Zoo(i)lógicos

04-07-2016
marcar artigo

Julho 01, 2016

São vários os casos de acidentes com animais em jardins zoológicos que têm provocado polémica. Exemplos recentes, o de um gorila abatido num jardim zoológico em Cincinnati, nos Estados Unidos, depois de uma criança de três anos ter caído no fosso do animal e a morte de um leão no jardim zoológico em de Santiago do Chile para salvar um homem que tentou suicidar-se. Se os motivos do abate são já controversos, a sua dissecação em público tende a adoptar uma ligeireza perturbadora.

Pergunto-me, antes de mais, o que fazem estes animais em Jardins Zoológicos?

Nenhum tipo de confinamento, por melhores intenções que o motivem, pode ser comparado com a liberdade do animal selvagem. E se os zoológicos estão a ensinar alguma coisa às crianças, é que é aceitável aprisionar animais para nosso próprio entretenimento. As crianças, sendo estimuladas a visitar os zoos, começam, desde muito cedo, a serem educadas segundo a ideia de que fazem parte de uma "espécie superior". Que tipo de pessoas estamos a formar levando-as a visitar cativeiros onde os animais estão limitados nos seus movimentos e totalmente fora do seu habitat natural? O urso polar nos 40 graus à sombra da Lisboa de Agosto? O leão do Okawango nos 3 graus das madrugadas de Lisboa em Janeiro?

Sobre esta pedagogia Marc Bekoff refere uns estudos elucidativos sobre o papel pedagógico dos zoos. Entrevistam-se as pessoas quando vão entrar no zoo e, depois, entrevistam-se à saída. Analisam-se as diferenças de conhecimento e de sensibilização ambiental. Resultado: zero. Nenhum dos participantes revela uma aprendizagem significativa, nem para nada é sensibilizado (estes estudos baseiam-se na análise de inquéritos semi-estruturados que, quando bem feitos, têm um elevado grau de fidedignidade estatística).

A maioria das espécies não corre risco de extinção. Ainda assim são mantidas cativas em jardins zoológicos, apenas para entreter visitantes, com a finalidade, comercial - entenda-se que são negócios - de aumentar o acervo, novas espécies exóticas são trazidas, num tráfico "autorizado e legal", mas prejudicial para os animais e eticamente questionável. As crias geradas pela reprodução em cativeiro de espécies não ameaçadas são "condenadas" para sempre a viver em cativeiro.

Salvo raras excepções, não existe uma estratégia efectiva de preparação dos animais para a reintrodução na natureza e o animal em cativeiro tem seu comportamento e hábitos alterados.

Esta exposição não consentida de animais gera stress e situações de acidentes com humanos, como as que têm sido noticiadas, que seriam evitáveis se os animais não vivessem em ambientes totalmente descaracterizados e distintos do seu habitat natural, apenas para entretenimento e lazer dos seres humanos.

Uma enorme percentagem de animais em zoológicos não estão efectivamente em vias de extinção, por vezes são criaturas "híbridas", sem valor concreto para conservação, que toma medicamentos anticoncepcionais para prevenir que se reproduzam, o que consequentemente aumenta os custos da sua manutenção.

Privar alguém da sua liberdade e de viver a sua natureza é das piores crueldades que podemos perpetrar contra outro Ser. Não aprendemos nada sobre a natureza de um animal quando o vemos por detrás de grades de ferro, isolado, infeliz e distante do seu habitat, único ambiente em que consegue expressar os seus comportamentos naturais. Se queremos ver animais selvagens no seu contexto real podemos aumentar o nosso contacto com a natureza ou visitar reservas naturais onde tal é possível. O futuro não passa pelo enriquecimento ambiental de jardins zoológicos, mas por um compromisso individual, social e político de inequívoca preservação da nossa casa comum, a natureza, os ecossistemas.

Na discussão sobre os jardins zoológicos, como em muitas outras, porque de repente surgem novos pseudo acérrimos defensores dos direitos dos animais, são vários os argumentos a favor e contra e são tantas e tão boas as intenções. Deixo apenas uma reflexão para quem não sabia, até aos anos 50 do século passado havia zoos por este planeta que exibiam pessoas diferentes, pelo simples prazer de mostrar o "bizarro" para entretenimento de outros humanos. Não é necessário eu ser amigo ou conhecer pessoalmente alguém de outra etnia, cultura, credo ou espécie, para perceber que a sua vida e tem valor intrínseco e que a sua dignidade tem que ser respeitada!

