Ladrões de Bicicletas: Qual é a vantagem?

23-05-2019
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Quem ler o artigo de opinião de Mário Centeno, hoje no Público ficará com a estranha sensação de que o Governo já tomou uma decisão. A de deixar o ministro das Finanças assumir as funções de presidente de um organismo que não existe - o eurogrupo.

"Colagem" com foto oficial e obras expostas na Exposição Arco Lx17

Não é claro, o texto de Centeno. Mas é suficientemente vago para não ser claro. Como não são suficientemente claras, as declarações já feitas.

Como se verá, o artigo tem três partes: uma, em que elogia a posição de Portugal; outra, em que se mostra compreensivo com a ala dos falcões da UE (abrindo-lhes uma porta: assuma-se o erro, vá lá); e uma terceira em que traça um miniplano de reforma da zona euro.

Não soa isto demasiado estranho?

Mas o que mais se estranha ainda é o Governo poder considerar haver alguma vantagem em ocupar um lugar como esse.

Pelo tom do artigo, parece que o Governo pensa que convencerá a ala radical da política económica europeia de que a política seguida até agora não produz efeitos positivos. Achará, mesmo depois de Varoufakis, que as reuniões do eurogrupo são para discutir economia e não, antes, uma questão de poder?

Nessa posição, o máximo que Centeno vai conseguir é ser a bissetriz de diferentes opiniões e, com isso, será uma desilusão. Vai ter de repetir muitas vezes "reformas estruturais", "esforços adicionais" ou "mais flexibilidade no mercado do trabalho". E contribuirá para enterrar a esquerda portuguesa. Centeno vai estar de mãos e pés atado, sem conseguir uma frente unida dos países críticos. Nesse caso, Centeno teria então sido "comprado" para entrar no clube dos grandes (no clube da frente), tal como sucedeu a Maria Luís Albuquerque. O Partido Socialista arrisca-se, pois, a fazer a triste figura do PS holandês e Centeno a ser o novo Dijsselbloem da política nacional. O PSD e o CDS e a direita europeia agradecerão.

E depois há a proposta de programa para a zona euro. Ninguém discordará - nem Schauble - de que deve haver "políticas que promovam o crescimento e a convergência na Europa". Mas isso consegue-se com um subsídio de desemprego comum? Não há problemas na própria estrutura do euro que inviabilizam esse mesmo objectivo? Haverá desemprego, mas pago pela UE...
 
Se forem estas as ideias de Centeno, é porque já está a adoptar o programa Schauble, embora com os objectivos de Centeno. Vai dar com os burrinhos na água. E, pior do que tudo, nós também.


Quem ler o artigo de opinião de Mário Centeno, hoje no Público ficará com a estranha sensação de que o Governo já tomou uma decisão. A de deixar o ministro das Finanças assumir as funções de presidente de um organismo que não existe - o eurogrupo.

"Colagem" com foto oficial e obras expostas na Exposição Arco Lx17

Não é claro, o texto de Centeno. Mas é suficientemente vago para não ser claro. Como não são suficientemente claras, as declarações já feitas.

Como se verá, o artigo tem três partes: uma, em que elogia a posição de Portugal; outra, em que se mostra compreensivo com a ala dos falcões da UE (abrindo-lhes uma porta: assuma-se o erro, vá lá); e uma terceira em que traça um miniplano de reforma da zona euro.

Não soa isto demasiado estranho?

Mas o que mais se estranha ainda é o Governo poder considerar haver alguma vantagem em ocupar um lugar como esse.

Pelo tom do artigo, parece que o Governo pensa que convencerá a ala radical da política económica europeia de que a política seguida até agora não produz efeitos positivos. Achará, mesmo depois de Varoufakis, que as reuniões do eurogrupo são para discutir economia e não, antes, uma questão de poder?

Nessa posição, o máximo que Centeno vai conseguir é ser a bissetriz de diferentes opiniões e, com isso, será uma desilusão. Vai ter de repetir muitas vezes "reformas estruturais", "esforços adicionais" ou "mais flexibilidade no mercado do trabalho". E contribuirá para enterrar a esquerda portuguesa. Centeno vai estar de mãos e pés atado, sem conseguir uma frente unida dos países críticos. Nesse caso, Centeno teria então sido "comprado" para entrar no clube dos grandes (no clube da frente), tal como sucedeu a Maria Luís Albuquerque. O Partido Socialista arrisca-se, pois, a fazer a triste figura do PS holandês e Centeno a ser o novo Dijsselbloem da política nacional. O PSD e o CDS e a direita europeia agradecerão.

E depois há a proposta de programa para a zona euro. Ninguém discordará - nem Schauble - de que deve haver "políticas que promovam o crescimento e a convergência na Europa". Mas isso consegue-se com um subsídio de desemprego comum? Não há problemas na própria estrutura do euro que inviabilizam esse mesmo objectivo? Haverá desemprego, mas pago pela UE...
 
Se forem estas as ideias de Centeno, é porque já está a adoptar o programa Schauble, embora com os objectivos de Centeno. Vai dar com os burrinhos na água. E, pior do que tudo, nós também.

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