Centeno: os da direita querem vestir o fato do PS para parecerem “homenzinhos”

30-09-2019
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A frase do dia:

"Está encerrado esse assunto."

António Costa, sobre a quezília com o BE a propósito do papel dos bloquistas no lançamento da “geringonça”

O momento:

A histeria da empregada da cafetaria, na estação de comboio do Pragal, ajudou Costa a soltar-se e pode ter sido por isso que o que começou com “um cafezinho” acabou com uma promessa. A mulher repetia gritinhos de “ai, isto é espetacular!”, em êxtase perante a presença do líder socialista e do batalhão de jornalistas que o acompanhava, e não deixou que Costa pagasse o café. Ficou, então, a promessa: se ganhar as eleições de 6 de outubro, o primeiro-ministro volta à estação do Pragal para outro café, e dessa vez paga. “Se não for no dia 7 é no dia 8, a não ser que as coisas corram mal”, garantiu, por troca com a promessa de que a fã de Costa o ajuda nestes dias a convencer eleitores. Mostraram-se ambos contentes com o trato.

O personagem:

Catapultado para o centro da campanha por Rui Rio, Mário Centeno foi passear a sua popularidade, o seu prestígio e a sua presidência do Eurogrupo ao comício do arranque oficial da caravana socialista. Não respondeu ao desafio para um debate com o porta-voz do PSD para as finanças, mas deu pancada q.b. à direita, apesar da evidente falta de jeito para coisas comicieiras.

A fotografia:

tiago miranda

O PS terminou em ambiente de festa o primeiro dia de campanha eleitoral a sério, com um comício em Lisboa, no Pavilhão Carlos Lopes, em que subiu ao palco uma boa parte do protocolo de Estado: o presidente da Assembleia da República, o ministro das Finanças, o presidente da Câmara de Lisboa e, claro, o primeiro-ministro e recandidato ao cargo. Com as figuras gradas no palco, a plateia esmerou-se: o pavilhão ficou largo para a quantidade de gente que lá estava (as bancadas laterais encurtavam bastante o espaço disponível para o comício), mas as muitas centenas que acorreram à chamada estavam bem arrumadas e enchiam o olho.

Antes da chegada dos oradores, o comício parecia o baile da aldeia. Um DJ aquecia os ânimos com música pimba. “Aperta, aperta com ela”, ouvia-se nas colunas, no que até podia ser um subtil comentário político sobre o azedume que por aí vai entre António Costa e Catarina Martins. Depois a voz de Toy recomendou “solta-te, liberta-te…”, e a metáfora política até podia continuar. Mas a seguir Quim Barreiros informou as gentes que está “até mudando o óleo da garagem da vizinha...”, e as hipóteses de transposição política ficaram seriamente comprometidas. Ou não…

A máquina de campanha socialista mostrou-se bem oleada, ninguém apertou com ela, mas todos se soltaram em palco - sobretudo nas metáforas futebolísticas. Mário Centeno proclamou que o campeão voltou, Ferro Rodrigues vislumbrou “uma mistura de CR7 com Messi” e António Costa garantiu que o passe do seu “Ronaldo das finanças”, vulgo, Centeno, “não está à venda”.

“Outros querem agora vestir o fato que desenhámos”, acusa Centeno

O discurso de Mário Centeno, cujo capital político está em alta como nunca, foi o ponto alto da noite, apesar da evidente falta de jeito do ministro das Finanças para animar comícios. Houve momentos em que correu o risco de adormecer a audiência com o suave embalo dos números que foi debitando para demonstrar o sucesso da sua governação, mas também soube espicaçar o público, com tiradas políticas dirigidas à oposição (neste caso, oposição significava PSD e CDS - desta vez, o BE folgou as costas).

Depois de fazer o retrato do Portugal “que cumpre”, que “cresce mais do que a média europeia”, que não tem “derrapagens nem retificativos”, que tem uma “economia mais forte com contas certas e equilibradas”, que fez um ajustamento estrutural que “só não vê quem está em negação”, que lidera “na Europa e no Eurogrupo” e que é “hoje o campeão da credibilidade das contas públicas”, Centeno fez o ajuste de contas com a oposição.

