Vinte anos da transição: Costa espera para anunciar presença em Macau

26-09-2019
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Não será Marcelo, mas o primeiro-ministro a regressar a Macau em Dezembro. Mas primeiro é preciso ver como se resolve a situação em Hong Kong. A União Europeia classifica a situação como “extremamente preocupante”

João Paulo Meneses*

putaoya@hotmail.com

Marcelo Rebelo de Sousa deixou entender, quando visitou Macau em Maio, que poderia regressar em Dezembro, para assistir aos 20 anos da transição. Em princípio, o representante português será o primeiro-ministro, apurou o PONTO FINAL. Mas o anúncio não vai ser feito nas próximas semanas. O argumento é que haverá eleições (6 de Outubro) e que todos os compromissos só podem ser validados em função dos resultados eleitorais. Acontece que, sendo isso verdade, há um dado adicional: a situação em Hong Kong.

O Governo português, tal como a generalidade dos governos ocidentais, espera para ver como terminará o conflito entre manifestantes e Governo de Hong Kong, que se arrasta desde Junho. Um cenário que passe pelo agudizar do conflito e mais força policial poderá levar a União Europeia a emitir uma posição de condenação, por exemplo, o que Portugal tentará evitar.

Numa recente entrevista ao Expresso, António Costa lembrou que “temos um particular dever de atenção em relação ao cumprimento dos acordos que estabelecemos com a República Popular da China, aquando da integração de Macau na Administração chinesa. E temos uma avaliação positiva da forma como essa integração tem sido feita — os compromissos têm sido respeitados”.

Mas o primeiro-ministro não deixou de dizer que “aquilo que desejamos é que haja tão depressa quanto possível a estabilização da situação em Hong Kong, no respeito pelos direitos fundamentais. Não é por termos uma relação secular com a China, por termos uma relação de boas sinergias com a China, que desconhecemos que há matérias em que temos divergências de fundo — designadamente sobre a visão que uns e outros temos sobre os direitos humanos”. Questionado pelos jornalistas do Expresso relativamente aos receios públicos de “algumas pessoas em Macau que têm medo do que lhes possa acontecer”, Costa respondeu: “acho que até agora não têm nenhuma razão para terem esse medo”.

A mesma linha de pensamento foi seguida pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, que na semana passada participou numa reunião informal dos chefes da diplomacia da União Europeia (UE) em que a situação de Hong Kong foi abordada: “Estamos a acompanhar [a situação] com especial atenção, sem dúvida, até porque tudo o que queremos que não aconteça é que haja um ‘spill-over’ [alastrar da situação] a Macau”, disse à agência Lusa Ana Paula Zacarias.

A governante acrescentou que, “de momento, as coisas estão bem” neste aspecto, recordando que “o novo Chefe do Executivo de Macau acabou de ser designado”. Além disso, “não temos tido queixas ou observações por parte de cidadãos portugueses”, apontou. “É um tema que temos de continuar a acompanhar e que esperemos que haja um diminuir de tensões e que isso se consiga pelo diálogo, que é o papel da UE”, sublinhou a secretária de Estado.

Situação em Hong Kong “é extremamente preocupante”

Segundo Ana Paula Zacarias, foi o próprio ministro britânico, Dominic Raab, a falar na situação de Hong Kong, referindo que o Reino Unido está “muito empenhado em acompanhar a situação”. Na mesma ocasião, a chefe da diplomacia europeia afirmou que a situação em Hong Kong “é extremamente preocupante” para a UE, e apelou às autoridades que respeitem a liberdade de expressão e as manifestações pacíficas.

“Os desenvolvimentos em Hong Kong, especialmente os das últimas horas, são extremamente preocupantes. Nós esperamos que as autoridades de Hong Kong respeitem a liberdade de expressão colectiva, assim como o direito de as pessoas se manifestarem pacificamente”, vincou a Alta Representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini.

