“Nós não somos miseravelmente enxovalhadas, somos espancadas e mortas”

15-09-2019
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Já passava das 19h00 quando milhares de pessoas que nesta sexta-feira se concentraram em Lisboa pelos valores feministas, arrancaram uma marcha ruidosa ao som de bombos e tambores e com promessas de mudar o mundo. Foi ao cair da noite que milhares iniciaram o desfile entre o Terreiro do Paço e o Rossio, em defesa de que hoje e os dias que se seguirem sejam novos para os direitos das mulheres. No Dia Internacional da Mulher, que hoje se assinala em todo o mundo, pediu-se o fim da violência contra as mulheres, sobretudo a violência doméstica, que continua a pontuar as estatísticas no país com femicídios. Direitos iguais e efetiva justiça para as mulheres violentadas e discriminadas marcaram as mensagens nos cartazes e palavras de ordem, em que o juiz Neto de Moura foi figura de destaque e alvo constante de apupos e críticas por causa dos seus acórdãos polémicos em casos de violência doméstica. Num cartaz exibido pela delegação do Bloco de Esquerda, liderado pela coordenadora, Catarina Martins, lia-se: "Não queremos flores, queremos justiça e o juiz Neto de Moura fora dela".

Antonio Pedro FERREIRA

Momentos antes do arranque, o Terreiro do Paço silenciou-se em homenagem às vítimas de violência. A marcha começou depois ruidosa, com a organização, da Rede 8 de Março, a gritar aos microfones, em cima de uma carrinha de caixa de aberta, "deixa passar, deixa passar, sou femininista e o mundo eu vou mudar". A ativista brasileira Marielle Franco, assassinada em março do ano passado, foi também lembrada na manifestação com uma enorme faixa evocativa de uma placa toponímica com o seu nome. O cortejo saiu do Terreiro do Paço, num trajeto que contornou a praça do Município, seguindo para a rua do Ouro e depois em direção ao Rossio onde termina. O primeiro-ministro, António Costa, acompanhado pela mulher, Fernanda Tadeu, a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e a cabeça de lista do partido às eleições europeias, Marisa Matias, acompanhadas de um conjunto de deputados e dirigentes bloquistas, assim como o deputado do PAN, André Silva, e outros membros do Governo, como a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, marcaram presença na concentração. A Greve Feminista, uma organização da Rede 8 de Março, um coletivo de organizações feministas, está hoje por todo o país, em Albufeira, Aveiro, Braga, Chaves, Coimbra, Lisboa, Porto, Viseu, Amarante, Vila Real, Évora, Fundão, Covilhã e São Miguel, nos Açores, entre manifestações e uma greve social. Segundo a Rede 8 de Março, a greve feminista internacional divide-se entre greve ao trabalho laboral, greve ao trabalho doméstico, greve estudantil e greve ao consumo, e pretende alertar para o quotidiano das mulheres e perceber as várias discriminações de que são alvo, procurando uma solução global.

Antonio Pedro FERREIRA

“Nem gueixa, nem criada”, afirmaram as mulheres no Porto Largas centenas de pessoas de todas as idades e várias nacionalidades concentraram-se também no Porto, para alertar para os números recentes sobre violência doméstica. "Nem gueixa, nem criada", "Nem deusa, nem boneca" ou "Processa-me Neto de Moura" - eram algumas das frases que se podiam ler nos cartazes e faixas espalhadas pela Praça dos Poveiros uns no chão e outros empenhados ao alto. Já Helena Ferreira escolheu a frase: "Nós não somos miseravelmente enxovalhadas, somos espancadas e mortas". E, à agência Lusa, explicou porquê, apontando o dedo a uma justiça que diz ser "machista". "Sentimo-nos terrivelmente tristes porque este ano já morreram 15 mulheres, três no último dia. O que está a acontecer é que estamos a ser mortas. Devíamos estar todas na rua. Os números que temos este ano equiparam-se a um Brasil que tem uma taxa de mortalidade de mulheres terrível. O mundo feminista não é só para as mulheres, é para a sociedade em geral", sublinhou. Ao lado - e enquanto se ouvia com a cadência de um bombo e de pandeiretas, bem como de gaitas de foles, "A nossa luta é todo o dia. Somos mulheres e não mercadoria" - Leilane Menezes, brasileira em Portugal há um par de meses, também explicava o porquê de ter decidido sair à rua em dia de greve feminista. "Temos de mostrar a força das mulheres, a força de mudança, a força de transformação da sociedade. Não ficamos caladas. Não fomos criadas para aceitar o abuso e a cultura machista. Queremos que isso mude e vamos lutar com as próprias mãos para que isso aconteça", referiu à Lusa.

José Coelho/Lusa

A concentração nos Poveiros juntou várias associações, desde grupos ligados ao movimento feminista a instituições que lutam contra a violência doméstica. Na capa de um folheto entregue por membros da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, associação ligada aos direitos das mulheres criada em 1976, lê-se "Se as mulheres param, o mundo para". Já no interior leem-se reivindicações. "Queremos viver sem violência e acabar com os assassinatos de mulheres. Queremos uma justiça não sexista e misógina que pare de atuar constantemente em defesa e desculpabilização dos agressores e na culpabilização das mulheres. Reclamamos espaços livres de assédio quer seja no trabalho, no espaço público ou dentro das nossas próprias casas", são algumas das mensagens. Patrícia Martins, da Coletiva, plataforma criada em 2016 com o objetivo de juntar ativistas feministas, descreveu à Lusa como surgiu a ideia de fazer uma concentração no Porto no Dia Internacional da Mulher, lembrando que esta cidade acolheu há um ano um encontro de mulheres que aconteceu precisamente quando estava a decorrer em Espanha uma greve feminista.

