A convenção do PS para a apresentação do programa eleitoral, que decorre este fim-de-semana em Lisboa, arrancou este sábado de manhã com quatro painéis temáticos sobre "boa governação", onde se destacavam as "contas certas" de Mário Centeno. O titular das Finanças que chega ao final da legislatura acumulando a façanha de ser em simultâneo um dos ministros mais populares do Governo e um dos nomes na short-list para a liderança do FMI não falou desta última questão, mas alongou-se nos auto-elogios sobre o trabalho feito nestes quatro anos.
"#Cumprimos" é o hashtag com que os socialistas resumem a legislatura que passou e "confiança" é a palavra com que projectam os próximos quatro anos. E, em clima de pre-campanha eleitoral, Centeno não deixou de fazer o contraste entre a visão que tem do seu próprio trabalho e aquilo que vê nas promessas da oposição: demagogia e irresponsabilidade. "Assistimos a um leilão de política fiscal" nos partidos da oposição, afirmou Centeno, repetindo uma expresso que usou para classificar as promessas de redução de impostos feitas pelo PSD e pelo CDS. E acrescentou: "agora, a positiva fiscal está em leilão, como está a despesa pública".
Menos impostos e mais despesa, diz Centeno, é um caminho que não se baseia em estudos; é, pelo contrário, "o mesmo que caminho que eles sempre apresentaram, e sempre teve os resultados que nós conhecemos."
Ou seja, no inverso do caminho feito pelo PS desde que apresentou, há cinco anos, o cenário macro-económico em que se baseou boa parte do programa de Governo. "Podemos dizer, sem nos excedermos na adjetivação, que cumprimos. E cumprimos os objetivos porque nos preparámos", diz Centeno, sem "improvisos" nem "derrapagens".
Apes das previsões dos que garantiam que viria aí "o diabo", que "o
Orçamento de 2016 ia ser o último desta legislatura porque a seguir vinha aí o desastre e o resgate", a verdade, resume o ministro das Finanças, é que "cumprimos em 2016, em 2017, em 2018 e vamos cumprir em 2019".
A "impossibilidade aritmética" das promessas do PSD
Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado das Finanças, insistiu na mesma ideia: "Acertámos, tivemos contas certas, porque fizemos contas bem feitas". E foi mais longe na crítica às promessas e às contas do PSD: acenar com menos impostos e ao mesmo tempo mais investimento e mais dívida "é mesmo uma impossibilidade aritmética. É mesmo impossível", sublinhou.
João Leão, secretário de Estado do Orçamento também puxado para o painel, sublinhou a importância dos juros mais baixos, em resultado da estabilidade e da confiança permitidos pelas contas certas. E apontou Itália como um exemplo contrário: "A falta de credibilidade está a afetar toda a economia italiana". A mensagem estava bem afinada na equipa das finanças: "é muito importante" que haja "escolhas credíveis, estáveis e sustentáveis".
...e Centeno soou a FMI
Mas havia um elefante no meio da sala: Centeno, o Senhor Contas Certas, que estava garantido como o Senhor Que Se Segue à frente das Finanças (e isso também seria/será inédito, pois nunca em Portugal um ministro das Finanças cumpriu mais do que uma legislatura nesse cargo), afinal pode ser o próximo Senhor FMI.
Não falou disso, claro, nem ninguém lhe perguntou sobre isso na secção de perguntas da audiência. E quando os jornalistas lhe fizeram uma espera para colocar essa questão, Centeno fugiu aos jornalistas e à pergunta.
No entanto, uma das perguntas colocadas pelo público, sobre o impacto do Brexit na economia e finanças, permitiu ao ministro fazer mais um conjunto de considerações sobre a importância da estabilidade, sobre políticas cautelosas que não comprometam o futuro e sobre a relevância dos políticos não tomarem decisões que potenciem riscos.
Referindo-se ao Brexit, ao ambiente económico na Europa e a um conjunto de decisões que vêm sendo tomadas pelos Estados Unidos, Centeno lembrou que todos os riscos económicos que o mundo enfrenta resultam de decisões políticas. E avisou: "Devemos compelir os políticos a tomar decisões que limitem as incertezas."
Não é original os ministros das finanças falarem dos políticos como se não fossem um deles - mas neste contexto, a novidade era o ministro das Finanças soar como se já fosse o diretor do FMI.
