Cristas no Minho, a dançar o 'vira' e a tentar virar o jogo

14-10-2019
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O momento:

É preciso prestar a devida homenagem à minhota 'festa da desfolhada', que pôs Assunção Cristas a dançar o vira, a descascar maçarocas e até a arriscar um breve momento de karaoke. A boa disposição desarmante dos minhotos contagiou a comitiva, que à hora de fecho deste texto continuava divertida a ouvir quadras adaptadas ao partido, com ocasionais torcidelas à métrica para incluir a política no 'vira'.

A frase do dia:

“O povo quer é: chouriço, bombos e música. É o que está a dar! Olhe para o Rio.”

Esteticista de Viana do Castelo, num conselho cheio de boas intenções que decidiu oferecer a Assunção Cristas a meio de uma arruada

O personagem:

O prémio vai também para uma mulher minhota que, numa prova de inesgotável energia, conseguiu em simultâneo ensinar Assunção Cristas a descascar maçarocas, cantar à desgarrada e adaptar versos ao CDS, com uma capacidade de improviso notável.

A fotografia:

nuno botelho

- Para a próxima traga bombos, que isto assim não dá nada!

A esteticista está à porta do salão, de panfleto do CDS na mão, esperando por Assunção Cristas enquanto faz comentários sobre o tamanho (e o ânimo) da comitiva em mais uma pequena arruada, desta vez pelo centro de Viana do Castelo. Assim que vê a líder chegar, transmite-lhe diretamente conselhos de estratégia para o terreno. Vai direta ao assunto:

- O povo quer é: chouriço, bombos e música. É o que está a dar! Olhe para o Rio!

É verdade que ainda esta segunda-feira as ruas de Viana testemunhavam uma enchente de gente, bandeiras e bombos cor de laranja para a campanha do social-democrata passar. No CDS é diferente, garante Cristas, que tem apostado em contactos de rua mais esporádicos e menos espalhafatosos (nesta campanha, os habituais bombos e cânticos não entram).

- A nossa é mais discreta, estamos a conversar com as pessoas…

- Conversa? Olhe, não vá nessa!

A potencial eleitora descrente abana a cabeça (enquanto os partidos não instituírem o voto obrigatório “isto está tudo lixado”, conclui, explicando a Cristas que as pessoas preferem ir para a praia a votar). E o grupo segue.

nuno botelho

A modesta arruada pelas ruas empedradas de Viana decorre sem grandes percalços ou emoções. É um distrito onde o CDS conta com um deputado (até agora era Ilda Araújo Novo, quem encabeça a nova lista é Filipe Anacoreta Correia), mas teme ficar sem nenhum. Por ali, faz-se uma breve visita a um lar de idosos seguida de uma ainda mais breve passagem não programada pelos bombeiros locais.

O momento político do dia já tinha passado e tinha tido a ver, como não podia deixar de ser, com Tancos. De papelinho na mão - levava já preparada uma folha A4 com as declarações passadas de António Costa sobre o ex-ministro Azeredo Lopes -, relembrara as questões com que tem confrontado o primeiro-ministro. Uma forma de manter a pressão sobre o caso que dificilmente desaparecerá até ao dia das eleições: para quarta-feira está marcada uma conferência de líderes com o objetivo de marcar uma comissão permanente sobre o tema.

Falta perceber se as manobras do CDS sobre Tancos darão frutos nas urnas: esta tarde, a comitiva esperava durante a arruada de Viana a sondagem da Universidade Católica para o Público e a RTP, depois de se ter confirmado que os números optimistas que circulavam durante a tarde pelos grupos de Whatsapp eram falsos. Nas ruas soalheiras, onde aproveitaram para provar uma das deliciosas bolas de berlim do café Natário, fizeram menos política.

Foi antes um passeio tranquilo por avenidas igualmente tranquilas e pouco frequentadas, feito de abordagens genericamente simpáticas - um homem pedia a Cristas que ajudasse a rever a lei que regula os apoios para pessoas com incapacidades graves e considerava-a “uma doutora espetacular”, um cão cumprimentava-a com simpatia (e alguém comentava que era uma forma de oferecer “o seu apoio”...), um homem olhava-a com ceticismo e sentenciava: “Não volto ao passado outra vez, que vocês têm um passado esquisito”.

Pelo meio, um grupo de amigos que tomava café anuncia a Cristas que o CDS já está “garantido”. Poderia parecer uma mensagem positiva, mas é a única de que a líder não gosta: “Qual garantido, é preciso lutar!”. Se há coisa inconveniente para o CDS, mesmo que não traga bombos e vozes estridentes para convencer quem passa, será deixar que o eleitorado desmobilize na reta final.

Isto está a virar, meus amigos!

