Como o CDS vê a corte amorosa de Costa a Cristas

16-06-2016
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“O CDS revelou maturidade democrática”, notou Pedro Nuno Santos. “O atrelado livrou-se do rebocador”, gracejou Carlos César. Ao contrário de “outras forças partidárias”, o CDS mostra sinais positivos e de alguma abertura, sublinhou António Costa. Nas últimas semanas os elogios do PS ao CDS têm-se multiplicado – ao mesmo ritmo que repetem as críticas ao PSD. Os centristas chamam-lhe “operação de charme” e reconhecem o cortejo. Mas vão avisando: sim, estamos dispostos a conversar, mas só até certo ponto. Nesta nova relação entre CDS e PS, entre Assunção Cristas e António Costa, os limites são bem claros – e os sociais-democratas continuam a ser “os parceiros privilegiados”.

É isso mesmo que diz o Nuno Magalhães ao Observador. O deputado centrista desvaloriza os elogios do PS e afasta o cenário de aproximação entre os dois partidos. “Acho que [o cortejo do PS] faz parte da vida política”. Os socialistas “estão a tentar explorar eventuais divergências entre PSD e CDS”, ao mesmo tempo que “procuram pontes de entendimento à direita com o partido mais pequeno”. “Mas não me parece que tenham sucesso“, atira o líder parlamentar do CDS.

Diogo Feio, dirigente centrista e novo diretor do Gabinete de Estudos do partido, apoia esta tese. “Parece-me bastante evidente que não há qualquer aproximação entre CDS e PS. Nós somos uma claríssima oposição ao Governo socialista e à solução parlamentar que o PS engendrou. [Os socialistas] encontraram uma solução parlamentar que é incompatível com elogios ao CDS e estão presos à esquerda. O que não significa que o CDS não converse com todos os partidos”, incluindo o próprio PS.

Nuno Melo eleva o tom, mas alinha com os outros dirigentes. “Não me parece que esses elogios traduzam uma expressão genuína ou de sinceridade. O PS está a tentar criar alguma dessintonia entre PSD e CDS” como parte de uma estratégia de “oposição ao PSD”, acusa o centrista.

Teoricamente, esta estratégia até podia dar certo. Perante a aparente apatia dos sociais-democratas, com um CDS disposto a fazer parte da solução e não do problema – e com o PS a fazer notar isso em cada intervenção política -, o CDS podia eventualmente crescer na mesma medida em que o PSD perdia votos, castigado pelo eleitorado descontente com a posição do partido de Passos. A direita fraturava-se e os socialistas ganhavam novo fôlego como o único partido que consegue dialogar à esquerda e à direita.

Arrojada ou não, a estratégia serve de pouco, vai avisando Nuno Melo – socialistas e centristas são adversários naturais. “O socialismo é um adversário ideológico da democracia-cristã e o PS é uma adversário político do CDS“. Tudo que fuja a este registo “para mim, é uma realidade forçada“, vinca o eurodeputado, lembrando, ainda assim, que fala apenas a título individual.

Os três dirigentes do CDS, no entanto, não deixam de reconhecer o óbvio: o CDS escolheu uma estratégia diferente da do PSD – desde logo, porque não se absteve na discussão do Orçamento do Estado para 2016 e apresentou propostas de alteração ao documento. Algo que os sociais-democratas se recusaram a fazer.

Além disso, Assunção Cristas já disse ao que vinha. A “nova Boss AC”, como lhe chamou Adolfo Mesquita Nunes, vai desafiando o outro Boss AC, António Costa, a discutir abertamente algumas bandeiras do CDS. Políticas de incentivo à natalidade e de combate ao envelhecimento, uma revisão constitucional que permitisse, por exemplo, alterar a forma de nomeação do governador do Banco de Portugal, ou uma reforma da Segurança Social, considerada prioritária pelos centristas. No fundo, as mesmíssimas pontes que estendeu logo no congresso que a elegeu e que recuperou no primeiro debate quinzenal como líder do CDS. “Assunção Cristas fará uma oposição firme ao PS e a este Governo – firme, mas muito construtiva“, insiste Nuno Magalhães

Pedro Passos Coelho, por sua vez, tem fechado a porta pactos com o PS e só admite conversar com os socialistas se o Governo desistir de reverter todas as reformas que foram feitas pelo anterior Executivo.

No CDS, no entanto, há quem assuma que a estratégia seguida serve mesmo para marcar a diferença em relação ao PSD e distanciar-se do discurso não quero, não posso e não faço dos sociais-democratas. Os centristas querem ser alternativa à posição muito fechada do PSD e esperam que isso se traduza numa afirmação política do partido.

É isso que garante fonte parlamentar do CDS ao Observador. Mesmo admitindo que o PS está a tentar seduzir o CDS para o tentar pôr contra o PSD – uma tática antiga dos socialistas, de resto – o partido liderado por Assunção Cristas não quer fazer parte de uma oposição irresponsável e só de bota abaixo.

Os centristas estão dispostos a entrar na dança a dois com o PS sempre que os objetivos de ambos sejam compatíveis. Aliás, a mesma fonte admite que os socialistas estejam a fazer esta operação de charme para dar um sinal aos mercados de que o Governo também está disponível para outro tipo de entendimentos. Para mostrar que há vida para lá da “geringonça”.

O certo é que, na quarta-feira, no final do debate quinzenal, e já depois dos elogios ao novo comportamento do CDS, António Costa ainda fez questão de dirigir-se a Assunção Cristas para um cumprimento prolongado. Antes, Carlos César, presidente do PS, já dera os “parabéns” aos centristas por deixarem a boleia da “caranguejola”, ganharem “motor” e passarem “à frente” do PSD. Mais um piscar de olho à direita.

