Oito chaves para ler as europeias (e pesar as vitórias e derrotas)

24-07-2019
marcar artigo

1. A direita está (ainda sob resgate) O PSD nunca tinha tido tão poucos votos, se fizermos as contas a qualquer eleição nacional em que se tenha apresentado sozinho. Conseguiu apenas 723.222, que comparam com os 1.046.918 de 1994 (o pior antes em europeias).

O CDS nunca tinha tido tão poucos votos em eleições europeias, também, comparando os seus 203.718 deste domingo com os 283.067 de 1999 (sendo que aí, apesar de tudo, tinha tido 8,2% dos eleitores ao seu lado). Contando todas as eleições nacionais, é o seu pior resultado desde 1991 - quem se lembra ainda do partido do táxi?

Rui Rio e Assunção Cristas tentam segurar-se a um muito ligeiro aumento de votos face às europeias de 2014. É realmente muito ligeiro, mais 20 mil se considerados juntos. Mas esses resultados vinham de um quadro político incomparável: naquele ano, PSD e CDS estavam no Governo, ainda com a troika por cá, no final do programa de austeridade e ainda sem crescimento económico no país. Manuela Ferreira Leite e Paulo Rangel ainda ensaiaram uma saída discursiva: nas últimas europeias, a direita também perdeu e depois acabou por ganhar as legislativas. Pois foi. Mas agora não há ano e meio para recuperar, só meio ano. E o crescimento da economia não vai beneficiar a direita – só Costa e a esquerda.

Já agora, anote isto: no distrito que vai eleger mais deputados, o PSD fica reduzido a 16% dos votos. E no Porto, fica-se pelos 23%. A seguir este caminho, o próximo grupo parlamentar vai ficar mesmo bastante mais curto.

Rui Duarte Silva

2. O PS não descola Não chega a mais dois pontos do que nas últimas europeias (poucochinho). E só mais um ponto do que nas legislativas (poucochinho). Na verdade, a vitória do PS é sobretudo a derrota do PSD (mais 300 mil votos do que o PSD e dez pontos acima deste). Visto em comparação com o histórico das europeias, medido em votos brutos, António Costa consegue celebrar com o terceiro pior resultado da história dos socialistas. Logo depois de 2014 e de 1994. Para um impulso para as legislativas é curto. Sobretudo tendo em conta os ventos favoráveis da economia – e os índices de popularidade que tem o seu Governo.

Uma conclusão possível – e não muito auspiciosa – é que os socialistas não conseguem ganhar votos nem ao centro, nem à esquerda. Assim, não há maioria com certeza.

TIAGO MIRANDA

3. A esquerda jamais será vencida. Mas desunida? A maior diferença destas europeias para as anteriores (2014) está na troca de posições entre PCP e BE – com o Bloco a recuperar e os comunistas a perder quase 200 mil votos. A passagem para quarto lugar (a 100 mil de distância dos bloquistas), assim como o pior resultado da história das europeias para o PCP (depois de queda semelhante nas autárquicas) deixa uma dúvida no ar: o apoio comunista à “geringonça” pode degradar-se?

A verdade é que, tirando isso, o equilíbrio de forças à esquerda está como estava em 2014. Juntos, estes partidos fazem 50% dos votos, pouco acima dos 48,7% das europeias de 2014.

Quanto ao Bloco, atenção: este é um bom resultado, 9,81% face aos 4,56% anteriores. Mas os 322.879 votos ficam a quase 60 mil do seu melhor resultado europeu, registado em 2009. Traduzindo: esta vitória não traduz uma ameaça ao PS, muito longe disso. Só consolida o partido como terceira maior força política nacional (em legislativas e europeias, agora).

Ana Baião

4. PSD ganhou, pelo menos, na Madeira Voltando à direita, os resultados deste domingo permitem ao PSD perspetivar pelo menos uma vitória no caminho: na Madeira, onde virão a caminho as eleições regionais marcadas para setembro. Se os resultados seguirem o que se viu hoje, os sociais-democratas liderados por Miguel Albuquerque continuam bem mais fortes no arquipélago do que o PS: conseguiram quase 37 mil votos, mais de 10 mil acima do PS. É um pequeno alento antes das legislativas (e uma ilha no todo nacional, visto que o PSD só ganhou mais Vila Real).

HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

5. O PAN ganhou (ainda) mais força do que parece Vista à lupa, a eleição do primeiro eurodeputado do PAN parece coisa pouca: teve apenas 5,08% dos votos, traduzidos em 168.358 cruzes nos boletins. Parece realmente pouco, se tivermos em conta que os únicos dois partidos pequenos que tinham sido eleitos para Bruxelas haviam conseguido mais: o MPT de Marinho e Pinto 234.603 em 2014, o PRD 250.158 no longínquo ano de 1987.