O discurso foi o mesmo na chamada festa da desfolhada, já de noite. Corrigimos: o conteúdo até pode ter sido o mesmo, mas o ânimo… ‘virou’. Ingredientes: porco no espeto, música pimba - que depois se transformou no tradicional vira, cantado à desgarrada - e, claro, as gentes do Alto Minho, tão bem dispostas que contagiaram toda a comitiva.

O contágio foi evidente em Assunção Cristas: a líder ‘desfolhou’, como manda a regra, rodeada de mulheres minhotas que a guiavam na cansativa tarefa. A ideia é descascar dezenas e dezenas de maçarocas de milho até encontrar uma vermelha, que é conhecida por ser “a rainha”, mas Cristas entrou em modo espontâneo e apressou-se a esclarecer: “Não queremos nada com vermelhos”. A partir daí, a animação foi constante: Cristas dançou o vira, Cristas distribuiu beijos, Cristas até se agarrou ao microfone para entoar o hino do CDS, num inusitado momento de karaoke.

Também ouviu o ‘vira’, com torcidelas métricas necessárias para adaptar as quadras ao momento: “O partido melhor do mundo/ É o partido do CDS”. E, no final, os discursos. Primeiro, de Anacoreta Correia, que cheio de energia acusou António Costa de “virar as costas” à campanha e às explicações sobre Tancos com o pretexto do furacão que ameaça os Açores. Depois, o CDS: “Nós hoje dançámos muito o vira. E há uma coisa que me têm dito na rua: isto está a virar, meus amigos! Isto está a virar!”.

E como a ideia não ficasse clara, explicou melhor o que há a fazer até domingo: “Temos famílias, temos os sítios onde nos cruzamos, os trabalhos, os cafés. Amigos, até ao lavar dos cestos é vindima!”. Cristas esteve em sintonia. “Tenho andando na rua e ouço as pessoas dizerem: força, vá em frente, não desista, vamos virar isto. A minha resposta é sempre a mesma: a minha força está nas vossas mãos”.

Acabados os breves discursos - até porque toda a gente parecia compreensivelmente concentrada no vinho à pressão e nas sanduíches de carne que circulavam sem parar -, a noite acabou assim, com rimas que resumiam com eficácia a mensagem política:

“Para a Assunção Cristas

Com amor e com carinho

Um beijinho especial

Do Povo do Alto Minho

Para o povo aqui

Quero deixar um recado

Vamos todos às urnas

Eleger mais um deputado”.

O momento:

É preciso prestar a devida homenagem à minhota 'festa da desfolhada', que pôs Assunção Cristas a dançar o vira, a descascar maçarocas e até a arriscar um breve momento de karaoke. A boa disposição desarmante dos minhotos contagiou a comitiva, que à hora de fecho deste texto continuava divertida a ouvir quadras adaptadas ao partido, com ocasionais torcidelas à métrica para incluir a política no 'vira'.

A frase do dia:

“O povo quer é: chouriço, bombos e música. É o que está a dar! Olhe para o Rio.”

Esteticista de Viana do Castelo, num conselho cheio de boas intenções que decidiu oferecer a Assunção Cristas a meio de uma arruada

O personagem:

O prémio vai também para uma mulher minhota que, numa prova de inesgotável energia, conseguiu em simultâneo ensinar Assunção Cristas a descascar maçarocas, cantar à desgarrada e adaptar versos ao CDS, com uma capacidade de improviso notável.

A fotografia:

nuno botelho

- Para a próxima traga bombos, que isto assim não dá nada!

A esteticista está à porta do salão, de panfleto do CDS na mão, esperando por Assunção Cristas enquanto faz comentários sobre o tamanho (e o ânimo) da comitiva em mais uma pequena arruada, desta vez pelo centro de Viana do Castelo. Assim que vê a líder chegar, transmite-lhe diretamente conselhos de estratégia para o terreno. Vai direta ao assunto:

- O povo quer é: chouriço, bombos e música. É o que está a dar! Olhe para o Rio!

É verdade que ainda esta segunda-feira as ruas de Viana testemunhavam uma enchente de gente, bandeiras e bombos cor de laranja para a campanha do social-democrata passar. No CDS é diferente, garante Cristas, que tem apostado em contactos de rua mais esporádicos e menos espalhafatosos (nesta campanha, os habituais bombos e cânticos não entram).

- A nossa é mais discreta, estamos a conversar com as pessoas…

- Conversa? Olhe, não vá nessa!

