O que vai ser, choco frito ou enguia?

02-04-2019
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Bom dia,

A “Revolução nos Transportes” começou ontem, e foram várias as reportagens, algumas em direto, dentro dos transportes públicos para apanhar reações ao lançamento dos novos passes, que são muito mais baratos do que os anteriores. Não é difícil encontrar quem fale bem da medida, pelo menos nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, onde as poupanças são muito significativas. O Expresso apresenta-lhe alguns casos, como o de Natacha Costa, que antes pagava 123 euros pelo passe para ir de Setúbal para Lisboa e agora paga 40 euros.

O primeiro-ministro também andou pelos transportes públicos – viajou de comboio, autocarro e metro. E para quem acusa o governo de eleitoralismo, António Costa defende-se dizendo que “não podemos parar o país por haver três eleições”. Não deixa de ser cómico ver tantos notáveis andar nos transportes públicos, porque sabemos que depois não têm qualquer intenção de o continuarem a fazer. A desculpa há-de ser que as apertadas agendas não o permitem. Este ‘exotismo’ de andar em transportes públicos não é de hoje mas intensificou-se nomeadamente quando no final do ano passado o tema da ferrovia caiu no goto de toda a gente e de repente Portugal declarou em uníssono que a ferrovia é muito importante. É caso para dizer “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. Mas, seja como for, a iniciativa da criação do passe único é meritória, por isso não nos percamos em pormenores.

Em cerimónias que contaram com diversas personalidades – e até os líderes do PCP e do Bloco de Esquerda andaram ontem pelos transportes – António Costa foi mesmo o mais efusivo, dizendo a quem o ouvia que agora, com um único passe por 40 euros, uma pessoa pode ir a Setúbal comer choco frito, ou a Vila Franca de Xira comer enguias, ou a Sintra comer queijadas, ou a Mafra comer ouriços do mar ou a Cascais comer um gelado. Ah, e também pode ir às praias, umas com mais vento, outras mais tranquilas. Percebe-se a boa disposição do Governo: a medida é mesmo bastante popular. E nem mesmo o facto de o líder da oposição, Rui Rio, vir dizer que esta medida cria portugueses de primeira (os lisboetas), de segunda (os portuenses) e de terceira (todos os outros), parece ofuscar a onda. A falta de transportes em qualidade e quantidade também é um pormenor – não nos percamos em pormenores, portanto.

António Costa lamentou também ontem o “imenso artificialismo e muita mentira” relativa a este tema dos passes sociais. E uma das questões que se têm levantado nos últimos tempos é também a de quem foi a ideia de avançar com a medida. A SIC estreou ontem, no Jornal da Noite, a rubrica Polígrafo e concluiu que é falso que o passe único tenha sido uma ideia exclusiva do Governo. A medida é reivindicada pelo PCP pelo menos desde 1997.

Será que é desta que o país acorda para a necessidade de ter um bom sistema de transportes? Mais vale tarde do que nunca e independentemente de todas as falhas, queixas e acusações, é inegável que esta é uma das medidas mais relevantes dos últimos anos para impulsionar a utilização dos transportes públicos em Portugal. E isso não é um pormenor

Bom dia,

A “Revolução nos Transportes” começou ontem, e foram várias as reportagens, algumas em direto, dentro dos transportes públicos para apanhar reações ao lançamento dos novos passes, que são muito mais baratos do que os anteriores. Não é difícil encontrar quem fale bem da medida, pelo menos nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, onde as poupanças são muito significativas. O Expresso apresenta-lhe alguns casos, como o de Natacha Costa, que antes pagava 123 euros pelo passe para ir de Setúbal para Lisboa e agora paga 40 euros.

O primeiro-ministro também andou pelos transportes públicos – viajou de comboio, autocarro e metro. E para quem acusa o governo de eleitoralismo, António Costa defende-se dizendo que “não podemos parar o país por haver três eleições”. Não deixa de ser cómico ver tantos notáveis andar nos transportes públicos, porque sabemos que depois não têm qualquer intenção de o continuarem a fazer. A desculpa há-de ser que as apertadas agendas não o permitem. Este ‘exotismo’ de andar em transportes públicos não é de hoje mas intensificou-se nomeadamente quando no final do ano passado o tema da ferrovia caiu no goto de toda a gente e de repente Portugal declarou em uníssono que a ferrovia é muito importante. É caso para dizer “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. Mas, seja como for, a iniciativa da criação do passe único é meritória, por isso não nos percamos em pormenores.

Em cerimónias que contaram com diversas personalidades – e até os líderes do PCP e do Bloco de Esquerda andaram ontem pelos transportes – António Costa foi mesmo o mais efusivo, dizendo a quem o ouvia que agora, com um único passe por 40 euros, uma pessoa pode ir a Setúbal comer choco frito, ou a Vila Franca de Xira comer enguias, ou a Sintra comer queijadas, ou a Mafra comer ouriços do mar ou a Cascais comer um gelado. Ah, e também pode ir às praias, umas com mais vento, outras mais tranquilas. Percebe-se a boa disposição do Governo: a medida é mesmo bastante popular. E nem mesmo o facto de o líder da oposição, Rui Rio, vir dizer que esta medida cria portugueses de primeira (os lisboetas), de segunda (os portuenses) e de terceira (todos os outros), parece ofuscar a onda. A falta de transportes em qualidade e quantidade também é um pormenor – não nos percamos em pormenores, portanto.

António Costa lamentou também ontem o “imenso artificialismo e muita mentira” relativa a este tema dos passes sociais. E uma das questões que se têm levantado nos últimos tempos é também a de quem foi a ideia de avançar com a medida. A SIC estreou ontem, no Jornal da Noite, a rubrica Polígrafo e concluiu que é falso que o passe único tenha sido uma ideia exclusiva do Governo. A medida é reivindicada pelo PCP pelo menos desde 1997.

Será que é desta que o país acorda para a necessidade de ter um bom sistema de transportes? Mais vale tarde do que nunca e independentemente de todas as falhas, queixas e acusações, é inegável que esta é uma das medidas mais relevantes dos últimos anos para impulsionar a utilização dos transportes públicos em Portugal. E isso não é um pormenor

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