Ladrões de Bicicletas: Pequenos passos

22-05-2019
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Parece sintomático que os dois temas escolhidos pelo PSD para conversar com o Governo sejam em torno de dinheiro. É um tema fácil para os dois partidos. 

Ele é a descentralização - ou seja, a transferência de responsabilidade e verbas do Estado para as autarquias - e o desenho do próximo quadro de fundos comunitários.  

O PSD colocou a negociar Álvaro Amaro, presidente dos autarcas
sociais-democratas, para a descentralização, e Manuel Castro Almeida,
agora vice-presidente do PSD e ex-secretário de Estado para o
Desenvolvimento Regional, para os fundos europeus. Até Maria Luís Albuquerque, aquela ex-ministra que se caracterizou pela incapacidade até para se mostrar dialogante, aposta nas conversas com o Governo. Disse ela em Bruxelas: "Não queremos ser apenas informados do que está a acontecer, queremos que haja um verdadeiro debate, uma consulta. Havendo essa disponibilidade para falar connosco, em tempo, não há razão nenhuma para não nos entendermos, porque nunca nos desentendemos nestas matérias relacionadas com questões económico-financeiras". 

E nem por coincidência, o secretário de Estado Pedro Marques inicia hoje contactos com a Associação Nacional de Municípios Portugueses para debater o novo enquadramento dos fundos comunitários.

O fecho ou mesmo a aparência de diálogo sobre um tema fácil, como os que estão em causa, tem vantagens para ambos neste jogo de aparências pré-eleitorais. E é uma escola de aprender a dialogar. É também para isso que se criam grupos de trabalho. Quem aceita falar de amor, tende a acabar na cama. E esse é o grande risco e o grande desafio à esquerda do PS.

O PSD, com sondagens nos seus níveis mais baixos de sempre - que nem somado com o CDS consegue chegar à pontuação do PS - teve de mudar de táctica para evitar a sectarização de quem o levou para a direita. O PSD quer governar sozinho, mas sabe que tem de recuperar os eleitores que se afastaram dele e que fazem parte daquela base social que se movimenta entre PS e PSD. Mostrar-se afável é uma boa jogada.

Por seu lado, o PS - e mesmo o próprio Governo - tem no seu seio quem não gosta de um Governo apoiado à esquerda e vê com bons olhos tudo o que crie stress à coligação. É de esperar novos anúncios de necessidade e urgência das ditas reformas estruturais - ou seja, das reformas que a direita quer fazer, mas que não são reformas de fundo, que melhorem a vida no país. Até Marcelo Rebelo de Sousa se sente um pouco esvaziado neste contexto, ele que pressionou para consensos, como na Justiça, que aliás Rio remeteu para o médio prazo e parece querer fazer brilharetes com a sua nova vice-presidente.

António Costa, por sua vez, demarca-se do PSD ao reafirmar sem parar a coligação que o apoia, mas tende a querer esvaziar a ofensiva dialogante de Rio, respondendo com a abertura em temas não de fundo. Esse diálogo aparente dá igualmente um sinal à esquerda para não se radicalizar - e não encostar o PS à parede, nomeadamente no dossier laboral - porque há mais parceiros possíveis. Ter dois parceiros que se mostram apreensivos ou zangados com o PS é o melhor cartão de visita para um PS que quer se manter independente de esquerdas radicais, ao centro (nas águas do apoio social do PSD), ainda que o centro seja a manutenção de um status quo à direita. 

Nada disto debate o que é essencial para Portugal. Tudo parece ter a ver com adiamento e eleições. Mas se assim é, a iniciativa pode estar do lado dos partidos à esquerda do PS, assim saibam eles propor um novo agendamento de reformas de fundo, com propostas viáveis e responsáveis. Algo que os coloque no centro do debate, da iniciativa política, que neste momento virou para a direita.  

Parece sintomático que os dois temas escolhidos pelo PSD para conversar com o Governo sejam em torno de dinheiro. É um tema fácil para os dois partidos. 

Ele é a descentralização - ou seja, a transferência de responsabilidade e verbas do Estado para as autarquias - e o desenho do próximo quadro de fundos comunitários.  

O PSD colocou a negociar Álvaro Amaro, presidente dos autarcas
sociais-democratas, para a descentralização, e Manuel Castro Almeida,
agora vice-presidente do PSD e ex-secretário de Estado para o
Desenvolvimento Regional, para os fundos europeus. Até Maria Luís Albuquerque, aquela ex-ministra que se caracterizou pela incapacidade até para se mostrar dialogante, aposta nas conversas com o Governo. Disse ela em Bruxelas: "Não queremos ser apenas informados do que está a acontecer, queremos que haja um verdadeiro debate, uma consulta. Havendo essa disponibilidade para falar connosco, em tempo, não há razão nenhuma para não nos entendermos, porque nunca nos desentendemos nestas matérias relacionadas com questões económico-financeiras". 

E nem por coincidência, o secretário de Estado Pedro Marques inicia hoje contactos com a Associação Nacional de Municípios Portugueses para debater o novo enquadramento dos fundos comunitários.

O fecho ou mesmo a aparência de diálogo sobre um tema fácil, como os que estão em causa, tem vantagens para ambos neste jogo de aparências pré-eleitorais. E é uma escola de aprender a dialogar. É também para isso que se criam grupos de trabalho. Quem aceita falar de amor, tende a acabar na cama. E esse é o grande risco e o grande desafio à esquerda do PS.

O PSD, com sondagens nos seus níveis mais baixos de sempre - que nem somado com o CDS consegue chegar à pontuação do PS - teve de mudar de táctica para evitar a sectarização de quem o levou para a direita. O PSD quer governar sozinho, mas sabe que tem de recuperar os eleitores que se afastaram dele e que fazem parte daquela base social que se movimenta entre PS e PSD. Mostrar-se afável é uma boa jogada.

Por seu lado, o PS - e mesmo o próprio Governo - tem no seu seio quem não gosta de um Governo apoiado à esquerda e vê com bons olhos tudo o que crie stress à coligação. É de esperar novos anúncios de necessidade e urgência das ditas reformas estruturais - ou seja, das reformas que a direita quer fazer, mas que não são reformas de fundo, que melhorem a vida no país. Até Marcelo Rebelo de Sousa se sente um pouco esvaziado neste contexto, ele que pressionou para consensos, como na Justiça, que aliás Rio remeteu para o médio prazo e parece querer fazer brilharetes com a sua nova vice-presidente.

António Costa, por sua vez, demarca-se do PSD ao reafirmar sem parar a coligação que o apoia, mas tende a querer esvaziar a ofensiva dialogante de Rio, respondendo com a abertura em temas não de fundo. Esse diálogo aparente dá igualmente um sinal à esquerda para não se radicalizar - e não encostar o PS à parede, nomeadamente no dossier laboral - porque há mais parceiros possíveis. Ter dois parceiros que se mostram apreensivos ou zangados com o PS é o melhor cartão de visita para um PS que quer se manter independente de esquerdas radicais, ao centro (nas águas do apoio social do PSD), ainda que o centro seja a manutenção de um status quo à direita. 

Nada disto debate o que é essencial para Portugal. Tudo parece ter a ver com adiamento e eleições. Mas se assim é, a iniciativa pode estar do lado dos partidos à esquerda do PS, assim saibam eles propor um novo agendamento de reformas de fundo, com propostas viáveis e responsáveis. Algo que os coloque no centro do debate, da iniciativa política, que neste momento virou para a direita.  

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