Procura-se: €400 milhões chineses para Sines

12-02-2018
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A dimensão impressiona. O porto de Yangshan, um dos maiores do mundo, ao largo de Xangai, ocupa uma ilha. Para se lá chegar, tem de se percorrer a ponte Donghai, que se estende 32 quilómetros adentro do Mar da China. Como sempre, tudo é grande na China. Há 10 anos, quando Ana Paula Vitorino visitou esta infraestrutura portuária, então como secretária de Estado dos Transportes, as obras ainda estavam a arrancar. Agora que é ministra do Mar, em visita oficial à China, os impressionantes 8,3 quilómetros de extensão de Yangshan estão em plena laboração: por ano, o porto movimenta mais de 15 milhões de contentores (os chamados TEU, de 12 pés).

A dimensão de Yangshan impede qualquer tentativa de comparação com Sines, o maior porto português, que em 2016 recebeu 1,5 milhões de TEU (no final deste ano, estima-se que o crescimento seja de 22%, para pouco menos de 2 milhões de TEU). Ainda assim, há algumas semelhanças. Também há uma década, “Sines não existia”, havia mesmo “quem se risse de nós, por acreditarmos que aquele porto tinha futuro”, recorda Ana Paula Vitorino, destacando o crescimento exponencial desta infraestrutura, que, desde 2011, mais do que duplicou a carga movimentada, passando de 25 milhões de toneladas para 51 milhões de toneladas em 2016.

Atualmente, representa cerca de 55% do movimento de mercadorias nos portos portugueses (a larga distância de Leixões, com 20%, e de Lisboa, com 7%). Também em produtividade, Sines não fica atrás de Yangshan: “Dizem-me aqui que cada pórtico tem capacidade para movimentar mais de 30 contentores por hora”, destaca a ministra.

A visita ao porto chinês, na zona de comércio livre de Xangai, foi um dos pontos altos da viagem da ministra do Mar à China, acompanhada por representantes de 40 empresas nacionais, com o objetivo de dar a conhecer as oportunidades de investimento no sector marítimo e portuário em Portugal a investidores chineses. Na bagagem para este périplo, que fez escala em Pequim, Xangai e Xiamen, Ana Paula Vitorino levou um plano de investimento de €2,5 mil milhões nos portos continentais, dos quais 85% terá de ser suportado por investidores privados. A viagem incluiu seminários junto de empresas chinesas, com a apresentação de vários portos portugueses, como o de Leixões, que procura financiamento e interessados na expansão de um novo terminal de contentores (que permita adicionar mais 750 mil TEU, para um total de 1,5 milhões), ou o de Lisboa, que pretende arrancar com o novo terminal de contentores do Barreiro.

Mas foi o porto de Sines a “estrela” desta visita oficial: não só a administração portuária assinou um acordo de cooperação com a Logink, uma plataforma pública chinesa para o sector dos transportes e logística que detém uma tecnologia de partilha de informação global para a rastreabilidade dos contentores de carga, como foi o alvo preferido de todos os discursos das autoridades e investidores chineses, incluindo representantes da State Oceanic Administration (SOA), do China Development Bank e de grupos chineses que já investiram em Portugal, como a Fosun ou a China Three Gorges.

Em jogo está a expansão do chamado Terminal XXI, concessionado à PSA de Singapura, que já se mostrou interessada no projeto. Mas procura-se, principalmente, encontrar investidores para o lançamento do novo terminal de contentores Vasco da Gama. Com 18 metros de profundidade, este “conta já com um conjunto de interessados em participar no concurso internacional, que será lançado em 2018, depois de concluídos os estudos de impacte ambiental”, declara o presidente da administração do porto de Sines, José Luís Cacho.

“Estamos a estreitar relações com grupos chineses, que têm demonstrado interesse no projeto. Mas também há outros interesses, europeus ou do Japão, por exemplo”, diz o responsável, que estima que a construção de um novo terminal de contentores “possa rondar, numa primeira fase, os €400 milhões”. Ana Paula Vitorino fala também das manifestações de interesse de países como a Índia e o Paquistão. A ministra do Mar aproveitou para se encontrar com companhias do sector, como a gigante China Communication Construction Company, especializada na construção de infraestruturas portuárias e a maior empresa de drenagens do mundo.

Portugal na rota da seda

Os encontros com interlocutores chineses (incluindo um almoço de trabalho com a Fosun e o seu diretor executivo e copresidente Xu Xiaoliang) decorrem de forma afável e traduzem o estreitamento das relações económicas entre os dois países nos últimos anos: desde 2011, ano da entrada de capital chinês na EDP, que se estima em €15 mil milhões o investimento chinês que entrou em Portugal.