_______

André Silva nasceu a 2 de Abril de 1976, formado em Engenharia Civil e vegetariano, é deputado e porta-voz do PAN, Pessoas – Animais – Natureza

Julho 01, 2016

São vários os casos de acidentes com animais em jardins zoológicos que têm provocado polémica. Exemplos recentes, o de um gorila abatido num jardim zoológico em Cincinnati, nos Estados Unidos, depois de uma criança de três anos ter caído no fosso do animal e a morte de um leão no jardim zoológico em de Santiago do Chile para salvar um homem que tentou suicidar-se. Se os motivos do abate são já controversos, a sua dissecação em público tende a adoptar uma ligeireza perturbadora.

Pergunto-me, antes de mais, o que fazem estes animais em Jardins Zoológicos?

Nenhum tipo de confinamento, por melhores intenções que o motivem, pode ser comparado com a liberdade do animal selvagem. E se os zoológicos estão a ensinar alguma coisa às crianças, é que é aceitável aprisionar animais para nosso próprio entretenimento. As crianças, sendo estimuladas a visitar os zoos, começam, desde muito cedo, a serem educadas segundo a ideia de que fazem parte de uma "espécie superior". Que tipo de pessoas estamos a formar levando-as a visitar cativeiros onde os animais estão limitados nos seus movimentos e totalmente fora do seu habitat natural? O urso polar nos 40 graus à sombra da Lisboa de Agosto? O leão do Okawango nos 3 graus das madrugadas de Lisboa em Janeiro?

Sobre esta pedagogia Marc Bekoff refere uns estudos elucidativos sobre o papel pedagógico dos zoos. Entrevistam-se as pessoas quando vão entrar no zoo e, depois, entrevistam-se à saída. Analisam-se as diferenças de conhecimento e de sensibilização ambiental. Resultado: zero. Nenhum dos participantes revela uma aprendizagem significativa, nem para nada é sensibilizado (estes estudos baseiam-se na análise de inquéritos semi-estruturados que, quando bem feitos, têm um elevado grau de fidedignidade estatística).

A maioria das espécies não corre risco de extinção. Ainda assim são mantidas cativas em jardins zoológicos, apenas para entreter visitantes, com a finalidade, comercial - entenda-se que são negócios - de aumentar o acervo, novas espécies exóticas são trazidas, num tráfico "autorizado e legal", mas prejudicial para os animais e eticamente questionável. As crias geradas pela reprodução em cativeiro de espécies não ameaçadas são "condenadas" para sempre a viver em cativeiro.

Salvo raras excepções, não existe uma estratégia efectiva de preparação dos animais para a reintrodução na natureza e o animal em cativeiro tem seu comportamento e hábitos alterados.

Esta exposição não consentida de animais gera stress e situações de acidentes com humanos, como as que têm sido noticiadas, que seriam evitáveis se os animais não vivessem em ambientes totalmente descaracterizados e distintos do seu habitat natural, apenas para entretenimento e lazer dos seres humanos.

Uma enorme percentagem de animais em zoológicos não estão efectivamente em vias de extinção, por vezes são criaturas "híbridas", sem valor concreto para conservação, que toma medicamentos anticoncepcionais para prevenir que se reproduzam, o que consequentemente aumenta os custos da sua manutenção.

Privar alguém da sua liberdade e de viver a sua natureza é das piores crueldades que podemos perpetrar contra outro Ser. Não aprendemos nada sobre a natureza de um animal quando o vemos por detrás de grades de ferro, isolado, infeliz e distante do seu habitat, único ambiente em que consegue expressar os seus comportamentos naturais. Se queremos ver animais selvagens no seu contexto real podemos aumentar o nosso contacto com a natureza ou visitar reservas naturais onde tal é possível. O futuro não passa pelo enriquecimento ambiental de jardins zoológicos, mas por um compromisso individual, social e político de inequívoca preservação da nossa casa comum, a natureza, os ecossistemas.

Na discussão sobre os jardins zoológicos, como em muitas outras, porque de repente surgem novos pseudo acérrimos defensores dos direitos dos animais, são vários os argumentos a favor e contra e são tantas e tão boas as intenções. Deixo apenas uma reflexão para quem não sabia, até aos anos 50 do século passado havia zoos por este planeta que exibiam pessoas diferentes, pelo simples prazer de mostrar o "bizarro" para entretenimento de outros humanos. Não é necessário eu ser amigo ou conhecer pessoalmente alguém de outra etnia, cultura, credo ou espécie, para perceber que a sua vida e tem valor intrínseco e que a sua dignidade tem que ser respeitada!

_______

André Silva nasceu a 2 de Abril de 1976, formado em Engenharia Civil e vegetariano, é deputado e porta-voz do PAN, Pessoas – Animais – Natureza

marcar artigo