Imagens das câmaras de vigilância podem provar ingerência da administração em Serralves

27-09-2018
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Em resultado de contendas internas, houve três desenhos expositivos da retrospetiva dedicada ao fotógrafo Robert Mapplethorpe que foi inaugurada, na quinta-feira, na Fundação de Serralves, e a polémica espoletada pela demissão do seu diretor artístico João Ribas, no dia a seguir, prende-se com a ingerência da administração liderada por Ana Pinho nas suas funções, nomeadamente atos de censura no que toca às imagens incluídas na mostra (de uma lista inicial de 179, apenas 159 estão patentes). Isto ouviu o i de algumas fontes ligadas a Serralves, entre as quais Manuel Santos Maia, artista e curador, que colabora com o serviço educativo daquela instituição – uma exposição que, na opinião de Santos Maia, se quis fiel ao espírito “libertador” do fotógrafo que gostava de cultivar a imagem de anjo negro, tão provocador quanto sensível. “O curador João Ribas pretendeu dar ao libertador Robert Mapplethorpe o lugar de liberdade, de inclusão que as suas obras e os temas tratados reclamam. O curador defendeu uma obra que vem do futuro para nos resgatar do passado”, vinca o artista e curador. E remata: “Os testemunhos [da administração] [...] alimentam o proibido; a um espaço de liberdade contrapõem um espaço de interdição (a menores de 18 anos)”.

Se a maioria das pessoas contactadas prefere, para já, resguardar-se no anonimato, quem também deu a cara em defesa de João Ribas foi Paulo Mendes. O curador e artista, que mantém uma ligação à história do museu desde o seu período de incepção e que teve recentemente uma obra sua incluída na mostra coletiva “Zero em comportamento” – a qual também levantou preocupações junto da administração devido ao seu cariz sexual explícito –, garante que as remontagens a que a exposição “Robert Mapplethorpe: Pictures” foi sujeita decorreram de três visitas feitas por elementos da administração às salas de exposição. “Durante os três últimos dias de montagem foram feitas três visitas por elementos da administração às salas de exposição”, disse ao i, adiantando que “esses três elementos da administração, Ana Pinho, Isabel Pires de Lima e Manuel Ferreira da Silva, durante essas visitas apontaram várias obras que tinham de mudar de localização na exposição. Essas ‘imagens de sexo’ tinham de ser remetidas para as salas do fundo, de acesso restrito. A exposição tinha de ser expurgada do teor sexual e potencialmente controverso.”

Paulo Mendes, que expôs pela primeira vez a sua obra em Serralves em 1993, pouco depois de sair da universidade, e trabalhando com o então diretor Fernando Pernes e com Miguel von Hafe Pérez, lança ainda um desafio ao atual conselho de administração: “Perante as sucessivas afirmações e comunicados da administração que culpabilizam o diretor artístico João Ribas, desafio a administração de Serralves a mostrar as imagens das câmaras de vigilância das salas expositivas do Museu durante o período da montagem, e que podem provar os factos.”

O artista conta ainda que, depois de ter estado presente na inauguração, regressou ontem ao museu, deparando-se com “várias alterações feitas depois de estalar a polémica”. “Os alarmistas avisos em vinil foram retirados e a ‘sala proibida’ deixou de estar interdita a menores quando acompanhados pelos pais.”

“Clima intimidatório”

Paulo Mendes tem acompanhado a vida daquele museu desde os dias em que as inaugurações não contavam com mais do que meia centena de pessoas – “e no fim íamos todos jantar”. Garante que nos 25 anos em que Odete Patrício permaneceu como diretora-geral da instituição houve sempre uma separação clara entre a gestão financeira e administrativa e aquilo que era a definição dos conteúdos artísticos. Lembrando que o meio artístico portuense é pequeno, que todos se conhecem e não há maneira de a vida de uma instituição como esta ser mantida em segredo, diz que os seus primeiros diretores artísticos – Vicente Todolí e João Fernandes – nunca se depararam com situações de ingerência como aquela que forçou João Ribas a despedir-se. “O mal-estar em Serralves vem de trás. Como todo o meio artístico sabe, a relação era tensa entre o diretor artístico e a administração.”

