriente e em países de expressão portuguesa. Estão presentes no Brasil com dois projetos de exploração e são um dos grandes investidores no projeto em Moçambique. Pediram-nos ajuda nestas geografias.

A Fundação Gulbenkian sublinhou que os funcionários são membros da família, mas depois da venda foram confrontados com a possibilidade de perderem o emprego ao fim dos 24 meses. É natural a apreensão?

É natural e temos de respeitar. Temos tido interações muito fortes com o acionista atual

e com o futuro acionista explicando as preocupações dos trabalhadores e procurando que sejam tomadas medidas, algumas em andamento outras em decisão, que possam responder a essas preocupações nestes processos, que às vezes são traumáticos.

Mas agora há esta novidade….

A impugnação dos trabalhadores diz respeito ao acionista atual e à posição que o governo português tomou, e aí mantenho a minha serenidade e frieza. Vamos aguardar. Evidentemente reflete um mal-estar em relação ao futuro e à convicção que os trabalhadores têm que daqui a dois anos se podem colocar questões difíceis. O meu entendimento não é esse, de todas as interações que tenho tido com o acionista futuro. Parece-me uma companhia muito convicta no facto de ter apostado na Partex para gerar mais valor no Médio Oriente. A nossa luta é para dar um novo horizonte à Partex. O acionista atual tomou a decisão de não investir mais no petróleo e no gás, temos de respeitar essa decisão. As portas do futuro estão em aberto e, com mais ou menos sobressalto, vamos lá chegar.

Acredita que os receios dos trabalhadores não vão ser concretizados?

Quando olho para a PTTEP, eles não têm a cultura de despedir pessoas. São muito meticulosos. Estudaram a Partex longamente, de todas as companhias internacionais que participaram no processo foram os que colocaram mais questões, fizeram uma radiografia completa, identificaram o potencial não só dos ativos mas também dos trabalhadores e das suas valências técnicas, que são muito importantes para fazer a diferença na indústria. A Partex tem 80 trabalhadores e os nossos parceiros no Médio Oriente são a Shell, a Total, são grandes companhias internacionais. Temos um modelo de negócio que triunfou ao longo destes anos porque apostamos na formação das pessoas, desde a escolha até à sua formação. E é por isso que a companhia se distingue. Eles compreendem e isso é um ativo valioso que temos de tratar da melhor maneira em termos de futuro.

Existe o risco de a Partex continuar a ser da Gulbenkian?

Para mim, a Fundação Gulbenkian é passado. Já estou a olhar para o futuro. Tomaram esta decisão porque a certa altura uma das grandes concessões do Médio Oriente tinha de ser renovada e o investimento era na ordem dos 500 milhões de dólares, um valor que consideraram excessivo face ao resto da sua carteira. A decisão de alienação foi tomada. Agora estamos num processo de minimizar os riscos. O que vai acontecer muito provavelmente é o novo acionista dirigir uma carta a todos os trabalhadores da Partex com a sua visão para o futuro, o seu modelo de negócio e as garantias em termos de desenvolvimento de carreiras. A PTTEP está não só no petróleo mas também no gás, o mais limpo dos combustíveis fósseis, que vai desempenhar um papel crucial na transição energética. Tivemos sempre essa preocupação, a Partex trilhou esse caminho, e o que se verifica agora é uma convergência grande com a PTTEP, porque é uma companhia que aposta fortemente no gás. Estão no projeto de Moçambique e vão investir 11 mil milhões de dólares no segmento do gás nos próximos cinco anos. Está em curso uma mutação do modelo de negócio do petróleo para o futuro.

A Gulbenkian acabou por prejudicar a Partex?

A Gulbenkian decidiu, nos últimos anos, não investir neste setor e a Partex sofreu com isso porque houve vários projetos interessantes no Médio Oriente em que fomos convidados a participar e à última hora a decisão foi negativa.

Vídeo: “O novo acionista reconhece valor à Partex”

Quando é que a venda poderá estar concretizada?

Estamos na fase final. Esperamos que até ao fim do ano o negócio seja concluído, que a PTTEP seja o novo acionista da Partex, que diga claramente à empresa e aos trabalhadores qual é a sua visão para o futuro, qual o investimento que quer fazer. Sabemos que no Médio Oriente todos os projetos que identificámos, quer na parte do petróleo quer no gás, eles estão completamente disponíveis para fazer o investimento. Omã é um dos países que vai criar um hub de gás porque houve descobertas importantes no país. Em Moçambique, a PTTEP também vai estar nesse segmento e pensamos que as nossas valências também em termos do gás natural liquefeito e de toda a tecnologia e know-how que temos na área serão valorizadas pela PTTEP.

