Porque esconde o PS as suas contas? Os erros já encontrados e os grandes riscos ainda escondidos.

06-02-2016
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Porque esconde o PS as suas contas? Os erros já encontrados e os grandes riscos ainda escondidos.

Posted on Agosto 20, 2015 by Carlos Guimarães Pinto

O PS orgulha-se de ter sido o único partido a apresentar contas do impacto das suas medidas. Ontem, depois de apresentarem uma revisão ao seu plano com apenas 4 meses, os líderes do PS voltaram a enfatizar que apenas o PS fez os cálculos ao impacto das suas medidas. Seria um bom motivo de orgulho, e um bom exemplo para as outras forças políticas, se provassem que as fizeram realmente. A questão é que até hoje ainda não provaram. Mostraram uns números finais, é verdade, mas os cálculos para chegar a esses números estão ainda por revelar. Em resumo, o PS diz que fez um estudo que não disponibiliza e que, convenientemente, prova que as suas medidas eleitorais vão ter um impacto positivo no país. Suspeito? O Gato Fedorento explica melhor. Até conseguirem provar que fizeram os cálculos, só se pode concluir que não só não fizeram as contas (o que os coloca lado-a-lado com os outros partidos), como mentiram (algo que nenhum dos outros partidos fez).
Esta falha em mostrar os cálculos é ainda mais relevante pelo facto de ser Mário Centeno o coordenador do plano. Mário Centeno não foi chamado pelo PS por ser militante, pescador ou benfiquista. Foi chamado por ser um economista e um académico respeitado. Foi chamado para dar respeitabilidade ciêntífica ao plano. Como académico respeitado tem a obrigação redobrada de fazer com que os seus estudos sejam replicáveis e os dados publicamente disponíveis. Esta transparência é particularmente importante porque, como provou o famoso exemplo de Rogoff-Reinhart, mesmo os melhores académicos cometem lapsos.
Apesar de não darem acesso aos cálculos, ontem já foi possível vislumbrar um erro colossal no plano macroeconómico do PS. Embora eu gostasse muito que os números na caixa vermelha abaixo fossem correctos, a verdade é que estão completamente errados. A carga fiscal é 10 vezes superior ao que o PS mostra no seu plano. Mesmo revelando apenas uma ínfima parte do seu modelo, é possível encontrar um erro desta dimensão (ver abaixo).

(retirado da página 28 do documento macroeconómico do PS às 9.30 do dia 20 de Agosto)
Mas gralhas de Excel à parte, há uma razão ainda melhor para que o Ps mostre os seus cáclulos: todo o plano macroeconómico do PS assenta no pressuposto de que as medidas terão um impacto positivo no PIB. O cálculo desse impacto no PIB está completamente escondido na folha de cálculo. E se o impacto não acontecer? E se o PS fizer toda aquela despesa pública que promete e o PIB não se mexer. Em baixo, podem ver o que acontecerá se o PS cumprir com o seu plano para a despesa e receita, mas o crescimento prometido (e que não dizem como calcularam) não acontecer:

Se o crescimento que o PS garante que vai acontecer mas não revela como calculou não se concretizar, o défice continuará sempre acima de 3% e a dívida pública será 8pp superior ao que está no plano. No último ano, o défice será mais do dobro do que o PS tem no seu plano, algo dificilmente aceite pelas entidades europeias.
Finalmente o leitor poderá questionar-se sobre o porquê de eu ter dúvidas sobre a forma como foi calculado o crescimento económico no plano macroeconómico do PS. É simples: apesar de afirmarem que a economia portuguesa está destroçada, o PS promete já daqui a dois anos um nível de crescimento que Portugal não tem há 15 anos.

Por isso, repito aqui o meu apelo a Mário Centeno: se confia realmente nos cálculos que fez, disponibilize-os ao público, como um bom académico e homem de ciência. Mostre que não está apenas a contribuir para que o país afunde novamente daqui a uns anos.
P.S.: Como forma de dar o exemplo, e apesar de isto ser apenas um blog, fica aqui disponível a simples folha de cálculo utilizada para calcular os impactos acima. Cálculos disponíveis para todos verem e criticarem, se acharem conveniente.
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Sobre Carlos Guimarães Pinto
Economista, consultor de gestão e comentador de coisas.