Ao i, Paulo Mendes é taxativo: diz que há muito se sabe da “cultura de medo” que tem dominado a Fundação de Serralves desde que o atual conselho de administração, presidido por Ana Pinho, tomou posse em 2015. Foi de resto para denunciar esse “clima intimidatório” que surgiu uma carta aberta que teve como primeira signatária Eduarda Neves e que em poucas horas recolheu quase 400 assinaturas, num protesto ecoado ontem por algumas dezenas de manifestantes que se reuniram no interior das instalações da fundação, a partir do meio dia, gritando palavras de ordem como “Ana, tirana!”, “Educar não é censurar” ou “Shame on you!”.

Se a carta pede uma autorreflexão que envolva todos aqueles que trabalham no museu, Paulo Mendes adianta que Serralves “não é caso único”. “No nosso país existe uma tendência para alargar as competências da gestão financeira e administrativa à área da programação, transformado o ato imaterial de fazer cultura numa ‘tabela excel’ de objetivos e números.”

Recapitulemos

Estão ainda por revelar aspetos decisivos do que se tem passado nos bastidores de Serralves e falta uma imagem clara das tensões que levaram o diretor do museu, João Ribas, a pedir a demissão na sexta-feira. Mas o que o negativo já deixa antever é que ninguém sairá bem na fotografia. Se, ao bater com a porta, Ribas deu sinal de um inequívoco mal-estar nos corredores da instituição, logo se desenharam duas versões da mesma história.

De um lado está o diretor artístico da fundação, que diz ter-se sentido desautorizado depois de, numa entrevista ao “Público”, ter afirmado que não haveria restrições nem “salas especiais” na exposição dedicada a Robert Mapplethorpe. Finalmente, a exposição é inaugurada na quinta-feira e, ao contrário do que Ribas indicara, uma parte da mostra é interditada a menores de 18 anos. Além disso, em declaração ao “Público”, o diretor, que assumira funções em janeiro, dava nota da ingerência da administração de Serralves, referindo que algumas das fotos haviam sido alvo de censura por parte da administração dado que, devido ao conteúdo sexualmente explícito destas, contra a vontade do curador, haviam sido retiradas. Assim, um dia após ter sido inaugurada a retrospetiva do fotógrafo norte-americano, anunciada como um dos grandes acontecimentos para 2018, Ribas despedia-se, frisando que não tinha já condições para continuar a dar a cara pela instituição.

Do outro lado temos um conselho de administração, liderado por Ana Pinho, que primeiro se fechou em copas e, quando a demissão provou ser mais do que uma pedra no sapato, enviou então um comunicado às redações garantindo que das 179 imagens que integravam a lista inicial, as 159 incluídas na exposição foram “escolhidas pelo curador”. E adiantou que não houve qualquer censura, mas que esteve sempre previsto que “as obras de cariz sexual explícito” viessem a ser exibidas “numa zona com acesso restrito”. Adiantava ainda que, considerando “o teor de várias das obras expostas”, esta salvaguarda se mostrava necessária no caso de Serralves, “uma instituição visitada anualmente por quase um milhão de pessoas de todas as origens, idades e nacionalidades, incluindo milhares de crianças e centenas de escolas”.

Se até aqui estava alinhado o rastilho para deixar a Fundação de Serralves em pé de guerra, foram as declarações do presidente da Fundação Robert Mapplethorpe, Michael Ward Stout, depois de ter participado na visita guiada à exposição – à qual João Ribas não compareceu –, que fizeram deflagrar a batalha. Stout reagiu à demissão de Ribas dizendo estar “chocado” e considerando-a um ato “egoísta” e “pouco profissional” que vinha manchar o bom nome que Serralves conquistou no mundo.

Ao i, fontes próximas de Serralves e de João Ribas garantem que estas declarações sinalizam uma concertação institucional para “queimar” o ex-diretor artístico, que subiu do posto de vice, sendo escolhido na sequência de um concurso público internacional após a saída da australiana Suzanne Cotter, que não quis renovar por mais um período de cinco anos a sua ligação a Serralves.

Ontem, a administração de Serralves veio reagir à demissão pela voz de Isabel Pires de Lima, um dos seus nove membros. A antiga deputada e ministra da Cultura revelou estar “absolutamente surpreendida” com a ação de João Ribas, notando que a exposição “Robert Mapplethorpe: Pictures” foi uma escolha feita pela anterior responsável artística, e insistiu que “desde a primeira hora” se tinha estabelecido que, caso a escolha do curador recaísse sobre “um número significativo de imagens de conteúdos sexualmente explícitos, algumas até com registos de práticas sadomasoquistas, estas seriam concentradas numa ou mais salas reservadas”.