Este deadline para o negócio com a PTTEP estar fechado até ao final do ano é compatível com o processo de impugnação que deu entrada no tribunal? Já falou com os acionistas?

Não me compete falar com os acionistas sobre isso. O acionista atual é que está envolvido nisso e o governo também, são eles que têm de clarificar essas posições. Não posso comentar porque são questões jurídicas que o tribunal vai avaliar. A minha preocupação é tentar manter, dentro das melhores condições possíveis, o barco à tona, dialogar com todas as partes, perceber que estes processos de mudança são sempre traumáticos, mas tudo isto nos faz crescer. O que tenho é uma grande convicção sobre o futuro porque acredito na Partex, acredito na nossa equipa de trabalho, acredito nas pessoas e acredito que o futuro se faz a partir de convicções.

Sabe se há contactos entre o governo e o acionista atual?

Eu sou muito cioso das minhas funções, compete-me dialogar com os acionistas sobre as matérias da empresa mas não me compete pronunciar sobre tribunais, acho que é outro mundo. Temos de aguardar.

A instabilidade no Médio Oriente está a fazer subir o preço do petróleo. Consegue contabilizar prejuízos eventuais para a Partex decorrentes disso?

Somos afetados sobretudo a partir das oscilações do preço do petróleo, mas a Partex, como está organizada hoje, é uma companhia muito competitiva. Temos um break-even do petróleo que é relativamente baixo, portanto a companhia consegue realizar mais-valias com preços do petróleo relativamente baixos, na ordem dos 30 dólares por barril. Embora existam essas flutuações, conseguimos resistir porque temos um portfólio diversificado, estamos presentes em muitos destes países onde os custos de produção são relativamente baixos e usamos tecnologia muito avançada.

Como é que vê o futuro da Partex numa altura em que só se fala de transição energética, descarbonização e até a demonização dos combustíveis fósseis. Como é que a Partex se vai reinventar?

Trabalhando na área, acho que não é justo demonizar os combustíveis fósseis. Evidentemente que houve excessos, sobretudo na questão das emissões de CO2, mas o carbono é a molécula da vida. Não podemos descarbonizar o planeta, o carbono é a base da vida e a existência de CO2 na atmosfera é benéfica em muitos aspetos, porque impede as radiações letais de atingirem o planeta. As soluções são simples: substituir as centrais a carvão por centrais a gás. As emissões de CO2 são 60% inferiores.

Vídeo. Venda concluída até dezembro

A Partex poderá ser mais gás e menos petróleo no futuro?

Já temos mais gás no nosso portfólio, portanto essa diversificação vai funcionar. O gás é muito versátil: pode servir para a geração elétrica, é o mais limpo dos combustíveis fósseis, pode-se articular com as energias renováveis, onde no passado apostámos e que esperamos que a PTTEP possa também apostar. No futuro, a partir do gás é possível produzir hidrogénio e a economia do hidrogénio pode ser uma das grandes soluções para o sistema energético.

Há data para o fim do petróleo?

Não há uma data. O sistema de transportes mundial ainda depende 95% do petróleo, mas vai diminuir. Para cumprir os objetivos de Paris em termos de emissões, temos de diminuir cerca de 15% o consumo de petróleo e aumentar 15% o consumo de gás. Isto é fazível. Acredito que as companhias, não só as de petróleo e gás mas todas as do setor da energia, estão numa grande convulsão e tenho ideia que este conceito de companhias multienergia, olhando para várias fontes e dando atenção à necessidade de reduzir as emissões de CO2, pode galvanizar esta transformação. É possível e desejável.

Perfil

O engenheiro de minas que é poeta

António Costa Silva é o atual presidente da comissão executiva do grupo Partex Oil and Gas, com projetos de exploração e produção de petróleo e gás no Médio Oriente (Abu Dhabi, Omã, Cazaquistão), Brasil e Angola. É também professor no Instituto Superior Técnico de Lisboa, onde se licenciou em Engenharia de Minas. Seguiu-se o mestrado em Engenharia de Petróleo no Imperial College, em Londres, e um doutoramento repartido entre Portugal e o Reino Unido. Iniciou a sua atividade profissional na petrolífera angolana Sonangol e recentemente foi escolhido pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos para liderar o novo Conselho para os Combustíveis. Além de gestor, é poeta.

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