“A vantagem dos car****s pesa sobre muitas imaginações”

03-10-2018
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Se Serralves decide fazer uma grande retrospetiva do fotógrafo, então tem de exibir as suas obsessões, incluindo as fotografias explícitas, sexuais, sadomasoquistas, as masturbações, sodomizações. Ou se expõe Mapplethorpe ou não se expõe Mapplethorpe

Advertência: entre neste texto como se num espaço expositivo com conteúdo eventualmente chocante e explícito. Siga por sua conta e risco.

A frase do título deste texto é explícita, os asteriscos são nossos e isso não é irrelevante (já lá vamos). É o princípio de um poema e quem não o conhece ficará surpreendido por saber que quem o escreveu foi o maior, mais citado (e talvez lido), mais exportado e possivelmente mais amado dos poetas portugueses. “A alma humana é porca como um ânus / E a vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações”, escreveu Álvaro de Campos, o engenheiro naval heterónimo de Fernando Pessoa.

O que pesa sobre muitas imaginações é, por exemplo, o “pénis ereto ladeado por uma pistola” fotografado por Robert Mapplethorpe, que pode ser visto hoje em Serralves, no Porto, numa exposição que levou à demissão do diretor do museu, João Ribas. A história da demissão está ainda mal contada, com versões contraditórias que tanto fazem de Ribas um homem corajoso e livre como um miúdo imaturo e birrento; e fazem da presidente Ana Pinho tanto uma censora autoritária como uma autoridade difamada. Será preciso descobrir como tudo aconteceu antes de dizer quem tem razão, mas já se percebeu que ninguém ficará bem numa história que escancarou nos jornais o que já antes era uma má relação pessoal, que assim causará um custo reputacional numa instituição que foi, é e será maior que os dois circunstantes: Serralves. A reputação de que não sabe definir, ao início, a sua linha expositiva, nem respeitar depois a autonomia de um diretor artístico; de que não dá explicações mesmo tendo, como diz António Filipe Pimentel, obrigação moral e ética de as dar à sua comunidade e aos contribuintes que a subsidiam. Nas primeiras 24 horas, desmentiu ter feito censura e ainda nada mais disse. Já Ribas, se foi apenas calculista, arrisca passar de herói de uma noite a esquecido todos os dias.

JOSÉ COELHO

Se Serralves decide fazer uma grande retrospetiva do fotógrafo, então tem de exibir as suas obsessões, incluindo as fotografias explícitas, sexuais, sadomasoquistas, as masturbações, sodomizações. Ou se expõe Mapplethorpe ou não se expõe Mapplethorpe

Advertência: entre neste texto como se num espaço expositivo com conteúdo eventualmente chocante e explícito. Siga por sua conta e risco.

A frase do título deste texto é explícita, os asteriscos são nossos e isso não é irrelevante (já lá vamos). É o princípio de um poema e quem não o conhece ficará surpreendido por saber que quem o escreveu foi o maior, mais citado (e talvez lido), mais exportado e possivelmente mais amado dos poetas portugueses. “A alma humana é porca como um ânus / E a vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações”, escreveu Álvaro de Campos, o engenheiro naval heterónimo de Fernando Pessoa.

O que pesa sobre muitas imaginações é, por exemplo, o “pénis ereto ladeado por uma pistola” fotografado por Robert Mapplethorpe, que pode ser visto hoje em Serralves, no Porto, numa exposição que levou à demissão do diretor do museu, João Ribas. A história da demissão está ainda mal contada, com versões contraditórias que tanto fazem de Ribas um homem corajoso e livre como um miúdo imaturo e birrento; e fazem da presidente Ana Pinho tanto uma censora autoritária como uma autoridade difamada. Será preciso descobrir como tudo aconteceu antes de dizer quem tem razão, mas já se percebeu que ninguém ficará bem numa história que escancarou nos jornais o que já antes era uma má relação pessoal, que assim causará um custo reputacional numa instituição que foi, é e será maior que os dois circunstantes: Serralves. A reputação de que não sabe definir, ao início, a sua linha expositiva, nem respeitar depois a autonomia de um diretor artístico; de que não dá explicações mesmo tendo, como diz António Filipe Pimentel, obrigação moral e ética de as dar à sua comunidade e aos contribuintes que a subsidiam. Nas primeiras 24 horas, desmentiu ter feito censura e ainda nada mais disse. Já Ribas, se foi apenas calculista, arrisca passar de herói de uma noite a esquecido todos os dias.

JOSÉ COELHO

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