Cromos da Bola: Homens Duplicados (e Unificados)

16-07-2018
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Certos jogadores tornam-se indispensáveis na manobra das suas equipas.Até se costuma dizer: “X vale por dois”, ou “Y é dois em um”, tal a influência desse jogador.Mas também pode acontecer o inverso, isto é, quando dois jogadores distintos afinal são apenas um só.Impossível? Não creiam. Acontece com maior regularidade do que seria esperado.Os “Cadernos d’A Bola”, verdadeiros Almanaques Borda d’ Água para o aficionado do futebol, são pródigos em desmascarar a dupla personalidade que aflige determinadas figuras da nossa praça.Tomai como primeiro exemplo este simpático vareiro.Carlos Miguel era um rapazinho tímido, incapaz de olhar o mundo de frente. Médio mediano, labutava sem esperança pela intermediária. Até que um dia bateu com a cabeça numa tabela de basquetebol e se transfigurou. Já não era o inócuo Carlos Miguel, mas sim Nenad, venenoso atacante sérvio. Carlos Miguel acariciava o fundo das listas de convocados enquanto Nenad fazia mossa nas defesas contrárias.Um dia, o treinador teve a ideia de escalar os dois para o mesmo onze. Resultado: Carlos Miguel jogou mais à frente do que estava habituado, Nenad esteve muito apagado a executar tarefas mais defensivas, a equipa jogava literalmente com menos um, a Ovarense acabou por perder copiosamente – e, para cúmulo, Nenad viu um amarelo, mas foi Carlos Miguel que recebeu a ordem de expulsão pelo seu primeiro cartão amarelo. Confusos? Sim, é natural, desde aquela fatídica tabela de basket que o Dr. Jekyll e o Mr. Hyde de Ovar nunca mais foi compreendido.Eis mais dois Miguéis que afinal são só um. Miguel ou João Miguel?, era a pergunta que ecoava nas cabeças aturdidas dos adeptos da Mata Real em 1995, com aquele jogador que parecia saído de um argumento de David Lynch. Quando se sentia confiante, abraçava o nome de João Miguel e ia para o relvado de melenas ao vento e ostentando um certo ar de desdém pelo mundo; mas quando se sentia numa onda minimalista, e também para fugir aos impostos, era tão só Miguel e ia para o relvado de melenas ao vento e sempre com aquela aparência sobranceira que só Miguel, Miguel apenas ou João Miguel, sabia apresentar.É claro que a situação de Miguel/ João Miguel levantou desconfianças no seio do plantel.Monteiro, por exemplo, era incapaz de encarar João Miguel cara-a-cara. Sorria com desprezo da sua irritante insolência. “Esse gajo? Pfui, não lhe passo cavaco. Comigo, não há pão para malucos!”. Já em relação a Miguel, Monteiro era mais condescendente e consta que até houve uma vez em que lhe partiu uma caneleira e lhe pediu desculpas. Mas acabou por pedir desculpas ao João Miguel e, por via das dúvidas, deixou de pedir desculpas sempre que partia caneleiras a ambos.Já Yulian não era capaz de esconder o seu espanto. “Hã? Como ser? Miguel ser João Miguel? Quê?”. A dúvida que assolava o quotidiano de Yulian é bem visível nesta foto. Há quem diga que este esgar foi causado pelo sol, há quem aponte para uma certa atrofia facial de contornos níticos, mas nós sabemos que o problema não era meramente conjuntural. Não. A culpa era do Miguel/ João Miguel, esse jogador fraudulento, o semeador da confusão, desmistificado pelos “Cadernos d’ A Bola”.


Certos jogadores tornam-se indispensáveis na manobra das suas equipas.Até se costuma dizer: “X vale por dois”, ou “Y é dois em um”, tal a influência desse jogador.Mas também pode acontecer o inverso, isto é, quando dois jogadores distintos afinal são apenas um só.Impossível? Não creiam. Acontece com maior regularidade do que seria esperado.Os “Cadernos d’A Bola”, verdadeiros Almanaques Borda d’ Água para o aficionado do futebol, são pródigos em desmascarar a dupla personalidade que aflige determinadas figuras da nossa praça.Tomai como primeiro exemplo este simpático vareiro.Carlos Miguel era um rapazinho tímido, incapaz de olhar o mundo de frente. Médio mediano, labutava sem esperança pela intermediária. Até que um dia bateu com a cabeça numa tabela de basquetebol e se transfigurou. Já não era o inócuo Carlos Miguel, mas sim Nenad, venenoso atacante sérvio. Carlos Miguel acariciava o fundo das listas de convocados enquanto Nenad fazia mossa nas defesas contrárias.Um dia, o treinador teve a ideia de escalar os dois para o mesmo onze. Resultado: Carlos Miguel jogou mais à frente do que estava habituado, Nenad esteve muito apagado a executar tarefas mais defensivas, a equipa jogava literalmente com menos um, a Ovarense acabou por perder copiosamente – e, para cúmulo, Nenad viu um amarelo, mas foi Carlos Miguel que recebeu a ordem de expulsão pelo seu primeiro cartão amarelo. Confusos? Sim, é natural, desde aquela fatídica tabela de basket que o Dr. Jekyll e o Mr. Hyde de Ovar nunca mais foi compreendido.Eis mais dois Miguéis que afinal são só um. Miguel ou João Miguel?, era a pergunta que ecoava nas cabeças aturdidas dos adeptos da Mata Real em 1995, com aquele jogador que parecia saído de um argumento de David Lynch. Quando se sentia confiante, abraçava o nome de João Miguel e ia para o relvado de melenas ao vento e ostentando um certo ar de desdém pelo mundo; mas quando se sentia numa onda minimalista, e também para fugir aos impostos, era tão só Miguel e ia para o relvado de melenas ao vento e sempre com aquela aparência sobranceira que só Miguel, Miguel apenas ou João Miguel, sabia apresentar.É claro que a situação de Miguel/ João Miguel levantou desconfianças no seio do plantel.Monteiro, por exemplo, era incapaz de encarar João Miguel cara-a-cara. Sorria com desprezo da sua irritante insolência. “Esse gajo? Pfui, não lhe passo cavaco. Comigo, não há pão para malucos!”. Já em relação a Miguel, Monteiro era mais condescendente e consta que até houve uma vez em que lhe partiu uma caneleira e lhe pediu desculpas. Mas acabou por pedir desculpas ao João Miguel e, por via das dúvidas, deixou de pedir desculpas sempre que partia caneleiras a ambos.Já Yulian não era capaz de esconder o seu espanto. “Hã? Como ser? Miguel ser João Miguel? Quê?”. A dúvida que assolava o quotidiano de Yulian é bem visível nesta foto. Há quem diga que este esgar foi causado pelo sol, há quem aponte para uma certa atrofia facial de contornos níticos, mas nós sabemos que o problema não era meramente conjuntural. Não. A culpa era do Miguel/ João Miguel, esse jogador fraudulento, o semeador da confusão, desmistificado pelos “Cadernos d’ A Bola”.

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