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A convenção do PS para a apresentação do programa eleitoral, que decorre este fim-de-semana em Lisboa, arrancou este sábado de manhã com quatro painéis temáticos sobre "boa governação", onde se destacavam as "contas certas" de Mário Centeno. O titular das Finanças que chega ao final da legislatura acumulando a façanha de ser em simultâneo um dos ministros mais populares do Governo e um dos nomes na short-list para a liderança do FMI não falou desta última questão, mas alongou-se nos auto-elogios sobre o trabalho feito nestes quatro anos.
"#Cumprimos" é o hashtag com que os socialistas resumem a legislatura que passou e "confiança" é a palavra com que projectam os próximos quatro anos. E, em clima de pre-campanha eleitoral, Centeno não deixou de fazer o contraste entre a visão que tem do seu próprio trabalho e aquilo que vê nas promessas da oposição: demagogia e irresponsabilidade. "Assistimos a um leilão de política fiscal" nos partidos da oposição, afirmou Centeno, repetindo uma expresso que usou para classificar as promessas de redução de impostos feitas pelo PSD e pelo CDS. E acrescentou: "agora, a positiva fiscal está em leilão, como está a despesa pública".
Menos impostos e mais despesa, diz Centeno, é um caminho que não se baseia em estudos; é, pelo contrário, "o mesmo que caminho que eles sempre apresentaram, e sempre teve os resultados que nós conhecemos."
Ou seja, no inverso do caminho feito pelo PS desde que apresentou, há cinco anos, o cenário macro-económico em que se baseou boa parte do programa de Governo. "Podemos dizer, sem nos excedermos na adjetivação, que cumprimos. E cumprimos os objetivos porque nos preparámos", diz Centeno, sem "improvisos" nem "derrapagens".
Apes das previsões dos que garantiam que viria aí "o diabo", que "o
Orçamento de 2016 ia ser o último desta legislatura porque a seguir vinha aí o desastre e o resgate", a verdade, resume o ministro das Finanças, é que "cumprimos em 2016, em 2017, em 2018 e vamos cumprir em 2019".
A "impossibilidade aritmética" das promessas do PSD
Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado das Finanças, insistiu na mesma ideia: "Acertámos, tivemos contas certas, porque fizemos contas bem feitas". E foi mais longe na crítica às promessas e às contas do PSD: acenar com menos impostos e ao mesmo tempo mais investimento e mais dívida "é mesmo uma impossibilidade aritmética. É mesmo impossível", sublinhou.
João Leão, secretário de Estado do Orçamento também puxado para o painel, sublinhou a importância dos juros mais baixos, em resultado da estabilidade e da confiança permitidos pelas contas certas. E apontou Itália como um exemplo contrário: "A falta de credibilidade está a afetar toda a economia italiana". A mensagem estava bem afinada na equipa das finanças: "é muito importante" que haja "escolhas credíveis, estáveis e sustentáveis".
...e Centeno soou a FMI
Mas havia um elefante no meio da sala: Centeno, o Senhor Contas Certas, que estava garantido como o Senhor Que Se Segue à frente das Finanças (e isso também seria/será inédito, pois nunca em Portugal um ministro das Finanças cumpriu mais do que uma legislatura nesse cargo), afinal pode ser o próximo Senhor FMI.
Não falou disso, claro, nem ninguém lhe perguntou sobre isso na secção de perguntas da audiência. E quando os jornalistas lhe fizeram uma espera para colocar essa questão, Centeno fugiu aos jornalistas e à pergunta.
No entanto, uma das perguntas colocadas pelo público, sobre o impacto do Brexit na economia e finanças, permitiu ao ministro fazer mais um conjunto de considerações sobre a importância da estabilidade, sobre políticas cautelosas que não comprometam o futuro e sobre a relevância dos políticos não tomarem decisões que potenciem riscos.
Referindo-se ao Brexit, ao ambiente económico na Europa e a um conjunto de decisões que vêm sendo tomadas pelos Estados Unidos, Centeno lembrou que todos os riscos económicos que o mundo enfrenta resultam de decisões políticas. E avisou: "Devemos compelir os políticos a tomar decisões que limitem as incertezas."
Não é original os ministros das finanças falarem dos políticos como se não fossem um deles - mas neste contexto, a novidade era o ministro das Finanças soar como se já fosse o diretor do FMI.