​“Ainda somos alguns”. Nos escombros do incêndio do outono passado

05-02-2019
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Conseguia viver numa aldeia com menos de dez habitantes? E se essa aldeia tivesse sido devastada pelos incêndios? E se sentisse que todos se esqueceram de si? E se só chegasse à porta de sua casa de jipe? Ou se não tivesse telefone ou redes disponíveis?

Perto de meia centena de pessoas perdeu a vida nos incêndios que deflagraram no dia 15 de outubro de 2017. Um ano depois visitámos três dos concelhos mais afetados. Seia, Santa Comba Dão e Vouzela. Mas procurámos as localidades que, quase apagadas pelo fogo, se mantém com habitantes, os resilientes, que apesar de incêndios cíclicos, resistem nas aldeias mais isoladas. Piedade Lourenço, 71 anos, cega, teve que obedecer às ordens do neto, se queria continuar viva. “Já vou buscar ao meu quarto, o rádio. É ou não é verdade que durmo com ele? No domingo, dia 15 de outubro de 2017, fui-me deitar e acordei às 23h00 porque a Rádio Renascença, que é a minha companhia à noite, dizia que era um incêndio muito forte e que ia alastrar e eu levantei-me e fui à rua e a minha aflição eram as cabras. Mas o meu neto apareceu e disse que já não podia ir buscar as cabras”, recorda com angústia. Esta habitante de Ansara conta que os animais sobreviveram, mas perdeu muitas propriedades de pinhal. “Foi muito triste, tinha pelo menos seis propriedades, dois palheiros de pasto, fiquei sem nada para os meus animais, para hoje receber cinco mil euros pelo que se queimou, ficámos muito mal”, lamenta. Muitos agricultores tiveram milhares de euros de prejuízos mas, dadas as exigências burocráticas e financeiras para apresentar um projeto no âmbito do PDR 2020 – com um total de investimento superior a cinco mil euros – sem sequer terem capacidade financeira para o executar e sem a certeza da sua aprovação, várias centenas de agricultores aceitaram a única alternativa: fazerem um pedido simplificado de apoio até cinco mil euros. Em Ansara, uma pequena povoação da freguesia de Ventosa, no concelho de Vouzela, não há mais que meia dúzia de habitantes. Piedade tem a companhia logo ao lado do primo, José Martins, 74 anos. Perdeu quase tudo e hoje continua perdido no meio da burocracia. “Eu fui para o projeto maior, o do Estado, só queria que visse os canastros todos queimados, os currais todos, as arrumações, mas, o problema é que ainda não reconstruí nada, é só pedirem papelada para arranjar, para por aquilo legal, é só papeis, licenças disto e daquilo, devíamos ser ajudados como pudéssemos, mas não é fácil e está cada vez pior, temos que ter licenças dos palheiros e são antigos, não temos números de matriz. Estamos encravados, não sei por onde agarrar na minha vida e arrumações”, confirma à Renascença. “Passado um ano, zero cêntimos para infraestruturas públicas” Quem aqui vive, sente que o dia-a-dia piorou desde os incêndios de outubro. Nos chafarizes públicos não há pinga de água. “Nós não temos água aqui desde os incêndios. Se agora se dá aqui um incêndio, ficamos desgraçados outra vez. Isto ou foi furo ou destruíram os canos”, afirma Piedade, procurando encontrar justificações para uma falta de água que ajudaria na vida diária do campo. Mas foram mesmo os incêndios de outubro que destruíram a tubagem que liga as nascentes aos fontanários, revela o autarca de Vouzela, Rui Ladeira, apressando-se apontar o dedo ao Governo. “O Fundo de Emergência Municipal, em Pedrogão, foi utilizado para tudo o que foi destruído público, ou seja, o Estado colocou recursos para a sinalização, captações de água, houve recursos para isso. Sabe quantos recursos dessa índole vieram para Vouzela e outros concelhos? Zero cêntimos. Passado um ano, zero cêntimos para infraestruturas públicas”, denuncia o presidente da Câmara de Vouzela. O município com 73% de área ardida, 14 mil hectares queimados, 50 primeiras habitações destruídas e oito vítimas mortais, inventariou prejuízos superiores a 4, 8 milhões de euros nas estradas, captações de água, numa escola que ardeu e na sinalização. “As candidaturas abriram há 15 dias, vão estar abertas até ao final do ano, só teremos os recursos, na melhor das hipóteses, no início do ano, portanto as pessoas de Ansara têm razão, porque não recebemos, nem a câmara nem a junta, um cêntimo para recuperar as infraestruturas públicas, mas não temos meios humanos e materiais para resolver todos os problemas, porque a aldeia de Ansara é uma das mais de 100 aldeias que arderam”, assegura. Mas não é só a falta de água nos fontanários públicos que preocupa a população de Ansara. “Não se passa na estrada, está terrível, as valetas, está tudo por limpar, é muito terreno. Estou cansado disto”, admite José Martins. Rui Ladeira volta a olhar para o Governo. “Há arvores que arderam, quer dos privados quer do Estado, e que não foram cortadas, houve a passagem de responsabilidade do Estado para os municípios e privados de limparem as faixas e terrenos, mas e o Estado não faz a sua quota parte?” questiona.

