Acha estranho, deputado Montenegro?

27-09-2017
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Acho estranho que Luís Montenegro ache estranho que “o primeiro-ministro e os seus “acólitos” estejam “com tanto medo” que o Parlamento “queira descobrir a verdade” sobre o acordo com a equipa de António Domingues na Caixa Geral de Depósitos (CGD)“. Não que me pareça estranho que um primeiro-ministro e respectiva entourage se possam sentir aflitos com a descoberta da verdade, seja lá que verdade for, mas que o senhor deputado veja aqui qualquer tipo de estranheza.

Senão vejamos: esta posta começa com uma montagem, gentilmente roubada (mesmo à esquerdalho) à radicalíssima Uma Página Numa Rede Social, que nos confronta com alguns exemplos, em muito idênticos ao referido por Montenegro, de situações em que o anterior primeiro-ministro e respectivos “acólitos”, entre eles o próprio Dr. Montenegro, estariam “com tanto medo” que o Parlamento quisesse “descobrir a verdade” que acabaram por impedir que os directores da Autoridade Tributária fossem ouvidos a propósito do caso da Lista VIP, que Cavaco respondesse por escrito a propósito do caso BES, que Passos Coelho (ironia máxima) fosse ouvido sobre as suas dívidas à Segurança Social e que Maria Luís Albuquerque respondesse perante os deputados sobre os polémicos swaps.

O último exemplo, que visa a antiga ministra das Finanças e o caso dos swaps, tem similaridades fabulosas. Em Centeno temos SMSs, com Maria Luís Albuquerque o email é a ferramenta. Com Centeno é a esquerda quem poderá chumbar a segunda comissão de inquérito, com Maria Luís foi o PSD e o CDS que a impediram de ser ouvida no Parlamento.

via Uma Página Numa Rede Social

A situação de estranheza, postulada por Luís Montenegro, torna-se ainda mais estranha quando recentes declarações de destacados deputados da oposição parecem assentar como uma luva no já esquecido caso Maria Luís Albuquerque/swaps:

“O que é que escondem? Porquê e que regime democrático credível, que Governo credível vive com esta falta de transparência e opacidade?”

– António Leitão Amaro, PSD

“As comissões de inquérito criadas por uma minoria, seja ela qual for, têm de funcionar para permitir que o apuramento da verdade se faça.”

– José Matos Correia, PSD

“Iremos até às últimas consequências pugnar, lutar pela dignidade da instituição parlamentar.”

– Luís Montenegro, PSD

“Esta inibição de os deputados fazerem perguntas é própria de regimes totalitários. É inaceitável, é inadmissível em qualquer democracia.”

– Nuno Magalhães, CDS-PP

“O bloqueio das esquerdas é inadmissível num Estado de Direito democrático.”

– Assunção Cristas, CDS-PP

O problema é que, tal como Luís Montenegro, nenhum destes deputados achou estranho que fossem eles próprios a impedir o apuramento da verdade quando impediram a então ministra de responder perante o Parlamento, apesar dos indícios que, agora como então, parecem demonstrar inequivocamente que um alto responsável do governo mentiu. Esconderam, pactuaram com a “falta de transparência e opacidade”, não foram “até às últimas consequências pugnar, lutar pela dignidade da instituição parlamentar” e promoveram um bloqueio à direita, “inadmissível num Estado de Direito democrático”.

É por estas e por outras, senhor deputado e respectivos colegas de hemiciclo, que cada vez acreditamos menos em vossas excelências. Que recusamos a vossa retórica escandalosamente facciosa. Que vos apontamos o dedo por colocaram o vosso partido à frente do interesse nacional. Que nos abstemos em massa e temos uma péssima imagem dos senhores. Pagam os honestos, coitados, que podem ser poucos mas existem, e pagaremos nós enquanto a governação for um jogo de interesses e não um projecto orientado para as pessoas e para o país. Para todas as pessoas e para todo o país. No dia em que a pasokização chegar para alguns de vós, algo que espero sinceramente que aconteça num futuro próximo, espero ainda cá estar. Vai-me dar um gozo tremendo.