“Hoje a direita dá-se ao luxo de prometer gastar o esforço dos portugueses numa nova temporada da série já conhecida chamada ‘choque fiscal’, como fez no passado em nome de uma ideologia cega”, acusou o titular das Finanças, classificando como “vãs e irrealistas” as promessas de quem “não fez o seu trabalho e não se preparou para governar”. As referências a Rui Rio e a Assunção Cristas provocaram vaias na plateia, e a Manuela Ferreira Leite também.

A ideia de que PSD e CDS mais não fazem do que prometer esbanjar os resultados da governação socialista surgiu várias vezes, mas nunca de forma tão dura como quando Centeno disparou: “Outros querem agora vestir o fato que desenhámos e preparámos, como se com o nosso fato todos parecessem homenzinhos. Mas não sabem nem sequer vestir esse fato”. Na plateia alguém gritou: “Centeno só há um, é este é mais nenhum”.

No dia em que Rio desafiou Centeno para um debate público com o porta-voz do PSD para as finanças (repto que ficou sem resposta), o independente recrutado pelo PS há quatro anos deu a sua sentença sobre as propostas dos social-democratas: “As contas não batem certo com as palavras. Das duas uma: ou não sabem fazer as contas ou não falam verdade”.

Ferro desvaloriza tensão com o BE: “Há 4 anos houve pior”

Depois de Centeno, falou Ferro Rodrigues, que confessou ver no ministro das Finanças “uma mistura de CR7 com Messi, visto que tem marcado muitos golos e tem dado muito jogo para outros marcarem”. Depois de Costa ter rotulado Centeno como um dos seus pontas-de-lança, estamos nisto.

Ferro não reservou os elogios apenas para Centeno. Também os teve para António costa a quem, entre outras qualidades, louvou “pela coragem, pela determinação e sobretudo pela paciência que tem demonstrado nesta campanha eleitoral” - mas não elaborou sobre o assunto.

O homem que preside aos debates no Parlamento aproveitou a apresentação, ontem, dos indicadores revistos pelo INE para a economia nacional, para acusar a oposição à direita do PS de ter andado a “matraquear” acusações “pura e simplesmente falsas” sobre “défice de crescimento e défice de investimento”.

Para a esquerda, deixou outros recados. Lembrou que “a maioria que se formou em 2015 não se limitou a deixar governar o PS” - prova disso é que quatro Orçamento do Estado passaram com votos a favor, não com abstenções, do BE, PCP e Verdes.

Podia ter sido a deixa para Ferro entrar de caras na contenda entre António Costa e Catarina Martins, mas fê-lo de forma suave. Considerou “normal a demarcação entre partidos” em fase pré-eleitoral, embora “não tão normal” os excessos de agressividade. Porém, tratou de sossegar as almas. “Há 4 anos passaram-se coisas muito piores nos debates televisivos e isso não impediu que houvesse soluções.”

O ponto, sublinhou Ferro, é o PS e António Costa terem condições para governar bem, sem crises políticas”. E, talvez para prevenir tentações, lembrou que “há 4 anos o PS atirou o governo do PSD abaixo porque tinha uma alternativa. Não foi por bota-abaixismo. Espero que isto sirva de exemplo para outros.”

“Quem quer um governo PS deve votar no PS”

O discurso de Costa, sem novidades, deu seguimento ao pedido de “uma vitória robusta”, feito por Ferro.

“Cumprimos todos os nossos compromissos com os portugueses, com nossos parceiros parlamentares e com a UE”, recordou o chefe do Governo, com uma rajada de triunfos da legislatura: “mais crescimento”, “mais e melhor emprego”, “maior igualdade”, “com contas certas, o défice mais baixo da democracia e juros da dívida a recuperarem a credibilidade”. Muitos números, mas números que “têm mesmo a ver com a vida e o dia a dia das pessoas”, jurou.

Pediu “mais força para o PS porque é preciso investir mais no setor da saúde”, “executar uma nova geração de políticas de habitação”, “dar prioridade ao transporte público acessível” e garantir “mais quatro anos de estabilidade”.

Com um aviso final, a pensar nos que ainda hesitam, talvez receosos de uma maioria absoluta: “Quem quer um governo PS deve votar no PS”.

Costa acabou a noite com Centeno em palco do seu lado direito. Antes, tinha frisado como é “bom” ver agora “todos quererem ter o seu Centeno”, depois de o terem olhado de lado há quatro anos. “Já há quatro anos devíamos ter desconfiado - quem desdenha quer comprar. O senhor Schauble [ex-ministro das Finanças alemão] até pode achar que ele é o Ronaldo, só que o passe dele não está à venda”.

