Ladrões de Bicicletas: Pecados pouco originais

22-05-2019
marcar artigo

Desde a passada 2ª feira, desde a conferência de imprensa da equipa política do Ministério do Trabalho sobre o caso Raríssimas, que o ministro Vieira da Silva ficou sob os holofotes.

O facto de ter sido vice-presidente da assembleia geral de 2013 a 2015 que aprovou as contas da instituição, colocou-o numa posição de fragilidade.

Apesar de ter afirmado que, antes de 2015, assumiu "a responsabilidade na instituição, em cargo não executivo, com um sentido de
intervenção cívica"; apesar de ter dito que, entre 2013 e 2015 nunca tivera "nenhuma denúncia ou indicação ou facto que me tivesse colocado a mais pequena dúvida"; apesar de ter repetido que, enquanto ministro, nunca tomou conhecimento de factos ou denúncias, e que as denúncias feitas tinham sido endereçadas e tratadas pelo Instituto da Segurança Social que já desencadeara uma inspecção a 31/7/2017, que foi acelerada quando o caso se tornou público; apesar de ter remetido para o Ministério Público a queixa feita sobre desvio de dinheiros na delegação norte da IPSS; apesar de tudo isso, a demora na inspecção iniciada e sem resultados aparentes, sem que o denunciante - o tesoureiro - tivesse sido ouvido (diz a TVI), deixou - a julgar pelas perguntas feitas pelos jornalistas - a sensação não explicada nem clarificada pelos jornalistas de favorecimento, conivência ou apenas de extremo incómodo a ponto de lhe perguntarem se manteria "condições para ser ministro".

Claro que o ataque da direita a Vieira da Silva não é inocente: cavalga a onda e fere um elemento chave do Governo que é a cara da política social do Governo que está a desfazer a do governo anterior, tão cara à direita (Leia-se o post anterior de Nuno Serra). Até o presidente da República participa, mesmo quando reage dizendo que é prematuro suscitar a questão.

Mas o ministro está sob os holofotes sob nenhuma acusação em concreto. E tudo em geral. A razão nunca é dita, mas está subliminarmente traçada. Quem aceita um cargo social numa instituição onde espera não passar muito tempo, a ponto de não estar a par do que lá se passa, empresta a sua foto para qualquer coisa. Pode ser benignamente para mostrar o interesse político em geral por causas difíceis, mas a sua imagem pode ser usada para abrir "portas", mesmo que o dono da imagem não se aperceba disso - por inocência? - ou não queira saber se isso aconteceu ou espera que a natureza das "portas" seja a melhor. Ou seja, é potencialmente culpado mesmo que não o seja. E às vezes as coisas não correm bem.

Acontece que Vieira da Silva não está nem esteve só nesse pecado, que é aliás, um pecado muito pouco original. Mais de metade do Parlamento detém cargos sociais em diversos tipos de entidades. Faz parte da prática generalizada de entrosamento político usada sobretudo pelos dois partidos com mais deputados e sobretudo à direita. Não é, pois, por acaso que o PSD, por exemplo, tenha escolhido uma deputada para criticar publicamente Vieira da Silva, que não ocupa qualquer cargo social em instituições (Clara Marques Mendes). Já o CDS é mais difícil porque quase todos têm e dão mostras de estar um pouco incomodados no processo de intenções.

A partir da página do parlamento, é pois possível verificar que as listas de entidades em que os deputados participam - sabe-se lá com que controlo sobre as suas contas - são as mais variadas. E de diferentes graus de potencial cumplicidade. Vão desde empresas
privadas (algumas relacionadas com sectores importantes, como águas, construção ou financeiro), passando por IPSS e Misercórdias,
Fundações, clubes de futebol ou de outras modalidades, associações profissionais, locais, culturais. Para uma vistoria mais completa, embora se desconhecendo em cada caso o grau de envolvimento pessoal do deputado, queira inspeccionar-se a lista seguinte:

PSD

Álvaro Batista
Amadeu Albergaria
António Costa da Silva
António Leitão Amaro
António Lima Costa
António Topa 
Bruno Vitorino 
Carla Barros
Carlos Costa Neves
Carlos Peixoto
Cristóvão Crespo
Cristóvão Norte
Duarte Marques
Duarte Pacheco
Emídio Guerreiro 
Emília Santos
Fátima Ramos
Feliciano Barreiras Duarte
Fernando Virgílio Macedo
Firmino Pereira
Inês Domingos
Isaura Pedro
Joel Sá
Jorge Paulo Oliveira 
José de Matos Corrreia
José de Matos Rosa
José Silvano
Laura Monteiro Magalhães
Luís Campos Ferreira
Luís Leite Ramos
Luís Montenegro
Luís Vales
Manuel Frexes
Margarida Balseiro Lopes
Margarida Mano
Maria das Mercês Borges
Maria Luís Albuquerque
Manuela Tender
Maurício Marques
Nilza de Sena
Nuno Serra
Paulo Rios de Oliveira
Pedro do Ó Ramos
Pedro Pimpão
Pedro Pinto
Pedro Roque Oliveira
Ricardo Baptista Leite
Sandra Pereira
Sara Madruga da Costa
Sérgio Azevedo 
Susana Lamas
Teresa Leal Coelho
Ulisses Pereira