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Posted on Agosto 20, 2015 by Carlos Guimarães Pinto

O PS orgulha-se de ter sido o único partido a apresentar contas do impacto das suas medidas. Ontem, depois de apresentarem uma revisão ao seu plano com apenas 4 meses, os líderes do PS voltaram a enfatizar que apenas o PS fez os cálculos ao impacto das suas medidas. Seria um bom motivo de orgulho, e um bom exemplo para as outras forças políticas, se provassem que as fizeram realmente. A questão é que até hoje ainda não provaram. Mostraram uns números finais, é verdade, mas os cálculos para chegar a esses números estão ainda por revelar. Em resumo, o PS diz que fez um estudo que não disponibiliza e que, convenientemente, prova que as suas medidas eleitorais vão ter um impacto positivo no país. Suspeito? O Gato Fedorento explica melhor. Até conseguirem provar que fizeram os cálculos, só se pode concluir que não só não fizeram as contas (o que os coloca lado-a-lado com os outros partidos), como mentiram (algo que nenhum dos outros partidos fez).
Esta falha em mostrar os cálculos é ainda mais relevante pelo facto de ser Mário Centeno o coordenador do plano. Mário Centeno não foi chamado pelo PS por ser militante, pescador ou benfiquista. Foi chamado por ser um economista e um académico respeitado. Foi chamado para dar respeitabilidade ciêntífica ao plano. Como académico respeitado tem a obrigação redobrada de fazer com que os seus estudos sejam replicáveis e os dados publicamente disponíveis. Esta transparência é particularmente importante porque, como provou o famoso exemplo de Rogoff-Reinhart, mesmo os melhores académicos cometem lapsos.
Apesar de não darem acesso aos cálculos, ontem já foi possível vislumbrar um erro colossal no plano macroeconómico do PS. Embora eu gostasse muito que os números na caixa vermelha abaixo fossem correctos, a verdade é que estão completamente errados. A carga fiscal é 10 vezes superior ao que o PS mostra no seu plano. Mesmo revelando apenas uma ínfima parte do seu modelo, é possível encontrar um erro desta dimensão (ver abaixo).

(retirado da página 28 do documento macroeconómico do PS às 9.30 do dia 20 de Agosto)
Mas gralhas de Excel à parte, há uma razão ainda melhor para que o Ps mostre os seus cáclulos: todo o plano macroeconómico do PS assenta no pressuposto de que as medidas terão um impacto positivo no PIB. O cálculo desse impacto no PIB está completamente escondido na folha de cálculo. E se o impacto não acontecer? E se o PS fizer toda aquela despesa pública que promete e o PIB não se mexer. Em baixo, podem ver o que acontecerá se o PS cumprir com o seu plano para a despesa e receita, mas o crescimento prometido (e que não dizem como calcularam) não acontecer:

Se o crescimento que o PS garante que vai acontecer mas não revela como calculou não se concretizar, o défice continuará sempre acima de 3% e a dívida pública será 8pp superior ao que está no plano. No último ano, o défice será mais do dobro do que o PS tem no seu plano, algo dificilmente aceite pelas entidades europeias.
Finalmente o leitor poderá questionar-se sobre o porquê de eu ter dúvidas sobre a forma como foi calculado o crescimento económico no plano macroeconómico do PS. É simples: apesar de afirmarem que a economia portuguesa está destroçada, o PS promete já daqui a dois anos um nível de crescimento que Portugal não tem há 15 anos.

Por isso, repito aqui o meu apelo a Mário Centeno: se confia realmente nos cálculos que fez, disponibilize-os ao público, como um bom académico e homem de ciência. Mostre que não está apenas a contribuir para que o país afunde novamente daqui a uns anos.
P.S.: Como forma de dar o exemplo, e apesar de isto ser apenas um blog, fica aqui disponível a simples folha de cálculo utilizada para calcular os impactos acima. Cálculos disponíveis para todos verem e criticarem, se acharem conveniente.
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