A frase do dia:

"Está encerrado esse assunto."

António Costa, sobre a quezília com o BE a propósito do papel dos bloquistas no lançamento da “geringonça”

O momento:

A histeria da empregada da cafetaria, na estação de comboio do Pragal, ajudou Costa a soltar-se e pode ter sido por isso que o que começou com “um cafezinho” acabou com uma promessa. A mulher repetia gritinhos de “ai, isto é espetacular!”, em êxtase perante a presença do líder socialista e do batalhão de jornalistas que o acompanhava, e não deixou que Costa pagasse o café. Ficou, então, a promessa: se ganhar as eleições de 6 de outubro, o primeiro-ministro volta à estação do Pragal para outro café, e dessa vez paga. “Se não for no dia 7 é no dia 8, a não ser que as coisas corram mal”, garantiu, por troca com a promessa de que a fã de Costa o ajuda nestes dias a convencer eleitores. Mostraram-se ambos contentes com o trato.

O personagem:

Catapultado para o centro da campanha por Rui Rio, Mário Centeno foi passear a sua popularidade, o seu prestígio e a sua presidência do Eurogrupo ao comício do arranque oficial da caravana socialista. Não respondeu ao desafio para um debate com o porta-voz do PSD para as finanças, mas deu pancada q.b. à direita, apesar da evidente falta de jeito para coisas comicieiras.

A fotografia:

tiago miranda

O PS terminou em ambiente de festa o primeiro dia de campanha eleitoral a sério, com um comício em Lisboa, no Pavilhão Carlos Lopes, em que subiu ao palco uma boa parte do protocolo de Estado: o presidente da Assembleia da República, o ministro das Finanças, o presidente da Câmara de Lisboa e, claro, o primeiro-ministro e recandidato ao cargo. Com as figuras gradas no palco, a plateia esmerou-se: o pavilhão ficou largo para a quantidade de gente que lá estava (as bancadas laterais encurtavam bastante o espaço disponível para o comício), mas as muitas centenas que acorreram à chamada estavam bem arrumadas e enchiam o olho.

Antes da chegada dos oradores, o comício parecia o baile da aldeia. Um DJ aquecia os ânimos com música pimba. “Aperta, aperta com ela”, ouvia-se nas colunas, no que até podia ser um subtil comentário político sobre o azedume que por aí vai entre António Costa e Catarina Martins. Depois a voz de Toy recomendou “solta-te, liberta-te…”, e a metáfora política até podia continuar. Mas a seguir Quim Barreiros informou as gentes que está “até mudando o óleo da garagem da vizinha...”, e as hipóteses de transposição política ficaram seriamente comprometidas. Ou não…

A máquina de campanha socialista mostrou-se bem oleada, ninguém apertou com ela, mas todos se soltaram em palco - sobretudo nas metáforas futebolísticas. Mário Centeno proclamou que o campeão voltou, Ferro Rodrigues vislumbrou “uma mistura de CR7 com Messi” e António Costa garantiu que o passe do seu “Ronaldo das finanças”, vulgo, Centeno, “não está à venda”.

“Outros querem agora vestir o fato que desenhámos”, acusa Centeno

O discurso de Mário Centeno, cujo capital político está em alta como nunca, foi o ponto alto da noite, apesar da evidente falta de jeito do ministro das Finanças para animar comícios. Houve momentos em que correu o risco de adormecer a audiência com o suave embalo dos números que foi debitando para demonstrar o sucesso da sua governação, mas também soube espicaçar o público, com tiradas políticas dirigidas à oposição (neste caso, oposição significava PSD e CDS - desta vez, o BE folgou as costas).

Depois de fazer o retrato do Portugal “que cumpre”, que “cresce mais do que a média europeia”, que não tem “derrapagens nem retificativos”, que tem uma “economia mais forte com contas certas e equilibradas”, que fez um ajustamento estrutural que “só não vê quem está em negação”, que lidera “na Europa e no Eurogrupo” e que é “hoje o campeão da credibilidade das contas públicas”, Centeno fez o ajuste de contas com a oposição.

“Hoje a direita dá-se ao luxo de prometer gastar o esforço dos portugueses numa nova temporada da série já conhecida chamada ‘choque fiscal’, como fez no passado em nome de uma ideologia cega”, acusou o titular das Finanças, classificando como “vãs e irrealistas” as promessas de quem “não fez o seu trabalho e não se preparou para governar”. As referências a Rui Rio e a Assunção Cristas provocaram vaias na plateia, e a Manuela Ferreira Leite também.