Falando em conferência de imprensa, à margem da reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, a responsável notou que a União irá “continuar a acompanhar muito de perto” a situação. “Não só ao nível da UE, como também em coordenação com os Estados-membros, sobretudo no que toca aos direitos dos cidadãos europeus e aos interesses da União em Hong Kong”, precisou Federica Mogherini. A chefe da diplomacia europeia adiantou que, “nas últimas semanas, os Estados-membros mostraram uma grande união sobre este caso”. *Com Lusa

Não será Marcelo, mas o primeiro-ministro a regressar a Macau em Dezembro. Mas primeiro é preciso ver como se resolve a situação em Hong Kong. A União Europeia classifica a situação como “extremamente preocupante”

João Paulo Meneses*

putaoya@hotmail.com

Marcelo Rebelo de Sousa deixou entender, quando visitou Macau em Maio, que poderia regressar em Dezembro, para assistir aos 20 anos da transição. Em princípio, o representante português será o primeiro-ministro, apurou o PONTO FINAL. Mas o anúncio não vai ser feito nas próximas semanas. O argumento é que haverá eleições (6 de Outubro) e que todos os compromissos só podem ser validados em função dos resultados eleitorais. Acontece que, sendo isso verdade, há um dado adicional: a situação em Hong Kong.

O Governo português, tal como a generalidade dos governos ocidentais, espera para ver como terminará o conflito entre manifestantes e Governo de Hong Kong, que se arrasta desde Junho. Um cenário que passe pelo agudizar do conflito e mais força policial poderá levar a União Europeia a emitir uma posição de condenação, por exemplo, o que Portugal tentará evitar.

Numa recente entrevista ao Expresso, António Costa lembrou que “temos um particular dever de atenção em relação ao cumprimento dos acordos que estabelecemos com a República Popular da China, aquando da integração de Macau na Administração chinesa. E temos uma avaliação positiva da forma como essa integração tem sido feita — os compromissos têm sido respeitados”.

Mas o primeiro-ministro não deixou de dizer que “aquilo que desejamos é que haja tão depressa quanto possível a estabilização da situação em Hong Kong, no respeito pelos direitos fundamentais. Não é por termos uma relação secular com a China, por termos uma relação de boas sinergias com a China, que desconhecemos que há matérias em que temos divergências de fundo — designadamente sobre a visão que uns e outros temos sobre os direitos humanos”. Questionado pelos jornalistas do Expresso relativamente aos receios públicos de “algumas pessoas em Macau que têm medo do que lhes possa acontecer”, Costa respondeu: “acho que até agora não têm nenhuma razão para terem esse medo”.

A mesma linha de pensamento foi seguida pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, que na semana passada participou numa reunião informal dos chefes da diplomacia da União Europeia (UE) em que a situação de Hong Kong foi abordada: “Estamos a acompanhar [a situação] com especial atenção, sem dúvida, até porque tudo o que queremos que não aconteça é que haja um ‘spill-over’ [alastrar da situação] a Macau”, disse à agência Lusa Ana Paula Zacarias.

A governante acrescentou que, “de momento, as coisas estão bem” neste aspecto, recordando que “o novo Chefe do Executivo de Macau acabou de ser designado”. Além disso, “não temos tido queixas ou observações por parte de cidadãos portugueses”, apontou. “É um tema que temos de continuar a acompanhar e que esperemos que haja um diminuir de tensões e que isso se consiga pelo diálogo, que é o papel da UE”, sublinhou a secretária de Estado.

Situação em Hong Kong “é extremamente preocupante”

Segundo Ana Paula Zacarias, foi o próprio ministro britânico, Dominic Raab, a falar na situação de Hong Kong, referindo que o Reino Unido está “muito empenhado em acompanhar a situação”. Na mesma ocasião, a chefe da diplomacia europeia afirmou que a situação em Hong Kong “é extremamente preocupante” para a UE, e apelou às autoridades que respeitem a liberdade de expressão e as manifestações pacíficas.

“Os desenvolvimentos em Hong Kong, especialmente os das últimas horas, são extremamente preocupantes. Nós esperamos que as autoridades de Hong Kong respeitem a liberdade de expressão colectiva, assim como o direito de as pessoas se manifestarem pacificamente”, vincou a Alta Representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini.

Falando em conferência de imprensa, à margem da reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, a responsável notou que a União irá “continuar a acompanhar muito de perto” a situação. “Não só ao nível da UE, como também em coordenação com os Estados-membros, sobretudo no que toca aos direitos dos cidadãos europeus e aos interesses da União em Hong Kong”, precisou Federica Mogherini. A chefe da diplomacia europeia adiantou que, “nas últimas semanas, os Estados-membros mostraram uma grande união sobre este caso”. *Com Lusa

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