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Acho estranho que Luís Montenegro ache estranho que “o primeiro-ministro e os seus “acólitos” estejam “com tanto medo” que o Parlamento “queira descobrir a verdade” sobre o acordo com a equipa de António Domingues na Caixa Geral de Depósitos (CGD)“. Não que me pareça estranho que um primeiro-ministro e respectiva entourage se possam sentir aflitos com a descoberta da verdade, seja lá que verdade for, mas que o senhor deputado veja aqui qualquer tipo de estranheza.

Senão vejamos: esta posta começa com uma montagem, gentilmente roubada (mesmo à esquerdalho) à radicalíssima Uma Página Numa Rede Social, que nos confronta com alguns exemplos, em muito idênticos ao referido por Montenegro, de situações em que o anterior primeiro-ministro e respectivos “acólitos”, entre eles o próprio Dr. Montenegro, estariam “com tanto medo” que o Parlamento quisesse “descobrir a verdade” que acabaram por impedir que os directores da Autoridade Tributária fossem ouvidos a propósito do caso da Lista VIP, que Cavaco respondesse por escrito a propósito do caso BES, que Passos Coelho (ironia máxima) fosse ouvido sobre as suas dívidas à Segurança Social e que Maria Luís Albuquerque respondesse perante os deputados sobre os polémicos swaps.

O último exemplo, que visa a antiga ministra das Finanças e o caso dos swaps, tem similaridades fabulosas. Em Centeno temos SMSs, com Maria Luís Albuquerque o email é a ferramenta. Com Centeno é a esquerda quem poderá chumbar a segunda comissão de inquérito, com Maria Luís foi o PSD e o CDS que a impediram de ser ouvida no Parlamento.

via Uma Página Numa Rede Social

A situação de estranheza, postulada por Luís Montenegro, torna-se ainda mais estranha quando recentes declarações de destacados deputados da oposição parecem assentar como uma luva no já esquecido caso Maria Luís Albuquerque/swaps:

“O que é que escondem? Porquê e que regime democrático credível, que Governo credível vive com esta falta de transparência e opacidade?”

– António Leitão Amaro, PSD

“As comissões de inquérito criadas por uma minoria, seja ela qual for, têm de funcionar para permitir que o apuramento da verdade se faça.”

– José Matos Correia, PSD

“Iremos até às últimas consequências pugnar, lutar pela dignidade da instituição parlamentar.”

– Luís Montenegro, PSD

“Esta inibição de os deputados fazerem perguntas é própria de regimes totalitários. É inaceitável, é inadmissível em qualquer democracia.”

– Nuno Magalhães, CDS-PP

“O bloqueio das esquerdas é inadmissível num Estado de Direito democrático.”

– Assunção Cristas, CDS-PP

O problema é que, tal como Luís Montenegro, nenhum destes deputados achou estranho que fossem eles próprios a impedir o apuramento da verdade quando impediram a então ministra de responder perante o Parlamento, apesar dos indícios que, agora como então, parecem demonstrar inequivocamente que um alto responsável do governo mentiu. Esconderam, pactuaram com a “falta de transparência e opacidade”, não foram “até às últimas consequências pugnar, lutar pela dignidade da instituição parlamentar” e promoveram um bloqueio à direita, “inadmissível num Estado de Direito democrático”.

É por estas e por outras, senhor deputado e respectivos colegas de hemiciclo, que cada vez acreditamos menos em vossas excelências. Que recusamos a vossa retórica escandalosamente facciosa. Que vos apontamos o dedo por colocaram o vosso partido à frente do interesse nacional. Que nos abstemos em massa e temos uma péssima imagem dos senhores. Pagam os honestos, coitados, que podem ser poucos mas existem, e pagaremos nós enquanto a governação for um jogo de interesses e não um projecto orientado para as pessoas e para o país. Para todas as pessoas e para todo o país. No dia em que a pasokização chegar para alguns de vós, algo que espero sinceramente que aconteça num futuro próximo, espero ainda cá estar. Vai-me dar um gozo tremendo.

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