Mas… é bom lembrar que o PAN, quando conseguiu eleger André Silva para o Parlamento Nacional, só teve 75 mil votos. Agora fez 167 mil. Isto em eleições legislativas, onde a participação eleitoral é muito superior. Se compararmos com as europeias, o PAN mais do que triplicou os resultados. E foi muito mais forte nos concelhos mais populosos dos distritos de Lisboa e Porto, perspetivando a potencial eleição de bastantes mais deputados em Outubro. Definitivamente, o PAN entrou no clube dos partidos que contam.

Joao Girao

6. O sistema político não abanou Contas feitas, os seis partidos com representação parlamentar conseguem receber 83% dos votos dos portugueses. E os cinco maiores contam 78,23% - dois pontos e meio acima, aliás, do registado há cinco anos. Quer isto dizer, na prática, que ao contrário que se vê na maioria da Europa, o sistema político e partidário em Portugal continua resistente às mudanças (apesar do longo período de crise e estagnação que o país vive, em rigor, desde o início do milénio).

Mesmo os muitos novos partidos que apareceram nos últimos meses (ou anos), não conseguem sequer aparecer no radar dos resultados finais (à exceção do PAN, mesmo assim com apenas 5%). O Aliança de Santana só tira 1,87% dos votos à direita; o Livre não passa os 1,87%; o Basta de André Ventura nem isso: 1,49%. Portanto, é com diz o ditado: tudo como dantes, no Quartel General de Abrantes.

Joao Girao

7. A lei que deu voto aos emigrantes foi um fracasso O Governo fez uma grande festa quando conseguiu fazer passar, no Parlamento, a lei que deu recenseamento automático a mais de um milhão de emigrantes. Pois bem, anote o resultado: estavam inscritos 1.431.825 portugueses lá fora. E votaram… 12.136. Total: 1%. A abstenção, pois claro, subiu com isso. Alguma coisa é capaz de ter corrido mal, portanto.

TIAGO MIRANDA

8. Votaram quase os mesmos. Na Europa foi bem diferente Em 2014 tinham votado 3.283.610 eleitores, nas europeias. Agora, votaram poucos mais: 3.298.308. A abstenção, como já expliquei, subiu: é agora de 68,6%, comparável aos 66,16% de 2014.

1. A direita está (ainda sob resgate) O PSD nunca tinha tido tão poucos votos, se fizermos as contas a qualquer eleição nacional em que se tenha apresentado sozinho. Conseguiu apenas 723.222, que comparam com os 1.046.918 de 1994 (o pior antes em europeias).

O CDS nunca tinha tido tão poucos votos em eleições europeias, também, comparando os seus 203.718 deste domingo com os 283.067 de 1999 (sendo que aí, apesar de tudo, tinha tido 8,2% dos eleitores ao seu lado). Contando todas as eleições nacionais, é o seu pior resultado desde 1991 - quem se lembra ainda do partido do táxi?

Rui Rio e Assunção Cristas tentam segurar-se a um muito ligeiro aumento de votos face às europeias de 2014. É realmente muito ligeiro, mais 20 mil se considerados juntos. Mas esses resultados vinham de um quadro político incomparável: naquele ano, PSD e CDS estavam no Governo, ainda com a troika por cá, no final do programa de austeridade e ainda sem crescimento económico no país. Manuela Ferreira Leite e Paulo Rangel ainda ensaiaram uma saída discursiva: nas últimas europeias, a direita também perdeu e depois acabou por ganhar as legislativas. Pois foi. Mas agora não há ano e meio para recuperar, só meio ano. E o crescimento da economia não vai beneficiar a direita – só Costa e a esquerda.

Já agora, anote isto: no distrito que vai eleger mais deputados, o PSD fica reduzido a 16% dos votos. E no Porto, fica-se pelos 23%. A seguir este caminho, o próximo grupo parlamentar vai ficar mesmo bastante mais curto.

Rui Duarte Silva

2. O PS não descola Não chega a mais dois pontos do que nas últimas europeias (poucochinho). E só mais um ponto do que nas legislativas (poucochinho). Na verdade, a vitória do PS é sobretudo a derrota do PSD (mais 300 mil votos do que o PSD e dez pontos acima deste). Visto em comparação com o histórico das europeias, medido em votos brutos, António Costa consegue celebrar com o terceiro pior resultado da história dos socialistas. Logo depois de 2014 e de 1994. Para um impulso para as legislativas é curto. Sobretudo tendo em conta os ventos favoráveis da economia – e os índices de popularidade que tem o seu Governo.

