Alexandre Soares dos Santos: “Sou um fulano muito estranho. Quando saio, não volto”

18-08-2019
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O que está agora a fazer?

Estou a afastar-me de qualquer cargo na sociedade. Aquilo que faço é ocupar-me de tudo quanto é responsabilidade social dentro da família. Tenho a responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos, da qual sou presidente do Conselho de Curadores, e da Fundação Oceano Azul, com a qual as fundações americanas têm o maior interesse em colaborar.

O seu filho Pedro continua a pedir-lhe conselhos sobre o grupo?

Procura-me sempre. Até foi num cruzeiro que fiz recentemente, porque entendi que ele tinha de ir, estava muito cansado. Esta é uma relação única.

Será sempre difícil desligar-se...

A minha vida foi a Jerónimo Martins e agora é levar os netos aos caminhos que querem seguir. Já tenho 18 netos.

Não teve dificuldade em sair?

Uma vez, António Borges, no fim de uma reunião da administração, disse-me: “Alexandre, a nossa querida companhia está a perder agressividade.” Tomei nota. No dia seguinte apresentei a carta de demissão e vim-me embora. O CEO e o chairman da Jerónimo Martins têm uma atividade constante. O meu filho Pedro é um desgraçado. Ou está na Colômbia ou na Polónia ou a caminho de outro lado qualquer. Eu já não tenho idade para isso. Comecei a tratar do assunto. O Pedro é o puro comandante da distribuição, não há outro igual. Ficou ele com o desenvolvimento da Jerónimo Martins. E depois há outros pelouros na família: os investimentos, a formação, os controlos dos orçamentos, que ficaram com o José.

A solução encontrada para a sua sucessão continua a agradar-lhe?

Sim, mas até aqui estava tudo dividido entre o Pedro e o José, comigo ao meio. Agora, estou a sair e entrou um senhor holandês, a tempo parcial, para ser o moderador entre os dois e trazer o pensamento de multinacional para dentro do grupo.

A que cargo corresponde essa função?

Começa por ser vice-chairman da Sociedade Francisco Manuel dos Santos, eu saio e ele vira chairman. Há aí um problema legal que está a atrasar esta passagem, mas na prática eu saio.

E na Jerónimo Martins, o atual modelo, em que o chairmantambém é CEO, mantém-se?

Vai ser mudado. Porque demora tempo a conseguir criar um CEO. Um bom diretor-geral não é necessariamente um bom CEO. E o chairman passará a ser separado do CEO.

A solução passará por ter um novo chairman ou um novo CEO?

Esta é uma opinião minha, mas penso que a solução será o chairman continuar a ser o Pedro e o CEO ser novo. Lá está, é uma questão de idade. Os meus filhos têm quase 60 anos. O Pedro já vai fazer 58 anos. E esta é uma profissão muito desgastante.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos tem correspondido às suas expectativas?

Sim. Tem feito um trabalho fantástico, nos debates e estudos, que começam a ter reconhecimento universitário. Mas ainda nos falta chegar às pessoas. Uma das coisas que mais me preocupa é o distanciamento das populações face aos problemas do país.

Como pensa chegar às pessoas?

Não é fácil, mas pensamos, através das Câmaras Municipais, organizar debates em teatros, por exemplo, sobre os problemas regionais, para que as pessoas se interessem sobre os temas que as afetam no dia a dia. Há muito a fazer. Uma das coisas que me encantam e das que mais me interessam é a ajuda que prestamos às crianças. Temos três obras grandes. Uma no Porto, a Arco Maior, onde já retirámos 160 crianças da rua, damos-lhe o 12º ano e estamos agora na fase de lhes dar cursos, para que possam ter emprego. Temos outra obra, a Semear, para crianças deficientes, abandonadas pelo Estado, e ensinamo-las a trabalhar na agricultura e a produzir produtos que depois o Pingo Doce e outros compram. Tentamos colocá-las na logística ou em determinadas quintas. Por último, temos as bolsas de estudo.

Qual é o orçamento que tem para trabalhar?

Em comida, em 2017, gastámos €25 milhões. Há dois anos, gastámos €15 milhões. E temos um contrato com a Fundação em que ela recebe todos os anos 25% dos dividendos da família. Tem um orçamento de €9 milhões ou €10 milhões por ano.

Continua a trabalhar todos os dias?

Não. Eu não quero compromissos de horas. Tenho uma agenda que me diz quando tenho aquelas reuniões a que não posso faltar. Mas tenho uma hora de começar e uma hora de acabar. E faço uma reunião com a família (filhos) uma vez por mês, a sério. Sou um fulano muito estranho. Saí da Unilever ao fim de 40 anos e nunca mais lá voltei. Saí da Jerónimo Martins e não vou lá. Saio, não volto. Deixei o meu gabinete e acabou. Não me chateio com mais nada. Nem queiram saber como me sinto feliz. Precisava de descanso, de me livrar de muita coisa. Adoro esta parte da responsabilidade social, é uma consolação.