A aposta da ministra do Mar é que esta torrente de projetos não se fique por aqui. E incorporou no seu discurso a ambiciosa estratégia do Governo chinês — anunciada em 2013 e reafirmada no discurso do Presidente chinês, Xi Jinping, no último congresso do Partido Comunista chinês, em outubro — de revitalizar a célebre “rota marítima da seda”, num megaprojeto para desenvolver infraestruturas terrestres e marítimas que liguem a China à Ásia Central, Europa e África — num percurso de gigante para dominar o comércio e diplomacia mundiais. Um mapa de 60 países, que abarca 60% da população do globo e um terço do PIB mundial, num investimento multimilionário que o Crédit Suisse estima em €502 mil milhões. E que se inspira na rota da seda, que durante séculos dominou o comércio mundial entre o Extremo Oriente e a Europa.

Nos últimos meses, a diplomacia portuguesa tem procurado fazer pressão para que esse longo caminho, que por ferrovia termina em Madrid, se estenda até Sines. E que este porto seja também incluído na rota marítima. Afinal, “Portugal tem um argumento de peso: a nossa localização geoestratégica, que domina tanto as rotas atlânticas como as rotas que vêm do Suez e do Panamá. Nós somos o ponto de cruzamento natural, e é aí que nos temos de posicionar”.

Mas “não a todo o custo”. Estes devem ser “investimentos feitos em parceria, entre chineses e portugueses. Eles têm a vontade e a capacidade financeira, nós temos o conhecimento e a capacidade de execução”, afirma Ana Paula Vitorino, que, depois de ter levado o sector portuário para a China (antes disso, visitou o Canadá e Malta), prepara, para o ano, nova apresentação do sector portuário nacional, desta feita na Índia. “Estamos a falar de uma área estratégica para o país. Até ao final deste ano, a capacidade dos portos portugueses vai atingir, pela primeira vez, os 100 milhões de toneladas de carga movimentada. Para suportar este crescimento, temos de ter uma infraestrutura portuária preparada para o longo prazo.”

O Expresso viajou a convite da Associação dos Portos de Portugal

A dimensão impressiona. O porto de Yangshan, um dos maiores do mundo, ao largo de Xangai, ocupa uma ilha. Para se lá chegar, tem de se percorrer a ponte Donghai, que se estende 32 quilómetros adentro do Mar da China. Como sempre, tudo é grande na China. Há 10 anos, quando Ana Paula Vitorino visitou esta infraestrutura portuária, então como secretária de Estado dos Transportes, as obras ainda estavam a arrancar. Agora que é ministra do Mar, em visita oficial à China, os impressionantes 8,3 quilómetros de extensão de Yangshan estão em plena laboração: por ano, o porto movimenta mais de 15 milhões de contentores (os chamados TEU, de 12 pés).

A dimensão de Yangshan impede qualquer tentativa de comparação com Sines, o maior porto português, que em 2016 recebeu 1,5 milhões de TEU (no final deste ano, estima-se que o crescimento seja de 22%, para pouco menos de 2 milhões de TEU). Ainda assim, há algumas semelhanças. Também há uma década, “Sines não existia”, havia mesmo “quem se risse de nós, por acreditarmos que aquele porto tinha futuro”, recorda Ana Paula Vitorino, destacando o crescimento exponencial desta infraestrutura, que, desde 2011, mais do que duplicou a carga movimentada, passando de 25 milhões de toneladas para 51 milhões de toneladas em 2016.

Atualmente, representa cerca de 55% do movimento de mercadorias nos portos portugueses (a larga distância de Leixões, com 20%, e de Lisboa, com 7%). Também em produtividade, Sines não fica atrás de Yangshan: “Dizem-me aqui que cada pórtico tem capacidade para movimentar mais de 30 contentores por hora”, destaca a ministra.

A visita ao porto chinês, na zona de comércio livre de Xangai, foi um dos pontos altos da viagem da ministra do Mar à China, acompanhada por representantes de 40 empresas nacionais, com o objetivo de dar a conhecer as oportunidades de investimento no sector marítimo e portuário em Portugal a investidores chineses. Na bagagem para este périplo, que fez escala em Pequim, Xangai e Xiamen, Ana Paula Vitorino levou um plano de investimento de €2,5 mil milhões nos portos continentais, dos quais 85% terá de ser suportado por investidores privados. A viagem incluiu seminários junto de empresas chinesas, com a apresentação de vários portos portugueses, como o de Leixões, que procura financiamento e interessados na expansão de um novo terminal de contentores (que permita adicionar mais 750 mil TEU, para um total de 1,5 milhões), ou o de Lisboa, que pretende arrancar com o novo terminal de contentores do Barreiro.