A ideia de que PSD e CDS mais não fazem do que prometer esbanjar os resultados da governação socialista surgiu várias vezes, mas nunca de forma tão dura como quando Centeno disparou: “Outros querem agora vestir o fato que desenhámos e preparámos, como se com o nosso fato todos parecessem homenzinhos. Mas não sabem nem sequer vestir esse fato”. Na plateia alguém gritou: “Centeno só há um, é este é mais nenhum”.

No dia em que Rio desafiou Centeno para um debate público com o porta-voz do PSD para as finanças (repto que ficou sem resposta), o independente recrutado pelo PS há quatro anos deu a sua sentença sobre as propostas dos social-democratas: “As contas não batem certo com as palavras. Das duas uma: ou não sabem fazer as contas ou não falam verdade”.

Ferro desvaloriza tensão com o BE: “Há 4 anos houve pior”

Depois de Centeno, falou Ferro Rodrigues, que confessou ver no ministro das Finanças “uma mistura de CR7 com Messi, visto que tem marcado muitos golos e tem dado muito jogo para outros marcarem”. Depois de Costa ter rotulado Centeno como um dos seus pontas-de-lança, estamos nisto.

Ferro não reservou os elogios apenas para Centeno. Também os teve para António costa a quem, entre outras qualidades, louvou “pela coragem, pela determinação e sobretudo pela paciência que tem demonstrado nesta campanha eleitoral” - mas não elaborou sobre o assunto.

O homem que preside aos debates no Parlamento aproveitou a apresentação, ontem, dos indicadores revistos pelo INE para a economia nacional, para acusar a oposição à direita do PS de ter andado a “matraquear” acusações “pura e simplesmente falsas” sobre “défice de crescimento e défice de investimento”.

Para a esquerda, deixou outros recados. Lembrou que “a maioria que se formou em 2015 não se limitou a deixar governar o PS” - prova disso é que quatro Orçamento do Estado passaram com votos a favor, não com abstenções, do BE, PCP e Verdes.

Podia ter sido a deixa para Ferro entrar de caras na contenda entre António Costa e Catarina Martins, mas fê-lo de forma suave. Considerou “normal a demarcação entre partidos” em fase pré-eleitoral, embora “não tão normal” os excessos de agressividade. Porém, tratou de sossegar as almas. “Há 4 anos passaram-se coisas muito piores nos debates televisivos e isso não impediu que houvesse soluções.”

O ponto, sublinhou Ferro, é o PS e António Costa terem condições para governar bem, sem crises políticas”. E, talvez para prevenir tentações, lembrou que “há 4 anos o PS atirou o governo do PSD abaixo porque tinha uma alternativa. Não foi por bota-abaixismo. Espero que isto sirva de exemplo para outros.”

“Quem quer um governo PS deve votar no PS”

O discurso de Costa, sem novidades, deu seguimento ao pedido de “uma vitória robusta”, feito por Ferro.

“Cumprimos todos os nossos compromissos com os portugueses, com nossos parceiros parlamentares e com a UE”, recordou o chefe do Governo, com uma rajada de triunfos da legislatura: “mais crescimento”, “mais e melhor emprego”, “maior igualdade”, “com contas certas, o défice mais baixo da democracia e juros da dívida a recuperarem a credibilidade”. Muitos números, mas números que “têm mesmo a ver com a vida e o dia a dia das pessoas”, jurou.

Pediu “mais força para o PS porque é preciso investir mais no setor da saúde”, “executar uma nova geração de políticas de habitação”, “dar prioridade ao transporte público acessível” e garantir “mais quatro anos de estabilidade”.

Com um aviso final, a pensar nos que ainda hesitam, talvez receosos de uma maioria absoluta: “Quem quer um governo PS deve votar no PS”.

Costa acabou a noite com Centeno em palco do seu lado direito. Antes, tinha frisado como é “bom” ver agora “todos quererem ter o seu Centeno”, depois de o terem olhado de lado há quatro anos. “Já há quatro anos devíamos ter desconfiado - quem desdenha quer comprar. O senhor Schauble [ex-ministro das Finanças alemão] até pode achar que ele é o Ronaldo, só que o passe dele não está à venda”.

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