Periscópio-Quatro: Luna em Quarto Minguante

19-10-2018
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Eu sou um ouvinte de rádio. Não que passe o dia inteiro com o ouvido colado ao transmissor, mas a rádio faz-me companhia em diversos momentos do dia. Gosto da ironia fina dos “Sinais” de Fernando Alves logo pela “manhã da TSF”; ouço, sempre que posso, o “Pessoal e Transmissível” de Carlos Vaz Marques, nosso “colega” nesta coisa dos ‘blogs’; mesmo não percebendo nada de Economia, os comentários de Carla Reis Costa e Fausto Coutinho, na mesma TSF, insistem em recordar-me que "money makes the world go 'round" e, às vezes, até me lembro de que eu próprio tenho umas acções poeirentas, calcadas no fundo da minha conta bancária. Mais para a tarde, a voz afável de Paulo Alves Guerra lá vai colocando mais meia-dúzia de peças neste puzzle sempre inacabado que é a minha memória do mundo. E mesmo para quem, como eu, percebe pouco de futebol, sempre aprendo alguma coisa com os comentários de Alder Dante, João Ricardo Pateiro, Fernando Correia e Jorge Perestrelo (perdoem-me se me esqueço de alguém).
A TSF é a minha rádio de eleição, a par da Antena 2 (apesar de ainda não me ter habituado completamente à nova grelha), com a qual cimentei alguns conceitos sobre a música e aprendi a reinterpretar aquilo que julgava adquirido. Gosto de “Acordar a 2” e das vozes melodiosas de Gabriela Canavilhas e Luís Caetano, abrilhantadas pelo comentário sempre surpreendente de João Almeida; ouço, quando calha, o Jardim da Música e até gosto do tão criticado Que Música é Esta?. É raro perder um Ritornello do sempre bem-humorado Jorge Rodrigues e da voz cativante de Maria dos Anjos Pinheiro, ainda que quase nunca o ouça por completo - e até já me ofereceram alguns bilhetes. Gosto de andar a ser bombardeado com os “Quadros numa exposição”, de Mussorgsky, há quase um mês por António Cartaxo; e as transmissões Eurorádio têm sempre novas abordagens musicais para nos oferecer.
Depois há a Luna e a sua programação clássica a jazzística, sem intervalos publicitários (à excepção da divulgação cultural) nem conversa fiada. A curiosa filosofia subjacente à programação da Luna é a de que apreciaremos mais objectivamente uma obra se não soubermos o que estamos a ouvir. E faz sentido. Ou melhor, fazia. A Luna morre hoje, às 11:59 - assim como a Voxx. Foram compradas pelo advogado, membro do Conselho Superior de Magistratura e dirigente do CDS Nobre Guedes. O advogado "não gosta da filosofia" destas rádios - o que não me surpreende.
Vão dar voz à programação comercial da Media Capital - mais do mesmo num país culturalmente já tão pobre. Fica mais triste para mim viver em Lisboa, mas não creio que o país fique mais pobre (a Luna até só emitia para Lisboa). O país ficou mais pobre, isso sim, quando gente da igualha de Nobre Guedes passou a ter lugar no CSM e, segundo corre por aí, até se prepara para substituir a Maria Celeste Cardona no Ministério da Justiça. O país fica mais pobre quando é governado por uma coligação de gente imbecil e prepotente, falha de probidade e de respeito pelo país e pelos seus habitantes. O país já era pobre quando a Câmara de Lisboa passou a ser governada por um narcisista patológico que nem sequer se apercebe de que é doente e que nos obriga a aturar as suas birras infantis e crises de identidade. O país já era pobre antes da breve existência da Luna. E pobre continuará.
Por isso, caro leitor, quando se deparar com outro texto sobre rádio, aqui no Periscópio, que comece com a frase "Eu já fui mais ouvinte de rádio", terá sido, muito provavelmente, escrito por mim.
P.S. - a desconfiança faz parte da natureza humana; a vingança também. Fico a pensar se o encerramento da Voxx terá alguma coisa que ver com isto.

