9 de Maio de 2011

22-10-2019
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A propósito do meu "Sócrates e o FMI" noto dois comentários. Uma amiga escreve-me referindo, sublinhando, a superior importância dos afectos sobre as distinções e até antagonismos políticos. Claro. O texto é exactamente sobre isso. Do como os meus afectos, quando grandes, o são tanto que se sobrepõem à indignidade pessoal daqueles que estão, apoiam ou são, a podridão insistente que destrói o nosso país. Que quanto aos afectos mornos já gelaram diante dessa vilania alheia.

Sem rodeios, por estar completamente de acordo com António Barreto: "“Estou convencido que o primeiro-ministro, José Sócrates, precisa de ser muito, muito severamente castigado e a melhor maneira de o castigar é através da via eleitoral. Ele necessita de ser muito severamente castigado porque ele é pessoalmente responsável pelo mau estado a que Portugal chegou, as finanças públicas e o Estado.”. Mas insistindo que a cumplicidade com Sócrates e seu partido é, neste momento, totalmente inadmissível. Por questões de honorabilidade e de intelecto.

Mas o lamento que deixei está um pouco acalmado. Descanso com este excelente texto "A semana em que Sócrates perdeu as eleições", de Rui Rocha no Delito de Opinião: "Todavia, esta foi precisamente a semana em que Sócrates perdeu as eleições. Explico. A proposta política de Sócrates assentou exclusivamente, ao longo de meses e meses de desvario, no medo do FMI e na imputação de responsabilidade ao PSD por ter chumbado o PEC IV. O argumento do medo foi a enterrar, pela mão do próprio Sócrates, quando deu a conhecer, com entusiasmo, os termos em que (não) foi negociado o acordo de ajuda externa. Por sua vez, a encomenda da alma do argumento da irresponsabilidade do PSD foi feita pelo representante da Comissão Europeia na Troika quando afirmou que o atraso no pedido de ajuda foi prejudicial a Portugal. As perguntas essenciais sobre o passado recente estão agora respondidas. O responsável pela governação que nos trouxe até aqui foi José Sócrates. O chumbo do PEC IV não foi uma irresponsabilidade. Pelo contrário, forçou um pedido de ajuda externa que deveria ter acontecido mais cedo. E deu origem a um programa de reestruturação que justificou o entusiasmo do próprio Sócrates. Ao ainda Primeiro-Ministro não restam mais argumentos." O texto é clarividente, inteligente. Será também assim a reacção do eleitorado?

Entretanto "Jacome", leitor veterano aqui, pergunta-me se a referida jeremíada "Sócrates e o FMI" tem cor política, se eu a tenho. Não, e reconheço a insuficiência, eunuca, disso nesta citação: "His delight lay more in preparing the ground for planting than in the planting, which sometimes never ocurred. Once his passion had been all for digging." (isto é o pobre, envelhecido, espúrio, Mr. Stone de Naipaul no "Mr. Stone and the Knights Companion"). Pouco interessará aos passantes por aqui a minha biografia eleitoral mas adianto-a a "Jacome" (vizinho patrício): sendo fundamentalista (e dos furiosos) republicano o partido em quem mais votei foi no PPM (no tempo de Gonçalo Ribeiro Teles e do meu velho professor Teófilo Barrilaro Ruas; e depois aquando das campanhas do MEC); votei PRD (do Eanes); votei PCP (naquelas siglas fraudulentas que continuam a infestar a política e o parlamento portugueses) aquando de umas autárquicas, por razões de parentela; votei PS contra Abecassis e também contra Cavaco, em 1995 (as pessoas já se esqueceram do "pântano" corrompido e estéril que o cavaquismo, um fontismo sem projecto e sem democraticidade, produziu?). E votei PSD, logo em 1999, contra o "diálogo" guterrista. Nas últimas eleições teria votado, se pudesse, no novo e pequeno MEP (muito por influência do blog Adufe).

Para quê este estendal, a mostrar um eleitor quase escova limpa-pára-brisas? Para frisar a Jacome que esta já-fobia a Sócrates e todos os seus apoiantes não vem da pertença a um grupo particular. E para lhe responder, quando me provoca sobre "em quem votar?". Que cada um vote no que lhe parecer melhor ou no menor mal, segundo seus princípios, ideais ou reais. Mas sempre contra Sócrates. O único voto útil (a sempre falsa conversa - onde nos levou a "estabilidade", as "maiorias absolutas", a tanga da "bipolarização"?) é o voto em qualquer partido que não seja o PS.

Onde votaria eu se votasse (vivo muito longe da mesa de voto, não votarei)? Quase de certeza não votaria no PSD, esse partido inqualificável que consegue eleger um Luís Filipe Menezes para presidente ou que, num momento destes, tem um vice-presidente que discursa sobre a impossibilidade de viver com uma reforma de 5800 euros limpos - não é sequer uma questão de classe, é de inteligência. Pois quem escolhe um imbecil destes para a sua equipa é um tonto. Onde votaria então, desiludido que foi o projecto MEP? Muito provavelmente na véspera beberia uns whiskies valentes, juntava-lhes umas tequillas, acabava com umas cervejas matinais. E votava no PP. Depois? Às 20.01 (19.01 nos Açores e Madeira), conhecidos os resultados eleitorais, começava a dizer mal do Paulo Portas ... (digging, claro ...).

