Crianças com asma não controlada custam 40 milhões em idas à urgência

06-06-2017
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Crianças com asma não controlada custam 40 milhões em idas à urgência
Asma é a doença crónica mais prevalente em crianças e jovens portugueses. Absentismo escolar das crianças e absentismo laboral dos pais é três vezes maior nos casos em que a doença não está estabilizada. Alexandra Campos 2 de Maio de 2016, 7:20 Partilhar notícia 178 partilhas Partilhar no Facebook Partilhar no Twitter Partilhar no WhatsApp Partilhar no LinkedIn Partilhar no Google+ Enviar por email Imprimir Guardar Comentar Foto
Controlar a doença implica, além de uma boa prescrição, um acompanhamento adequado
Fernando Veludo/NFactos (arquivo) PUB Corridas para os serviços de urgência e para os centros de saúde que poderiam ser evitadas e sucessivos agravamentos de uma condição que é controlável na esmagadora maioria dos casos. É um problema de saúde que é, em simultâneo, um problema económico: em Portugal, gastam-se 40 milhões de euros por ano com urgências e atendimentos não programados devido a crises de asma em crianças e adolescentes com a doença não controlada. São dados de um projecto da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), realizado pelo Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, que dão uma ideia do impacto da asma não controlada na infância. PUB É a primeira vez que em Portugal são divulgadas estimativas dos custos associados à asma nas crianças e adolescentes e os números vão ser divulgados nesta terça-feira, dia mundial da doença. Metade das cerca de 175 mil crianças e adolescentes asmáticos não têm a doença sob controlo e este é o principal factor que agrava os custos, acentuam os investigadores do projecto CASCA (Custo da Asma na Criança), que é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e tem o apoio técnico do LabAIR do Instituto CUF Porto. Só 30% das crianças com asma chegam à adolescência sem sintomas da doença “O impacto económico médio por criança com asma não controlada é duas a três vezes superior ao de uma criança com a doença sob controlo”, explica João Fonseca, investigador do CINTESIS e da FMUP, entidades responsáveis pelo projecto. Por cada criança nesta situação, são gastos entre 400 a 700 euros por ano só devido às idas aos serviços de urgência, especifica. PUB Baseadas nos dados dos estudos Impacto e controlo da asma e rinite e do inquérito nacional sobre asma, as estimativas permitem concluir que, em geral, a doença é causa de mais de meio milhão de dias de faltas à escola. “São crianças que faltam à escola, não fazem actividades, não deixam dormir os pais”, enumera o especialista em imunoalergologia. Ao impacto financeiro juntam-se, assim, os custos sociais. “O absentismo escolar das crianças e o absentismo laboral dos pais ou outros cuidadores é, aproximadamente, três vezes maior nas crianças com asma cuja doença não esteja estabilizada. Em média, faltam à escola seis dias por ano”, acrescenta. Uma situação que poderia ser facilmente evitada, dado que “a asma pode ser controlada com terapêutica em 90 a 95% dos casos”, precisa.Sendo a asma a doença crónica mais prevalente em crianças e jovens (até 17 anos), no total, de acordo com as estimativas do projecto, as que têm a patologia não estabilizada custam mais de 80 milhões de euros, enquanto aquelas que têm a doença controlada dão origem a uma despesa da ordem dos 40 milhões de euros. A investigação permitiu ainda perceber que são as crianças com obesidade ou sintomas de rinite as que apresentam quadros clínicos piores. 175.000
crianças e adolescentes portugueses são asmáticos. Metade não tem a doença sob controlo
Partilhar citação Partilhar no Facebook Partilhar no Twitter Controlar a doença implica, além de uma boa prescrição, um acompanhamento adequado. O ideal é conseguir o equilíbrio entre dar medicação segura na dose mínima em vez de fazer picos de medicação quando há crises, explica João Fonseca. “O que não podemos é tolerar esta normalidade com que se vai à urgência. Medica-se, diz-se que a criança vai melhorar quando crescer e, assim, está-se a perder capacidade respiratória. É a complacência com esta situação que leva a estes resultados”, lamenta.Quanto à situação epidemiológica, essa melhorou muito no que se refere à mortalidade (cerca de uma centena de óbitos por ano), mas ainda há demasiados internamentos — basta ver que um terço das crianças portuguesas com asma são hospitalizadas por causa desta patologia respiratória, pelo menos uma vez na vida.Alerta para sobrediagnóstico Cuidados de saúde primários não estão a evitar internamentos por asma É importante fazer provas de função respiratória e testes alérgicos durante a primeira infância para se ter uma ideia precisa das características do doente, destaca o imunoalergologista Mário Morais de Almeida, que lamenta também que haja tantas pessoas a recorrer às urgências por não terem a doença controlada e não estarem bem diagnosticadas.Os dados disponíveis reforçam, de facto, a importância de um diagnóstico precoce e apontam para a necessidade de considerar outras patologias na altura de perceber como pode evoluir a doença. “Se o pulmão está constantemente a ser agredido e inflamado sem ser tratado, vai começar a defender-se e fica mais rijo, com uma estrutura mais espessada, e as obstruções deixam de ser reversíveis”, explica o presidente cessante da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.Mas, ao problema do diagnóstico tardio, o especialista acrescenta um fenómeno mais recente e que