D-e-s-c-u-l-p-a. Foi assim tão difícil?

19-10-2017
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Para os que não sabiam: no site da Assembleia da República estão os chamados boletins informativos, quadros toscos onde estão ordenadas e cronometradas as intervenções na AR . O de ontem, 18 de outubro, três dias após os incêndios de domingo que levaram 42 vidas , 123 dias após os incêndios de Pedrógão Grande que tinham roubado 65 vidas , dizia isto: 9 minutos para o PSD, outros 9 para o PS, 7m para o BE, 6m30 para o CDS-PP, 6 minutos para o PCP, 3 minutos para o PEV, 1m30 para o PAN; e o Primeiro-Ministro teria o tempo de resposta igual ao de cada um dos deputados que o interpelaria – ou seja, 42 minutos. A sessão serviria para contextualizar duas tragédias inultrapassáveis, assumir e/ou atribuir responsabilidades, e, quem sabe, apontar soluções para o futuro. Ora, num total de 82 minutos , que fizemos questão de ouvir, houve pouco do primeiro e do terceiro pontos, e muito do segundo; e foi também na segunda intervenção que António Costa fez o que devia ser feito à primeira : pediu desculpas e fê-lo a pedido de Hugo Soares , o líder da bancada do PSD; antes disso, o PM assumira “responsabilidades” pelas “falhas graves nos serviços do Estado”. Para Costa , a desculpa está para a vida privada como a responsabilidade está para a vida pública. “Se quer ouvir um pedido de desculpas, eu peço desculpas. E se não o fiz antes não é por sentir menor peso na minha consciência. Sei que viverei com este peso na consciência até ao fim da minha vida”. De uma forma peculiar, António Costa lá se humanizou , indisfarçavelmente forçado por Marcelo Rebelo de Sousa a cumprir a sua exigência número dois – a primeira acordara-nos logo pela manhã, e era tão óbvia quanto o discurso do presidente na véspera: a Ministra da Administração Interna ia cair. E Costa cedeu , embora quisesse manter Constança Urbano de Sousa “pelo menos até ao próximo Conselho de Ministros Extraordinário de sábado”, diz o Adriano Nobre. A Comissão Política , o novo podcast do Expresso , fez esta leitura . [Para o lugar de Constança Urbano de Sousa vai o ministro adjunto Eduardo Cabrita e para o lugar de Eduardo Cabrita vai Pedro Siza Vieira , um amigo de António Costa que em maio garantiu ao Expresso que política não era com ele – preferia ser advogado.] Bom, e uma vez cumpridos os dois desejos políticos do PR, faltam os outros, o terceiro, quarto, quinto, etcetera, bem mais trabalhosos e estruturais e que não dependem só do proverbial braço que se dá a torcer. Portanto, não são apenas mais difíceis, são muito mais difíceis. Vou nomeá-los, citando a Ângela Silva: “Provar (com atos e não só palavras) que a floresta é uma prioridade, que o Orçamento de Estado não pensa só nos funcionários públicos e no défice, e que inclui verbas para esta nova causa, e que se vai tentar ‘uma convergência alargada’. O BE, parceiro do PS deste governo, ensaiou uma solução, uma espécie de superministério semelhante ao que o antigo mentor do Bloco Francisco Louçã adiantara , onde o “ordenamento territorial, a prevenção e o combate” aos incêndios ficassem debaixo do mesmo tecto. Costa agradeceu, pediu consenso e deixou antever que a questão será apreciada já no Orçamento do Estado para 2018. Este é, possivelmente, um caminho para “as reformas inadiáveis” de que a Ângela fala no seu texto. Adiável sine qua non era a moção de confiança pedida e repetidamente exigida por Hugo Soares , a correr escusadamente atrás dos dias da oposição que não voltam atrás; o CDS – bem ou mal, no timing certo ou a destempo, depende sempre da perspetiva – já tinha marcado o território ao pedir a “moção de censura” ao Governo. António Costa aproveitou a deixa : “Admito que se tenha sentido ultrapassado pela iniciativa do CDS, mérito do CDS. Moções de confiança só apresenta quem se sente inseguro quanto à confiança”. Indo a reboque de Assunção Cristas, sem apresentar nada de novo, adaptando o “que se lixem as eleições de Passos Coelho” ao acusar Costa de se estar – e vou parafrasear – a lixar para os portugueses , o PSD perdeu a oportunidade para se chegar à frente . Outra vez.