Malhada das Cilhas ainda sem telefone Um ano depois do grande incêndio ainda não há telefone em Malhada das Cilhas. Sem placa sinalizadora que o demonstre, pertence à União das Freguesias de Vide e Cabeça, no concelho de Seia, onde foram destruídas 76 casas de primeira habitação e queimados 18.500 hectares e registo de duas vítimas mortais. Maria Cândida Marques, de 84 anos, tem oito filhos, mas vive sozinha. Gostava de falar com eles por telefone. “Desde os incêndios que não tenho telefone nenhum. As minhas filhas não estão cá. Tenho um telemóvel, mas não sei ligar, também não sei ler nem escrever. Em vindo a noite vou me deitar. Estou aqui sozinha. Só temos três moradores”, embora o presidente da junta tenha referido a existência de pelo menos dez pessoas a viver em Malhada das Cilhas. João Orlindo, o presidente da União das Freguesias de Vide e Cabeça, fala em prejuízos de 500 mil euros na freguesia, só em infraestruturas e equipamentos públicos, como depósitos e rede de água e confirma a ausência de telefone. “O maior problema da freguesia de Vide foi o mau serviço prestado pela a Altice. A Altice não repôs a linha terrestre, os vales são muito encaixados e as alternativas por telemóvel ou radiotelefone não funcionam. A Altice disponibilizou alguns telefones por GSM, mas são extremamente complicados e os idosos não conseguem utilizá-los”, esclarece. E o que fez a Junta para alterar esta situação? “Escreveu a todos os grupos parlamentares e só o deputado socialista Santinho Pacheco nos respondeu, os restantes só acusaram a receção das cartas. Contactámos também a ANACOM que mandou equipas de investigação local, detetaram os problemas, mas não fizeram absolutamente nada”, refere Orlindo. Cândida que tem uma reforma de pouco mais de 300 euros, continua sem telefone e este ano não faz vinho nem azeite. “Foi muito terrível, em 2005 já tinha ardido, mas agora foi 30 vezes pior, arderam-me quatro palheiras, um curral, oliveiras, videiras, não tenho nem uma única videirinha, nada”, revela angustiada. Também o casal que ali tem uma segunda habitação, Mário, 74 anos, e Maria Freire, 73 anos, compraram as uvas para fazer vinho. “Comprámos as uvas porque não temos nada, ardeu tudo. Tínhamos posto oliveiras, videiras, macieiras e ficámos sem nada”, diz Maria Freire que teme pela saúde do marido. “Já estive a bater mal, mas nunca se sabe o futuro”, assume Mário que viu arder a casa que era da sua mãe, mesmo ao lado da sua. O casal compra as uvas e gostava que outros comprassem novas placas sinalizadoras para a povoação de Malhada das Cilhas. “Realmente tanto tempo e ainda não pintaram aquilo nem colocaram as indicações certas e um poste de luz, porque esta casa aqui ao lado, onde estava o poste, ardeu”, contesta Maria Freire, corroborada pelo marido. “Eles vêm cá aqui gastar dinheiro? Estão aqui três pessoas, querem lá saber. Se não tivesse carro com tração às quatro rodas, nem vinha aqui a casa”, sublinha desanimado. O presidente da Junta, João Orlindo, assinala que “o município de Seia está a trabalhar na reposição das placas toponímicas, mas é um trabalho moroso, que tem sofrido alguns atrasos”, mas “que espera em breve resolver”.