Mas foi o porto de Sines a “estrela” desta visita oficial: não só a administração portuária assinou um acordo de cooperação com a Logink, uma plataforma pública chinesa para o sector dos transportes e logística que detém uma tecnologia de partilha de informação global para a rastreabilidade dos contentores de carga, como foi o alvo preferido de todos os discursos das autoridades e investidores chineses, incluindo representantes da State Oceanic Administration (SOA), do China Development Bank e de grupos chineses que já investiram em Portugal, como a Fosun ou a China Three Gorges.

Em jogo está a expansão do chamado Terminal XXI, concessionado à PSA de Singapura, que já se mostrou interessada no projeto. Mas procura-se, principalmente, encontrar investidores para o lançamento do novo terminal de contentores Vasco da Gama. Com 18 metros de profundidade, este “conta já com um conjunto de interessados em participar no concurso internacional, que será lançado em 2018, depois de concluídos os estudos de impacte ambiental”, declara o presidente da administração do porto de Sines, José Luís Cacho.

“Estamos a estreitar relações com grupos chineses, que têm demonstrado interesse no projeto. Mas também há outros interesses, europeus ou do Japão, por exemplo”, diz o responsável, que estima que a construção de um novo terminal de contentores “possa rondar, numa primeira fase, os €400 milhões”. Ana Paula Vitorino fala também das manifestações de interesse de países como a Índia e o Paquistão. A ministra do Mar aproveitou para se encontrar com companhias do sector, como a gigante China Communication Construction Company, especializada na construção de infraestruturas portuárias e a maior empresa de drenagens do mundo.

Portugal na rota da seda

Os encontros com interlocutores chineses (incluindo um almoço de trabalho com a Fosun e o seu diretor executivo e copresidente Xu Xiaoliang) decorrem de forma afável e traduzem o estreitamento das relações económicas entre os dois países nos últimos anos: desde 2011, ano da entrada de capital chinês na EDP, que se estima em €15 mil milhões o investimento chinês que entrou em Portugal.

A aposta da ministra do Mar é que esta torrente de projetos não se fique por aqui. E incorporou no seu discurso a ambiciosa estratégia do Governo chinês — anunciada em 2013 e reafirmada no discurso do Presidente chinês, Xi Jinping, no último congresso do Partido Comunista chinês, em outubro — de revitalizar a célebre “rota marítima da seda”, num megaprojeto para desenvolver infraestruturas terrestres e marítimas que liguem a China à Ásia Central, Europa e África — num percurso de gigante para dominar o comércio e diplomacia mundiais. Um mapa de 60 países, que abarca 60% da população do globo e um terço do PIB mundial, num investimento multimilionário que o Crédit Suisse estima em €502 mil milhões. E que se inspira na rota da seda, que durante séculos dominou o comércio mundial entre o Extremo Oriente e a Europa.

Nos últimos meses, a diplomacia portuguesa tem procurado fazer pressão para que esse longo caminho, que por ferrovia termina em Madrid, se estenda até Sines. E que este porto seja também incluído na rota marítima. Afinal, “Portugal tem um argumento de peso: a nossa localização geoestratégica, que domina tanto as rotas atlânticas como as rotas que vêm do Suez e do Panamá. Nós somos o ponto de cruzamento natural, e é aí que nos temos de posicionar”.

Mas “não a todo o custo”. Estes devem ser “investimentos feitos em parceria, entre chineses e portugueses. Eles têm a vontade e a capacidade financeira, nós temos o conhecimento e a capacidade de execução”, afirma Ana Paula Vitorino, que, depois de ter levado o sector portuário para a China (antes disso, visitou o Canadá e Malta), prepara, para o ano, nova apresentação do sector portuário nacional, desta feita na Índia. “Estamos a falar de uma área estratégica para o país. Até ao final deste ano, a capacidade dos portos portugueses vai atingir, pela primeira vez, os 100 milhões de toneladas de carga movimentada. Para suportar este crescimento, temos de ter uma infraestrutura portuária preparada para o longo prazo.”

O Expresso viajou a convite da Associação dos Portos de Portugal

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