Rui Rio lança Rebelo de Sousa para Belém

10-05-2016
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Rui Rio é um militante do PSD muito simpático. Apesar do ar frio e austero, Rio tem um lado solar, marcado pela informalidade e uma disposição engraçada (não diremos boa disposição, porque tal seria manifestamente excessivo). Evidenciou-se na JSD do Porto – curiosamente, estreitando laços com José Pacheco Pereira, o anti-JSD -, mas apenas veio a assumir protagonismo político cimeiro quando exerceu as funções de Secretário-Geral de Marcelo Rebelo de Sousa. E a experiência correu mal: Rui Rio revelou-se pouco competente e muito conflituoso no exercício das suas funções. E rapidamente teve de ser substituído.

Depois, Rui Rio teve o seu momento alto como Presidente da Câmara Municipal do Porto. A história é sobejamente conhecida: Rio foi uma escolha pessoal de José Manuel Barroso (aliás, na altura, ainda era o “Durão Barroso”) para tentar derrubar Fernando Gomes. Rio aparecia como o disciplinador das finanças – enquanto Gomes era o “traidor” da cidade do Porto e despesista nato. Rio beneficiou da ambiguidade de Fernando Gomes e da noite do pântano guterrista – e manteve-se no Porto durante mais de uma década. Com virtudes e defeitos (a cidade ficou mais triste e culturalmente muito mais pobre – é um dado objectivo).

Já aqui escrevemos no SOL que Rui Rio atingiu o pico máximo da sua carreira política ao chegar à presidência da Câmara Municipal do Porto: o seu perfil impede-o de chegar mais longe – e não haverá Primeiro-Ministro que aguente Rui Rio como seu Ministro das Finanças. Rui Rio é intelectualmente pobre e politicamente vazio. Falta-lhe carisma, falta-lhe emoção, falta-lhe humanidade.

A inaptidão política de Rui Rio ficou bem patente na entrevista que o ex-vice-Presidente do PSD no tempo de Manuela Ferreira Leite deu, quarta-feira, à RTP. Se dúvidas existissem quanto à impossibilidade lógica e ontológica de Rui Rio se candidatar à Presidência da República, elas foram totalmente dissipadas. Rio seria um desastre político e institucional em Belém. Senão, vejamos.

Primeiro: Rui Rio confunde “regime político” com “sistema político”. Rio afirma que é preciso mudar o regime político! Então perguntamos: Rio quer uma ditadura? Sim, porque, na ciência política, distinguem-se os regimes democráticos dos regimes ditatoriais. Se Rio quer mudar de regime democrático, então, quer uma regime ditatorial!

Bom, é evidente que Rui Rio, mais uma vez (a insistência no erro será casmurrice pura ou desonestidade intelectual?) se queria referir a sistema político: mudar a forma como os órgãos políticos funcionam e se interrelacionam. Incluindo os tribunais. Pergunto: o Presidente da República, nos termos da Constituição da República Portuguesa, tem poderes para mudar o funcionamento dos tribunais? Ou da Assembleia da República? Parece que o inspirador de Rui Rio passou a ser Alberto João Jardim. Rui Rio, afinal, quer ser um Presidente caudilhista: ele define; o Governo executa as opções políticas fundamentais. Rui Rio tem de assumir, de uma vez por todas, que pretende efectuar um golpe de Estado constitucional. Ou, então, é apenas e só, inábil e incoerente.

Segundo lugar: Rui Rio diz que, caso decida concorrer e seja eleito, irá defender, promovendo debates e o diálogo com entidades locais, a regionalização. E se o Governo, democraticamente eleito pelos portugueses nas próximas legislativas, não quiser a regionalização? E se defender um modelo de descentralização administrativa diferente? Rui Rio vai impor ao Governo o seu programa político pessoal? Em que preceito da Constituição está previsto tal poder do Presidente da República? Perguntamos: Rui Rio, alguma vez na sua vida, leu a Constituição da República Portuguesa?

Em terceiro lugar. Rui Rio deu a entender que poderá candidatar-se a Presidente da República porque se quer opor ao “principado” de Lisboa. Bom, tanto quanto sabemos, Portugal é um Estado Unitário: não tem principados. Lisboa, Porto, Setúbal, Aveiro, Coimbra e todas as demais são magníficas cidades, com pessoas de grande fibra e verdadeiros heróis que têm mantido Portugal ao longo da história e irão permitir que daqui a três séculos ainda se fale em Portugal como uma ilustre Nação – e todas pertencem ao nosso querido Portugal. Só temos uma Pátria e uma Nação.