OUTRAS NOTÍCIAS

E, agora, Monty Python revisitado: a “GNR de Loulé” recebeu um telefonema anónimo de alguém que disse que o material de guerra roubado de Tancos em junho estaria na Chamusca, que fica apenas a vinte quilómetros do paiol; e, por mais rebuscado que isto possa parecer, grande parte do arsenal lá estava, num “terreno ao abandono, de pastorícia, na região da Chamusca, onde [...] terá sido colocado no dia ou dias anteriores e não há semanas ou meses”. A Polícia Judiciária Militar foi chamada primeiro, depois vieram os elementos do laboratório da Polícia Judiciária Militar, e por fim técnicos especializados do Exército; e, então, o conjunto de armas foi removido. Aconteceu na noite de terça-feira, a Polícia Judiciária só soube disto “a meio da manhã” de quarta-feira, e continua a não haver suspeitos. O Partido Socialista quer ouvir Azeredo Lopes com “caráter de urgência”, mas o gabinete do ministro da defesa disse ao “Público” que é preciso esperar pela “conclusão da investigação criminal”.

Já que estamos nisto, a Ordem dos Médicos pediu uma “auditoria independente ao Sistema Nacional de Saúde” para que – lá está – se investiguem as informações comunicadas pelo Tribunal de Contas. Recapitulando: o TC acusa o SNS de forjar as listas de espera nos hospitais. Citando: “O SNS deu instruções às unidades hospitalares no sentido de serem recusados administrativamente pedidos de consulta com tempos de espera muito elevados e ser promovida uma nova inscrição inicial”. Contabilidade criativa?

Dos banquinhos de espera para os Bancos que nos desesperam. O título é da Isabel Vicente e é este: “O primeiro dia do novo Novo Banco”. Então, é assim: o Novo Banco é agora detido em 75% pelo fundo norte-americano Lone Star que já lá pôs 750 milhões de euros; durante os próximos cinco anos, se tudo correr bem, o Estado não se mete ao barulho e o Lone Star “poderá recuperar o seu investimento e aplicar o plano de reestruturação delineado para cinco anos”; se correr tudo mal, o mais provável é que todos venhamos a pagar por isto. Claro.

Das muitas coisas que acontecem lá fora, sendo que Donald Trump está inevitavelmente em uma (o soldado americano morto que sabia ao que ia) ou duas (o juiz que bloqueia a política anti-imigração do presidente) todos os dias, escolhi esta: o ministro do Trabalho do Brasil decretou que só ele – ou quem o suceder na pasta – pode revelar os nomes das empresas ou patrões autores da “prática do crime de trabalho escravo”. Antes, esta lista, chamada “lista suja”, era elaborada e divulgada por técnicos e fiscais que, assim, perdem a sua independência na execução da mesma. Por outro lado, esta nova portaria portaria “trouxe ainda novos conceitos de práticas ligadas ao trabalho análogo à escravidão [....] para que sejam caracterizadas a jornada excessiva ou a condição degradante, por exemplo, agora terá que haver a restrição de liberdade do trabalhador”. Por outras palavras, está aberta a porta para a exploração do trabalho. Nada a Temer, portanto.