Uma conclusão possível – e não muito auspiciosa – é que os socialistas não conseguem ganhar votos nem ao centro, nem à esquerda. Assim, não há maioria com certeza.

TIAGO MIRANDA

3. A esquerda jamais será vencida. Mas desunida? A maior diferença destas europeias para as anteriores (2014) está na troca de posições entre PCP e BE – com o Bloco a recuperar e os comunistas a perder quase 200 mil votos. A passagem para quarto lugar (a 100 mil de distância dos bloquistas), assim como o pior resultado da história das europeias para o PCP (depois de queda semelhante nas autárquicas) deixa uma dúvida no ar: o apoio comunista à “geringonça” pode degradar-se?

A verdade é que, tirando isso, o equilíbrio de forças à esquerda está como estava em 2014. Juntos, estes partidos fazem 50% dos votos, pouco acima dos 48,7% das europeias de 2014.

Quanto ao Bloco, atenção: este é um bom resultado, 9,81% face aos 4,56% anteriores. Mas os 322.879 votos ficam a quase 60 mil do seu melhor resultado europeu, registado em 2009. Traduzindo: esta vitória não traduz uma ameaça ao PS, muito longe disso. Só consolida o partido como terceira maior força política nacional (em legislativas e europeias, agora).

Ana Baião

4. PSD ganhou, pelo menos, na Madeira Voltando à direita, os resultados deste domingo permitem ao PSD perspetivar pelo menos uma vitória no caminho: na Madeira, onde virão a caminho as eleições regionais marcadas para setembro. Se os resultados seguirem o que se viu hoje, os sociais-democratas liderados por Miguel Albuquerque continuam bem mais fortes no arquipélago do que o PS: conseguiram quase 37 mil votos, mais de 10 mil acima do PS. É um pequeno alento antes das legislativas (e uma ilha no todo nacional, visto que o PSD só ganhou mais Vila Real).

HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

5. O PAN ganhou (ainda) mais força do que parece Vista à lupa, a eleição do primeiro eurodeputado do PAN parece coisa pouca: teve apenas 5,08% dos votos, traduzidos em 168.358 cruzes nos boletins. Parece realmente pouco, se tivermos em conta que os únicos dois partidos pequenos que tinham sido eleitos para Bruxelas haviam conseguido mais: o MPT de Marinho e Pinto 234.603 em 2014, o PRD 250.158 no longínquo ano de 1987.

Mas… é bom lembrar que o PAN, quando conseguiu eleger André Silva para o Parlamento Nacional, só teve 75 mil votos. Agora fez 167 mil. Isto em eleições legislativas, onde a participação eleitoral é muito superior. Se compararmos com as europeias, o PAN mais do que triplicou os resultados. E foi muito mais forte nos concelhos mais populosos dos distritos de Lisboa e Porto, perspetivando a potencial eleição de bastantes mais deputados em Outubro. Definitivamente, o PAN entrou no clube dos partidos que contam.

Joao Girao

6. O sistema político não abanou Contas feitas, os seis partidos com representação parlamentar conseguem receber 83% dos votos dos portugueses. E os cinco maiores contam 78,23% - dois pontos e meio acima, aliás, do registado há cinco anos. Quer isto dizer, na prática, que ao contrário que se vê na maioria da Europa, o sistema político e partidário em Portugal continua resistente às mudanças (apesar do longo período de crise e estagnação que o país vive, em rigor, desde o início do milénio).

Mesmo os muitos novos partidos que apareceram nos últimos meses (ou anos), não conseguem sequer aparecer no radar dos resultados finais (à exceção do PAN, mesmo assim com apenas 5%). O Aliança de Santana só tira 1,87% dos votos à direita; o Livre não passa os 1,87%; o Basta de André Ventura nem isso: 1,49%. Portanto, é com diz o ditado: tudo como dantes, no Quartel General de Abrantes.

Joao Girao

7. A lei que deu voto aos emigrantes foi um fracasso O Governo fez uma grande festa quando conseguiu fazer passar, no Parlamento, a lei que deu recenseamento automático a mais de um milhão de emigrantes. Pois bem, anote o resultado: estavam inscritos 1.431.825 portugueses lá fora. E votaram… 12.136. Total: 1%. A abstenção, pois claro, subiu com isso. Alguma coisa é capaz de ter corrido mal, portanto.

TIAGO MIRANDA

8. Votaram quase os mesmos. Na Europa foi bem diferente Em 2014 tinham votado 3.283.610 eleitores, nas europeias. Agora, votaram poucos mais: 3.298.308. A abstenção, como já expliquei, subiu: é agora de 68,6%, comparável aos 66,16% de 2014.

marcar artigo