E compete ao Presidente da República defender e simbolizar a unidade e integridade da República Portuguesa. Como poderá Rui Rio candidatar-se ao órgão que tem como missão essencial a defesa da unidade de Portugal – se admite que uma das suas motivações é “revoltar-se” contra o “principado” de Lisboa? Uma personagem política destas em Belém poderá promover consensos? Poderá ser um poder moderador? Claro que não. Mais um tiro no pé (ou na cabeça) de Rui Rio.

Quarto lugar: Rui Rio prefere um só candidato à direita. Porquê? Veja só, meu caro leitor: porque a subvenção que o Estado paga às diferentes candidaturas é tanto menor quanto maior for a pulverização das candidaturas. Ou seja: se Rui Rio for o único candidato, receberá mais ajuda financeira do Estado! É um argumento delicioso! A dependência face ao Estado, também, do aparente ou escondido (ou hesitante) candidato Rui Rio.

Mais: Rui Rio afirmou algo que passou despercebido, mas que é importantíssimo – “ficarei desconfortável com outras candidaturas do centro-direita”. Ou seja: Rio admitiu que é mais fraco do que qualquer outra candidatura das possíveis do centro-direita, designadamente, mais fraco do que Marcelo Rebelo de Sousa. E que a candidatura de Rebelo de Sousa significará, de acordo com a tese de Rui Rio, a derrota da sua - daí ficar desconfortável. Para além de ficar com menos dinheiro porque o Estado paga menos.

Conclusão: Rui Rio abriu formalmente o caminho para a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. Bem sabemos que a intenção de Rio era diversa: era picar Rebelo de Sousa para este reagir no domingo. No entanto, o tiro saiu-lhe pela culatra: Rio cometeu uma gaffe que, objectivamente, reforça a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.

Podemos, por todas as razões acima aduzidas, concluir que Rui Rio terá de abdicar da corrida a Belém (por falta de condições objectivas e subjectivas) e irá apoiar, com toda a naturalidade, o candidato mais forte do centro-direita para as presidenciais. O qual, atendendo ao sentimento do povo português e às sondagens, dá pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa. É um facto. Não é uma (apenas, nem sobretudo) uma opinião nossa.

Rui Rio é um militante do PSD muito simpático. Apesar do ar frio e austero, Rio tem um lado solar, marcado pela informalidade e uma disposição engraçada (não diremos boa disposição, porque tal seria manifestamente excessivo). Evidenciou-se na JSD do Porto – curiosamente, estreitando laços com José Pacheco Pereira, o anti-JSD -, mas apenas veio a assumir protagonismo político cimeiro quando exerceu as funções de Secretário-Geral de Marcelo Rebelo de Sousa. E a experiência correu mal: Rui Rio revelou-se pouco competente e muito conflituoso no exercício das suas funções. E rapidamente teve de ser substituído.

Depois, Rui Rio teve o seu momento alto como Presidente da Câmara Municipal do Porto. A história é sobejamente conhecida: Rio foi uma escolha pessoal de José Manuel Barroso (aliás, na altura, ainda era o “Durão Barroso”) para tentar derrubar Fernando Gomes. Rio aparecia como o disciplinador das finanças – enquanto Gomes era o “traidor” da cidade do Porto e despesista nato. Rio beneficiou da ambiguidade de Fernando Gomes e da noite do pântano guterrista – e manteve-se no Porto durante mais de uma década. Com virtudes e defeitos (a cidade ficou mais triste e culturalmente muito mais pobre – é um dado objectivo).

Já aqui escrevemos no SOL que Rui Rio atingiu o pico máximo da sua carreira política ao chegar à presidência da Câmara Municipal do Porto: o seu perfil impede-o de chegar mais longe – e não haverá Primeiro-Ministro que aguente Rui Rio como seu Ministro das Finanças. Rui Rio é intelectualmente pobre e politicamente vazio. Falta-lhe carisma, falta-lhe emoção, falta-lhe humanidade.

A inaptidão política de Rui Rio ficou bem patente na entrevista que o ex-vice-Presidente do PSD no tempo de Manuela Ferreira Leite deu, quarta-feira, à RTP. Se dúvidas existissem quanto à impossibilidade lógica e ontológica de Rui Rio se candidatar à Presidência da República, elas foram totalmente dissipadas. Rio seria um desastre político e institucional em Belém. Senão, vejamos.

