Insónia: A FESTA

10-09-2019
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Tiago Barbosa Ribeiro sugere que os seus leitores escrevam sobre «a vergonhosa reincidência das FARC na Festa do Avante». Sobre o mesmo assunto, o ano passado, escrevi o que me valeu indiferença, à excepção de uma breve reprimenda de leitor amigo. Este ano conto uma história. Marquei presença na Festa do Avante, se bem me lembro, duas vezes. Na última delas lembro-me de uma cena curiosa, que se passou durante a actuação dos Xutos & Pontapés. Durante o concerto, se bem me lembro, o vocalista da banda fez o seguinte comentário apontando para o pavilhão do MPLA: «Cada crachá comprado ali servirá para comprar balas que matam pessoas». Cito isto de memória, pelo que as palavras não terão sido bem estas mas o efeito foi o mesmo. O Tim, vocalista dos Xutos & Pontapés, tinha, provavelmente, toda a razão, assim como terão razão as pessoas que não fazem férias em Cuba, na China ou noutro país qualquer que seja governado por ditaduras desumanas. Às vezes questiono-me se essas mesmas pessoas não adquirirão produtos nas lojas dos chineses, mas isso é a velha história da hipocrisia nacional. Assim como é a velha história da hipocrisia nacional não levantar a voz contra as traficâncias, ditas boas oportunidades de negócio, que os países ditos democráticos vão fazendo com essas escabrosas ditaduras. O que sei é que, em país democrático, o PCP está no direito de convidar quem quer que seja para uma festa que é sua e os cidadãos estão no direito de não ir a essa festa. Cada um tem os amigos que quer. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Eu deixei de ir à Festa do Avante, votei no PCP, se estou recordado, uma única vez (para a Junta de Freguesia), não compro produtos made in China, nunca passei férias em Cuba, etc, etc, etc. Mas às vezes interrogo-me se não deveria ter-me separado da minha mulher quando, recentemente, ela adquiriu um Ford. A Ford, como sabeis, é uma multinacional americana. Comprar um carro destes, seguindo o raciocínio do Tim, pode bem ser uma forma de patrocinar a guerra no Iraque, que nos deu, em tempos mais recentes, pérolas do respeito pelos direitos humanos como Abu Ghraib e Guantánamo. Enfim, dúvidas, paradoxos e contradições com os quais temos de aprender a sobreviver.Ler também: Morte aos assassinos. E a sequela Morte aos assassinos (2). Em absoluta concordância com o Sérgio Lavos, abstenho-me de desenvolver o tema.

Tiago Barbosa Ribeiro sugere que os seus leitores escrevam sobre «a vergonhosa reincidência das FARC na Festa do Avante». Sobre o mesmo assunto, o ano passado, escrevi o que me valeu indiferença, à excepção de uma breve reprimenda de leitor amigo. Este ano conto uma história. Marquei presença na Festa do Avante, se bem me lembro, duas vezes. Na última delas lembro-me de uma cena curiosa, que se passou durante a actuação dos Xutos & Pontapés. Durante o concerto, se bem me lembro, o vocalista da banda fez o seguinte comentário apontando para o pavilhão do MPLA: «Cada crachá comprado ali servirá para comprar balas que matam pessoas». Cito isto de memória, pelo que as palavras não terão sido bem estas mas o efeito foi o mesmo. O Tim, vocalista dos Xutos & Pontapés, tinha, provavelmente, toda a razão, assim como terão razão as pessoas que não fazem férias em Cuba, na China ou noutro país qualquer que seja governado por ditaduras desumanas. Às vezes questiono-me se essas mesmas pessoas não adquirirão produtos nas lojas dos chineses, mas isso é a velha história da hipocrisia nacional. Assim como é a velha história da hipocrisia nacional não levantar a voz contra as traficâncias, ditas boas oportunidades de negócio, que os países ditos democráticos vão fazendo com essas escabrosas ditaduras. O que sei é que, em país democrático, o PCP está no direito de convidar quem quer que seja para uma festa que é sua e os cidadãos estão no direito de não ir a essa festa. Cada um tem os amigos que quer. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Eu deixei de ir à Festa do Avante, votei no PCP, se estou recordado, uma única vez (para a Junta de Freguesia), não compro produtos made in China, nunca passei férias em Cuba, etc, etc, etc. Mas às vezes interrogo-me se não deveria ter-me separado da minha mulher quando, recentemente, ela adquiriu um Ford. A Ford, como sabeis, é uma multinacional americana. Comprar um carro destes, seguindo o raciocínio do Tim, pode bem ser uma forma de patrocinar a guerra no Iraque, que nos deu, em tempos mais recentes, pérolas do respeito pelos direitos humanos como Abu Ghraib e Guantánamo. Enfim, dúvidas, paradoxos e contradições com os quais temos de aprender a sobreviver.Ler também: Morte aos assassinos. E a sequela Morte aos assassinos (2). Em absoluta concordância com o Sérgio Lavos, abstenho-me de desenvolver o tema.

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