Passo para o futebol:

O Benfica perdeu em casa contra o Manchester United para a Liga dos Campeões e o único golo do jogo foi um autogolo – um frango do mais jovem guarda-redes de sempre a disputar um encontro na Champions. Podia ter sido pior, face ao favoritismo e ao poderio do Manchester United (bom, ainda que este United é de Mourinho, e, como tal, resultadista), mas acaba por ser uma – e acompanhem-me no raciocínio – quase-vitória-moral-de-Pirro. É que para a história fica a incapacidade encarnada para provocar o erro do adversário, os zero remates enquadrados com a baliza, e os pontos que soma até agora, que também são zero. Para saberem mais, vão ao nosso site de desporto, a Tribuna Expresso, leiam a crónica do Diogo Pombo e o que Um Azar Do Kralj nos escreveu sobre isto, com uma música do Benny Hill a acompanhar.

O Sporting também perdeu, contra a Juventus, mas as semelhanças entre um jogo e o outro ficam-se pelo resultado. Os leões bateram-se bem, criaram perigo, só que o talento individual da equipa, e o cinismo e segurança dos italianos, acabaram por fazer a diferença – mais o disparate de Jonathan. Contas feitas, o Sporting é terceiro classificado de um grupo tramado. Também na Tribuna Expresso, a Lídia Paralta Gomes viu o jogo e disse o que tinha a dizer, tal como Rogério Casanova.

Os jornais e as revistas de hoje:

Público: “Sócrates terá usado ex-ministros para receber lucas do TGV”. Diz o jornal que a ministra Ana Paula Vitorino e os ex-ministros Mário Lino e António Mendonça podem ter “colaborado involuntariamente no favorecimento do consórcio que integra o Grupo Lena”.

Diário de Notícias: “Fogos. Costa troca mais défice por mais prevenção e leva amigo a adjunto”. Onde se fala do que já foi escrito acima: o Governo pode rever o défice por causa das tragédias, Eduardo Cabrita é o novo MAI e Siza Vieira o novo ministro adjunto.

Jornal i: “Armamento desaparecido foi colocado na Chamusca menos de 48h antes de ser descoberto”.

Jornal de Notícias: “Já ardeu mais neste mês do que em qualquer ano da última década”

Correio da Manhã: “Chamas devoram 520 mil hectares. Maior área ardida de sempre”

VISÃO: “Desesperadamente sós”, reportagem sobre os incêndios

Sábado: “Boas férias”. É sobre a saída de Constança Urbano de Sousa do Governo

FRASES

“Se me quer ouvir a pedir desculpas peço desculpa. Se não pedi antes não é por não sentir menor peso na consciência. Tenho a certeza que, tal como eu nas minhas funções, não teria vivido sem um grande peso na consciência sobre o que aconteceu em Pedrógão e o que aconteceu no passado fim-de-semana” António Costa, Primeiro Ministro

“Na verdade, o sr. primeiro-ministro já não está aí a fazer nada e fazia um favor ao país se apresentasse a sua demissão ao Presidente da República!” Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD

“Logo a seguir à tragédia de Pedrógão pedi, insistentemente, que me libertasse das minhas funções e dei-lhe tempo para encontrar quem me substituísse, razão pela qual não pedi, formal e publicamente, a minha demissão. Fi-lo por uma questão de lealdade” Constança Urbano de Sousa, na carta de demissão apresentada a António Costa

“Só os grandes guarda-redes [Svilar, do Benfica] é que sofrem golos destes. O miúdo é bom, arrisca, não está sempre em cima da linha de baliza, tem bom sentido posicional. É fera, vai ser um dos grandes” José Mourinho depois de comer um pastel de Belém e de somar três pontos na Luz

O QUE ANDO A LER

Isto começou com o documentário “Vida Activa: O Espírito de Hannah Arendt” onde os que gostavam mais e gostavam menos dela falam sobre ela e sobre o seu pensamento e posicionamento perante o Holocausto e os nazis e os judeus; e sobre o posterior exílio nos EUA após a publicação da reportagem sobre o julgamento de Adolf Eichmann na New Yorker, onde ficou cunhada a expressão “banalidade do mal”. No filme, vemos e lemos as cartas trocadas entre Arendt e o mentor Karl Jaspers, e também com os amigos e o amante Martin Heidegger, filósofo alemão pró-nazi com quem teve uma relação intensa que lhe valeu o ódio de muitos compatriotas seus.