Espero que tenha satisfeito a interrogação do aqui veterano "Jacome".

jpt

A propósito do meu "Sócrates e o FMI" noto dois comentários. Uma amiga escreve-me referindo, sublinhando, a superior importância dos afectos sobre as distinções e até antagonismos políticos. Claro. O texto é exactamente sobre isso. Do como os meus afectos, quando grandes, o são tanto que se sobrepõem à indignidade pessoal daqueles que estão, apoiam ou são, a podridão insistente que destrói o nosso país. Que quanto aos afectos mornos já gelaram diante dessa vilania alheia.

Sem rodeios, por estar completamente de acordo com António Barreto: "“Estou convencido que o primeiro-ministro, José Sócrates, precisa de ser muito, muito severamente castigado e a melhor maneira de o castigar é através da via eleitoral. Ele necessita de ser muito severamente castigado porque ele é pessoalmente responsável pelo mau estado a que Portugal chegou, as finanças públicas e o Estado.”. Mas insistindo que a cumplicidade com Sócrates e seu partido é, neste momento, totalmente inadmissível. Por questões de honorabilidade e de intelecto.

Mas o lamento que deixei está um pouco acalmado. Descanso com este excelente texto "A semana em que Sócrates perdeu as eleições", de Rui Rocha no Delito de Opinião: "Todavia, esta foi precisamente a semana em que Sócrates perdeu as eleições. Explico. A proposta política de Sócrates assentou exclusivamente, ao longo de meses e meses de desvario, no medo do FMI e na imputação de responsabilidade ao PSD por ter chumbado o PEC IV. O argumento do medo foi a enterrar, pela mão do próprio Sócrates, quando deu a conhecer, com entusiasmo, os termos em que (não) foi negociado o acordo de ajuda externa. Por sua vez, a encomenda da alma do argumento da irresponsabilidade do PSD foi feita pelo representante da Comissão Europeia na Troika quando afirmou que o atraso no pedido de ajuda foi prejudicial a Portugal. As perguntas essenciais sobre o passado recente estão agora respondidas. O responsável pela governação que nos trouxe até aqui foi José Sócrates. O chumbo do PEC IV não foi uma irresponsabilidade. Pelo contrário, forçou um pedido de ajuda externa que deveria ter acontecido mais cedo. E deu origem a um programa de reestruturação que justificou o entusiasmo do próprio Sócrates. Ao ainda Primeiro-Ministro não restam mais argumentos." O texto é clarividente, inteligente. Será também assim a reacção do eleitorado?

Entretanto "Jacome", leitor veterano aqui, pergunta-me se a referida jeremíada "Sócrates e o FMI" tem cor política, se eu a tenho. Não, e reconheço a insuficiência, eunuca, disso nesta citação: "His delight lay more in preparing the ground for planting than in the planting, which sometimes never ocurred. Once his passion had been all for digging." (isto é o pobre, envelhecido, espúrio, Mr. Stone de Naipaul no "Mr. Stone and the Knights Companion"). Pouco interessará aos passantes por aqui a minha biografia eleitoral mas adianto-a a "Jacome" (vizinho patrício): sendo fundamentalista (e dos furiosos) republicano o partido em quem mais votei foi no PPM (no tempo de Gonçalo Ribeiro Teles e do meu velho professor Teófilo Barrilaro Ruas; e depois aquando das campanhas do MEC); votei PRD (do Eanes); votei PCP (naquelas siglas fraudulentas que continuam a infestar a política e o parlamento portugueses) aquando de umas autárquicas, por razões de parentela; votei PS contra Abecassis e também contra Cavaco, em 1995 (as pessoas já se esqueceram do "pântano" corrompido e estéril que o cavaquismo, um fontismo sem projecto e sem democraticidade, produziu?). E votei PSD, logo em 1999, contra o "diálogo" guterrista. Nas últimas eleições teria votado, se pudesse, no novo e pequeno MEP (muito por influência do blog Adufe).

Para quê este estendal, a mostrar um eleitor quase escova limpa-pára-brisas? Para frisar a Jacome que esta já-fobia a Sócrates e todos os seus apoiantes não vem da pertença a um grupo particular. E para lhe responder, quando me provoca sobre "em quem votar?". Que cada um vote no que lhe parecer melhor ou no menor mal, segundo seus princípios, ideais ou reais. Mas sempre contra Sócrates. O único voto útil (a sempre falsa conversa - onde nos levou a "estabilidade", as "maiorias absolutas", a tanga da "bipolarização"?) é o voto em qualquer partido que não seja o PS.

Onde votaria eu se votasse (vivo muito longe da mesa de voto, não votarei)? Quase de certeza não votaria no PSD, esse partido inqualificável que consegue eleger um Luís Filipe Menezes para presidente ou que, num momento destes, tem um vice-presidente que discursa sobre a impossibilidade de viver com uma reforma de 5800 euros limpos - não é sequer uma questão de classe, é de inteligência. Pois quem escolhe um imbecil destes para a sua equipa é um tonto. Onde votaria então, desiludido que foi o projecto MEP? Muito provavelmente na véspera beberia uns whiskies valentes, juntava-lhes umas tequillas, acabava com umas cervejas matinais. E votava no PP. Depois? Às 20.01 (19.01 nos Açores e Madeira), conhecidos os resultados eleitorais, começava a dizer mal do Paulo Portas ... (digging, claro ...).

Espero que tenha satisfeito a interrogação do aqui veterano "Jacome".

jpt

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