Eu sou um ouvinte de rádio. Não que passe o dia inteiro com o ouvido colado ao transmissor, mas a rádio faz-me companhia em diversos momentos do dia. Gosto da ironia fina dos “Sinais” de Fernando Alves logo pela “manhã da TSF”; ouço, sempre que posso, o “Pessoal e Transmissível” de Carlos Vaz Marques, nosso “colega” nesta coisa dos ‘blogs’; mesmo não percebendo nada de Economia, os comentários de Carla Reis Costa e Fausto Coutinho, na mesma TSF, insistem em recordar-me que "money makes the world go 'round" e, às vezes, até me lembro de que eu próprio tenho umas acções poeirentas, calcadas no fundo da minha conta bancária. Mais para a tarde, a voz afável de Paulo Alves Guerra lá vai colocando mais meia-dúzia de peças neste puzzle sempre inacabado que é a minha memória do mundo. E mesmo para quem, como eu, percebe pouco de futebol, sempre aprendo alguma coisa com os comentários de Alder Dante, João Ricardo Pateiro, Fernando Correia e Jorge Perestrelo (perdoem-me se me esqueço de alguém).
A TSF é a minha rádio de eleição, a par da Antena 2 (apesar de ainda não me ter habituado completamente à nova grelha), com a qual cimentei alguns conceitos sobre a música e aprendi a reinterpretar aquilo que julgava adquirido. Gosto de “Acordar a 2” e das vozes melodiosas de Gabriela Canavilhas e Luís Caetano, abrilhantadas pelo comentário sempre surpreendente de João Almeida; ouço, quando calha, o Jardim da Música e até gosto do tão criticado Que Música é Esta?. É raro perder um Ritornello do sempre bem-humorado Jorge Rodrigues e da voz cativante de Maria dos Anjos Pinheiro, ainda que quase nunca o ouça por completo - e até já me ofereceram alguns bilhetes. Gosto de andar a ser bombardeado com os “Quadros numa exposição”, de Mussorgsky, há quase um mês por António Cartaxo; e as transmissões Eurorádio têm sempre novas abordagens musicais para nos oferecer.
Depois há a Luna e a sua programação clássica a jazzística, sem intervalos publicitários (à excepção da divulgação cultural) nem conversa fiada. A curiosa filosofia subjacente à programação da Luna é a de que apreciaremos mais objectivamente uma obra se não soubermos o que estamos a ouvir. E faz sentido. Ou melhor, fazia. A Luna morre hoje, às 11:59 - assim como a Voxx. Foram compradas pelo advogado, membro do Conselho Superior de Magistratura e dirigente do CDS Nobre Guedes. O advogado "não gosta da filosofia" destas rádios - o que não me surpreende.
Vão dar voz à programação comercial da Media Capital - mais do mesmo num país culturalmente já tão pobre. Fica mais triste para mim viver em Lisboa, mas não creio que o país fique mais pobre (a Luna até só emitia para Lisboa). O país ficou mais pobre, isso sim, quando gente da igualha de Nobre Guedes passou a ter lugar no CSM e, segundo corre por aí, até se prepara para substituir a Maria Celeste Cardona no Ministério da Justiça. O país fica mais pobre quando é governado por uma coligação de gente imbecil e prepotente, falha de probidade e de respeito pelo país e pelos seus habitantes. O país já era pobre quando a Câmara de Lisboa passou a ser governada por um narcisista patológico que nem sequer se apercebe de que é doente e que nos obriga a aturar as suas birras infantis e crises de identidade. O país já era pobre antes da breve existência da Luna. E pobre continuará.
Por isso, caro leitor, quando se deparar com outro texto sobre rádio, aqui no Periscópio, que comece com a frase "Eu já fui mais ouvinte de rádio", terá sido, muito provavelmente, escrito por mim.
P.S. - a desconfiança faz parte da natureza humana; a vingança também. Fico a pensar se o encerramento da Voxx terá alguma coisa que ver com isto.

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