Daqui, parti recentemente para “As Origens Do Totalitarismo” (Dom Quixote), cujo pós-título poderá dizer tudo sobre a obra: “O livro mais influente de sempre sobre o totalitarismo”. Nele, a autora compromete-se a levar-nos pela mão numa viagem no tempo, do início do anti-semitismo na Europa do século XVIII, passando pela eclosão da Primeira Guerra Mundial, até chegar às Segunda Guerra, ao nazismo e ao estalinismo. Das 674 páginas, ainda só li 100, e estou na fase em que Arendt culpa, em parte, os judeus pelo aparecimento dos anti-semitas, porque, diz, se quiseram manter conscientemente à margem e propositadamente fora da esfera política e sem poder - mas com o dinheiro. É aqui que se fala dos Rothschild e de Dreyfus, e, posteriormente, de Proust. Mais tarde, está no índice, chegaremos à propaganda de massa e à ascensão dos estados totalitários e a tudo aquilo que aconteceu na Europa quando um tipo pequeno e de bigode diminuído chegou tristemente longe.

Por hoje é tudo, espero trazer-lhe outra sugestão de leitura da próxima vez que nos encontrarmos. Até lá, vá passando os olhos pelo Expresso (www.expresso.pt), pela Tribuna Expresso (www.tribunaexpresso.pt), pela Blitz (www.blitz.sapo.pt), pela Exame (www.exame.sapo.pt), pela Exame Informática (www.exameinformatica.sapo.pt), e às 18h aceda ao Expresso Diário, o diário que lhe dá as notícias frescas um dia antes de as ver, ler e ouvir noutro lado.