“Esquecidos” e sem placa sinalizadora em Santa Comba Dão Quem também espera que o problema da sinalização esteja resolvido em breve, é o autarca de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia. “Estávamos a aguardar e finalmente aconteceu a possibilidade de uma candidatura a fundos do Estado Central, o Fundo de Solidariedade da União Europeia, que vai permitir candidatar tudo aquilo que foram os prejuízos que já estão validados para a CCDR - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, para colocação rápida de toda essa sinalização, num prejuízo que, totaliza em infraestruturas e equipamentos municipais, cerca de 1,3 milhões de euros”, revela. Em Santa Comba Dão, há 85% de área ardida, quase todas as freguesias foram atingidas. Morreram cinco pessoas e um ferido grave ainda está internado, no Porto, no Hospital da Prelada. 140 primeiras habitações foram destruídas. Os incêndios vieram agonizar um concelho que já não gozava de saúde financeira. “A câmara de Santa Comba Dão encontra-se numa situação financeira não muito favorável. Os municípios não estão todos ao mesmo nível do ponto de vista financeiro. Em 2013 quando tomei posse, o município era o 19º mais endividado do país e os incêndios não vieram ajudar”, admite o autarca, Leonel Gouveia. No entanto, a grande preocupação da autarquia é que mesmo as pessoas resilientes, com incêndios cíclicos, abandonem de vez estes territórios. “Os incêndios tiveram consequências nas pessoas, no seu equilíbrio mental, e estamos a acompanhar essa situação com algum cuidado. Mas a grande preocupação é que, algumas terras poderão ficar abandonadas, porque perdendo os seus bens e na idade em que já estão, as pessoas digam que não vale a pena continuar”, observa o autarca, que não está muito longe da verdade do casal septuagenário Maria Helena e Manuel Loureiro da freguesia de Real. “Ainda ali está a parede da casa das farinhas e o depósito da água, o resto que era tudo forrado a esferovite, ardeu tudo, estava tudo automatizado, pagávamos os impostos e sabe Deus com quantas dificuldades fizemos estes pavilhões”, olha para o monte de lixo amontoado, Maria Helena e acrescenta que, “tudo somado ia para mais de 100 mil euros de investimento necessário para reerguer um dos pavilhões do aviário que dirige há mais de 30 anos. “Nesta idade, não me ia meter nisso. Está feito”, conclui.

Conseguia viver numa aldeia com menos de dez habitantes? E se essa aldeia tivesse sido devastada pelos incêndios? E se sentisse que todos se esqueceram de si? E se só chegasse à porta de sua casa de jipe? Ou se não tivesse telefone ou redes disponíveis?

