Ladrões de Bicicletas: Falemos então de rendimentos e de justiça social

22-05-2019
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Num quadro de total desespero e crescente degenerescência política, surgiu há dias no PSD uma tese particularmente absurda: o aumento da pobreza e das desigualdades, nos anos do «ajustamento» e do «ir além da troika», seria o reflexo das políticas seguidas pelo anterior governo do Partido Socialista e não o resultado dos cortes nos salários e nas pensões, nos serviços públicos e nas prestações sociais, metodicamente levados a cabo pela maioria de direita a partir de 2011.

Assim, como se não bastasse Passos Coelho ter acusado o atual governo de estar a construir uma «sociedade mais pobre e mais injusta», Marco António Costa sobe a fasquia da desfaçatez, garantindo que foi «durante o governo do PS, até 2011, que os pobres foram mais penalizados do que os ricos». Para Marco António, que deste modo tentava esconjurar as conclusões do recente estudo da FFMS sobre pobreza e desigualdades, «a maior parte da redução de rendimentos no período 2009-2014 ocorre por efeito das medidas orçamentais adotadas pelo governo do PS». A sério Marco António? Então vejamos:

O gráfico não deixa margem para dúvidas, permitindo diferenciar dois padrões claramente distintos. Entre 2006 e 2009 (com um governo socialista no poder), cerca de 80% da população vê os seus níveis de rendimento aumentar (beneficiando em particular os 20% mais pobres) e apenas os 20% mais ricos registam perdas (entre 3 a 6%). Já entre 2009 e 2014 (com a coligação PSD/PP no poder a partir de 2011), a quebra generalizada de rendimentos (-12%, que comparam com o aumento de 2% no período anterior) atinge sobretudo os 20% mais pobres (que detém em 2014 menos 15 a 25% do rendimento que auferiam em 2009), só depois afetando os 20% mais ricos (numa menor escala de perdas, a oscilar entre 11 e 13%). Ou seja, amplia-se o fosso das desigualdades e agudiza-se a injustiça social.

Como bem assinala o Renato Carmo, num certeiro texto de comentário às declarações alucinadas de Marco António Costa, nada disto é propriamente novo ou desconhecido. De facto, já se sabia que «as desigualdades de rendimento inverteram a tendência de decréscimo dos anos anteriores e recomeçaram a aumentar a partir de 2010, intensificando-se até 2013». O que não se sabia é que o empobrecimento (sem o qual era impossível sair da crise, dizia Passos Coelho em 2011), recaiu sobretudo naqueles que eram já os mais pobres, ao arrepio de toda e qualquer «ética social na austeridade», então enganosamente apregoada aos quatro ventos.


Num quadro de total desespero e crescente degenerescência política, surgiu há dias no PSD uma tese particularmente absurda: o aumento da pobreza e das desigualdades, nos anos do «ajustamento» e do «ir além da troika», seria o reflexo das políticas seguidas pelo anterior governo do Partido Socialista e não o resultado dos cortes nos salários e nas pensões, nos serviços públicos e nas prestações sociais, metodicamente levados a cabo pela maioria de direita a partir de 2011.

Assim, como se não bastasse Passos Coelho ter acusado o atual governo de estar a construir uma «sociedade mais pobre e mais injusta», Marco António Costa sobe a fasquia da desfaçatez, garantindo que foi «durante o governo do PS, até 2011, que os pobres foram mais penalizados do que os ricos». Para Marco António, que deste modo tentava esconjurar as conclusões do recente estudo da FFMS sobre pobreza e desigualdades, «a maior parte da redução de rendimentos no período 2009-2014 ocorre por efeito das medidas orçamentais adotadas pelo governo do PS». A sério Marco António? Então vejamos:

O gráfico não deixa margem para dúvidas, permitindo diferenciar dois padrões claramente distintos. Entre 2006 e 2009 (com um governo socialista no poder), cerca de 80% da população vê os seus níveis de rendimento aumentar (beneficiando em particular os 20% mais pobres) e apenas os 20% mais ricos registam perdas (entre 3 a 6%). Já entre 2009 e 2014 (com a coligação PSD/PP no poder a partir de 2011), a quebra generalizada de rendimentos (-12%, que comparam com o aumento de 2% no período anterior) atinge sobretudo os 20% mais pobres (que detém em 2014 menos 15 a 25% do rendimento que auferiam em 2009), só depois afetando os 20% mais ricos (numa menor escala de perdas, a oscilar entre 11 e 13%). Ou seja, amplia-se o fosso das desigualdades e agudiza-se a injustiça social.

Como bem assinala o Renato Carmo, num certeiro texto de comentário às declarações alucinadas de Marco António Costa, nada disto é propriamente novo ou desconhecido. De facto, já se sabia que «as desigualdades de rendimento inverteram a tendência de decréscimo dos anos anteriores e recomeçaram a aumentar a partir de 2010, intensificando-se até 2013». O que não se sabia é que o empobrecimento (sem o qual era impossível sair da crise, dizia Passos Coelho em 2011), recaiu sobretudo naqueles que eram já os mais pobres, ao arrepio de toda e qualquer «ética social na austeridade», então enganosamente apregoada aos quatro ventos.

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