Para os que não sabiam: no site da Assembleia da República estão os chamados boletins informativos, quadros toscos onde estão ordenadas e cronometradas as intervenções na AR . O de ontem, 18 de outubro, três dias após os incêndios de domingo que levaram 42 vidas , 123 dias após os incêndios de Pedrógão Grande que tinham roubado 65 vidas , dizia isto: 9 minutos para o PSD, outros 9 para o PS, 7m para o BE, 6m30 para o CDS-PP, 6 minutos para o PCP, 3 minutos para o PEV, 1m30 para o PAN; e o Primeiro-Ministro teria o tempo de resposta igual ao de cada um dos deputados que o interpelaria – ou seja, 42 minutos. A sessão serviria para contextualizar duas tragédias inultrapassáveis, assumir e/ou atribuir responsabilidades, e, quem sabe, apontar soluções para o futuro. Ora, num total de 82 minutos , que fizemos questão de ouvir, houve pouco do primeiro e do terceiro pontos, e muito do segundo; e foi também na segunda intervenção que António Costa fez o que devia ser feito à primeira : pediu desculpas e fê-lo a pedido de Hugo Soares , o líder da bancada do PSD; antes disso, o PM assumira “responsabilidades” pelas “falhas graves nos serviços do Estado”. Para Costa , a desculpa está para a vida privada como a responsabilidade está para a vida pública. “Se quer ouvir um pedido de desculpas, eu peço desculpas. E se não o fiz antes não é por sentir menor peso na minha consciência. Sei que viverei com este peso na consciência até ao fim da minha vida”. De uma forma peculiar, António Costa lá se humanizou , indisfarçavelmente forçado por Marcelo Rebelo de Sousa a cumprir a sua exigência número dois – a primeira acordara-nos logo pela manhã, e era tão óbvia quanto o discurso do presidente na véspera: a Ministra da Administração Interna ia cair. E Costa cedeu , embora quisesse manter Constança Urbano de Sousa “pelo menos até ao próximo Conselho de Ministros Extraordinário de sábado”, diz o Adriano Nobre. A Comissão Política , o novo podcast do Expresso , fez esta leitura . [Para o lugar de Constança Urbano de Sousa vai o ministro adjunto Eduardo Cabrita e para o lugar de Eduardo Cabrita vai Pedro Siza Vieira , um amigo de António Costa que em maio garantiu ao Expresso que política não era com ele – preferia ser advogado.] Bom, e uma vez cumpridos os dois desejos políticos do PR, faltam os outros, o terceiro, quarto, quinto, etcetera, bem mais trabalhosos e estruturais e que não dependem só do proverbial braço que se dá a torcer. Portanto, não são apenas mais difíceis, são muito mais difíceis. Vou nomeá-los, citando a Ângela Silva: “Provar (com atos e não só palavras) que a floresta é uma prioridade, que o Orçamento de Estado não pensa só nos funcionários públicos e no défice, e que inclui verbas para esta nova causa, e que se vai tentar ‘uma convergência alargada’. O BE, parceiro do PS deste governo, ensaiou uma solução, uma espécie de superministério semelhante ao que o antigo mentor do Bloco Francisco Louçã adiantara , onde o “ordenamento territorial, a prevenção e o combate” aos incêndios ficassem debaixo do mesmo tecto. Costa agradeceu, pediu consenso e deixou antever que a questão será apreciada já no Orçamento do Estado para 2018. Este é, possivelmente, um caminho para “as reformas inadiáveis” de que a Ângela fala no seu texto. Adiável sine qua non era a moção de confiança pedida e repetidamente exigida por Hugo Soares , a correr escusadamente atrás dos dias da oposição que não voltam atrás; o CDS – bem ou mal, no timing certo ou a destempo, depende sempre da perspetiva – já tinha marcado o território ao pedir a “moção de censura” ao Governo. António Costa aproveitou a deixa : “Admito que se tenha sentido ultrapassado pela iniciativa do CDS, mérito do CDS. Moções de confiança só apresenta quem se sente inseguro quanto à confiança”. Indo a reboque de Assunção Cristas, sem apresentar nada de novo, adaptando o “que se lixem as eleições de Passos Coelho” ao acusar Costa de se estar – e vou parafrasear – a lixar para os portugueses , o PSD perdeu a oportunidade para se chegar à frente . Outra vez.

OUTRAS NOTÍCIAS

E, agora, Monty Python revisitado: a “GNR de Loulé” recebeu um telefonema anónimo de alguém que disse que o material de guerra roubado de Tancos em junho estaria na Chamusca, que fica apenas a vinte quilómetros do paiol; e, por mais rebuscado que isto possa parecer, grande parte do arsenal lá estava, num “terreno ao abandono, de pastorícia, na região da Chamusca, onde [...] terá sido colocado no dia ou dias anteriores e não há semanas ou meses”. A Polícia Judiciária Militar foi chamada primeiro, depois vieram os elementos do laboratório da Polícia Judiciária Militar, e por fim técnicos especializados do Exército; e, então, o conjunto de armas foi removido. Aconteceu na noite de terça-feira, a Polícia Judiciária só soube disto “a meio da manhã” de quarta-feira, e continua a não haver suspeitos. O Partido Socialista quer ouvir Azeredo Lopes com “caráter de urgência”, mas o gabinete do ministro da defesa disse ao “Público” que é preciso esperar pela “conclusão da investigação criminal”.

Já que estamos nisto, a Ordem dos Médicos pediu uma “auditoria independente ao Sistema Nacional de Saúde” para que – lá está – se investiguem as informações comunicadas pelo Tribunal de Contas. Recapitulando: o TC acusa o SNS de forjar as listas de espera nos hospitais. Citando: “O SNS deu instruções às unidades hospitalares no sentido de serem recusados administrativamente pedidos de consulta com tempos de espera muito elevados e ser promovida uma nova inscrição inicial”. Contabilidade criativa?

