Entre a ameaça de tosse e a ameaça de saída, Nogueira mantém-se na Fenprof e promete luta até ao fim

11-05-2019
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“Só é vencido quem desiste de lutar.” Foi com o célebre slogan do tempo da resistência antifascista, tantas vezes utilizado por líderes socialistas como Mário Soares e Salgado Zenha, que Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, quis resumir o estado de espírito dos professores no dia em que o Parlamento chumbou a recuperação integral dos 9 anos em que as carreiras estiveram congeladas.

“O PS e o Governo estão de parabéns porque ganharam esta batalha, mas a guerra vai ser ganha pelos professores”, disse aos jornalistas, já do lado de fora da Assembleia da República, mostrando sinais de que vem aí tempestade. Antes disso, o líder da Fenprof assistira à votação a partir das galerias do hemiciclo, rodeado de professores — como os que, cá fora, gritavam “gatunos” e vaiaram os deputados do CDS que viram sair pela porta lateral do Parlamento.

No imediato, há duas certezas: a luta continua e com Mário Nogueira na rua, já que o secretário-geral da Fenprof anunciou ter tomado a decisão de se recandidatar. “Podem agradecer ao PS e ao Dr. António Costa, que me ajudaram a tomar uma decisão”, esclareceu, quando questionado pelos jornalistas sobre se manteria ou não à frente da Fenprof, que terá o seu congresso a 15 e 16 junho.

Sobre a sua filiação no PCP, nem mais uma palavra. Manteve-se em silêncio, como, aliás, prometera, depois de desmentir a notícia do Público que dava conta de que ponderava desvincular-se do Partido Comunista.

Nos últimos meses, a saída de Nogueira da Fenprof parecia iminente. O sindicalista dava sinais de cansaço e de não estar disponível para mais um mandato. Não chegava a ser um tabu, mas quase, e a resposta oficial era sempre de que estava ainda a ponderar o seu futuro. Esperava-se que o anúncio acontecesse mais perto do congresso que decidirá o nome do próximo secretário-geral.

Serei secretário-geral da Fenprof se o congresso assim decidir em 15 de junho, porque o Governo, o PS e António Costa merecem que a luta continue e eu estou disponível para a liderar. Se tenho de agradecer a alguém esta decisão tomada hoje é ao Governo, ao António Costa, que ficará indissociavelmente ligado à minha continuidade à frente da Fenprof”, sublinhou Nogueira.

Quanto à paz social e nas escolas, essa parece cada vez mais uma miragem. Detalhes sobre o que aí vem só serão conhecidos na próxima quarta-feira, mas o previsível é que a greve às reuniões de avaliação, a começar no dia 6 de junho, passe de ameaça a facto real. E se avançarem para esta solução, já tem uma pequena vitória do seu lado: a justiça — Supremo Tribunal incluído, depois dos recursos do Executivo — deu razão aos sindicatos, considerando ilegais os serviços mínimos convocados pelo Governo o ano passado.

Antes disso, os dez sindicatos que constituem a plataforma que negociou com o Governo a recuperação dos 9 anos irão ouvir os professores nas escolas para perceber que caminho seguir.

Depois, a plataforma reúne-se e anuncia o que pode ser esperado neste final de ano letivo, que poderá, assim, vir a ser tão ou mais caótico do que o do ano anterior. Como já Mário Nogueira e João Dias da Silva, líder da FNE, haviam dito ao Observador, o final de ano sem greves estava nas mãos dos deputados. Sem o tempo integral recuperado, os protestos devem regressar.

“A luta continua e até ao final da legislatura”, esclareceu Mário Nogueira, adiantando que irão pedir aos professores que vão votar de crachá ao peito — aquele que diz 9A 4M 2D, numa alusão ao tempo congelado — e deixando claro que os professores se preparam para estar em cima dos partidos durante as próximas duas campanhas eleitorais.

Quanto aos restantes partidos, a desilusão é geral: Nogueira não hesitou em atribuir responsabilidade pelo chumbo à “incapacidade de os restantes cinco partidos”, que diziam defender a recuperação do tempo integral e que, no entanto, “acabaram por confluir em interesses que são distintos, disso resultando que nada foi aprovado”.

Pouco depois destas declarações de Nogueira, Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, esperava à chuva, que entretanto começara a cair, para dar um abraço ao líder da Fenprof. O abraço aconteceu, de forma seca, enquanto Nogueira dizia, entre dentes, que não seria hoje, mas que diria à deputada o que tinha a dizer.

