nem lixívia nem limonada

25-04-2019
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imagem retirada do altoastral

I

Num teste de inglês do 11º ano de um curso técnico é colocada uma pergunta, cujo objectivo é levar os alunos a identificar quais os acessórios de moda que são usados por homens, por mulheres ou por ambos. Um aluno responde que todos são usados por todos. A professora considera errado. O aluno argumenta em favor das suas respostas. A professora ameaça o aluno com falta disciplinar se insistir em discutir a matéria.

Foi na disciplina de inglês, mas até podia ser na de romanche ou de latim, que para o caso tanto dá... que em testes sejam colocadas questões que dependem exclusivamente de opinião pessoal, já é abusivo; mas absolutamente desconcertante é o entendimento que a professora tem do que pode ou não pode motivar uma falta disciplinar - aparentemente, discordar da opinião do professor é suficiente.

O meu avô contou-me várias vezes a história da reguada que apanhou por ter corrigido o professor em 1930. E lembro-me do sangue que em 1979 saltou do lábio de um colega ao dizer à professora que não conhecia a capital do país. Nem era não saber qual era a capital, mas o Paulo Renato não conhecia, nunca tinha ido a Lisboa e ficava maravilhado quando eu lhe contava do vento dos aviões ou do cheiro dos hipopótamos ou dos carros na Rotunda do Relógio...

II

No Parlamento o BE, o PAN e o PCP levaram a votação projectos de resolução para a abolição de portagens nalgumas das vias mais estruturantes do país, das quais destaco a A22 (Via do Infante), a A23 (Estrada da Beira Interior), a A25 (IP5, a principal ligação rodoviária a Espanha e ao resto da Europa) e a A24 (que liga Chaves à A25 atravessando todo o interior Norte). Estes projectos foram chumbados por quase todos os deputados do PS e com a abstenção de todos os deputados do PSD e do CDS-PP.

No entanto, as propostas do PSD para estudar alternativas em Aveiro e reduzir o preço das portagens entre Entroncamento e Condeixa foram aprovadas e baixaram à comissão.

Não duvido que Aveiro precisa de alternativas, e acredito que os preços na A13 não sejam atractivos (os da A19, construída para desviar o trânsito do Mosteiro da Batalha, também não são, acreditem!) mas Aveiro tem várias auto-estradas por perto e a A1 passa em Torres Novas, Fátima, Coimbra. As auto-estradas cujas portagens não preocupam nem PSD nem CDS e que o PS quer manter porque, como alvitrou o deputado Ricardo Bexiga , apesar de reconhecerem “os impactos negativos para alguns”, como é que estas infra-estruturas seriam sustentadas se as portagens fossem abolidas?, não têm alternativas que não sejam conhecidas como estradas da morte. Apesar da Estrada da Morte.

Lembro-me de quando auto-estradas em Portugal significava A1, um pedacito de estrada larga só num sentido (no outro também!) entre a Rotunda do Relógio e Vila-Franca e mais tarde Aveiras, a Ponderosa a ser trocada pelo Pôr-do-Sol... sim, havia um pedacinho de A1 lá pelo Porto, mas quase nem dava para acelerar, o que eram 10 quilómetros comparados com 45 quilómetros seguidos... Agora auto-estradas significa dinheiro em caixa, mas só naqueles sítios onde não há alternativa.

III

O direito à greve surgiu em Portugal após o 25 de Abril, estando consagrado no artigo 57º da nossa Constituição e bem definido no Código do Trabalho.

O crowdfunding, ou financiamento colaborativo, é a antiga vaquinha, mas agora recorrendo a tecnologias modernas e não ao boné. Torna indistinta a contribuição de cada um, e garante o anonimato.

As sucessivas greves dos enfermeiros, justas nas reivindicações, estão a ser financiadas pelo financiamento colaborativo, uma forma criativa de tornear a regra "A greve suspende o contrato de trabalho de trabalhador aderente, incluindo o direito à retribuição". Uma subversão da lei, que acaba por tornar injusta uma greve com reivindicações justas. E bastante suspeita pois não se conhece a origem do dinheiro, o qual não chegou aos 100.000€ para os incêndios entre 2017 (Pedrógão) e 2018 (Monchique), mas já passa os 750.000€ para estas greves cirúrgicas que começaram em Novembro. Temo que os enfermeiros estejam a ser conduzidos que nem ovelhas por interesses obscuros que (ab)usam as suas justíssimas reivindicações. Tal como no Estado Novo o voto.

Tudo isto tresanda a naftalina. A atraso.

