Há uma frase a incendiar as redes sociais: Marta Temido proferiu-a mesmo?

07-09-2019
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Eram cerca de 9h30 do primeiro dia de Novembro de 1755 quando a cidade de Lisboa começou a estremecer. Durante 7 minutos, o caos instalou-se: prédios a desmoronar, monumentos a cair, cadáveres nas ruas. O cenário, que se agudizou durante todo o dia, era dantesco. Perante a evidente calamidade, o monarca D. José mandou chamar o Marquês de Pombal. A tragédia tinha de ser combatida. Na ocasião, este ter-lhe-á dito: “É preciso enterrar os mortos, cuidar dos vivos e encerrar os portos.”

Ontem à noite, entrevistada pelo jornalista Vítor Gonçalves na RTP 3, a ministra da Saúde Marta Temido resgatou a frase do Marquês de Pombal (há também quem a atribua ao Marquês de Alorna) para comentar a sempre delicada questão do erro médico.

A entrevista ia no minuto 45 quando Vítor Gonçalves, a propósito de a questão da penalização do erro médico ter ficado de fora da Lei de Bases da Saúde apresentada recentemente pelo Partido Socialista, perguntou à titular da pasta da Saúde se devia haver tribunais especializados em julgar casos de alegada negligência médica. Marta Temido: “Não vislumbro o que podemos ganhar com isso.” Poucos segundos depois, na sequência da mesma resposta, fez a afirmação que se segue: “Quando há problemas dessa tipologia aquilo que nos preocupa a todos é que (...) peço desculpa pela expressão... enterrar os mortos e tratar dos vivos. Não será feliz [a expressão] mas muitas das coisas que acontecem na vida do nosso Serviço Nacional de Saúde não são felizes.”

Entre o momento em que Marta Temido produziu esta declaração e aquele em que as redes sociais explodiram numa onda de indignação não decorreram muitas horas. A imagem com a frase destacada em oráculo tornou-se viral e os comentários, quase sempre incisivos, sublinhavam a alegada “leviandade”com que a ministra da Saúde terá falado sobre um assunto crítico.

Vários leitores do Polígrafo fizeram-nos chegar a imagem através da linha de WhatsApp disponível na homepage do site (968213823), solicitando a sua verificação. Um deles, incrédulo, escreveu mesmo: “É uma imagem manipulada, a ministra nunca a diria." Mas a verdade é que disse mesmo, embora seja possível entender, pelas imagens, que Marta Temido terá percebido imediatamente que não teria utilizado a expressão mais indicada, esforçando-se, numa segunda fase, por enquadrá-la.

Curiosamente, a sua defesa veio de alguém insuspeito de ser socialista. Na sua página no Twitter, o deputado do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, escreveu: "a maioria das frases infelizes de um político tem um contexto, uma lógica. a afirmação da ministra da saúde sobre o erro médico também a tem, como tinha o 'piegas' ou o suposto 'emigrem' de passos. serão frases evitáveis? com certeza. mas mais evitável é a indignação selectiva.

De janeiro a 22 de dezembro de 2017, o Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa instaurou 60 inquéritos relativos a negligência médica. Em 2016 foram 55. Segundo a Procuradoria-Geral da República, apenas a procuradoria distrital de Lisboa faz o tratamento estatístico deste tipo de queixas. Estima-se que, todos os anos, o erro médico vitime 1300 a 2900 pessoas - mais do que os acidentes de carro.

Avaliação do Polígrafo:

Eram cerca de 9h30 do primeiro dia de Novembro de 1755 quando a cidade de Lisboa começou a estremecer. Durante 7 minutos, o caos instalou-se: prédios a desmoronar, monumentos a cair, cadáveres nas ruas. O cenário, que se agudizou durante todo o dia, era dantesco. Perante a evidente calamidade, o monarca D. José mandou chamar o Marquês de Pombal. A tragédia tinha de ser combatida. Na ocasião, este ter-lhe-á dito: “É preciso enterrar os mortos, cuidar dos vivos e encerrar os portos.”

Ontem à noite, entrevistada pelo jornalista Vítor Gonçalves na RTP 3, a ministra da Saúde Marta Temido resgatou a frase do Marquês de Pombal (há também quem a atribua ao Marquês de Alorna) para comentar a sempre delicada questão do erro médico.

A entrevista ia no minuto 45 quando Vítor Gonçalves, a propósito de a questão da penalização do erro médico ter ficado de fora da Lei de Bases da Saúde apresentada recentemente pelo Partido Socialista, perguntou à titular da pasta da Saúde se devia haver tribunais especializados em julgar casos de alegada negligência médica. Marta Temido: “Não vislumbro o que podemos ganhar com isso.” Poucos segundos depois, na sequência da mesma resposta, fez a afirmação que se segue: “Quando há problemas dessa tipologia aquilo que nos preocupa a todos é que (...) peço desculpa pela expressão... enterrar os mortos e tratar dos vivos. Não será feliz [a expressão] mas muitas das coisas que acontecem na vida do nosso Serviço Nacional de Saúde não são felizes.”

Entre o momento em que Marta Temido produziu esta declaração e aquele em que as redes sociais explodiram numa onda de indignação não decorreram muitas horas. A imagem com a frase destacada em oráculo tornou-se viral e os comentários, quase sempre incisivos, sublinhavam a alegada “leviandade”com que a ministra da Saúde terá falado sobre um assunto crítico.

Vários leitores do Polígrafo fizeram-nos chegar a imagem através da linha de WhatsApp disponível na homepage do site (968213823), solicitando a sua verificação. Um deles, incrédulo, escreveu mesmo: “É uma imagem manipulada, a ministra nunca a diria." Mas a verdade é que disse mesmo, embora seja possível entender, pelas imagens, que Marta Temido terá percebido imediatamente que não teria utilizado a expressão mais indicada, esforçando-se, numa segunda fase, por enquadrá-la.

Curiosamente, a sua defesa veio de alguém insuspeito de ser socialista. Na sua página no Twitter, o deputado do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, escreveu: "a maioria das frases infelizes de um político tem um contexto, uma lógica. a afirmação da ministra da saúde sobre o erro médico também a tem, como tinha o 'piegas' ou o suposto 'emigrem' de passos. serão frases evitáveis? com certeza. mas mais evitável é a indignação selectiva.

De janeiro a 22 de dezembro de 2017, o Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa instaurou 60 inquéritos relativos a negligência médica. Em 2016 foram 55. Segundo a Procuradoria-Geral da República, apenas a procuradoria distrital de Lisboa faz o tratamento estatístico deste tipo de queixas. Estima-se que, todos os anos, o erro médico vitime 1300 a 2900 pessoas - mais do que os acidentes de carro.

Avaliação do Polígrafo:

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