​"Tozé Seguro, como vês, o tempo faz-te justiça"

09-05-2018
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“O PS não pode continuar a esconder a cabeça na carapaça da tartaruga. O próximo congresso é oportunidade para escalpelizar como se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos. Pela regeneração do próprio PS, da política e do país”. O tweet de Ana Gomes, ataque tácito aos casos Sócrates e Pinho, afinal fez o seu caminho e detonou um sismo nas hostes do PS com o verdadeiro ‘quem é quem’ socialista a distanciar-se dos casos judiciais que envolvem antigos governantes.

Do presidente do PS Carlos César ao porta-voz João Galamba, passando por destacados militantes como Fernando Medina (aqui na Renascença), multiplicaram-se as declarações de embaraço. Desconforto partilhado quando, em resposta, Sócrates decidiu remeter o cartão ao largo do Rato para “pôr fim ao embaraço mútuo”.

Está então tudo clarificado no PS a três semanas do Congresso da Batalha? “Não”, defende Luís Aguiar-Conraria no programa Conversas Cruzadas da Renascença, deste domingo.

“Gostava de ver agora alguma clarificação em relação ao passado de José Sócrates. Já não é o passado de Sócrates - esse para mim está absolutamente claro -, mas em relação a quem o apoiou, muitas vezes de forma extremamente agressiva, insultando adversários, acusando-os de cabalas e por aí fora”, diz o professor da Universidade do Minho.

“Não podemos esquecer também que a ‘entourage’ que apoiou António Costa era violentamente contra Tozé Seguro e Tozé Seguro, onde quer que estejas, como vês, o tempo está a fazer-te justiça', diz Luís Aguiar-Conraria.

“Não sei porquê?”, interpela Manuel Carvalho da Silva. Aguiar-Conraria justifica a opinião. “Porque um dos principais pontos políticos de Seguro era recusar o legado de compadrio, de corrupção e a teia de interesses de José Sócrates. E muitos desses apoiantes de António Costa atacaram Seguro precisamente com base nestes pressupostos de que Tozé Seguro não estava a respeitar o legado de Sócrates. Ora o que se está a ver é que estão agora a dizer ainda pior de Sócrates do que dizia Seguro. Acho que esta clarificação política é algo importante”, conclui o economista Luís Aguiar-Conraria.

Quanto ao Congresso, Luís Aguiar-Conraria anuiu que a reunião magna da Batalha pode ser politicamente definidora. "O PS tem de saber se quer continuar apoiado à esquerda, ou se pretende procurar uma maioria absoluta ou se quer apresentar um programa de centro que fácilmente tenha o apoio do PSD. E é este um ponto que o PS vai ter de decidir. Não é uma decisão fácil”, sublinha o economista.

Nuno Botelho: “Agora percebemos as palavras de Paulo Castro Rangel”

Nuno Botelho concorda com o cenário da “encruzilhada” no caminho do PS. "Esse é o grande dilema do PS. Porque há o PS de Pedro Nuno Santos. Há o PS de Ana Catarina Mendes. Há o PS de Carlos César, por exemplo, que é mais ao centro”, diz o jurista, presidente da influente Associação Comercial do Porto.

“Relembro expressões de Paulo Rangel no Parlamento como a da 'claustrofobia democrática' a propósito de José Sócrates. Hoje percebemos todos a razão de ser destas palavras. Vemos pessoas como Ana Gomes que dentro do PS ainda clamam por clarificação, por distanciamento, por definição face a um certo período da governação. Acho que esse é o grande ponto de interesse deste Congresso do PS”, observa Nuno Botelho.

“Vamos perceber para onde António Costa vai levar o PS. Se para o 'PS estático' de Vieira da Silva, de Augusto Santos Silva, sem capacidade de regeneração - absolutamente crucial, acho - um PS de 'mais do mesmo'. Um PS em que é cada vez maior a dificuldade de se distinguir do legado de Sócrates”, afirma o jurista.

