Mar Salgado:

17-07-2018
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Mar Salgado quinta-feira, julho 17: DISCORDÂNCIA (2): Queria saudar o Fernando Rocha Andrade (FRA) pela excelente argumentação em que sustenta a sua discordância comigo. Porque é sempre bom discutir com interlocutores inteligentes, permito-me deixar os seguintes comentários:

- A busca de armas de destruição maciça ainda não terminou. Apenas se descobriu que terá eventualmente havido um excesso de argumentação a sustentar a sua existência. E isso é grave. Mas felizmente numa sociedade democrátia existem mecanismos para castigar os que assim se comportam. Sobretudo se o fizeram de forma deliberada. Ora nada disto é ainda cristalino, mas o sector anti-guerra pretende tirar desde já desforço desta situação indefinida. Foi esta atitude que caracterizei como atitude revanchista.

- Colocar no mesmo plano a democracia americana e o regime iraquiano nesta matéria é, a meu ver, errado. É óbvio que os iraquianos não disseram a verdade, bem como nunca quiseram colaborar (a não ser que se considere um relatório de 12.000 páginas uma atitude construtiva). E, pior, a distinta natureza dos regimes tornam-nos incomparáveis. Afirmar que do lado iraquiano estava a verdade é, no mínimo, uma boutade infeliz.

- A Administração Clinton bombardeou muitas vezes o Iraque por violações das decisões da ONU. Por ter informações de que o Iraque tentava comprar material e montar fábricas para a produção de WMD. Será que nessa altura fomos todos vítimas de "intrujice" ? Reduzir esta questão a uma teimosia da Administração Bush é falsear os dados da história recente das relações entre os EUA e o Iraque.

- Ao contrário de FRA, eu acho que já hoje é certo que o Iraque é um sítio melhor sem Saddam. É pelo menos um país onde se voltou a ter esperança. Aliás, os iraquianos demonstraram-no, ao receber com alegria e euforia o exército libertador.

- É claro que há outras ditaduras no mundo. E que o ideal seria que todas pudessem ser derrubadas (ainda que tenha as maiores dúvidas que tal seja obtido pela invasão da Birmânia pela China, esse modelo de democracia). Imagino que, se FRA fosse liberiano, estaria nesta altura a usar este argumento em sentido contrário. Suspirando por ver os GI's a entrar em Monróvia.

- A relevância e urgência da intervenção no Iraque decorre de outros problemas. Da necessidade de intervir no Médio Oriente. Para promover o islamismo moderado e as experiências democráticas que o deixarão florescer. Para barrar o caminho (pela força, se for preciso) ao fundamentalismo islâmico. Para tentar resolver o imbróglio israelo-palestiniano que serve de alibi para os radicais. Para efectuar uma recomposição nas alianças dos EUA na zona, afastando-se da Arábia Saudita, epicentro do islamismo mais radical. Todas estas questões ganharam uma premência enorme após o choque do 11 de Setembro (que foi recorde-se um acto de guerra, assim definido pela ONU e NATO). Foi esta alteração geopolítica que grande parte da esquerda europeia não percebeu ou não quis perceber.

- Por último, queria referir que tenho por Vital Moreira a maior consideração pessoal e o maior respeito intelectual. A semana passada elogiámos o seu artigo que denunciava o escandaloso negócio político da aprovação de novos concelhos. Mas em matérias de política internacional, o seu anti-americanismo primário leva-o algumas vezes a emitir opiniões panfletárias. Ou, como neste caso, revanchistas.

posted by NMP on 7:11 da tarde #

Mar Salgado quinta-feira, julho 17: DISCORDÂNCIA (2): Queria saudar o Fernando Rocha Andrade (FRA) pela excelente argumentação em que sustenta a sua discordância comigo. Porque é sempre bom discutir com interlocutores inteligentes, permito-me deixar os seguintes comentários:

- A busca de armas de destruição maciça ainda não terminou. Apenas se descobriu que terá eventualmente havido um excesso de argumentação a sustentar a sua existência. E isso é grave. Mas felizmente numa sociedade democrátia existem mecanismos para castigar os que assim se comportam. Sobretudo se o fizeram de forma deliberada. Ora nada disto é ainda cristalino, mas o sector anti-guerra pretende tirar desde já desforço desta situação indefinida. Foi esta atitude que caracterizei como atitude revanchista.

- Colocar no mesmo plano a democracia americana e o regime iraquiano nesta matéria é, a meu ver, errado. É óbvio que os iraquianos não disseram a verdade, bem como nunca quiseram colaborar (a não ser que se considere um relatório de 12.000 páginas uma atitude construtiva). E, pior, a distinta natureza dos regimes tornam-nos incomparáveis. Afirmar que do lado iraquiano estava a verdade é, no mínimo, uma boutade infeliz.

- A Administração Clinton bombardeou muitas vezes o Iraque por violações das decisões da ONU. Por ter informações de que o Iraque tentava comprar material e montar fábricas para a produção de WMD. Será que nessa altura fomos todos vítimas de "intrujice" ? Reduzir esta questão a uma teimosia da Administração Bush é falsear os dados da história recente das relações entre os EUA e o Iraque.

- Ao contrário de FRA, eu acho que já hoje é certo que o Iraque é um sítio melhor sem Saddam. É pelo menos um país onde se voltou a ter esperança. Aliás, os iraquianos demonstraram-no, ao receber com alegria e euforia o exército libertador.

- É claro que há outras ditaduras no mundo. E que o ideal seria que todas pudessem ser derrubadas (ainda que tenha as maiores dúvidas que tal seja obtido pela invasão da Birmânia pela China, esse modelo de democracia). Imagino que, se FRA fosse liberiano, estaria nesta altura a usar este argumento em sentido contrário. Suspirando por ver os GI's a entrar em Monróvia.

- A relevância e urgência da intervenção no Iraque decorre de outros problemas. Da necessidade de intervir no Médio Oriente. Para promover o islamismo moderado e as experiências democráticas que o deixarão florescer. Para barrar o caminho (pela força, se for preciso) ao fundamentalismo islâmico. Para tentar resolver o imbróglio israelo-palestiniano que serve de alibi para os radicais. Para efectuar uma recomposição nas alianças dos EUA na zona, afastando-se da Arábia Saudita, epicentro do islamismo mais radical. Todas estas questões ganharam uma premência enorme após o choque do 11 de Setembro (que foi recorde-se um acto de guerra, assim definido pela ONU e NATO). Foi esta alteração geopolítica que grande parte da esquerda europeia não percebeu ou não quis perceber.

- Por último, queria referir que tenho por Vital Moreira a maior consideração pessoal e o maior respeito intelectual. A semana passada elogiámos o seu artigo que denunciava o escandaloso negócio político da aprovação de novos concelhos. Mas em matérias de política internacional, o seu anti-americanismo primário leva-o algumas vezes a emitir opiniões panfletárias. Ou, como neste caso, revanchistas.

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