CDS
Álvaro Castelo Branco 
Ana Rita Bessa
Cecília Meireles
António Anacoreta Correia
Filipe Lobo D'Ávila
Helder Amaral
João Pinho de Almeida
João Rebelo
Patrícia Fonseca
Pedro Mota Soares
Teresa Caeiro
Vânia Dias da Silva

PS
António Gameiro 
Ascenso Simões
Bacelar de Vasconcelos
Carla Tavares
Catarina Marcelino
Constança Urbano de Sousa
Diogo Leão
Edite Estrela
Fernando Anastácio
Fernando Jesus
Francisco Rocha
Gabriela Canavilhas
Hortense Martins
Hugo Carvalho
Hugo Costa
Idália Serrão
Joana Lima
João Azevedo Castro
João Gouveia
João Marques
João Paulo Correia
João Soares
João Torres
Joaquim Barreto
José Manuel Carpinteira
José Miguel Medeiros
José Rui Cruz
Lara Martinho
Luís Graça
Luís Moreira Testa
Luís Vilhena
Maria Antónia de Almeida Santos
Maria da Luz Rosinha
Marisabel Moutela
Norberto Patinho
Paulo Rios de Oliveira
Paulo Trigo Pereira
Pedro Delgado Alves
Pedro Coimbra
Ricardo Bexiga
Ricardo Leão
Rui Riso
Santinho Pacheco
Sofia Araújo
Tiago Barbosa Ribeiro
Vitalino Canas

PCP
Ana Mesquita 
Bruno Dias
João Ramos
Paula Santos
Paulo Sá

BE
Catarina Martins
Jorge Costa
Jorge Falcato Simões
José Manuel Pureza
José Soeiro
Paulino Ascensão

Categorias

Entidades

PSD

Desde a passada 2ª feira, desde a conferência de imprensa da equipa política do Ministério do Trabalho sobre o caso Raríssimas, que o ministro Vieira da Silva ficou sob os holofotes.

O facto de ter sido vice-presidente da assembleia geral de 2013 a 2015 que aprovou as contas da instituição, colocou-o numa posição de fragilidade.

Apesar de ter afirmado que, antes de 2015, assumiu "a responsabilidade na instituição, em cargo não executivo, com um sentido de
intervenção cívica"; apesar de ter dito que, entre 2013 e 2015 nunca tivera "nenhuma denúncia ou indicação ou facto que me tivesse colocado a mais pequena dúvida"; apesar de ter repetido que, enquanto ministro, nunca tomou conhecimento de factos ou denúncias, e que as denúncias feitas tinham sido endereçadas e tratadas pelo Instituto da Segurança Social que já desencadeara uma inspecção a 31/7/2017, que foi acelerada quando o caso se tornou público; apesar de ter remetido para o Ministério Público a queixa feita sobre desvio de dinheiros na delegação norte da IPSS; apesar de tudo isso, a demora na inspecção iniciada e sem resultados aparentes, sem que o denunciante - o tesoureiro - tivesse sido ouvido (diz a TVI), deixou - a julgar pelas perguntas feitas pelos jornalistas - a sensação não explicada nem clarificada pelos jornalistas de favorecimento, conivência ou apenas de extremo incómodo a ponto de lhe perguntarem se manteria "condições para ser ministro".

Claro que o ataque da direita a Vieira da Silva não é inocente: cavalga a onda e fere um elemento chave do Governo que é a cara da política social do Governo que está a desfazer a do governo anterior, tão cara à direita (Leia-se o post anterior de Nuno Serra). Até o presidente da República participa, mesmo quando reage dizendo que é prematuro suscitar a questão.

Mas o ministro está sob os holofotes sob nenhuma acusação em concreto. E tudo em geral. A razão nunca é dita, mas está subliminarmente traçada. Quem aceita um cargo social numa instituição onde espera não passar muito tempo, a ponto de não estar a par do que lá se passa, empresta a sua foto para qualquer coisa. Pode ser benignamente para mostrar o interesse político em geral por causas difíceis, mas a sua imagem pode ser usada para abrir "portas", mesmo que o dono da imagem não se aperceba disso - por inocência? - ou não queira saber se isso aconteceu ou espera que a natureza das "portas" seja a melhor. Ou seja, é potencialmente culpado mesmo que não o seja. E às vezes as coisas não correm bem.

