Câmara Corporativa: A nossa mansidão¹

20-07-2018
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• Vasco Pulido Valente, A nossa mansidão [hoje no Público]: ‘Esta semana, um tribunal resolveu notificar o sr. José Oliveira Costa para o julgamento de um novo "caso" do sr. Duarte Lima. Para grande espanto do tribunal e da generalidade dos portugueses, o sr. Costa tinha desaparecido. Passaram uns dias. A sra. ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, declarou em público que achava "muito estranha" a dificuldade de encontrar um indivíduo com "uma pulseira electrónica" no tornozelo (ou no pulso). A sra. ministra ignorava que o sr. Costa já não usava qualquer "pulseira", que só estava sujeito à mais branda das "medidas de coacção" (o "termo de identidade e residência"), que se podia livremente ausentar durante cinco dias, quando bem quisesse e lhe apetecesse e, pior ainda, que pedira um passaporte ao SEF, que também não percebeu nada da trapalhada em curso. O sr. Costa acusado da fantástica fraude do Banco Português de Negócios é hoje a única personagem dessa santa façanha, de que a lei, a televisão e os jornais se continuam a ocupar. Ao princípio, uma dúzia de notabilidades pareciam implicadas no assunto. Mas, depois, pouco a pouco, acabaram por se esquecer e conseguiram voltar ao doce conforto do anonimato, com o nosso dinheiro. De qualquer maneira, custa a acreditar que o sr. Costa fizesse pessoalmente e sob sua única responsabilidade afundar o BPN e roubar a quantidade de contribuintes que o banco roubou. Com certeza que o ajudou um considerável número de colegas, com influência financeira e política. E, no entanto, ninguém abre a boca sobre esses beneméritos, que já foram semi-reabilitados e aparecem, como quem não quer a coisa, nos restaurantes de Lisboa e até na sede de um partido.O Estado tem hoje 12.000 processos contra os devedores do BPN e anda em negociações (suponho que amigáveis) com mais 6000. No meio disto, o sr. Costa é um colaborador ou simplesmente um bode expiatório, destinado a proteger os seus cúmplices e a esgravatar por aqui e por ali uns tostões para o governo? Mas, mais grave do que tudo o resto, porque misteriosa razão, cinco anos depois do "escândalo BPN", os tribunais não o puseram ainda no banco dos réus, com o bando de cúmplices que o serviu? Por medo de revelações que não convêm ao regime ou parte dele? Por dificuldades jurídicas? Por mero excesso de papelada? Nós somos de facto um povo muito manso.’______¹ Pode considerar-se subsumido nesta imensa mole mansa o próprio VPV, que escreve um artigo sobre o BPN, conseguindo omitir o nome do PSD, substituído pela expressão “um partido”, e não fazer alusão ao Presidente da República?


• Vasco Pulido Valente, A nossa mansidão [hoje no Público]: ‘Esta semana, um tribunal resolveu notificar o sr. José Oliveira Costa para o julgamento de um novo "caso" do sr. Duarte Lima. Para grande espanto do tribunal e da generalidade dos portugueses, o sr. Costa tinha desaparecido. Passaram uns dias. A sra. ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, declarou em público que achava "muito estranha" a dificuldade de encontrar um indivíduo com "uma pulseira electrónica" no tornozelo (ou no pulso). A sra. ministra ignorava que o sr. Costa já não usava qualquer "pulseira", que só estava sujeito à mais branda das "medidas de coacção" (o "termo de identidade e residência"), que se podia livremente ausentar durante cinco dias, quando bem quisesse e lhe apetecesse e, pior ainda, que pedira um passaporte ao SEF, que também não percebeu nada da trapalhada em curso. O sr. Costa acusado da fantástica fraude do Banco Português de Negócios é hoje a única personagem dessa santa façanha, de que a lei, a televisão e os jornais se continuam a ocupar. Ao princípio, uma dúzia de notabilidades pareciam implicadas no assunto. Mas, depois, pouco a pouco, acabaram por se esquecer e conseguiram voltar ao doce conforto do anonimato, com o nosso dinheiro. De qualquer maneira, custa a acreditar que o sr. Costa fizesse pessoalmente e sob sua única responsabilidade afundar o BPN e roubar a quantidade de contribuintes que o banco roubou. Com certeza que o ajudou um considerável número de colegas, com influência financeira e política. E, no entanto, ninguém abre a boca sobre esses beneméritos, que já foram semi-reabilitados e aparecem, como quem não quer a coisa, nos restaurantes de Lisboa e até na sede de um partido.O Estado tem hoje 12.000 processos contra os devedores do BPN e anda em negociações (suponho que amigáveis) com mais 6000. No meio disto, o sr. Costa é um colaborador ou simplesmente um bode expiatório, destinado a proteger os seus cúmplices e a esgravatar por aqui e por ali uns tostões para o governo? Mas, mais grave do que tudo o resto, porque misteriosa razão, cinco anos depois do "escândalo BPN", os tribunais não o puseram ainda no banco dos réus, com o bando de cúmplices que o serviu? Por medo de revelações que não convêm ao regime ou parte dele? Por dificuldades jurídicas? Por mero excesso de papelada? Nós somos de facto um povo muito manso.’______¹ Pode considerar-se subsumido nesta imensa mole mansa o próprio VPV, que escreve um artigo sobre o BPN, conseguindo omitir o nome do PSD, substituído pela expressão “um partido”, e não fazer alusão ao Presidente da República?

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