Primeiro: Rui Rio confunde “regime político” com “sistema político”. Rio afirma que é preciso mudar o regime político! Então perguntamos: Rio quer uma ditadura? Sim, porque, na ciência política, distinguem-se os regimes democráticos dos regimes ditatoriais. Se Rio quer mudar de regime democrático, então, quer uma regime ditatorial!

Bom, é evidente que Rui Rio, mais uma vez (a insistência no erro será casmurrice pura ou desonestidade intelectual?) se queria referir a sistema político: mudar a forma como os órgãos políticos funcionam e se interrelacionam. Incluindo os tribunais. Pergunto: o Presidente da República, nos termos da Constituição da República Portuguesa, tem poderes para mudar o funcionamento dos tribunais? Ou da Assembleia da República? Parece que o inspirador de Rui Rio passou a ser Alberto João Jardim. Rui Rio, afinal, quer ser um Presidente caudilhista: ele define; o Governo executa as opções políticas fundamentais. Rui Rio tem de assumir, de uma vez por todas, que pretende efectuar um golpe de Estado constitucional. Ou, então, é apenas e só, inábil e incoerente.

Segundo lugar: Rui Rio diz que, caso decida concorrer e seja eleito, irá defender, promovendo debates e o diálogo com entidades locais, a regionalização. E se o Governo, democraticamente eleito pelos portugueses nas próximas legislativas, não quiser a regionalização? E se defender um modelo de descentralização administrativa diferente? Rui Rio vai impor ao Governo o seu programa político pessoal? Em que preceito da Constituição está previsto tal poder do Presidente da República? Perguntamos: Rui Rio, alguma vez na sua vida, leu a Constituição da República Portuguesa?

Em terceiro lugar. Rui Rio deu a entender que poderá candidatar-se a Presidente da República porque se quer opor ao “principado” de Lisboa. Bom, tanto quanto sabemos, Portugal é um Estado Unitário: não tem principados. Lisboa, Porto, Setúbal, Aveiro, Coimbra e todas as demais são magníficas cidades, com pessoas de grande fibra e verdadeiros heróis que têm mantido Portugal ao longo da história e irão permitir que daqui a três séculos ainda se fale em Portugal como uma ilustre Nação – e todas pertencem ao nosso querido Portugal. Só temos uma Pátria e uma Nação.

E compete ao Presidente da República defender e simbolizar a unidade e integridade da República Portuguesa. Como poderá Rui Rio candidatar-se ao órgão que tem como missão essencial a defesa da unidade de Portugal – se admite que uma das suas motivações é “revoltar-se” contra o “principado” de Lisboa? Uma personagem política destas em Belém poderá promover consensos? Poderá ser um poder moderador? Claro que não. Mais um tiro no pé (ou na cabeça) de Rui Rio.

Quarto lugar: Rui Rio prefere um só candidato à direita. Porquê? Veja só, meu caro leitor: porque a subvenção que o Estado paga às diferentes candidaturas é tanto menor quanto maior for a pulverização das candidaturas. Ou seja: se Rui Rio for o único candidato, receberá mais ajuda financeira do Estado! É um argumento delicioso! A dependência face ao Estado, também, do aparente ou escondido (ou hesitante) candidato Rui Rio.

Mais: Rui Rio afirmou algo que passou despercebido, mas que é importantíssimo – “ficarei desconfortável com outras candidaturas do centro-direita”. Ou seja: Rio admitiu que é mais fraco do que qualquer outra candidatura das possíveis do centro-direita, designadamente, mais fraco do que Marcelo Rebelo de Sousa. E que a candidatura de Rebelo de Sousa significará, de acordo com a tese de Rui Rio, a derrota da sua - daí ficar desconfortável. Para além de ficar com menos dinheiro porque o Estado paga menos.

Conclusão: Rui Rio abriu formalmente o caminho para a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. Bem sabemos que a intenção de Rio era diversa: era picar Rebelo de Sousa para este reagir no domingo. No entanto, o tiro saiu-lhe pela culatra: Rio cometeu uma gaffe que, objectivamente, reforça a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.

Podemos, por todas as razões acima aduzidas, concluir que Rui Rio terá de abdicar da corrida a Belém (por falta de condições objectivas e subjectivas) e irá apoiar, com toda a naturalidade, o candidato mais forte do centro-direita para as presidenciais. O qual, atendendo ao sentimento do povo português e às sondagens, dá pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa. É um facto. Não é uma (apenas, nem sobretudo) uma opinião nossa.

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