Marcelo foi à Grande Muralha dizer que as muralhas passaram à história

27-04-2019
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Nos milhões de fotografias que são tiradas todos os dias na Muralha da China, muitas são feitas ao pé de um monumento de pedra onde está inscrito um pensamento de Mao Tse Tung (o Presidente Mao, como se lhe referem os chineses): "Não serás um grande herói enquanto não estiveres na Grande Muralha."

Em querendo, Marcelo Rebelo de Sousa já se pode considerar um herói. Esteve esta sexta-feira na Grande Muralha, poucas horas depois de ter aterrado em Pequim para uma visita que se estenderá a Xangai e Macau, e se prolongará até a próxima quarta-feira.

Inspirado pelo cenário, que considerou "impressionante em tudo" - "em dimensão, em significado, em História, em símbolo geoestratégico" -, Marcelo fez uso da sua proverbial capacidade de aproveitar tudo para croquetes e, a partir da muralha, lançou-se numa metáfora sobre economia, política e geoestratégia global nos tempos que correm. "É uma muralha defensiva, não é uma muralha ofensiva, o grande desafio dos tempos de hoje, que são de multilateralismo, é ultrapassar as muralhas todas".

(O enquadramento desta viagem presidencial ajuda a perceber onde Marcelo queria chegar: o chefe de Estado estará amanhã a representar Portugal no segundo Fórum da Belt and Road Iniciative, o projeto de Pequim para uma nova Rota da China capaz de conectar, com base em investimento chinês, Ásia, Europa e África, tanto por ligações terrestres como marítimas. Tudo isto, recorde-se, em pleno braço-de-ferro comercial entre EUA e China, e perante reservas das UE em relação aos riscos que possam colocar-se com uma presença maior dos investidores chineses em sectores estratégicos de alguns Estados-membros.)

Voltemos à Muralha, e à reflexão de Marcelo, feita do alto de uma das torres que protegiam a China da ameaça dos invasores mongóis. "O espírito de hoje não é de muralhas, é de abertura, colaboração, construção conjunta" - para todos, "incluindo a China", frisou. "Mas é bom que percebamos o que foram os tempos em que houve muralhas, e como as muralhas foram muito úteis mas depois a história ultrapassou o papel que desempenharam e deixaram de ser úteis."

Mais investimento e mais proximidade política

Tudo isto para chegar ao futuro das relações entre Portugal e a China - que é aquilo de que Marcelo tratará nesta viagem, em que está acompanhado do número dois do Governo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do ministro do Ambiente, Matos Fernandes. No futuro, diz Marcelo, "pode-se ir muito mais longe do que aquilo que se foi [até agora]".

Sobretudo do ponto de vista do investimento chinês em Portugal, defende o PR. "Há um crescimento, que esperamos que seja muito mais acentuado, do ponto de vista do relacionamento económico e financeiro", diz Marcelo, especificando que seria importante a existência de "mais investimento no terreno". E explicou o que queria dizer, noutra paragem do passeio pela Muralha: "Preferiríamos a instalação de empresas, o investimento no terreno, e não o investimento financeiro ou a compra de empresas ou de posições nas empresas."

Quanto ao relacionamento político, Marcelo considera que nesta viagem se vai concretizar "um salto qualitativo", com Portugal a entrar no clube "selecto" dos países que mantêm cimeiras bilaterais anuais com a China.

"Um relacionamento político ao nível de países como a França, o Reino Unido e os EUA, implicando encontros anuais entre os primeiros-ministros dos dois Estados", explicou o Presidente português. "Isto é muito significativo, significa que a China reconhece um papel cimeiro a Portugal, quer no quadro da UE quer no relacionamento com países de língua portuguesa."

Santos Silva levou a política nacional para a China

Marcelo não se limitou a estar na Muralha: galgou-a em passos largos e firmes, mesmo em subidas mais íngremes, com a vantagem de aquele sector não estar repleto de turistas, por ter sido fechado para a visita presidencial, e a vantagem adicional de ter apanhado uma bela manhã de primavera, solarenga, de temperatura amena e sem chuva.

À cautela, e porque os anteriores presidentes portugueses que lá estiveram apanharam sempre chuva, Marcelo contou que estava com sapatos de sola antiderrapante. Foi a deixa para Augusto Santos Silva lançar uma provocação: "O pior é a descida. Sobretudo o Governo, para não cair. Dá sempre azo a interpretações... Espero que o Presidente não empurre. Vai à frente a proteger."

Marcelo, que estava com o chip para política externa, demorou a reagir, porque "o Presidente na China só pensa na China". Mas Santos Silva não perdeu pela demora. "Quem pode empurrar o Governo só pode ser o povo, para cima ou para baixo. Em ano de eleições não é o Presidente", retorquiu o chefe de Estado.

A picardia não ficou por aí. Sem deixar cair a bola, Marcelo elogiou "a inteligência, agudeza de espírito e sentido de oportunidade [de Santos Silva] para falar do Governo português mesmo na Muralha da China. Não descansa, é o que eu estou a ver. Sempre pensei que o MNE estava por natureza mais distante dessa realidade. Mas não, até aqui o senhor ministro não esquece a campanha eleitoral em curso".

