Costa convida Rio a “voltar à campanha eleitoral”

28-09-2019
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Antes de arrancar a arruada do PS na Rua de Santa Catarina, a dúvida era se Tiago Barbosa Ribeiro, que por estes dias é o deputado mais falado do PS, seria visto na tradicional ação de campanha dos socialistas. Barbosa Ribeiro é deputado e recandidato por este círculo e saltou para as notícias por causa dos SMS que trocou com Azeredo Lopes no dia em que foi “encontrado” o material roubado em Tancos - foi a ele que o então ministro da Defesa confessou que já sabia da operação antes de acontecer.

Como isto não é um policial, acaba-se já o mistério: não, o oitavo da lista de candidatos do PS pelo Porto não apareceu na mais importante iniciativa de campanha no distrito. Oficialmente, estava à mesma hora a representar o PS na manifestação pelo clima. Estranhamente, quando essa manifestação desceu a Rua de Santa Catarina, logo a seguir ao fim da arruada do PS, o Expresso não o viu lá. E procurou muito bem…

Resolvido este assunto, vamos à arruada. Começando pelo fim: quase no final do trajeto, António Costa fez uma breve paragem para fazer declarações aos jornalistas. Sabia que lhe iam perguntar sobre Tancos e queria responder sobre Tancos. Para manter a pressão sobre Rui Rio, nada mais do que isso.

Sobre Tancos, “já disse tudo o que tinha a dizer há vários meses, quando respondi a todas as perguntas que os deputados me quiseram fazer na comissão parlamentar de inquérito, e já disse tudo o que tinha a dizer a Rui Rio ontem”.

Mas, afinal, Costa tinha mais qualquer coisinha a dizer: “Já conhecemos a acusação, agora é tempo de ouvir a defesa e os tribunais decidirem. É assim que se respeita o Estado de Direito. Agora é o tempo da justiça. O tempo da política é o tempo de dizer aos portugueses o que é que cada um pretende fazer nos próximos quatro anos. É nisso que devemos continuar focados nesta campanha eleitoral e assim cada um faz o seu trabalho. (...) Como na minha vida de jurista não optei pela magistratura, não me compete a mim fazer julgamentos”.

E faltava mais uma farpa, esta diretamente para o líder do PSD, com quem Costa quer continuar mano-a-mano: “Convido o dr. Rui Rio a voltar à campanha eleitoral, respondendo aos portugueses o que é que ele pretende fazer nos próximos quatro anos”.

Ainda houve tempo para perguntar a Costa se também acha que a acusação do Ministério Público é política, como diz o ex-ministro da Defesa, mas o líder socialista desviou-se da questão - “Isso são tudo matérias que agora os tribunais vão ter de decidir.”

tiago miranda

Entusiasmo e confusão

Agora, sim, a arruada. Foi uma hora para percorrer meia Rua de Santa Catarina, entre bastante gente e muitos empurrões. Costa, no meio, era ladeado pela mulher e por Rosa Mota, com guarda de honra feita por Alexandre Quintanilha, cabeça de lista pelo Porto, e Carlos César, o líder parlamentar. Havia bombos à frente, concertina atrás e pelo meio muita gente a esforçar-se mesmo a sério para conseguir chegar a Costa, para lhe tocar, beijar, trocar umas palavras ou tirar uma selfie. O empenho que alguns cidadãos puseram para conseguir chegar a Costa é digno de registo.

Houve muitos gritos de incentivo, mas também quem furasse a multidão para apresentar queixas. Quando a arruada ultrapassou a confusão total dos primeiros metros, que pareceram um exercício de esmagamento coletivo, Costa teve vagar para ouvir as pessoas e dar-lhes respostas. Era a mulher “cancerosa” que se queixava de só receber €300 de pensão ao fim de 40 anos de trabalho; a funcionária pública que achava que “não está certo” receber ao fim de “30 e tal anos” o mesmo que recebem os colegas que estão agora a entrar; a mãe de filhos que perguntava a Costa se “vivia com €143 por mês”, sem subsídios para as crianças e “sem uma casa da Câmara”. Depois de falarem com o primeiro-ministro, todas essas pessoas se mostravam satisfeitas e algumas até agitavam bandeiras do PS e batiam palmas ao partido.

Quem não aplaudiu o PS foi um grupo de lesados do papel comercial do BES, que esperava a arruada com apitos, palavras de ordem e muita raiva. “Mentirosos” era o adjetivo mais suave que gritavam aos socialistas. Pedro Pardal Henriques, o advogado que ficou famoso a representar os camionistas de matérias perigosas e agora é candidato nas listas do PDR, estava com o grupo, com cara de quem estava só de passagem e ficou para ver. Aproveitou a boleia para dizer aos jornalistas que está “solidário com todos os lesados”...

A arruada acabou em clima de euforia, com António Costa em cima de um palanque improvisado, de microfone na mão, como Mário Soares fazia nas campanhas à antiga. Costa pediu “mobilização a 100%” na próxima semana para “dar mais força ao PS para mais quatro anos com mais crescimento, mais emprego, maior igualdade, sempre com contas certas”. Eis um final de discurso - “contas certas” - que nunca ocorreria a Mário Soares.

