Bê Neviani Blog: ATÉ AS FRUTAS FAZEM MAL‏

12-09-2019
marcar artigo

ATÉ AS FRUTAS FAZEM MAL 

 
Intolerância à frutose causa problemas
intestinais, dores abdominais e até aumento de peso. Além disso, há uma
doença rara, a frutosemia, na qual crianças são as vítimas 

 




Luciane Evans

Estado de Minas: 11/06/2014

Depois de 20 anos em busca de explicações para seu mal-estar, Ricardo Leão descobriu a intolerância a frutas

Sempre
apontadas como grandes aliadas para uma alimentação saudável e
defendidas como supra-sumo para uma dieta equilibrada, as frutas começam
a ser questionadas pela medicina e já são vistas como vilãs para muitos
casos. Isso porque, em algumas pessoas, elas podem acarretar problemas
para o intestino e atrapalhar, inclusive, processos de emagrecimento. A
raiz do problema está na intolerância do organismo à frutose, mal que
nem sempre é detectado com facilidade, e o paciente, que dificilmente
vai suspeitar dos riscos que uma fruta pode oferecer, passa a conviver
com dores abdominais, diarreias e tantos outros sintomas característicos
da intolerância alimentar. O dentista Ricardo Leão, de 58 anos,
levou duas décadas para encontrar esse diagnóstico. Sempre atento com a
própria a alimentação, ele consumia frutas e legumes certo de que
estava fazendo o melhor para a saúde. Mas, há 20 anos, passou a se
sentir muito mal, com cólicas e diarreias. “Fiz exames para intolerância
a glúten e lactose, passei por colonoscopia e até tive um diagnóstico
para síndrome do intestino irritado. Mas isso era subjetivo demais e
nada resolvia. Foi quando uma homeopata desconfiou da frutose”, conta. A
frutose é um monossacarídeo (açúcar simples), que o corpo pode usar
para produzir energia. Ela está presente em muitos alimentos, mas o
principal sãos as frutas e o mel. