Por que motivo os grandes investimentos portugueses na Argentina terão de esperar até 2018

09-07-2017
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Portugal quer investir e a Argentina quer os investimentos portugueses, mas faltam negociações e acordos que devem adiar os planos até 2018. O objetivo português é “chegar primeiro para começar primeiro”, segundo o primeiro-ministro, António Costa, em relação à concorrência de outros países.

“Há três acordos que são absolutamente essenciais para que este relacionamento entre Portugal e Argentina, do ponto de vista económico, possa subir de intensidade”, admite ao Expresso o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que os enumera: “O acordo aéreo, o acordo que evita a dupla tributação (porque ninguém está disponível para investir na Argentina ou porque em Portugal se tem de pagar duas vezes ao fisco pelo mesmo rendimento) e o acordo de cooperação económica que protege os investimentos".

Portugal tenta o acordo para evitar a dupla tributação há mais de dez anos. Segundo uma fonte argentina que participou das reuniões bilaterais em Buenos Aires, a Argentina mostra resistência em assinar o acordo porque a presença de empresas argentinas em Portugal é mínima. “Eu posso dizer, pelo lado de Portugal, que estamos prontos para assinar qualquer um desses acordos no mais curto espaço de tempo possível. Temos todo o interesse em concluir esses acordos”, define o ministro Santos Silva.

O Governo argentino lançou um programa de investimentos em infra-estruturas rodoviárias, em infra-estruturas dos transportes e mobilidade e em energia. As empresas portuguesas de construção civil e de obras públicas, de energia e de tratamento de resíduos manifestaram interesse em diferentes concursos a partir do segundo semestre.

“Penso que os investidores portugueses estão a olhar mais para o acordo do Mercosul com a União Europeia que abre enormes oportunidades. É para isso que temos de olhar”, aponta ao Expresso o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.

O primeiro-ministro, António Costa, classifica o atual momento como “decisivo”. “No momento em que as negociações entre a União Europeia e o Mercosul têm uma data ambiciosa marcada para o final do ano, este é o melhor momento para trabalharmos, porque quem começa a trabalhar primeiro, chega primeiro com os melhores resultados”, indica.

As negociações entre o Mercosul e a União Europeia avançam nos três eixos previstos pelo acordo: o comercial, o diálogo político e a cooperação. Existe uma meta para fechar o acordo politicamente no final deste ano, mas o capítulo comercial que envolve os investimentos só deve ser concluído em 2018.

Com a chegada do presidente Mauricio Macri ao poder em dezembro de 2015, o Governo português identifica na nova fase argentina um clima propício para os negócios. O escritório da AICEP em Buenos Aires, fechado em 2011, acaba de ser reinaugurado. Como explica ao Expresso o presidente da AICEP, Luis Castro Henriques, são três os pilares para se apostar num país: o potencial do mercado local, a viabilidade de se operar no país e a apetência das empresas portuguesas, uma indicação de que a Argentina está no radar dos investimentos portugueses. “Agora vamos conseguir fazer um acompanhamento muito mais próximo e divulgar isso às empresas portuguesas”, diz Castro Henriques.

Nos próximos três meses, Portugal enviará a Buenos Aires um novo embaixador com o desafio de subir o nível de intensidade económica entre Argentina e Portugal. João Ribeiro de Almeida deixa a Colômbia para realizar na Argentina o elogiado trabalho de Diplomacia Económica que aproximou política e economicamente a Colômbia de Portugal nos últimos anos. “Entendemos que o relacionamento económico entre Portugal e a Argentina está abaixo do nível que deveria estar”, observa o ministro Santos Silva. “Não temos uma relação que esteja ao nível do nosso afeto”, interpreta o próprio presidente Mauricio Macri.

Desafio político

Mas é o próprio presidente argentino quem precisa passar por um teste eleitoral crucial para atrair os prometidos investimentos. Em outubro, o Parlamento argentino será parcialmente renovado. As eleições legislativas serão como um plebiscito que vai definir a sorte de Macri, que admitiu que “uma derrota seria um fracasso”. Sem maioria parlamentar, a força política do Governo terá de vir das urnas para encarar as reformas necessárias no país.