também o preocupa — o sobrediagnóstico. “Começa a haver um excesso de diagnóstico. Na obesidade, a dificuldade respiratória pode dar origem a um diagnóstico de asma”, exemplifica. Para ajudar os profissionais, em breve vai ser divulgada, pela Direcção-Geral da Saúde, uma nova norma de abordagem de tratamento. O melhor do Público no email Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Subscrever × Há um problema suplementar destacado por Mário Morais de Almeida: o da confusão, que por vezes ocorre nos adultos, entre asma e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), quando há diferenças substanciais no tratamento e no prognóstico. “Há pessoas que só porque fumaram são catalogadas como tendo DPOC”, diz. Ler mais Descoberto gene associado à asma nas crianças Se a doença pulmonar obstrutiva crónica é, em geral, causada pelo tabagismo, a asma pode estar presente em qualquer idade, afectando habitualmente as crianças e adolescentes. Mas na asma é possível reverter uma obstrução nos brônquios, enquanto na DPOC só parcialmente isso é possível.Numa altura em que o Governo anunciou que pretende que todos os agrupamentos de centros de saúde realizem espirometrias, um teste essencial para diagnosticar estes problemas, o especialista espera que a promessa se concretize, porque há profissionais de cardiopneumologia em número suficiente para realizar estes exames, que são baratos e fundamentais. Fazer espirometrias é como fazer electrocardiogramas, compara. PUB PUB Continuar a ler Leia também A carregar... tp.ocilbup@sopmaca Tópicos Sociedade Saúde Doenças Crianças Jovens Serviço Nacional de Saúde Partilhar notícia 178 partilhas Partilhar no Facebook Partilhar no Twitter Partilhar no WhatsApp Partilhar no LinkedIn Partilhar no Google+ Enviar por email Imprimir Guardar Comentar Sugerir correcção × Comentários Aprovados 0 Pendentes 0 Não há comentários Seja o primeiro a comentar. Mais comentários Não há comentários pendentes


Crianças com asma não controlada custam 40 milhões em idas à urgência
Asma é a doença crónica mais prevalente em crianças e jovens portugueses. Absentismo escolar das crianças e absentismo laboral dos pais é três vezes maior nos casos em que a doença não está estabilizada. Alexandra Campos 2 de Maio de 2016, 7:20 Partilhar notícia 178 partilhas Partilhar no Facebook Partilhar no Twitter Partilhar no WhatsApp Partilhar no LinkedIn Partilhar no Google+ Enviar por email Imprimir Guardar Comentar Foto
Controlar a doença implica, além de uma boa prescrição, um acompanhamento adequado
Fernando Veludo/NFactos (arquivo) PUB Corridas para os serviços de urgência e para os centros de saúde que poderiam ser evitadas e sucessivos agravamentos de uma condição que é controlável na esmagadora maioria dos casos. É um problema de saúde que é, em simultâneo, um problema económico: em Portugal, gastam-se 40 milhões de euros por ano com urgências e atendimentos não programados devido a crises de asma em crianças e adolescentes com a doença não controlada. São dados de um projecto da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), realizado pelo Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, que dão uma ideia do impacto da asma não controlada na infância. PUB É a primeira vez que em Portugal são divulgadas estimativas dos custos associados à asma nas crianças e adolescentes e os números vão ser divulgados nesta terça-feira, dia mundial da doença. Metade das cerca de 175 mil crianças e adolescentes asmáticos não têm a doença sob controlo e este é o principal factor que agrava os custos, acentuam os investigadores do projecto CASCA (Custo da Asma na Criança), que é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e tem o apoio técnico do LabAIR do Instituto CUF Porto. Só 30% das crianças com asma chegam à adolescência sem sintomas da doença “O impacto económico médio por criança com asma não controlada é duas a três vezes superior ao de uma criança com a doença sob controlo”, explica João Fonseca, investigador do CINTESIS e da FMUP, entidades responsáveis pelo projecto. Por cada criança nesta situação, são gastos entre 400 a 700 euros por ano só devido às idas aos serviços de urgência, especifica. PUB Baseadas nos dados dos estudos Impacto e controlo da asma e rinite e do inquérito nacional sobre asma, as estimativas permitem concluir que, em geral, a doença é causa de mais de meio milhão de dias de faltas à escola. “São crianças que faltam à escola, não fazem actividades, não deixam dormir os pais”, enumera o especialista em imunoalergologia. Ao impacto financeiro juntam-se, assim, os custos sociais. “O absentismo escolar das crianças e o absentismo laboral dos pais ou outros cuidadores é, aproximadamente, três vezes maior nas crianças com asma cuja doença não esteja estabilizada. Em média, faltam à escola seis dias por ano”, acrescenta. Uma situação que poderia ser facilmente evitada, dado que “a asma pode ser controlada com terapêutica em 90 a 95% dos casos”, precisa.Sendo a asma a doença crónica mais prevalente em crianças e jovens (até 17 anos), no total, de acordo com as estimativas do projecto, as que têm a patologia não estabilizada custam mais de 80 milhões de euros, enquanto aquelas que têm a doença controlada dão origem a uma despesa da ordem dos 40 milhões de euros. A investigação permitiu ainda perceber que são as crianças com obesidade ou sintomas de rinite as que apresentam quadros clínicos piores. 175.000
crianças e adolescentes portugueses são asmáticos. Metade não tem a doença sob controlo
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