Antes de arrancar a arruada do PS na Rua de Santa Catarina, a dúvida era se Tiago Barbosa Ribeiro, que por estes dias é o deputado mais falado do PS, seria visto na tradicional ação de campanha dos socialistas. Barbosa Ribeiro é deputado e recandidato por este círculo e saltou para as notícias por causa dos SMS que trocou com Azeredo Lopes no dia em que foi “encontrado” o material roubado em Tancos - foi a ele que o então ministro da Defesa confessou que já sabia da operação antes de acontecer.

Como isto não é um policial, acaba-se já o mistério: não, o oitavo da lista de candidatos do PS pelo Porto não apareceu na mais importante iniciativa de campanha no distrito. Oficialmente, estava à mesma hora a representar o PS na manifestação pelo clima. Estranhamente, quando essa manifestação desceu a Rua de Santa Catarina, logo a seguir ao fim da arruada do PS, o Expresso não o viu lá. E procurou muito bem…

Resolvido este assunto, vamos à arruada. Começando pelo fim: quase no final do trajeto, António Costa fez uma breve paragem para fazer declarações aos jornalistas. Sabia que lhe iam perguntar sobre Tancos e queria responder sobre Tancos. Para manter a pressão sobre Rui Rio, nada mais do que isso.

Sobre Tancos, “já disse tudo o que tinha a dizer há vários meses, quando respondi a todas as perguntas que os deputados me quiseram fazer na comissão parlamentar de inquérito, e já disse tudo o que tinha a dizer a Rui Rio ontem”.

Mas, afinal, Costa tinha mais qualquer coisinha a dizer: “Já conhecemos a acusação, agora é tempo de ouvir a defesa e os tribunais decidirem. É assim que se respeita o Estado de Direito. Agora é o tempo da justiça. O tempo da política é o tempo de dizer aos portugueses o que é que cada um pretende fazer nos próximos quatro anos. É nisso que devemos continuar focados nesta campanha eleitoral e assim cada um faz o seu trabalho. (...) Como na minha vida de jurista não optei pela magistratura, não me compete a mim fazer julgamentos”.

E faltava mais uma farpa, esta diretamente para o líder do PSD, com quem Costa quer continuar mano-a-mano: “Convido o dr. Rui Rio a voltar à campanha eleitoral, respondendo aos portugueses o que é que ele pretende fazer nos próximos quatro anos”.

Ainda houve tempo para perguntar a Costa se também acha que a acusação do Ministério Público é política, como diz o ex-ministro da Defesa, mas o líder socialista desviou-se da questão - “Isso são tudo matérias que agora os tribunais vão ter de decidir.”

tiago miranda

Entusiasmo e confusão

Agora, sim, a arruada. Foi uma hora para percorrer meia Rua de Santa Catarina, entre bastante gente e muitos empurrões. Costa, no meio, era ladeado pela mulher e por Rosa Mota, com guarda de honra feita por Alexandre Quintanilha, cabeça de lista pelo Porto, e Carlos César, o líder parlamentar. Havia bombos à frente, concertina atrás e pelo meio muita gente a esforçar-se mesmo a sério para conseguir chegar a Costa, para lhe tocar, beijar, trocar umas palavras ou tirar uma selfie. O empenho que alguns cidadãos puseram para conseguir chegar a Costa é digno de registo.

Houve muitos gritos de incentivo, mas também quem furasse a multidão para apresentar queixas. Quando a arruada ultrapassou a confusão total dos primeiros metros, que pareceram um exercício de esmagamento coletivo, Costa teve vagar para ouvir as pessoas e dar-lhes respostas. Era a mulher “cancerosa” que se queixava de só receber €300 de pensão ao fim de 40 anos de trabalho; a funcionária pública que achava que “não está certo” receber ao fim de “30 e tal anos” o mesmo que recebem os colegas que estão agora a entrar; a mãe de filhos que perguntava a Costa se “vivia com €143 por mês”, sem subsídios para as crianças e “sem uma casa da Câmara”. Depois de falarem com o primeiro-ministro, todas essas pessoas se mostravam satisfeitas e algumas até agitavam bandeiras do PS e batiam palmas ao partido.

Quem não aplaudiu o PS foi um grupo de lesados do papel comercial do BES, que esperava a arruada com apitos, palavras de ordem e muita raiva. “Mentirosos” era o adjetivo mais suave que gritavam aos socialistas. Pedro Pardal Henriques, o advogado que ficou famoso a representar os camionistas de matérias perigosas e agora é candidato nas listas do PDR, estava com o grupo, com cara de quem estava só de passagem e ficou para ver. Aproveitou a boleia para dizer aos jornalistas que está “solidário com todos os lesados”...

A arruada acabou em clima de euforia, com António Costa em cima de um palanque improvisado, de microfone na mão, como Mário Soares fazia nas campanhas à antiga. Costa pediu “mobilização a 100%” na próxima semana para “dar mais força ao PS para mais quatro anos com mais crescimento, mais emprego, maior igualdade, sempre com contas certas”. Eis um final de discurso - “contas certas” - que nunca ocorreria a Mário Soares.

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