“Isto acabou, vamos embora”

Antes das declarações aos jornalistas, Mário Nogueira assistiu à votação do texto final que recuperava o tempo integral de serviço congelado aos professores nas galerias do Parlamento, rodeado de professores. Antes de se chegar ao diploma esperado, o plenário votou uma série de outras propostas. Durante todo esse tempo, o líder da Fenprof manteve a boa disposição nas galerias 2 do Parlamento.

Quando recebeu sinal de que só faltavam duas votações para chegar à tão esperada — que poderia devolver os 9 anos aos professores —, começou o burburinho. “Quando começarem a votar, tossimos todos”, disse Nogueira aos professores que o rodeavam. A mensagem foi passando de boca em boca, da galeria 2 para a galeria 1, mas não passou de uma brincadeira. À entrada para as galerias, os agentes da PSP são bem claros nos avisos: “Não se podem pronunciar, nem bater palmas, nem vaiar.” Se o fizerem, é a expulsão garantida das galerias e ninguém queria arriscar não assistir ao desfecho da votação. Não houve tosse, houve silêncio durante as avocações do PSD e do CDS e durante a votação.

Enquanto os deputados da direita e do PS falavam, Mário Nogueira manteve-se sempre tranquilo, ora cofiando a barba, ora acenando que não, em desacordo com o que ia sendo dito. Mas foi durante as intervenções da esquerda, do BE e do PCP, que esteve mais irrequieto na cadeira, e em que a sua cabeça acenava que não com mais veemência.

Quando a intervenção de Luísa Mesquita, do PCP, terminou e a bancada comunista aplaudiu, começou novo burburinho entre os professores, sobre quem na bancada comunista tinha aplaudido e se o tinham feito com mais ou menos vigor. O desfecho era o previsível. E ainda mal Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, dizia que o texto tinha sido chumbado, já Mário Nogueira saltava da cadeira: “Isto acabou, vamos embora.”

Se acabou no Parlamento, não acabou para os professores. “Esta não era a última hipótese que os deputados tinham para resolver isto”, dizia, já do lado de fora, aos jornalistas, garantindo que haverá mais oportunidades de os deputados se pronunciarem sobre a questão. Certo é que, para os professores, o assunto não morreu. “Os professores não desistem de lutar e não vão ser vencidos”, rematou Mário Nogueira, prevendo-se que os próximos tempos nas escolas serão tudo menos tranquilos.

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“Só é vencido quem desiste de lutar.” Foi com o célebre slogan do tempo da resistência antifascista, tantas vezes utilizado por líderes socialistas como Mário Soares e Salgado Zenha, que Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, quis resumir o estado de espírito dos professores no dia em que o Parlamento chumbou a recuperação integral dos 9 anos em que as carreiras estiveram congeladas.

“O PS e o Governo estão de parabéns porque ganharam esta batalha, mas a guerra vai ser ganha pelos professores”, disse aos jornalistas, já do lado de fora da Assembleia da República, mostrando sinais de que vem aí tempestade. Antes disso, o líder da Fenprof assistira à votação a partir das galerias do hemiciclo, rodeado de professores — como os que, cá fora, gritavam “gatunos” e vaiaram os deputados do CDS que viram sair pela porta lateral do Parlamento.

No imediato, há duas certezas: a luta continua e com Mário Nogueira na rua, já que o secretário-geral da Fenprof anunciou ter tomado a decisão de se recandidatar. “Podem agradecer ao PS e ao Dr. António Costa, que me ajudaram a tomar uma decisão”, esclareceu, quando questionado pelos jornalistas sobre se manteria ou não à frente da Fenprof, que terá o seu congresso a 15 e 16 junho.

Sobre a sua filiação no PCP, nem mais uma palavra. Manteve-se em silêncio, como, aliás, prometera, depois de desmentir a notícia do Público que dava conta de que ponderava desvincular-se do Partido Comunista.

Nos últimos meses, a saída de Nogueira da Fenprof parecia iminente. O sindicalista dava sinais de cansaço e de não estar disponível para mais um mandato. Não chegava a ser um tabu, mas quase, e a resposta oficial era sempre de que estava ainda a ponderar o seu futuro. Esperava-se que o anúncio acontecesse mais perto do congresso que decidirá o nome do próximo secretário-geral.

Serei secretário-geral da Fenprof se o congresso assim decidir em 15 de junho, porque o Governo, o PS e António Costa merecem que a luta continue e eu estou disponível para a liderar. Se tenho de agradecer a alguém esta decisão tomada hoje é ao Governo, ao António Costa, que ficará indissociavelmente ligado à minha continuidade à frente da Fenprof”, sublinhou Nogueira.