Na resposta a uma série de questões do “Público”, Pires de Lima adianta que Ribas nunca manifestou desacordo quanto a um desenho expositivo que dispusesse os “conteúdos sexualmente mais complicados” em espaços de acesso condicionado. “Quando o João Ribas fez aquelas declarações ao vosso jornal de que não haveria salas reservadas na exposição, eu não percebi o que tinha acontecido porque a decisão no sentido contrário tinha sido tomada no início e ele nunca a tinha contestado. Tem havido salas reservadas noutras exposições deste artista em vários museus do mundo.”

A professora emérita da Faculdade de Letras da Universidade do Porto frisou ainda que o ex-diretor do museu aceitou inaugurar a exposição na quinta-feira, conduzindo a primeira das visitas guiadas à retrospetiva, e isto com acesso condicionado em função da idade dos visitantes, ou seja, as pessoas com menos de 18 anos teriam de ser acompanhadas por um adulto, havendo duas salas em que o acesso a menores seria expressamente proibido.

Finalmente, no que toca às 20 obras de Mapplethorpe que foram retiradas do guião inicialmente previsto – as 179 que constam da lista enviada às redações –, a administradora assegura que “a escolha das imagens expostas foi da exclusiva responsabilidade do curador”. E sublinha: “O João Ribas expôs exatamente o que quis, as fotografias que quis. Porque é que à última hora decidiu retirar 20? Não sabemos porquê, terá de ser ele a explicar.”

Pires de Lima ressalvou também que “o João, que apresentou a sua demissão do cargo de diretor do museu, nunca se demitiu do de curador desta exposição”. Ora, uma fonte próxima de Ribas ouvida pelo i notou que a decisão de se demitir foi tomada ao concluir que havia perdido a confiança no conselho de administração de Serralves, mas que isso, tal como disse a administradora, não implica que não assine o projeto de curadoria da exposição. “São funções diferentes, e Ribas assume a responsabilidade tanto pelo projeto como pela equipa que o levou a cabo.”

Ao i, a fundação, além de remeter para as declarações de Pires de Lima, apontou para a contradição temporal entre o momento que João Ribas escolheu para se demitir e aqueles factos que o terão levado a isso. Segundo a instituição, não se percebe porque o ex-diretor artística escolheu o dia a seguir à inauguração para se despedir se os atos de ingerência e censura que estão a ser assacados ao conselho de administração ocorreram antes.

Em resultado de contendas internas, houve três desenhos expositivos da retrospetiva dedicada ao fotógrafo Robert Mapplethorpe que foi inaugurada, na quinta-feira, na Fundação de Serralves, e a polémica espoletada pela demissão do seu diretor artístico João Ribas, no dia a seguir, prende-se com a ingerência da administração liderada por Ana Pinho nas suas funções, nomeadamente atos de censura no que toca às imagens incluídas na mostra (de uma lista inicial de 179, apenas 159 estão patentes). Isto ouviu o i de algumas fontes ligadas a Serralves, entre as quais Manuel Santos Maia, artista e curador, que colabora com o serviço educativo daquela instituição – uma exposição que, na opinião de Santos Maia, se quis fiel ao espírito “libertador” do fotógrafo que gostava de cultivar a imagem de anjo negro, tão provocador quanto sensível. “O curador João Ribas pretendeu dar ao libertador Robert Mapplethorpe o lugar de liberdade, de inclusão que as suas obras e os temas tratados reclamam. O curador defendeu uma obra que vem do futuro para nos resgatar do passado”, vinca o artista e curador. E remata: “Os testemunhos [da administração] [...] alimentam o proibido; a um espaço de liberdade contrapõem um espaço de interdição (a menores de 18 anos)”.

Se a maioria das pessoas contactadas prefere, para já, resguardar-se no anonimato, quem também deu a cara em defesa de João Ribas foi Paulo Mendes. O curador e artista, que mantém uma ligação à história do museu desde o seu período de incepção e que teve recentemente uma obra sua incluída na mostra coletiva “Zero em comportamento” – a qual também levantou preocupações junto da administração devido ao seu cariz sexual explícito –, garante que as remontagens a que a exposição “Robert Mapplethorpe: Pictures” foi sujeita decorreram de três visitas feitas por elementos da administração às salas de exposição. “Durante os três últimos dias de montagem foram feitas três visitas por elementos da administração às salas de exposição”, disse ao i, adiantando que “esses três elementos da administração, Ana Pinho, Isabel Pires de Lima e Manuel Ferreira da Silva, durante essas visitas apontaram várias obras que tinham de mudar de localização na exposição. Essas ‘imagens de sexo’ tinham de ser remetidas para as salas do fundo, de acesso restrito. A exposição tinha de ser expurgada do teor sexual e potencialmente controverso.”