Dos banquinhos de espera para os Bancos que nos desesperam. O título é da Isabel Vicente e é este: “O primeiro dia do novo Novo Banco”. Então, é assim: o Novo Banco é agora detido em 75% pelo fundo norte-americano Lone Star que já lá pôs 750 milhões de euros; durante os próximos cinco anos, se tudo correr bem, o Estado não se mete ao barulho e o Lone Star “poderá recuperar o seu investimento e aplicar o plano de reestruturação delineado para cinco anos”; se correr tudo mal, o mais provável é que todos venhamos a pagar por isto. Claro.

Das muitas coisas que acontecem lá fora, sendo que Donald Trump está inevitavelmente em uma (o soldado americano morto que sabia ao que ia) ou duas (o juiz que bloqueia a política anti-imigração do presidente) todos os dias, escolhi esta: o ministro do Trabalho do Brasil decretou que só ele – ou quem o suceder na pasta – pode revelar os nomes das empresas ou patrões autores da “prática do crime de trabalho escravo”. Antes, esta lista, chamada “lista suja”, era elaborada e divulgada por técnicos e fiscais que, assim, perdem a sua independência na execução da mesma. Por outro lado, esta nova portaria portaria “trouxe ainda novos conceitos de práticas ligadas ao trabalho análogo à escravidão [....] para que sejam caracterizadas a jornada excessiva ou a condição degradante, por exemplo, agora terá que haver a restrição de liberdade do trabalhador”. Por outras palavras, está aberta a porta para a exploração do trabalho. Nada a Temer, portanto.

Passo para o futebol:

O Benfica perdeu em casa contra o Manchester United para a Liga dos Campeões e o único golo do jogo foi um autogolo – um frango do mais jovem guarda-redes de sempre a disputar um encontro na Champions. Podia ter sido pior, face ao favoritismo e ao poderio do Manchester United (bom, ainda que este United é de Mourinho, e, como tal, resultadista), mas acaba por ser uma – e acompanhem-me no raciocínio – quase-vitória-moral-de-Pirro. É que para a história fica a incapacidade encarnada para provocar o erro do adversário, os zero remates enquadrados com a baliza, e os pontos que soma até agora, que também são zero. Para saberem mais, vão ao nosso site de desporto, a Tribuna Expresso, leiam a crónica do Diogo Pombo e o que Um Azar Do Kralj nos escreveu sobre isto, com uma música do Benny Hill a acompanhar.

O Sporting também perdeu, contra a Juventus, mas as semelhanças entre um jogo e o outro ficam-se pelo resultado. Os leões bateram-se bem, criaram perigo, só que o talento individual da equipa, e o cinismo e segurança dos italianos, acabaram por fazer a diferença – mais o disparate de Jonathan. Contas feitas, o Sporting é terceiro classificado de um grupo tramado. Também na Tribuna Expresso, a Lídia Paralta Gomes viu o jogo e disse o que tinha a dizer, tal como Rogério Casanova.

Os jornais e as revistas de hoje:

Público: “Sócrates terá usado ex-ministros para receber lucas do TGV”. Diz o jornal que a ministra Ana Paula Vitorino e os ex-ministros Mário Lino e António Mendonça podem ter “colaborado involuntariamente no favorecimento do consórcio que integra o Grupo Lena”.

Diário de Notícias: “Fogos. Costa troca mais défice por mais prevenção e leva amigo a adjunto”. Onde se fala do que já foi escrito acima: o Governo pode rever o défice por causa das tragédias, Eduardo Cabrita é o novo MAI e Siza Vieira o novo ministro adjunto.

Jornal i: “Armamento desaparecido foi colocado na Chamusca menos de 48h antes de ser descoberto”.