Quanto à paz social e nas escolas, essa parece cada vez mais uma miragem. Detalhes sobre o que aí vem só serão conhecidos na próxima quarta-feira, mas o previsível é que a greve às reuniões de avaliação, a começar no dia 6 de junho, passe de ameaça a facto real. E se avançarem para esta solução, já tem uma pequena vitória do seu lado: a justiça — Supremo Tribunal incluído, depois dos recursos do Executivo — deu razão aos sindicatos, considerando ilegais os serviços mínimos convocados pelo Governo o ano passado.

Antes disso, os dez sindicatos que constituem a plataforma que negociou com o Governo a recuperação dos 9 anos irão ouvir os professores nas escolas para perceber que caminho seguir.

Depois, a plataforma reúne-se e anuncia o que pode ser esperado neste final de ano letivo, que poderá, assim, vir a ser tão ou mais caótico do que o do ano anterior. Como já Mário Nogueira e João Dias da Silva, líder da FNE, haviam dito ao Observador, o final de ano sem greves estava nas mãos dos deputados. Sem o tempo integral recuperado, os protestos devem regressar.

“A luta continua e até ao final da legislatura”, esclareceu Mário Nogueira, adiantando que irão pedir aos professores que vão votar de crachá ao peito — aquele que diz 9A 4M 2D, numa alusão ao tempo congelado — e deixando claro que os professores se preparam para estar em cima dos partidos durante as próximas duas campanhas eleitorais.

Quanto aos restantes partidos, a desilusão é geral: Nogueira não hesitou em atribuir responsabilidade pelo chumbo à “incapacidade de os restantes cinco partidos”, que diziam defender a recuperação do tempo integral e que, no entanto, “acabaram por confluir em interesses que são distintos, disso resultando que nada foi aprovado”.

Pouco depois destas declarações de Nogueira, Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, esperava à chuva, que entretanto começara a cair, para dar um abraço ao líder da Fenprof. O abraço aconteceu, de forma seca, enquanto Nogueira dizia, entre dentes, que não seria hoje, mas que diria à deputada o que tinha a dizer.

“Isto acabou, vamos embora”

Antes das declarações aos jornalistas, Mário Nogueira assistiu à votação do texto final que recuperava o tempo integral de serviço congelado aos professores nas galerias do Parlamento, rodeado de professores. Antes de se chegar ao diploma esperado, o plenário votou uma série de outras propostas. Durante todo esse tempo, o líder da Fenprof manteve a boa disposição nas galerias 2 do Parlamento.

Quando recebeu sinal de que só faltavam duas votações para chegar à tão esperada — que poderia devolver os 9 anos aos professores —, começou o burburinho. “Quando começarem a votar, tossimos todos”, disse Nogueira aos professores que o rodeavam. A mensagem foi passando de boca em boca, da galeria 2 para a galeria 1, mas não passou de uma brincadeira. À entrada para as galerias, os agentes da PSP são bem claros nos avisos: “Não se podem pronunciar, nem bater palmas, nem vaiar.” Se o fizerem, é a expulsão garantida das galerias e ninguém queria arriscar não assistir ao desfecho da votação. Não houve tosse, houve silêncio durante as avocações do PSD e do CDS e durante a votação.

Enquanto os deputados da direita e do PS falavam, Mário Nogueira manteve-se sempre tranquilo, ora cofiando a barba, ora acenando que não, em desacordo com o que ia sendo dito. Mas foi durante as intervenções da esquerda, do BE e do PCP, que esteve mais irrequieto na cadeira, e em que a sua cabeça acenava que não com mais veemência.

Quando a intervenção de Luísa Mesquita, do PCP, terminou e a bancada comunista aplaudiu, começou novo burburinho entre os professores, sobre quem na bancada comunista tinha aplaudido e se o tinham feito com mais ou menos vigor. O desfecho era o previsível. E ainda mal Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, dizia que o texto tinha sido chumbado, já Mário Nogueira saltava da cadeira: “Isto acabou, vamos embora.”

Se acabou no Parlamento, não acabou para os professores. “Esta não era a última hipótese que os deputados tinham para resolver isto”, dizia, já do lado de fora, aos jornalistas, garantindo que haverá mais oportunidades de os deputados se pronunciarem sobre a questão. Certo é que, para os professores, o assunto não morreu. “Os professores não desistem de lutar e não vão ser vencidos”, rematou Mário Nogueira, prevendo-se que os próximos tempos nas escolas serão tudo menos tranquilos.

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