José Coelho/Lusa

Já passava das 19h00 quando milhares de pessoas que nesta sexta-feira se concentraram em Lisboa pelos valores feministas, arrancaram uma marcha ruidosa ao som de bombos e tambores e com promessas de mudar o mundo. Foi ao cair da noite que milhares iniciaram o desfile entre o Terreiro do Paço e o Rossio, em defesa de que hoje e os dias que se seguirem sejam novos para os direitos das mulheres. No Dia Internacional da Mulher, que hoje se assinala em todo o mundo, pediu-se o fim da violência contra as mulheres, sobretudo a violência doméstica, que continua a pontuar as estatísticas no país com femicídios. Direitos iguais e efetiva justiça para as mulheres violentadas e discriminadas marcaram as mensagens nos cartazes e palavras de ordem, em que o juiz Neto de Moura foi figura de destaque e alvo constante de apupos e críticas por causa dos seus acórdãos polémicos em casos de violência doméstica. Num cartaz exibido pela delegação do Bloco de Esquerda, liderado pela coordenadora, Catarina Martins, lia-se: "Não queremos flores, queremos justiça e o juiz Neto de Moura fora dela".

Antonio Pedro FERREIRA

Momentos antes do arranque, o Terreiro do Paço silenciou-se em homenagem às vítimas de violência. A marcha começou depois ruidosa, com a organização, da Rede 8 de Março, a gritar aos microfones, em cima de uma carrinha de caixa de aberta, "deixa passar, deixa passar, sou femininista e o mundo eu vou mudar". A ativista brasileira Marielle Franco, assassinada em março do ano passado, foi também lembrada na manifestação com uma enorme faixa evocativa de uma placa toponímica com o seu nome. O cortejo saiu do Terreiro do Paço, num trajeto que contornou a praça do Município, seguindo para a rua do Ouro e depois em direção ao Rossio onde termina. O primeiro-ministro, António Costa, acompanhado pela mulher, Fernanda Tadeu, a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e a cabeça de lista do partido às eleições europeias, Marisa Matias, acompanhadas de um conjunto de deputados e dirigentes bloquistas, assim como o deputado do PAN, André Silva, e outros membros do Governo, como a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, marcaram presença na concentração. A Greve Feminista, uma organização da Rede 8 de Março, um coletivo de organizações feministas, está hoje por todo o país, em Albufeira, Aveiro, Braga, Chaves, Coimbra, Lisboa, Porto, Viseu, Amarante, Vila Real, Évora, Fundão, Covilhã e São Miguel, nos Açores, entre manifestações e uma greve social. Segundo a Rede 8 de Março, a greve feminista internacional divide-se entre greve ao trabalho laboral, greve ao trabalho doméstico, greve estudantil e greve ao consumo, e pretende alertar para o quotidiano das mulheres e perceber as várias discriminações de que são alvo, procurando uma solução global.

Antonio Pedro FERREIRA

“Nem gueixa, nem criada”, afirmaram as mulheres no Porto Largas centenas de pessoas de todas as idades e várias nacionalidades concentraram-se também no Porto, para alertar para os números recentes sobre violência doméstica. "Nem gueixa, nem criada", "Nem deusa, nem boneca" ou "Processa-me Neto de Moura" - eram algumas das frases que se podiam ler nos cartazes e faixas espalhadas pela Praça dos Poveiros uns no chão e outros empenhados ao alto. Já Helena Ferreira escolheu a frase: "Nós não somos miseravelmente enxovalhadas, somos espancadas e mortas". E, à agência Lusa, explicou porquê, apontando o dedo a uma justiça que diz ser "machista". "Sentimo-nos terrivelmente tristes porque este ano já morreram 15 mulheres, três no último dia. O que está a acontecer é que estamos a ser mortas. Devíamos estar todas na rua. Os números que temos este ano equiparam-se a um Brasil que tem uma taxa de mortalidade de mulheres terrível. O mundo feminista não é só para as mulheres, é para a sociedade em geral", sublinhou. Ao lado - e enquanto se ouvia com a cadência de um bombo e de pandeiretas, bem como de gaitas de foles, "A nossa luta é todo o dia. Somos mulheres e não mercadoria" - Leilane Menezes, brasileira em Portugal há um par de meses, também explicava o porquê de ter decidido sair à rua em dia de greve feminista. "Temos de mostrar a força das mulheres, a força de mudança, a força de transformação da sociedade. Não ficamos caladas. Não fomos criadas para aceitar o abuso e a cultura machista. Queremos que isso mude e vamos lutar com as próprias mãos para que isso aconteça", referiu à Lusa.

José Coelho/Lusa

A concentração nos Poveiros juntou várias associações, desde grupos ligados ao movimento feminista a instituições que lutam contra a violência doméstica. Na capa de um folheto entregue por membros da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, associação ligada aos direitos das mulheres criada em 1976, lê-se "Se as mulheres param, o mundo para". Já no interior leem-se reivindicações. "Queremos viver sem violência e acabar com os assassinatos de mulheres. Queremos uma justiça não sexista e misógina que pare de atuar constantemente em defesa e desculpabilização dos agressores e na culpabilização das mulheres. Reclamamos espaços livres de assédio quer seja no trabalho, no espaço público ou dentro das nossas próprias casas", são algumas das mensagens. Patrícia Martins, da Coletiva, plataforma criada em 2016 com o objetivo de juntar ativistas feministas, descreveu à Lusa como surgiu a ideia de fazer uma concentração no Porto no Dia Internacional da Mulher, lembrando que esta cidade acolheu há um ano um encontro de mulheres que aconteceu precisamente quando estava a decorrer em Espanha uma greve feminista.

José Coelho/Lusa

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