“Se Macri ganhar, a percepção será de que será reeleito em 2019, com um Governo total de oito anos. Se Macri perder, a percepção será de um Governo que termina em 2019. O resultado eleitoral desenha um horizonte e esse horizonte define os investimentos”, explica o renomado analista político Rosendo Fraga.

Os embaixadores na Argentina do Japão, Itália, Espanha, França e Alemanha indicaram recentemente que as eleições de outubro são cruciais para a estabilidade política do país. Os empresários olham para 22 de outubro como a data a partir da qual os projetos podem tornar-se investimentos.

“Essa expectativa será concretizada quando o Governo ganhar as eleições como se prevê”, afirma ao Expresso o embaixador argentino em Lisboa, Oscar Moscariello, refletindo as tendências das sondagens.

Apostas portuguesas

A portuguesa Bluepharma quer exportar tecnologia e conhecimento aos argentinos para o fabrico de medicamentos. Uma vez produzidos, esses medicamentos podem usar a rede da companhia para exportarem a 40 países pelo mundo.

“Por um lado, vendemos tecnologia de ponta; por outro lado, oferecemos os nossos canais para vender fora. Acho que estou no lugar certo para fazer negócios”, explica ao Expresso Paulo Barradas Rebelo, presidente da Bluepharma, que acompanhou a delegação de 21 empresários portugueses nas visitas do primeiro-ministro à Argentina e ao Chile.

“Estamos a retomar a Argentina agora. Com este novo Governo, estamos focados em atacar a área de transportes ferroviários e a área ambiental (tratamento de resíduos e de águas). Estamos a falar de 20.000 milhões de dólares nos próximos dois anos, segundo o programa de investimentos do governo”, conta ao Expresso Francisco Sabino, diretor de desenvolvimento de negócios da EFACEC.

Em 2015, a EFACEC fechou a sua fábrica na Argentina, argumentando “questões estratégicas”. “Se conseguirmos um projeto de dimensão na área ferroviária ou na ambiental que implique construção, obviamente vamos ter de repensar o nosso posicionamento aqui, concluiu Sabino.

Portugal quer investir e a Argentina quer os investimentos portugueses, mas faltam negociações e acordos que devem adiar os planos até 2018. O objetivo português é “chegar primeiro para começar primeiro”, segundo o primeiro-ministro, António Costa, em relação à concorrência de outros países.

“Há três acordos que são absolutamente essenciais para que este relacionamento entre Portugal e Argentina, do ponto de vista económico, possa subir de intensidade”, admite ao Expresso o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que os enumera: “O acordo aéreo, o acordo que evita a dupla tributação (porque ninguém está disponível para investir na Argentina ou porque em Portugal se tem de pagar duas vezes ao fisco pelo mesmo rendimento) e o acordo de cooperação económica que protege os investimentos".

Portugal tenta o acordo para evitar a dupla tributação há mais de dez anos. Segundo uma fonte argentina que participou das reuniões bilaterais em Buenos Aires, a Argentina mostra resistência em assinar o acordo porque a presença de empresas argentinas em Portugal é mínima. “Eu posso dizer, pelo lado de Portugal, que estamos prontos para assinar qualquer um desses acordos no mais curto espaço de tempo possível. Temos todo o interesse em concluir esses acordos”, define o ministro Santos Silva.

O Governo argentino lançou um programa de investimentos em infra-estruturas rodoviárias, em infra-estruturas dos transportes e mobilidade e em energia. As empresas portuguesas de construção civil e de obras públicas, de energia e de tratamento de resíduos manifestaram interesse em diferentes concursos a partir do segundo semestre.

“Penso que os investidores portugueses estão a olhar mais para o acordo do Mercosul com a União Europeia que abre enormes oportunidades. É para isso que temos de olhar”, aponta ao Expresso o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.

O primeiro-ministro, António Costa, classifica o atual momento como “decisivo”. “No momento em que as negociações entre a União Europeia e o Mercosul têm uma data ambiciosa marcada para o final do ano, este é o melhor momento para trabalharmos, porque quem começa a trabalhar primeiro, chega primeiro com os melhores resultados”, indica.

