Olho de Gato: Presidenciais — 2011 e 2016*

14-10-2019
marcar artigo


* Texto publicado hoje no Jornal do Centro

1. Em 24 de Janeiro de 2011, no dia a seguir à segunda vitória de Cavaco, José Sócrates, muito bem-disposto, chamou Mário Soares a S. Bento:

«Ó Mário, acabámos com aquele &ß#Ω$§!»

«Eh pá, não gosto disso. Palavra que não gosto disso, não é bonito, não diga isso.»

«Eh pá, mas ele estava na merda, eu nunca o vi assim.»

«Pode ter estado, mas não se esqueça que o Alegre pode ter defeitos mas também tem os seus méritos.»

Mário Soares contou isto numa entrevista a Joaquim Vieira, autor da biografia “Mário Soares, Uma Vida”. Passaram cinco anos. Não precisamos da transcrição de nenhum diálogo entre António Costa e Carlos César ou Ana Catarina Mendes para intuirmos que o primeiro-ministro ficou muito contente com o colapso eleitoral de Maria de Belém.

Portanto: em duas presidenciais seguidas, tivemos dois secretários-gerais socialistas satisfeitos com o afundanço eleitoral de dois seus destacados militantes. Esta esquizofrenia do PS tem-lhe dado derrotas eleitorais nada “poucochinhas”, ora um pouco acima ora um pouco abaixo dos 30%. Nenhuma “geringonça” consegue esconder esta fragilidade política. E ética.

Fotografia daqui

2. Marcelo Rebelo de Sousa ganhou à primeira volta. Sem surpresa. Estas eleições foram civilizadas, ao contrário das de há cinco anos.

Desta vez, até o voto anti-sistema foi para um candidato amável: Vitorino Silva. Tino de Rans ficou em sexto a nível nacional e foi quarto no distrito de Viseu. Em Cinfães e S. João da Pesqueira, o grande Tino arrebatou 8,5% e a medalha de bronze.

A votação de Sampaio da Nóvoa, tal como a de Fernando Nobre de há cinco anos, não vai servir para nada. Os resultados de Marisa Matias (muito bons) e Edgar Silva (péssimos), os outros candidatos da “geringonça”, também não acrescentam nada.

O emprego de António Costa nunca dependeu das presidenciais. Para já, ele depende, acima de tudo, da credibilidade que a “Europa” e os mercados vão dar à folha-de-cálculo de Mário Centeno.


* Texto publicado hoje no Jornal do Centro

1. Em 24 de Janeiro de 2011, no dia a seguir à segunda vitória de Cavaco, José Sócrates, muito bem-disposto, chamou Mário Soares a S. Bento:

«Ó Mário, acabámos com aquele &ß#Ω$§!»

«Eh pá, não gosto disso. Palavra que não gosto disso, não é bonito, não diga isso.»

«Eh pá, mas ele estava na merda, eu nunca o vi assim.»

«Pode ter estado, mas não se esqueça que o Alegre pode ter defeitos mas também tem os seus méritos.»

Mário Soares contou isto numa entrevista a Joaquim Vieira, autor da biografia “Mário Soares, Uma Vida”. Passaram cinco anos. Não precisamos da transcrição de nenhum diálogo entre António Costa e Carlos César ou Ana Catarina Mendes para intuirmos que o primeiro-ministro ficou muito contente com o colapso eleitoral de Maria de Belém.

Portanto: em duas presidenciais seguidas, tivemos dois secretários-gerais socialistas satisfeitos com o afundanço eleitoral de dois seus destacados militantes. Esta esquizofrenia do PS tem-lhe dado derrotas eleitorais nada “poucochinhas”, ora um pouco acima ora um pouco abaixo dos 30%. Nenhuma “geringonça” consegue esconder esta fragilidade política. E ética.

Fotografia daqui

2. Marcelo Rebelo de Sousa ganhou à primeira volta. Sem surpresa. Estas eleições foram civilizadas, ao contrário das de há cinco anos.

Desta vez, até o voto anti-sistema foi para um candidato amável: Vitorino Silva. Tino de Rans ficou em sexto a nível nacional e foi quarto no distrito de Viseu. Em Cinfães e S. João da Pesqueira, o grande Tino arrebatou 8,5% e a medalha de bronze.

A votação de Sampaio da Nóvoa, tal como a de Fernando Nobre de há cinco anos, não vai servir para nada. Os resultados de Marisa Matias (muito bons) e Edgar Silva (péssimos), os outros candidatos da “geringonça”, também não acrescentam nada.

O emprego de António Costa nunca dependeu das presidenciais. Para já, ele depende, acima de tudo, da credibilidade que a “Europa” e os mercados vão dar à folha-de-cálculo de Mário Centeno.

marcar artigo