Somos a Grécia porque vivemos no mesmo planeta que irremediavelmente destruímos, porque a Europa mediterrânea está na linha da frente dos efeitos do aquecimento global e porque chegámos historicamente atrasados ao desenvolvimento
“Em 2011 imitámos a bancarrota grega de 2010. Agora são os gregos que nos seguem na tragédia assassina dos incêndios descontrolados – muitas dezenas de mortos, autoridades a agirem sem tom nem som, populações abandonadas, enfim... Portugal não é a Grécia, dizia-se, e foi verdade durante uns anos. Agora é mais difícil não voltar a reconhecer semelhanças indesejáveis.” Este canhestro aproveitamento partidário dos incêndios na Grécia não me chocam pelo mau gosto. Chocam-me porque é provável que o deputado Carlos Abreu Amorim acredite mesmo que em quatro anos se dissipam, ainda mais com medidas de austeridade que obviamente fragilizam os serviços públicos, velhos problemas estruturais do território e do Estado e novíssimos problemas climatéricos. Deve ser fácil pensar assim. Talvez neste post esteja resumida todo o simplismo ideológico que dominou o discurso político do anterior governo. Abreu Amorim funciona como uma espécie de tradutor do primarismo político para uma versão ainda mais primária.
Nádia Piazza, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande e membro da comissão de programa do CDS (por mais respeito que nos mereça o sofrimento individual de cada um, quando as pessoas têm intervenção política o seu comprometimento partidário não deve ser ignorado), seguiu aqui no “Expresso”, de forma muitíssimo mais elegante e cuidadosa, o mesmo raciocínio, apenas menos oportunista do ponto de vista partidário: há um qualquer atraso cultural no sul que nos leva ao “desleixo” (uma expressão que ignora as condições em que as escolhas são feitas).
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Somos a Grécia porque vivemos no mesmo planeta que irremediavelmente destruímos, porque a Europa mediterrânea está na linha da frente dos efeitos do aquecimento global e porque chegámos historicamente atrasados ao desenvolvimento
“Em 2011 imitámos a bancarrota grega de 2010. Agora são os gregos que nos seguem na tragédia assassina dos incêndios descontrolados – muitas dezenas de mortos, autoridades a agirem sem tom nem som, populações abandonadas, enfim... Portugal não é a Grécia, dizia-se, e foi verdade durante uns anos. Agora é mais difícil não voltar a reconhecer semelhanças indesejáveis.” Este canhestro aproveitamento partidário dos incêndios na Grécia não me chocam pelo mau gosto. Chocam-me porque é provável que o deputado Carlos Abreu Amorim acredite mesmo que em quatro anos se dissipam, ainda mais com medidas de austeridade que obviamente fragilizam os serviços públicos, velhos problemas estruturais do território e do Estado e novíssimos problemas climatéricos. Deve ser fácil pensar assim. Talvez neste post esteja resumida todo o simplismo ideológico que dominou o discurso político do anterior governo. Abreu Amorim funciona como uma espécie de tradutor do primarismo político para uma versão ainda mais primária.
Nádia Piazza, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande e membro da comissão de programa do CDS (por mais respeito que nos mereça o sofrimento individual de cada um, quando as pessoas têm intervenção política o seu comprometimento partidário não deve ser ignorado), seguiu aqui no “Expresso”, de forma muitíssimo mais elegante e cuidadosa, o mesmo raciocínio, apenas menos oportunista do ponto de vista partidário: há um qualquer atraso cultural no sul que nos leva ao “desleixo” (uma expressão que ignora as condições em que as escolhas são feitas).