As negociações entre o Mercosul e a União Europeia avançam nos três eixos previstos pelo acordo: o comercial, o diálogo político e a cooperação. Existe uma meta para fechar o acordo politicamente no final deste ano, mas o capítulo comercial que envolve os investimentos só deve ser concluído em 2018.

Com a chegada do presidente Mauricio Macri ao poder em dezembro de 2015, o Governo português identifica na nova fase argentina um clima propício para os negócios. O escritório da AICEP em Buenos Aires, fechado em 2011, acaba de ser reinaugurado. Como explica ao Expresso o presidente da AICEP, Luis Castro Henriques, são três os pilares para se apostar num país: o potencial do mercado local, a viabilidade de se operar no país e a apetência das empresas portuguesas, uma indicação de que a Argentina está no radar dos investimentos portugueses. “Agora vamos conseguir fazer um acompanhamento muito mais próximo e divulgar isso às empresas portuguesas”, diz Castro Henriques.

Nos próximos três meses, Portugal enviará a Buenos Aires um novo embaixador com o desafio de subir o nível de intensidade económica entre Argentina e Portugal. João Ribeiro de Almeida deixa a Colômbia para realizar na Argentina o elogiado trabalho de Diplomacia Económica que aproximou política e economicamente a Colômbia de Portugal nos últimos anos. “Entendemos que o relacionamento económico entre Portugal e a Argentina está abaixo do nível que deveria estar”, observa o ministro Santos Silva. “Não temos uma relação que esteja ao nível do nosso afeto”, interpreta o próprio presidente Mauricio Macri.

Desafio político

Mas é o próprio presidente argentino quem precisa passar por um teste eleitoral crucial para atrair os prometidos investimentos. Em outubro, o Parlamento argentino será parcialmente renovado. As eleições legislativas serão como um plebiscito que vai definir a sorte de Macri, que admitiu que “uma derrota seria um fracasso”. Sem maioria parlamentar, a força política do Governo terá de vir das urnas para encarar as reformas necessárias no país.

“Se Macri ganhar, a percepção será de que será reeleito em 2019, com um Governo total de oito anos. Se Macri perder, a percepção será de um Governo que termina em 2019. O resultado eleitoral desenha um horizonte e esse horizonte define os investimentos”, explica o renomado analista político Rosendo Fraga.

Os embaixadores na Argentina do Japão, Itália, Espanha, França e Alemanha indicaram recentemente que as eleições de outubro são cruciais para a estabilidade política do país. Os empresários olham para 22 de outubro como a data a partir da qual os projetos podem tornar-se investimentos.

“Essa expectativa será concretizada quando o Governo ganhar as eleições como se prevê”, afirma ao Expresso o embaixador argentino em Lisboa, Oscar Moscariello, refletindo as tendências das sondagens.

Apostas portuguesas

A portuguesa Bluepharma quer exportar tecnologia e conhecimento aos argentinos para o fabrico de medicamentos. Uma vez produzidos, esses medicamentos podem usar a rede da companhia para exportarem a 40 países pelo mundo.

“Por um lado, vendemos tecnologia de ponta; por outro lado, oferecemos os nossos canais para vender fora. Acho que estou no lugar certo para fazer negócios”, explica ao Expresso Paulo Barradas Rebelo, presidente da Bluepharma, que acompanhou a delegação de 21 empresários portugueses nas visitas do primeiro-ministro à Argentina e ao Chile.

“Estamos a retomar a Argentina agora. Com este novo Governo, estamos focados em atacar a área de transportes ferroviários e a área ambiental (tratamento de resíduos e de águas). Estamos a falar de 20.000 milhões de dólares nos próximos dois anos, segundo o programa de investimentos do governo”, conta ao Expresso Francisco Sabino, diretor de desenvolvimento de negócios da EFACEC.

Em 2015, a EFACEC fechou a sua fábrica na Argentina, argumentando “questões estratégicas”. “Se conseguirmos um projeto de dimensão na área ferroviária ou na ambiental que implique construção, obviamente vamos ter de repensar o nosso posicionamento aqui, concluiu Sabino.

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