A potencial eleitora descrente abana a cabeça (enquanto os partidos não instituírem o voto obrigatório “isto está tudo lixado”, conclui, explicando a Cristas que as pessoas preferem ir para a praia a votar). E o grupo segue.

nuno botelho

A modesta arruada pelas ruas empedradas de Viana decorre sem grandes percalços ou emoções. É um distrito onde o CDS conta com um deputado (até agora era Ilda Araújo Novo, quem encabeça a nova lista é Filipe Anacoreta Correia), mas teme ficar sem nenhum. Por ali, faz-se uma breve visita a um lar de idosos seguida de uma ainda mais breve passagem não programada pelos bombeiros locais.

O momento político do dia já tinha passado e tinha tido a ver, como não podia deixar de ser, com Tancos. De papelinho na mão - levava já preparada uma folha A4 com as declarações passadas de António Costa sobre o ex-ministro Azeredo Lopes -, relembrara as questões com que tem confrontado o primeiro-ministro. Uma forma de manter a pressão sobre o caso que dificilmente desaparecerá até ao dia das eleições: para quarta-feira está marcada uma conferência de líderes com o objetivo de marcar uma comissão permanente sobre o tema.

Falta perceber se as manobras do CDS sobre Tancos darão frutos nas urnas: esta tarde, a comitiva esperava durante a arruada de Viana a sondagem da Universidade Católica para o Público e a RTP, depois de se ter confirmado que os números optimistas que circulavam durante a tarde pelos grupos de Whatsapp eram falsos. Nas ruas soalheiras, onde aproveitaram para provar uma das deliciosas bolas de berlim do café Natário, fizeram menos política.

Foi antes um passeio tranquilo por avenidas igualmente tranquilas e pouco frequentadas, feito de abordagens genericamente simpáticas - um homem pedia a Cristas que ajudasse a rever a lei que regula os apoios para pessoas com incapacidades graves e considerava-a “uma doutora espetacular”, um cão cumprimentava-a com simpatia (e alguém comentava que era uma forma de oferecer “o seu apoio”...), um homem olhava-a com ceticismo e sentenciava: “Não volto ao passado outra vez, que vocês têm um passado esquisito”.

Pelo meio, um grupo de amigos que tomava café anuncia a Cristas que o CDS já está “garantido”. Poderia parecer uma mensagem positiva, mas é a única de que a líder não gosta: “Qual garantido, é preciso lutar!”. Se há coisa inconveniente para o CDS, mesmo que não traga bombos e vozes estridentes para convencer quem passa, será deixar que o eleitorado desmobilize na reta final.

Isto está a virar, meus amigos!

O discurso foi o mesmo na chamada festa da desfolhada, já de noite. Corrigimos: o conteúdo até pode ter sido o mesmo, mas o ânimo… ‘virou’. Ingredientes: porco no espeto, música pimba - que depois se transformou no tradicional vira, cantado à desgarrada - e, claro, as gentes do Alto Minho, tão bem dispostas que contagiaram toda a comitiva.

O contágio foi evidente em Assunção Cristas: a líder ‘desfolhou’, como manda a regra, rodeada de mulheres minhotas que a guiavam na cansativa tarefa. A ideia é descascar dezenas e dezenas de maçarocas de milho até encontrar uma vermelha, que é conhecida por ser “a rainha”, mas Cristas entrou em modo espontâneo e apressou-se a esclarecer: “Não queremos nada com vermelhos”. A partir daí, a animação foi constante: Cristas dançou o vira, Cristas distribuiu beijos, Cristas até se agarrou ao microfone para entoar o hino do CDS, num inusitado momento de karaoke.

Também ouviu o ‘vira’, com torcidelas métricas necessárias para adaptar as quadras ao momento: “O partido melhor do mundo/ É o partido do CDS”. E, no final, os discursos. Primeiro, de Anacoreta Correia, que cheio de energia acusou António Costa de “virar as costas” à campanha e às explicações sobre Tancos com o pretexto do furacão que ameaça os Açores. Depois, o CDS: “Nós hoje dançámos muito o vira. E há uma coisa que me têm dito na rua: isto está a virar, meus amigos! Isto está a virar!”.

E como a ideia não ficasse clara, explicou melhor o que há a fazer até domingo: “Temos famílias, temos os sítios onde nos cruzamos, os trabalhos, os cafés. Amigos, até ao lavar dos cestos é vindima!”. Cristas esteve em sintonia. “Tenho andando na rua e ouço as pessoas dizerem: força, vá em frente, não desista, vamos virar isto. A minha resposta é sempre a mesma: a minha força está nas vossas mãos”.

Acabados os breves discursos - até porque toda a gente parecia compreensivelmente concentrada no vinho à pressão e nas sanduíches de carne que circulavam sem parar -, a noite acabou assim, com rimas que resumiam com eficácia a mensagem política:

“Para a Assunção Cristas

Com amor e com carinho

Um beijinho especial

Do Povo do Alto Minho

Para o povo aqui

Quero deixar um recado

Vamos todos às urnas

Eleger mais um deputado”.

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