Jornal de Notícias: “Já ardeu mais neste mês do que em qualquer ano da última década”

Correio da Manhã: “Chamas devoram 520 mil hectares. Maior área ardida de sempre”

VISÃO: “Desesperadamente sós”, reportagem sobre os incêndios

Sábado: “Boas férias”. É sobre a saída de Constança Urbano de Sousa do Governo

FRASES

“Se me quer ouvir a pedir desculpas peço desculpa. Se não pedi antes não é por não sentir menor peso na consciência. Tenho a certeza que, tal como eu nas minhas funções, não teria vivido sem um grande peso na consciência sobre o que aconteceu em Pedrógão e o que aconteceu no passado fim-de-semana” António Costa, Primeiro Ministro

“Na verdade, o sr. primeiro-ministro já não está aí a fazer nada e fazia um favor ao país se apresentasse a sua demissão ao Presidente da República!” Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD

“Logo a seguir à tragédia de Pedrógão pedi, insistentemente, que me libertasse das minhas funções e dei-lhe tempo para encontrar quem me substituísse, razão pela qual não pedi, formal e publicamente, a minha demissão. Fi-lo por uma questão de lealdade” Constança Urbano de Sousa, na carta de demissão apresentada a António Costa

“Só os grandes guarda-redes [Svilar, do Benfica] é que sofrem golos destes. O miúdo é bom, arrisca, não está sempre em cima da linha de baliza, tem bom sentido posicional. É fera, vai ser um dos grandes” José Mourinho depois de comer um pastel de Belém e de somar três pontos na Luz

O QUE ANDO A LER

Isto começou com o documentário “Vida Activa: O Espírito de Hannah Arendt” onde os que gostavam mais e gostavam menos dela falam sobre ela e sobre o seu pensamento e posicionamento perante o Holocausto e os nazis e os judeus; e sobre o posterior exílio nos EUA após a publicação da reportagem sobre o julgamento de Adolf Eichmann na New Yorker, onde ficou cunhada a expressão “banalidade do mal”. No filme, vemos e lemos as cartas trocadas entre Arendt e o mentor Karl Jaspers, e também com os amigos e o amante Martin Heidegger, filósofo alemão pró-nazi com quem teve uma relação intensa que lhe valeu o ódio de muitos compatriotas seus.

Daqui, parti recentemente para “As Origens Do Totalitarismo” (Dom Quixote), cujo pós-título poderá dizer tudo sobre a obra: “O livro mais influente de sempre sobre o totalitarismo”. Nele, a autora compromete-se a levar-nos pela mão numa viagem no tempo, do início do anti-semitismo na Europa do século XVIII, passando pela eclosão da Primeira Guerra Mundial, até chegar às Segunda Guerra, ao nazismo e ao estalinismo. Das 674 páginas, ainda só li 100, e estou na fase em que Arendt culpa, em parte, os judeus pelo aparecimento dos anti-semitas, porque, diz, se quiseram manter conscientemente à margem e propositadamente fora da esfera política e sem poder - mas com o dinheiro. É aqui que se fala dos Rothschild e de Dreyfus, e, posteriormente, de Proust. Mais tarde, está no índice, chegaremos à propaganda de massa e à ascensão dos estados totalitários e a tudo aquilo que aconteceu na Europa quando um tipo pequeno e de bigode diminuído chegou tristemente longe.

Por hoje é tudo, espero trazer-lhe outra sugestão de leitura da próxima vez que nos encontrarmos. Até lá, vá passando os olhos pelo Expresso (www.expresso.pt), pela Tribuna Expresso (www.tribunaexpresso.pt), pela Blitz (www.blitz.sapo.pt), pela Exame (www.exame.sapo.pt), pela Exame Informática (www.exameinformatica.sapo.pt), e às 18h aceda ao Expresso Diário, o diário que lhe dá as notícias frescas um dia antes de as ver, ler e ouvir noutro lado.

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