memórias de araduca

10-09-2019
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Ao lermos comentários como o que vai aí abaixo, temos que nos perguntar: não haverá, entre os responsáveis políticos, quem saiba interpretar os sinais que andam no ar e perceber que é a imagem de Guimarães que está a ser posta em crise?

Questões de capital
Depois da polémica dos cartazes promocionais, que faziam passar a ideia - apelativa, mas pateta - de que o sucesso do evento dependia de roubar turistas ao Algarve, a Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura (CEC) voltou às bocas do mundo, por más razões. A revelação de que os vencimentos dos salários dos três administradores executivos da Fundação Cidade de Guimarães (FCG), criada para organizar o evento, variam entre os 14.300 e os 12.500 euros mensais, e de que os membros do conselho geral da instituição recebem entre 500 e 300 euros por reunião, provocou um coro de críticas. Um coro no qual foi bem perceptível a participação do Ministério da Cultura, que, pela voz da própria Gabriela Canavilhas, considerou aqueles salários "inaceitáveis". Juntou-se a notícia de que a Câmara de Guimarães pagou 30 mil euros - num ajuste directo que o bom senso desaconselharia - pela elaboração de uns estatutos para a FCG que são criticados no conselho geral, por preverem que a fundação se eternize, sobrevivendo ao evento que lhe deu a razão de ser, e por darem estreita margem de intervenção (e responsabilização) à câmara e ao Ministério da Cultura. Por último, ouvimos esta semana o presidente da Câmara de Guimarães acusar a ministra da Cultura de ver o projecto da CEC como um "enteado".
Dir-se-ia que é um preâmbulo pouco auspicioso para a Guimarães 2012, que deve ser um momento de afirmação e promoção da cultura nacional, que deixe sementes. Mas ainda há tempo para corrigir boa parte dos erros cometidos. Aos responsáveis autárquicos e governamentais exige-se responsabilidade e que superem divergências. Da reunião já pedida pela câmara à comissão de vencimentos da FCG, espera-se que saia uma redução corajosa das despesas com pessoal. 1,3 milhões de euros anuais em salários, que diabo, é de facto chocante, atendendo a que não estamos propriamente a falar de uma Autoeuropa. É dar argumentos àqueles que, por ignorância, demagogia ou por ambas, acreditam e fazem passar a ideia de que a Cultura é uma gamela. E vencimentos superiores a dez mil euros, pagos pelo erário público, ofendem o comum dos cidadãos. Nem é tanto por estarmos em crise, é por se perceber que também foi assim que chegamos a ela. O presidente da Câmara de Guimarães já disse que os salários na FCG são semelhantes aos praticados noutros organismos do género. Nós acreditamos, mas isso é que assusta.
Comentário de Álvaro Vieira, no Público de hoje
Assobiar para o lado não é remédio, quando o que está em causa é o prestígio de Guimarães e a sua imagem, francamente positiva, projectada ao longo de muitas décadas. Esse património colectivo tem que ser acautelado. É urgente resolver o que houver a resolver. Corrigir o que houver a corrigir, minimizando os danos. E depois, que o processo retome o seu curso natural, como aquilo que sempre foi, antes de tudo o mais: um grande desígnio de Guimarães e dos vimaranenses.

Ao lermos comentários como o que vai aí abaixo, temos que nos perguntar: não haverá, entre os responsáveis políticos, quem saiba interpretar os sinais que andam no ar e perceber que é a imagem de Guimarães que está a ser posta em crise?

Questões de capital
Depois da polémica dos cartazes promocionais, que faziam passar a ideia - apelativa, mas pateta - de que o sucesso do evento dependia de roubar turistas ao Algarve, a Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura (CEC) voltou às bocas do mundo, por más razões. A revelação de que os vencimentos dos salários dos três administradores executivos da Fundação Cidade de Guimarães (FCG), criada para organizar o evento, variam entre os 14.300 e os 12.500 euros mensais, e de que os membros do conselho geral da instituição recebem entre 500 e 300 euros por reunião, provocou um coro de críticas. Um coro no qual foi bem perceptível a participação do Ministério da Cultura, que, pela voz da própria Gabriela Canavilhas, considerou aqueles salários "inaceitáveis". Juntou-se a notícia de que a Câmara de Guimarães pagou 30 mil euros - num ajuste directo que o bom senso desaconselharia - pela elaboração de uns estatutos para a FCG que são criticados no conselho geral, por preverem que a fundação se eternize, sobrevivendo ao evento que lhe deu a razão de ser, e por darem estreita margem de intervenção (e responsabilização) à câmara e ao Ministério da Cultura. Por último, ouvimos esta semana o presidente da Câmara de Guimarães acusar a ministra da Cultura de ver o projecto da CEC como um "enteado".
Dir-se-ia que é um preâmbulo pouco auspicioso para a Guimarães 2012, que deve ser um momento de afirmação e promoção da cultura nacional, que deixe sementes. Mas ainda há tempo para corrigir boa parte dos erros cometidos. Aos responsáveis autárquicos e governamentais exige-se responsabilidade e que superem divergências. Da reunião já pedida pela câmara à comissão de vencimentos da FCG, espera-se que saia uma redução corajosa das despesas com pessoal. 1,3 milhões de euros anuais em salários, que diabo, é de facto chocante, atendendo a que não estamos propriamente a falar de uma Autoeuropa. É dar argumentos àqueles que, por ignorância, demagogia ou por ambas, acreditam e fazem passar a ideia de que a Cultura é uma gamela. E vencimentos superiores a dez mil euros, pagos pelo erário público, ofendem o comum dos cidadãos. Nem é tanto por estarmos em crise, é por se perceber que também foi assim que chegamos a ela. O presidente da Câmara de Guimarães já disse que os salários na FCG são semelhantes aos praticados noutros organismos do género. Nós acreditamos, mas isso é que assusta.
Comentário de Álvaro Vieira, no Público de hoje
Assobiar para o lado não é remédio, quando o que está em causa é o prestígio de Guimarães e a sua imagem, francamente positiva, projectada ao longo de muitas décadas. Esse património colectivo tem que ser acautelado. É urgente resolver o que houver a resolver. Corrigir o que houver a corrigir, minimizando os danos. E depois, que o processo retome o seu curso natural, como aquilo que sempre foi, antes de tudo o mais: um grande desígnio de Guimarães e dos vimaranenses.

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