O que está agora a fazer?

Estou a afastar-me de qualquer cargo na sociedade. Aquilo que faço é ocupar-me de tudo quanto é responsabilidade social dentro da família. Tenho a responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos, da qual sou presidente do Conselho de Curadores, e da Fundação Oceano Azul, com a qual as fundações americanas têm o maior interesse em colaborar.

O seu filho Pedro continua a pedir-lhe conselhos sobre o grupo?

Procura-me sempre. Até foi num cruzeiro que fiz recentemente, porque entendi que ele tinha de ir, estava muito cansado. Esta é uma relação única.

Será sempre difícil desligar-se...

A minha vida foi a Jerónimo Martins e agora é levar os netos aos caminhos que querem seguir. Já tenho 18 netos.

Não teve dificuldade em sair?

Uma vez, António Borges, no fim de uma reunião da administração, disse-me: “Alexandre, a nossa querida companhia está a perder agressividade.” Tomei nota. No dia seguinte apresentei a carta de demissão e vim-me embora. O CEO e o chairman da Jerónimo Martins têm uma atividade constante. O meu filho Pedro é um desgraçado. Ou está na Colômbia ou na Polónia ou a caminho de outro lado qualquer. Eu já não tenho idade para isso. Comecei a tratar do assunto. O Pedro é o puro comandante da distribuição, não há outro igual. Ficou ele com o desenvolvimento da Jerónimo Martins. E depois há outros pelouros na família: os investimentos, a formação, os controlos dos orçamentos, que ficaram com o José.

A solução encontrada para a sua sucessão continua a agradar-lhe?

Sim, mas até aqui estava tudo dividido entre o Pedro e o José, comigo ao meio. Agora, estou a sair e entrou um senhor holandês, a tempo parcial, para ser o moderador entre os dois e trazer o pensamento de multinacional para dentro do grupo.

A que cargo corresponde essa função?

Começa por ser vice-chairman da Sociedade Francisco Manuel dos Santos, eu saio e ele vira chairman. Há aí um problema legal que está a atrasar esta passagem, mas na prática eu saio.

E na Jerónimo Martins, o atual modelo, em que o chairmantambém é CEO, mantém-se?

Vai ser mudado. Porque demora tempo a conseguir criar um CEO. Um bom diretor-geral não é necessariamente um bom CEO. E o chairman passará a ser separado do CEO.

A solução passará por ter um novo chairman ou um novo CEO?

Esta é uma opinião minha, mas penso que a solução será o chairman continuar a ser o Pedro e o CEO ser novo. Lá está, é uma questão de idade. Os meus filhos têm quase 60 anos. O Pedro já vai fazer 58 anos. E esta é uma profissão muito desgastante.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos tem correspondido às suas expectativas?

Sim. Tem feito um trabalho fantástico, nos debates e estudos, que começam a ter reconhecimento universitário. Mas ainda nos falta chegar às pessoas. Uma das coisas que mais me preocupa é o distanciamento das populações face aos problemas do país.

Como pensa chegar às pessoas?

Não é fácil, mas pensamos, através das Câmaras Municipais, organizar debates em teatros, por exemplo, sobre os problemas regionais, para que as pessoas se interessem sobre os temas que as afetam no dia a dia. Há muito a fazer. Uma das coisas que me encantam e das que mais me interessam é a ajuda que prestamos às crianças. Temos três obras grandes. Uma no Porto, a Arco Maior, onde já retirámos 160 crianças da rua, damos-lhe o 12º ano e estamos agora na fase de lhes dar cursos, para que possam ter emprego. Temos outra obra, a Semear, para crianças deficientes, abandonadas pelo Estado, e ensinamo-las a trabalhar na agricultura e a produzir produtos que depois o Pingo Doce e outros compram. Tentamos colocá-las na logística ou em determinadas quintas. Por último, temos as bolsas de estudo.

Qual é o orçamento que tem para trabalhar?

Em comida, em 2017, gastámos €25 milhões. Há dois anos, gastámos €15 milhões. E temos um contrato com a Fundação em que ela recebe todos os anos 25% dos dividendos da família. Tem um orçamento de €9 milhões ou €10 milhões por ano.

Continua a trabalhar todos os dias?

Não. Eu não quero compromissos de horas. Tenho uma agenda que me diz quando tenho aquelas reuniões a que não posso faltar. Mas tenho uma hora de começar e uma hora de acabar. E faço uma reunião com a família (filhos) uma vez por mês, a sério. Sou um fulano muito estranho. Saí da Unilever ao fim de 40 anos e nunca mais lá voltei. Saí da Jerónimo Martins e não vou lá. Saio, não volto. Deixei o meu gabinete e acabou. Não me chateio com mais nada. Nem queiram saber como me sinto feliz. Precisava de descanso, de me livrar de muita coisa. Adoro esta parte da responsabilidade social, é uma consolação.

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