Paulo Mendes, que expôs pela primeira vez a sua obra em Serralves em 1993, pouco depois de sair da universidade, e trabalhando com o então diretor Fernando Pernes e com Miguel von Hafe Pérez, lança ainda um desafio ao atual conselho de administração: “Perante as sucessivas afirmações e comunicados da administração que culpabilizam o diretor artístico João Ribas, desafio a administração de Serralves a mostrar as imagens das câmaras de vigilância das salas expositivas do Museu durante o período da montagem, e que podem provar os factos.”

O artista conta ainda que, depois de ter estado presente na inauguração, regressou ontem ao museu, deparando-se com “várias alterações feitas depois de estalar a polémica”. “Os alarmistas avisos em vinil foram retirados e a ‘sala proibida’ deixou de estar interdita a menores quando acompanhados pelos pais.”

“Clima intimidatório”

Paulo Mendes tem acompanhado a vida daquele museu desde os dias em que as inaugurações não contavam com mais do que meia centena de pessoas – “e no fim íamos todos jantar”. Garante que nos 25 anos em que Odete Patrício permaneceu como diretora-geral da instituição houve sempre uma separação clara entre a gestão financeira e administrativa e aquilo que era a definição dos conteúdos artísticos. Lembrando que o meio artístico portuense é pequeno, que todos se conhecem e não há maneira de a vida de uma instituição como esta ser mantida em segredo, diz que os seus primeiros diretores artísticos – Vicente Todolí e João Fernandes – nunca se depararam com situações de ingerência como aquela que forçou João Ribas a despedir-se. “O mal-estar em Serralves vem de trás. Como todo o meio artístico sabe, a relação era tensa entre o diretor artístico e a administração.”

Ao i, Paulo Mendes é taxativo: diz que há muito se sabe da “cultura de medo” que tem dominado a Fundação de Serralves desde que o atual conselho de administração, presidido por Ana Pinho, tomou posse em 2015. Foi de resto para denunciar esse “clima intimidatório” que surgiu uma carta aberta que teve como primeira signatária Eduarda Neves e que em poucas horas recolheu quase 400 assinaturas, num protesto ecoado ontem por algumas dezenas de manifestantes que se reuniram no interior das instalações da fundação, a partir do meio dia, gritando palavras de ordem como “Ana, tirana!”, “Educar não é censurar” ou “Shame on you!”.

Se a carta pede uma autorreflexão que envolva todos aqueles que trabalham no museu, Paulo Mendes adianta que Serralves “não é caso único”. “No nosso país existe uma tendência para alargar as competências da gestão financeira e administrativa à área da programação, transformado o ato imaterial de fazer cultura numa ‘tabela excel’ de objetivos e números.”

Recapitulemos

Estão ainda por revelar aspetos decisivos do que se tem passado nos bastidores de Serralves e falta uma imagem clara das tensões que levaram o diretor do museu, João Ribas, a pedir a demissão na sexta-feira. Mas o que o negativo já deixa antever é que ninguém sairá bem na fotografia. Se, ao bater com a porta, Ribas deu sinal de um inequívoco mal-estar nos corredores da instituição, logo se desenharam duas versões da mesma história.

De um lado está o diretor artístico da fundação, que diz ter-se sentido desautorizado depois de, numa entrevista ao “Público”, ter afirmado que não haveria restrições nem “salas especiais” na exposição dedicada a Robert Mapplethorpe. Finalmente, a exposição é inaugurada na quinta-feira e, ao contrário do que Ribas indicara, uma parte da mostra é interditada a menores de 18 anos. Além disso, em declaração ao “Público”, o diretor, que assumira funções em janeiro, dava nota da ingerência da administração de Serralves, referindo que algumas das fotos haviam sido alvo de censura por parte da administração dado que, devido ao conteúdo sexualmente explícito destas, contra a vontade do curador, haviam sido retiradas. Assim, um dia após ter sido inaugurada a retrospetiva do fotógrafo norte-americano, anunciada como um dos grandes acontecimentos para 2018, Ribas despedia-se, frisando que não tinha já condições para continuar a dar a cara pela instituição.