Manuel Carvalho da Silva: “A maior tralha de todas é o centrão de interesses”

E libertar alguma “tralha socrática” será um dos desafios para o Congresso da Batalha? “O PS vai ter de se livrar de várias tralhas. Não apenas de uma. Trata-se de todo um percurso. É natural que haja mais convulsões num sentido ou noutro. Julgo que devemos ter cuidado em estar a adiantar muito e na base de pressupostos que partem de observações do imediato para projetar o que pode ser o Congresso que ainda vai demorar algumas semanas - e adiantar o que vai ser definido como objetivo temporal de ano e meio”, responde, por seu turno Manuel Carvalho da Silva.

“Indo para o campo da opinião mais centrada nos desejos - como o Nuno Botelho - julgo que destas tensões todas até agora a tendência é mais para um rumo que favorece um cenário do PS ganhar as próximas eleições, mas não ganhar muito - isto é: sem maioria absoluta - e acima de tudo contribuir para clarificações do exercício da política, mas também de propostas que é necessário apresentar aos portugueses para dinamizar o desenvolvimento da sociedade que está a marcar passo”, faz notar o sociólogo, professor da Universidade de Coimbra.

“A maior tralha de todas é o ‘centrão’ de interesses há muito instalado. E esse não é exclusivo do PS e tem uma perna fortíssima na direita. E no caso das comissões de inquérito parlamentar o não comprometimento de três das forças que à esquerda dão apoio ao governo nessa tralha de interesses do centrão talvez seja um acrescento positivo ao debate”, defende Manuel Carvalho da Silva.

“Não estaria tão otimista”, contrapõe Nuno Botelho. “Em relação à Comissão de Inquérito há quatro perguntas a fazer a Manuel Pinho. 14,963 euros todos os meses: que dinheiro é este? Quanto recebeu? Para fazer o quê? Quantas offshores tem? Estas eram as perguntas que gostava de lhe fazer. Se não houver alguém que as coloque eu mesmo estou disponível para ir fazer estas perguntas”, prontifica-se Botelho.

“O PS não pode continuar a esconder a cabeça na carapaça da tartaruga. O próximo congresso é oportunidade para escalpelizar como se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos. Pela regeneração do próprio PS, da política e do país”. O tweet de Ana Gomes, ataque tácito aos casos Sócrates e Pinho, afinal fez o seu caminho e detonou um sismo nas hostes do PS com o verdadeiro ‘quem é quem’ socialista a distanciar-se dos casos judiciais que envolvem antigos governantes.

Do presidente do PS Carlos César ao porta-voz João Galamba, passando por destacados militantes como Fernando Medina (aqui na Renascença), multiplicaram-se as declarações de embaraço. Desconforto partilhado quando, em resposta, Sócrates decidiu remeter o cartão ao largo do Rato para “pôr fim ao embaraço mútuo”.

Está então tudo clarificado no PS a três semanas do Congresso da Batalha? “Não”, defende Luís Aguiar-Conraria no programa Conversas Cruzadas da Renascença, deste domingo.

“Gostava de ver agora alguma clarificação em relação ao passado de José Sócrates. Já não é o passado de Sócrates - esse para mim está absolutamente claro -, mas em relação a quem o apoiou, muitas vezes de forma extremamente agressiva, insultando adversários, acusando-os de cabalas e por aí fora”, diz o professor da Universidade do Minho.

“Não podemos esquecer também que a ‘entourage’ que apoiou António Costa era violentamente contra Tozé Seguro e Tozé Seguro, onde quer que estejas, como vês, o tempo está a fazer-te justiça', diz Luís Aguiar-Conraria.

“Não sei porquê?”, interpela Manuel Carvalho da Silva. Aguiar-Conraria justifica a opinião. “Porque um dos principais pontos políticos de Seguro era recusar o legado de compadrio, de corrupção e a teia de interesses de José Sócrates. E muitos desses apoiantes de António Costa atacaram Seguro precisamente com base nestes pressupostos de que Tozé Seguro não estava a respeitar o legado de Sócrates. Ora o que se está a ver é que estão agora a dizer ainda pior de Sócrates do que dizia Seguro. Acho que esta clarificação política é algo importante”, conclui o economista Luís Aguiar-Conraria.