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“O CDS revelou maturidade democrática”, notou Pedro Nuno Santos. “O atrelado livrou-se do rebocador”, gracejou Carlos César. Ao contrário de “outras forças partidárias”, o CDS mostra sinais positivos e de alguma abertura, sublinhou António Costa. Nas últimas semanas os elogios do PS ao CDS têm-se multiplicado – ao mesmo ritmo que repetem as críticas ao PSD. Os centristas chamam-lhe “operação de charme” e reconhecem o cortejo. Mas vão avisando: sim, estamos dispostos a conversar, mas só até certo ponto. Nesta nova relação entre CDS e PS, entre Assunção Cristas e António Costa, os limites são bem claros – e os sociais-democratas continuam a ser “os parceiros privilegiados”.

É isso mesmo que diz o Nuno Magalhães ao Observador. O deputado centrista desvaloriza os elogios do PS e afasta o cenário de aproximação entre os dois partidos. “Acho que [o cortejo do PS] faz parte da vida política”. Os socialistas “estão a tentar explorar eventuais divergências entre PSD e CDS”, ao mesmo tempo que “procuram pontes de entendimento à direita com o partido mais pequeno”. “Mas não me parece que tenham sucesso“, atira o líder parlamentar do CDS.

Diogo Feio, dirigente centrista e novo diretor do Gabinete de Estudos do partido, apoia esta tese. “Parece-me bastante evidente que não há qualquer aproximação entre CDS e PS. Nós somos uma claríssima oposição ao Governo socialista e à solução parlamentar que o PS engendrou. [Os socialistas] encontraram uma solução parlamentar que é incompatível com elogios ao CDS e estão presos à esquerda. O que não significa que o CDS não converse com todos os partidos”, incluindo o próprio PS.

Nuno Melo eleva o tom, mas alinha com os outros dirigentes. “Não me parece que esses elogios traduzam uma expressão genuína ou de sinceridade. O PS está a tentar criar alguma dessintonia entre PSD e CDS” como parte de uma estratégia de “oposição ao PSD”, acusa o centrista.

Teoricamente, esta estratégia até podia dar certo. Perante a aparente apatia dos sociais-democratas, com um CDS disposto a fazer parte da solução e não do problema – e com o PS a fazer notar isso em cada intervenção política -, o CDS podia eventualmente crescer na mesma medida em que o PSD perdia votos, castigado pelo eleitorado descontente com a posição do partido de Passos. A direita fraturava-se e os socialistas ganhavam novo fôlego como o único partido que consegue dialogar à esquerda e à direita.

Arrojada ou não, a estratégia serve de pouco, vai avisando Nuno Melo – socialistas e centristas são adversários naturais. “O socialismo é um adversário ideológico da democracia-cristã e o PS é uma adversário político do CDS“. Tudo que fuja a este registo “para mim, é uma realidade forçada“, vinca o eurodeputado, lembrando, ainda assim, que fala apenas a título individual.

Os três dirigentes do CDS, no entanto, não deixam de reconhecer o óbvio: o CDS escolheu uma estratégia diferente da do PSD – desde logo, porque não se absteve na discussão do Orçamento do Estado para 2016 e apresentou propostas de alteração ao documento. Algo que os sociais-democratas se recusaram a fazer.

Além disso, Assunção Cristas já disse ao que vinha. A “nova Boss AC”, como lhe chamou Adolfo Mesquita Nunes, vai desafiando o outro Boss AC, António Costa, a discutir abertamente algumas bandeiras do CDS. Políticas de incentivo à natalidade e de combate ao envelhecimento, uma revisão constitucional que permitisse, por exemplo, alterar a forma de nomeação do governador do Banco de Portugal, ou uma reforma da Segurança Social, considerada prioritária pelos centristas. No fundo, as mesmíssimas pontes que estendeu logo no congresso que a elegeu e que recuperou no primeiro debate quinzenal como líder do CDS. “Assunção Cristas fará uma oposição firme ao PS e a este Governo – firme, mas muito construtiva“, insiste Nuno Magalhães

Pedro Passos Coelho, por sua vez, tem fechado a porta pactos com o PS e só admite conversar com os socialistas se o Governo desistir de reverter todas as reformas que foram feitas pelo anterior Executivo.

No CDS, no entanto, há quem assuma que a estratégia seguida serve mesmo para marcar a diferença em relação ao PSD e distanciar-se do discurso não quero, não posso e não faço dos sociais-democratas. Os centristas querem ser alternativa à posição muito fechada do PSD e esperam que isso se traduza numa afirmação política do partido.

É isso que garante fonte parlamentar do CDS ao Observador. Mesmo admitindo que o PS está a tentar seduzir o CDS para o tentar pôr contra o PSD – uma tática antiga dos socialistas, de resto – o partido liderado por Assunção Cristas não quer fazer parte de uma oposição irresponsável e só de bota abaixo.

Os centristas estão dispostos a entrar na dança a dois com o PS sempre que os objetivos de ambos sejam compatíveis. Aliás, a mesma fonte admite que os socialistas estejam a fazer esta operação de charme para dar um sinal aos mercados de que o Governo também está disponível para outro tipo de entendimentos. Para mostrar que há vida para lá da “geringonça”.

O certo é que, na quarta-feira, no final do debate quinzenal, e já depois dos elogios ao novo comportamento do CDS, António Costa ainda fez questão de dirigir-se a Assunção Cristas para um cumprimento prolongado. Antes, Carlos César, presidente do PS, já dera os “parabéns” aos centristas por deixarem a boleia da “caranguejola”, ganharem “motor” e passarem “à frente” do PSD. Mais um piscar de olho à direita.

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