Está bem para um país que insiste em usar máquina a vapor.

imagem retirada do altoastral

I

Num teste de inglês do 11º ano de um curso técnico é colocada uma pergunta, cujo objectivo é levar os alunos a identificar quais os acessórios de moda que são usados por homens, por mulheres ou por ambos. Um aluno responde que todos são usados por todos. A professora considera errado. O aluno argumenta em favor das suas respostas. A professora ameaça o aluno com falta disciplinar se insistir em discutir a matéria.

Foi na disciplina de inglês, mas até podia ser na de romanche ou de latim, que para o caso tanto dá... que em testes sejam colocadas questões que dependem exclusivamente de opinião pessoal, já é abusivo; mas absolutamente desconcertante é o entendimento que a professora tem do que pode ou não pode motivar uma falta disciplinar - aparentemente, discordar da opinião do professor é suficiente.

O meu avô contou-me várias vezes a história da reguada que apanhou por ter corrigido o professor em 1930. E lembro-me do sangue que em 1979 saltou do lábio de um colega ao dizer à professora que não conhecia a capital do país. Nem era não saber qual era a capital, mas o Paulo Renato não conhecia, nunca tinha ido a Lisboa e ficava maravilhado quando eu lhe contava do vento dos aviões ou do cheiro dos hipopótamos ou dos carros na Rotunda do Relógio...

II

No Parlamento o BE, o PAN e o PCP levaram a votação projectos de resolução para a abolição de portagens nalgumas das vias mais estruturantes do país, das quais destaco a A22 (Via do Infante), a A23 (Estrada da Beira Interior), a A25 (IP5, a principal ligação rodoviária a Espanha e ao resto da Europa) e a A24 (que liga Chaves à A25 atravessando todo o interior Norte). Estes projectos foram chumbados por quase todos os deputados do PS e com a abstenção de todos os deputados do PSD e do CDS-PP.

No entanto, as propostas do PSD para estudar alternativas em Aveiro e reduzir o preço das portagens entre Entroncamento e Condeixa foram aprovadas e baixaram à comissão.

Não duvido que Aveiro precisa de alternativas, e acredito que os preços na A13 não sejam atractivos (os da A19, construída para desviar o trânsito do Mosteiro da Batalha, também não são, acreditem!) mas Aveiro tem várias auto-estradas por perto e a A1 passa em Torres Novas, Fátima, Coimbra. As auto-estradas cujas portagens não preocupam nem PSD nem CDS e que o PS quer manter porque, como alvitrou o deputado Ricardo Bexiga , apesar de reconhecerem “os impactos negativos para alguns”, como é que estas infra-estruturas seriam sustentadas se as portagens fossem abolidas?, não têm alternativas que não sejam conhecidas como estradas da morte. Apesar da Estrada da Morte.

Lembro-me de quando auto-estradas em Portugal significava A1, um pedacito de estrada larga só num sentido (no outro também!) entre a Rotunda do Relógio e Vila-Franca e mais tarde Aveiras, a Ponderosa a ser trocada pelo Pôr-do-Sol... sim, havia um pedacinho de A1 lá pelo Porto, mas quase nem dava para acelerar, o que eram 10 quilómetros comparados com 45 quilómetros seguidos... Agora auto-estradas significa dinheiro em caixa, mas só naqueles sítios onde não há alternativa.

III

O direito à greve surgiu em Portugal após o 25 de Abril, estando consagrado no artigo 57º da nossa Constituição e bem definido no Código do Trabalho.

O crowdfunding, ou financiamento colaborativo, é a antiga vaquinha, mas agora recorrendo a tecnologias modernas e não ao boné. Torna indistinta a contribuição de cada um, e garante o anonimato.

As sucessivas greves dos enfermeiros, justas nas reivindicações, estão a ser financiadas pelo financiamento colaborativo, uma forma criativa de tornear a regra "A greve suspende o contrato de trabalho de trabalhador aderente, incluindo o direito à retribuição". Uma subversão da lei, que acaba por tornar injusta uma greve com reivindicações justas. E bastante suspeita pois não se conhece a origem do dinheiro, o qual não chegou aos 100.000€ para os incêndios entre 2017 (Pedrógão) e 2018 (Monchique), mas já passa os 750.000€ para estas greves cirúrgicas que começaram em Novembro. Temo que os enfermeiros estejam a ser conduzidos que nem ovelhas por interesses obscuros que (ab)usam as suas justíssimas reivindicações. Tal como no Estado Novo o voto.

Tudo isto tresanda a naftalina. A atraso.

Está bem para um país que insiste em usar máquina a vapor.

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