Acontece que Vieira da Silva não está nem esteve só nesse pecado, que é aliás, um pecado muito pouco original. Mais de metade do Parlamento detém cargos sociais em diversos tipos de entidades. Faz parte da prática generalizada de entrosamento político usada sobretudo pelos dois partidos com mais deputados e sobretudo à direita. Não é, pois, por acaso que o PSD, por exemplo, tenha escolhido uma deputada para criticar publicamente Vieira da Silva, que não ocupa qualquer cargo social em instituições (Clara Marques Mendes). Já o CDS é mais difícil porque quase todos têm e dão mostras de estar um pouco incomodados no processo de intenções.

A partir da página do parlamento, é pois possível verificar que as listas de entidades em que os deputados participam - sabe-se lá com que controlo sobre as suas contas - são as mais variadas. E de diferentes graus de potencial cumplicidade. Vão desde empresas
privadas (algumas relacionadas com sectores importantes, como águas, construção ou financeiro), passando por IPSS e Misercórdias,
Fundações, clubes de futebol ou de outras modalidades, associações profissionais, locais, culturais. Para uma vistoria mais completa, embora se desconhecendo em cada caso o grau de envolvimento pessoal do deputado, queira inspeccionar-se a lista seguinte:

PSD

Álvaro Batista
Amadeu Albergaria
António Costa da Silva
António Leitão Amaro
António Lima Costa
António Topa 
Bruno Vitorino 
Carla Barros
Carlos Costa Neves
Carlos Peixoto
Cristóvão Crespo
Cristóvão Norte
Duarte Marques
Duarte Pacheco
Emídio Guerreiro 
Emília Santos
Fátima Ramos
Feliciano Barreiras Duarte
Fernando Virgílio Macedo
Firmino Pereira
Inês Domingos
Isaura Pedro
Joel Sá
Jorge Paulo Oliveira 
José de Matos Corrreia
José de Matos Rosa
José Silvano
Laura Monteiro Magalhães
Luís Campos Ferreira
Luís Leite Ramos
Luís Montenegro
Luís Vales
Manuel Frexes
Margarida Balseiro Lopes
Margarida Mano
Maria das Mercês Borges
Maria Luís Albuquerque
Manuela Tender
Maurício Marques
Nilza de Sena
Nuno Serra
Paulo Rios de Oliveira
Pedro do Ó Ramos
Pedro Pimpão
Pedro Pinto
Pedro Roque Oliveira
Ricardo Baptista Leite
Sandra Pereira
Sara Madruga da Costa
Sérgio Azevedo 
Susana Lamas
Teresa Leal Coelho
Ulisses Pereira

CDS
Álvaro Castelo Branco 
Ana Rita Bessa
Cecília Meireles
António Anacoreta Correia
Filipe Lobo D'Ávila
Helder Amaral
João Pinho de Almeida
João Rebelo
Patrícia Fonseca
Pedro Mota Soares
Teresa Caeiro
Vânia Dias da Silva

PS
António Gameiro 
Ascenso Simões
Bacelar de Vasconcelos
Carla Tavares
Catarina Marcelino
Constança Urbano de Sousa
Diogo Leão
Edite Estrela
Fernando Anastácio
Fernando Jesus
Francisco Rocha
Gabriela Canavilhas
Hortense Martins
Hugo Carvalho
Hugo Costa
Idália Serrão
Joana Lima
João Azevedo Castro
João Gouveia
João Marques
João Paulo Correia
João Soares
João Torres
Joaquim Barreto
José Manuel Carpinteira
José Miguel Medeiros
José Rui Cruz
Lara Martinho
Luís Graça
Luís Moreira Testa
Luís Vilhena
Maria Antónia de Almeida Santos
Maria da Luz Rosinha
Marisabel Moutela
Norberto Patinho
Paulo Rios de Oliveira
Paulo Trigo Pereira
Pedro Delgado Alves
Pedro Coimbra
Ricardo Bexiga
Ricardo Leão
Rui Riso
Santinho Pacheco
Sofia Araújo
Tiago Barbosa Ribeiro
Vitalino Canas

PCP
Ana Mesquita 
Bruno Dias
João Ramos
Paula Santos
Paulo Sá

BE
Catarina Martins
Jorge Costa
Jorge Falcato Simões
José Manuel Pureza
José Soeiro
Paulino Ascensão

marcar artigo