Perto de meia centena de pessoas perdeu a vida nos incêndios que deflagraram no dia 15 de outubro de 2017. Um ano depois visitámos três dos concelhos mais afetados. Seia, Santa Comba Dão e Vouzela. Mas procurámos as localidades que, quase apagadas pelo fogo, se mantém com habitantes, os resilientes, que apesar de incêndios cíclicos, resistem nas aldeias mais isoladas. Piedade Lourenço, 71 anos, cega, teve que obedecer às ordens do neto, se queria continuar viva. “Já vou buscar ao meu quarto, o rádio. É ou não é verdade que durmo com ele? No domingo, dia 15 de outubro de 2017, fui-me deitar e acordei às 23h00 porque a Rádio Renascença, que é a minha companhia à noite, dizia que era um incêndio muito forte e que ia alastrar e eu levantei-me e fui à rua e a minha aflição eram as cabras. Mas o meu neto apareceu e disse que já não podia ir buscar as cabras”, recorda com angústia. Esta habitante de Ansara conta que os animais sobreviveram, mas perdeu muitas propriedades de pinhal. “Foi muito triste, tinha pelo menos seis propriedades, dois palheiros de pasto, fiquei sem nada para os meus animais, para hoje receber cinco mil euros pelo que se queimou, ficámos muito mal”, lamenta. Muitos agricultores tiveram milhares de euros de prejuízos mas, dadas as exigências burocráticas e financeiras para apresentar um projeto no âmbito do PDR 2020 – com um total de investimento superior a cinco mil euros – sem sequer terem capacidade financeira para o executar e sem a certeza da sua aprovação, várias centenas de agricultores aceitaram a única alternativa: fazerem um pedido simplificado de apoio até cinco mil euros. Em Ansara, uma pequena povoação da freguesia de Ventosa, no concelho de Vouzela, não há mais que meia dúzia de habitantes. Piedade tem a companhia logo ao lado do primo, José Martins, 74 anos. Perdeu quase tudo e hoje continua perdido no meio da burocracia. “Eu fui para o projeto maior, o do Estado, só queria que visse os canastros todos queimados, os currais todos, as arrumações, mas, o problema é que ainda não reconstruí nada, é só pedirem papelada para arranjar, para por aquilo legal, é só papeis, licenças disto e daquilo, devíamos ser ajudados como pudéssemos, mas não é fácil e está cada vez pior, temos que ter licenças dos palheiros e são antigos, não temos números de matriz. Estamos encravados, não sei por onde agarrar na minha vida e arrumações”, confirma à Renascença. “Passado um ano, zero cêntimos para infraestruturas públicas” Quem aqui vive, sente que o dia-a-dia piorou desde os incêndios de outubro. Nos chafarizes públicos não há pinga de água. “Nós não temos água aqui desde os incêndios. Se agora se dá aqui um incêndio, ficamos desgraçados outra vez. Isto ou foi furo ou destruíram os canos”, afirma Piedade, procurando encontrar justificações para uma falta de água que ajudaria na vida diária do campo. Mas foram mesmo os incêndios de outubro que destruíram a tubagem que liga as nascentes aos fontanários, revela o autarca de Vouzela, Rui Ladeira, apressando-se apontar o dedo ao Governo. “O Fundo de Emergência Municipal, em Pedrogão, foi utilizado para tudo o que foi destruído público, ou seja, o Estado colocou recursos para a sinalização, captações de água, houve recursos para isso. Sabe quantos recursos dessa índole vieram para Vouzela e outros concelhos? Zero cêntimos. Passado um ano, zero cêntimos para infraestruturas públicas”, denuncia o presidente da Câmara de Vouzela. O município com 73% de área ardida, 14 mil hectares queimados, 50 primeiras habitações destruídas e oito vítimas mortais, inventariou prejuízos superiores a 4, 8 milhões de euros nas estradas, captações de água, numa escola que ardeu e na sinalização. “As candidaturas abriram há 15 dias, vão estar abertas até ao final do ano, só teremos os recursos, na melhor das hipóteses, no início do ano, portanto as pessoas de Ansara têm razão, porque não recebemos, nem a câmara nem a junta, um cêntimo para recuperar as infraestruturas públicas, mas não temos meios humanos e materiais para resolver todos os problemas, porque a aldeia de Ansara é uma das mais de 100 aldeias que arderam”, assegura. Mas não é só a falta de água nos fontanários públicos que preocupa a população de Ansara. “Não se passa na estrada, está terrível, as valetas, está tudo por limpar, é muito terreno. Estou cansado disto”, admite José Martins. Rui Ladeira volta a olhar para o Governo. “Há arvores que arderam, quer dos privados quer do Estado, e que não foram cortadas, houve a passagem de responsabilidade do Estado para os municípios e privados de limparem as faixas e terrenos, mas e o Estado não faz a sua quota parte?” questiona.