Do outro lado temos um conselho de administração, liderado por Ana Pinho, que primeiro se fechou em copas e, quando a demissão provou ser mais do que uma pedra no sapato, enviou então um comunicado às redações garantindo que das 179 imagens que integravam a lista inicial, as 159 incluídas na exposição foram “escolhidas pelo curador”. E adiantou que não houve qualquer censura, mas que esteve sempre previsto que “as obras de cariz sexual explícito” viessem a ser exibidas “numa zona com acesso restrito”. Adiantava ainda que, considerando “o teor de várias das obras expostas”, esta salvaguarda se mostrava necessária no caso de Serralves, “uma instituição visitada anualmente por quase um milhão de pessoas de todas as origens, idades e nacionalidades, incluindo milhares de crianças e centenas de escolas”.

Se até aqui estava alinhado o rastilho para deixar a Fundação de Serralves em pé de guerra, foram as declarações do presidente da Fundação Robert Mapplethorpe, Michael Ward Stout, depois de ter participado na visita guiada à exposição – à qual João Ribas não compareceu –, que fizeram deflagrar a batalha. Stout reagiu à demissão de Ribas dizendo estar “chocado” e considerando-a um ato “egoísta” e “pouco profissional” que vinha manchar o bom nome que Serralves conquistou no mundo.

Ao i, fontes próximas de Serralves e de João Ribas garantem que estas declarações sinalizam uma concertação institucional para “queimar” o ex-diretor artístico, que subiu do posto de vice, sendo escolhido na sequência de um concurso público internacional após a saída da australiana Suzanne Cotter, que não quis renovar por mais um período de cinco anos a sua ligação a Serralves.

Ontem, a administração de Serralves veio reagir à demissão pela voz de Isabel Pires de Lima, um dos seus nove membros. A antiga deputada e ministra da Cultura revelou estar “absolutamente surpreendida” com a ação de João Ribas, notando que a exposição “Robert Mapplethorpe: Pictures” foi uma escolha feita pela anterior responsável artística, e insistiu que “desde a primeira hora” se tinha estabelecido que, caso a escolha do curador recaísse sobre “um número significativo de imagens de conteúdos sexualmente explícitos, algumas até com registos de práticas sadomasoquistas, estas seriam concentradas numa ou mais salas reservadas”.

Na resposta a uma série de questões do “Público”, Pires de Lima adianta que Ribas nunca manifestou desacordo quanto a um desenho expositivo que dispusesse os “conteúdos sexualmente mais complicados” em espaços de acesso condicionado. “Quando o João Ribas fez aquelas declarações ao vosso jornal de que não haveria salas reservadas na exposição, eu não percebi o que tinha acontecido porque a decisão no sentido contrário tinha sido tomada no início e ele nunca a tinha contestado. Tem havido salas reservadas noutras exposições deste artista em vários museus do mundo.”

A professora emérita da Faculdade de Letras da Universidade do Porto frisou ainda que o ex-diretor do museu aceitou inaugurar a exposição na quinta-feira, conduzindo a primeira das visitas guiadas à retrospetiva, e isto com acesso condicionado em função da idade dos visitantes, ou seja, as pessoas com menos de 18 anos teriam de ser acompanhadas por um adulto, havendo duas salas em que o acesso a menores seria expressamente proibido.

Finalmente, no que toca às 20 obras de Mapplethorpe que foram retiradas do guião inicialmente previsto – as 179 que constam da lista enviada às redações –, a administradora assegura que “a escolha das imagens expostas foi da exclusiva responsabilidade do curador”. E sublinha: “O João Ribas expôs exatamente o que quis, as fotografias que quis. Porque é que à última hora decidiu retirar 20? Não sabemos porquê, terá de ser ele a explicar.”

Pires de Lima ressalvou também que “o João, que apresentou a sua demissão do cargo de diretor do museu, nunca se demitiu do de curador desta exposição”. Ora, uma fonte próxima de Ribas ouvida pelo i notou que a decisão de se demitir foi tomada ao concluir que havia perdido a confiança no conselho de administração de Serralves, mas que isso, tal como disse a administradora, não implica que não assine o projeto de curadoria da exposição. “São funções diferentes, e Ribas assume a responsabilidade tanto pelo projeto como pela equipa que o levou a cabo.”

Ao i, a fundação, além de remeter para as declarações de Pires de Lima, apontou para a contradição temporal entre o momento que João Ribas escolheu para se demitir e aqueles factos que o terão levado a isso. Segundo a instituição, não se percebe porque o ex-diretor artística escolheu o dia a seguir à inauguração para se despedir se os atos de ingerência e censura que estão a ser assacados ao conselho de administração ocorreram antes.

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