Quanto ao Congresso, Luís Aguiar-Conraria anuiu que a reunião magna da Batalha pode ser politicamente definidora. "O PS tem de saber se quer continuar apoiado à esquerda, ou se pretende procurar uma maioria absoluta ou se quer apresentar um programa de centro que fácilmente tenha o apoio do PSD. E é este um ponto que o PS vai ter de decidir. Não é uma decisão fácil”, sublinha o economista.

Nuno Botelho: “Agora percebemos as palavras de Paulo Castro Rangel”

Nuno Botelho concorda com o cenário da “encruzilhada” no caminho do PS. "Esse é o grande dilema do PS. Porque há o PS de Pedro Nuno Santos. Há o PS de Ana Catarina Mendes. Há o PS de Carlos César, por exemplo, que é mais ao centro”, diz o jurista, presidente da influente Associação Comercial do Porto.

“Relembro expressões de Paulo Rangel no Parlamento como a da 'claustrofobia democrática' a propósito de José Sócrates. Hoje percebemos todos a razão de ser destas palavras. Vemos pessoas como Ana Gomes que dentro do PS ainda clamam por clarificação, por distanciamento, por definição face a um certo período da governação. Acho que esse é o grande ponto de interesse deste Congresso do PS”, observa Nuno Botelho.

“Vamos perceber para onde António Costa vai levar o PS. Se para o 'PS estático' de Vieira da Silva, de Augusto Santos Silva, sem capacidade de regeneração - absolutamente crucial, acho - um PS de 'mais do mesmo'. Um PS em que é cada vez maior a dificuldade de se distinguir do legado de Sócrates”, afirma o jurista.

Manuel Carvalho da Silva: “A maior tralha de todas é o centrão de interesses”

E libertar alguma “tralha socrática” será um dos desafios para o Congresso da Batalha? “O PS vai ter de se livrar de várias tralhas. Não apenas de uma. Trata-se de todo um percurso. É natural que haja mais convulsões num sentido ou noutro. Julgo que devemos ter cuidado em estar a adiantar muito e na base de pressupostos que partem de observações do imediato para projetar o que pode ser o Congresso que ainda vai demorar algumas semanas - e adiantar o que vai ser definido como objetivo temporal de ano e meio”, responde, por seu turno Manuel Carvalho da Silva.

“Indo para o campo da opinião mais centrada nos desejos - como o Nuno Botelho - julgo que destas tensões todas até agora a tendência é mais para um rumo que favorece um cenário do PS ganhar as próximas eleições, mas não ganhar muito - isto é: sem maioria absoluta - e acima de tudo contribuir para clarificações do exercício da política, mas também de propostas que é necessário apresentar aos portugueses para dinamizar o desenvolvimento da sociedade que está a marcar passo”, faz notar o sociólogo, professor da Universidade de Coimbra.

“A maior tralha de todas é o ‘centrão’ de interesses há muito instalado. E esse não é exclusivo do PS e tem uma perna fortíssima na direita. E no caso das comissões de inquérito parlamentar o não comprometimento de três das forças que à esquerda dão apoio ao governo nessa tralha de interesses do centrão talvez seja um acrescento positivo ao debate”, defende Manuel Carvalho da Silva.

“Não estaria tão otimista”, contrapõe Nuno Botelho. “Em relação à Comissão de Inquérito há quatro perguntas a fazer a Manuel Pinho. 14,963 euros todos os meses: que dinheiro é este? Quanto recebeu? Para fazer o quê? Quantas offshores tem? Estas eram as perguntas que gostava de lhe fazer. Se não houver alguém que as coloque eu mesmo estou disponível para ir fazer estas perguntas”, prontifica-se Botelho.

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