Malhada das Cilhas ainda sem telefone Um ano depois do grande incêndio ainda não há telefone em Malhada das Cilhas. Sem placa sinalizadora que o demonstre, pertence à União das Freguesias de Vide e Cabeça, no concelho de Seia, onde foram destruídas 76 casas de primeira habitação e queimados 18.500 hectares e registo de duas vítimas mortais. Maria Cândida Marques, de 84 anos, tem oito filhos, mas vive sozinha. Gostava de falar com eles por telefone. “Desde os incêndios que não tenho telefone nenhum. As minhas filhas não estão cá. Tenho um telemóvel, mas não sei ligar, também não sei ler nem escrever. Em vindo a noite vou me deitar. Estou aqui sozinha. Só temos três moradores”, embora o presidente da junta tenha referido a existência de pelo menos dez pessoas a viver em Malhada das Cilhas. João Orlindo, o presidente da União das Freguesias de Vide e Cabeça, fala em prejuízos de 500 mil euros na freguesia, só em infraestruturas e equipamentos públicos, como depósitos e rede de água e confirma a ausência de telefone. “O maior problema da freguesia de Vide foi o mau serviço prestado pela a Altice. A Altice não repôs a linha terrestre, os vales são muito encaixados e as alternativas por telemóvel ou radiotelefone não funcionam. A Altice disponibilizou alguns telefones por GSM, mas são extremamente complicados e os idosos não conseguem utilizá-los”, esclarece. E o que fez a Junta para alterar esta situação? “Escreveu a todos os grupos parlamentares e só o deputado socialista Santinho Pacheco nos respondeu, os restantes só acusaram a receção das cartas. Contactámos também a ANACOM que mandou equipas de investigação local, detetaram os problemas, mas não fizeram absolutamente nada”, refere Orlindo. Cândida que tem uma reforma de pouco mais de 300 euros, continua sem telefone e este ano não faz vinho nem azeite. “Foi muito terrível, em 2005 já tinha ardido, mas agora foi 30 vezes pior, arderam-me quatro palheiras, um curral, oliveiras, videiras, não tenho nem uma única videirinha, nada”, revela angustiada. Também o casal que ali tem uma segunda habitação, Mário, 74 anos, e Maria Freire, 73 anos, compraram as uvas para fazer vinho. “Comprámos as uvas porque não temos nada, ardeu tudo. Tínhamos posto oliveiras, videiras, macieiras e ficámos sem nada”, diz Maria Freire que teme pela saúde do marido. “Já estive a bater mal, mas nunca se sabe o futuro”, assume Mário que viu arder a casa que era da sua mãe, mesmo ao lado da sua. O casal compra as uvas e gostava que outros comprassem novas placas sinalizadoras para a povoação de Malhada das Cilhas. “Realmente tanto tempo e ainda não pintaram aquilo nem colocaram as indicações certas e um poste de luz, porque esta casa aqui ao lado, onde estava o poste, ardeu”, contesta Maria Freire, corroborada pelo marido. “Eles vêm cá aqui gastar dinheiro? Estão aqui três pessoas, querem lá saber. Se não tivesse carro com tração às quatro rodas, nem vinha aqui a casa”, sublinha desanimado. O presidente da Junta, João Orlindo, assinala que “o município de Seia está a trabalhar na reposição das placas toponímicas, mas é um trabalho moroso, que tem sofrido alguns atrasos”, mas “que espera em breve resolver”.

“Esquecidos” e sem placa sinalizadora em Santa Comba Dão Quem também espera que o problema da sinalização esteja resolvido em breve, é o autarca de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia. “Estávamos a aguardar e finalmente aconteceu a possibilidade de uma candidatura a fundos do Estado Central, o Fundo de Solidariedade da União Europeia, que vai permitir candidatar tudo aquilo que foram os prejuízos que já estão validados para a CCDR - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, para colocação rápida de toda essa sinalização, num prejuízo que, totaliza em infraestruturas e equipamentos municipais, cerca de 1,3 milhões de euros”, revela. Em Santa Comba Dão, há 85% de área ardida, quase todas as freguesias foram atingidas. Morreram cinco pessoas e um ferido grave ainda está internado, no Porto, no Hospital da Prelada. 140 primeiras habitações foram destruídas. Os incêndios vieram agonizar um concelho que já não gozava de saúde financeira. “A câmara de Santa Comba Dão encontra-se numa situação financeira não muito favorável. Os municípios não estão todos ao mesmo nível do ponto de vista financeiro. Em 2013 quando tomei posse, o município era o 19º mais endividado do país e os incêndios não vieram ajudar”, admite o autarca, Leonel Gouveia. No entanto, a grande preocupação da autarquia é que mesmo as pessoas resilientes, com incêndios cíclicos, abandonem de vez estes territórios. “Os incêndios tiveram consequências nas pessoas, no seu equilíbrio mental, e estamos a acompanhar essa situação com algum cuidado. Mas a grande preocupação é que, algumas terras poderão ficar abandonadas, porque perdendo os seus bens e na idade em que já estão, as pessoas digam que não vale a pena continuar”, observa o autarca, que não está muito longe da verdade do casal septuagenário Maria Helena e Manuel Loureiro da freguesia de Real. “Ainda ali está a parede da casa das farinhas e o depósito da água, o resto que era tudo forrado a esferovite, ardeu tudo, estava tudo automatizado, pagávamos os impostos e sabe Deus com quantas dificuldades fizemos estes pavilhões”, olha para o monte de lixo amontoado, Maria Helena e acrescenta que, “tudo somado ia para mais de 100 mil euros de investimento necessário para reerguer um dos pavilhões do aviário que dirige há mais de 30 anos. “Nesta idade, não me ia meter nisso. Está feito”, conclui.

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