Toda a gente se riu muito e o passeio prosseguiu.

Nos milhões de fotografias que são tiradas todos os dias na Muralha da China, muitas são feitas ao pé de um monumento de pedra onde está inscrito um pensamento de Mao Tse Tung (o Presidente Mao, como se lhe referem os chineses): "Não serás um grande herói enquanto não estiveres na Grande Muralha."

Em querendo, Marcelo Rebelo de Sousa já se pode considerar um herói. Esteve esta sexta-feira na Grande Muralha, poucas horas depois de ter aterrado em Pequim para uma visita que se estenderá a Xangai e Macau, e se prolongará até a próxima quarta-feira.

Inspirado pelo cenário, que considerou "impressionante em tudo" - "em dimensão, em significado, em História, em símbolo geoestratégico" -, Marcelo fez uso da sua proverbial capacidade de aproveitar tudo para croquetes e, a partir da muralha, lançou-se numa metáfora sobre economia, política e geoestratégia global nos tempos que correm. "É uma muralha defensiva, não é uma muralha ofensiva, o grande desafio dos tempos de hoje, que são de multilateralismo, é ultrapassar as muralhas todas".

(O enquadramento desta viagem presidencial ajuda a perceber onde Marcelo queria chegar: o chefe de Estado estará amanhã a representar Portugal no segundo Fórum da Belt and Road Iniciative, o projeto de Pequim para uma nova Rota da China capaz de conectar, com base em investimento chinês, Ásia, Europa e África, tanto por ligações terrestres como marítimas. Tudo isto, recorde-se, em pleno braço-de-ferro comercial entre EUA e China, e perante reservas das UE em relação aos riscos que possam colocar-se com uma presença maior dos investidores chineses em sectores estratégicos de alguns Estados-membros.)

Voltemos à Muralha, e à reflexão de Marcelo, feita do alto de uma das torres que protegiam a China da ameaça dos invasores mongóis. "O espírito de hoje não é de muralhas, é de abertura, colaboração, construção conjunta" - para todos, "incluindo a China", frisou. "Mas é bom que percebamos o que foram os tempos em que houve muralhas, e como as muralhas foram muito úteis mas depois a história ultrapassou o papel que desempenharam e deixaram de ser úteis."

Mais investimento e mais proximidade política

Tudo isto para chegar ao futuro das relações entre Portugal e a China - que é aquilo de que Marcelo tratará nesta viagem, em que está acompanhado do número dois do Governo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do ministro do Ambiente, Matos Fernandes. No futuro, diz Marcelo, "pode-se ir muito mais longe do que aquilo que se foi [até agora]".

Sobretudo do ponto de vista do investimento chinês em Portugal, defende o PR. "Há um crescimento, que esperamos que seja muito mais acentuado, do ponto de vista do relacionamento económico e financeiro", diz Marcelo, especificando que seria importante a existência de "mais investimento no terreno". E explicou o que queria dizer, noutra paragem do passeio pela Muralha: "Preferiríamos a instalação de empresas, o investimento no terreno, e não o investimento financeiro ou a compra de empresas ou de posições nas empresas."

Quanto ao relacionamento político, Marcelo considera que nesta viagem se vai concretizar "um salto qualitativo", com Portugal a entrar no clube "selecto" dos países que mantêm cimeiras bilaterais anuais com a China.

"Um relacionamento político ao nível de países como a França, o Reino Unido e os EUA, implicando encontros anuais entre os primeiros-ministros dos dois Estados", explicou o Presidente português. "Isto é muito significativo, significa que a China reconhece um papel cimeiro a Portugal, quer no quadro da UE quer no relacionamento com países de língua portuguesa."

Santos Silva levou a política nacional para a China

Marcelo não se limitou a estar na Muralha: galgou-a em passos largos e firmes, mesmo em subidas mais íngremes, com a vantagem de aquele sector não estar repleto de turistas, por ter sido fechado para a visita presidencial, e a vantagem adicional de ter apanhado uma bela manhã de primavera, solarenga, de temperatura amena e sem chuva.

À cautela, e porque os anteriores presidentes portugueses que lá estiveram apanharam sempre chuva, Marcelo contou que estava com sapatos de sola antiderrapante. Foi a deixa para Augusto Santos Silva lançar uma provocação: "O pior é a descida. Sobretudo o Governo, para não cair. Dá sempre azo a interpretações... Espero que o Presidente não empurre. Vai à frente a proteger."

Marcelo, que estava com o chip para política externa, demorou a reagir, porque "o Presidente na China só pensa na China". Mas Santos Silva não perdeu pela demora. "Quem pode empurrar o Governo só pode ser o povo, para cima ou para baixo. Em ano de eleições não é o Presidente", retorquiu o chefe de Estado.

A picardia não ficou por aí. Sem deixar cair a bola, Marcelo elogiou "a inteligência, agudeza de espírito e sentido de oportunidade [de Santos Silva] para falar do Governo português mesmo na Muralha da China. Não descansa, é o que eu estou a ver. Sempre pensei que o MNE estava por natureza mais distante dessa realidade. Mas não, até aqui o senhor ministro não esquece a campanha eleitoral em curso".

Toda a gente se riu muito e o passeio prosseguiu.

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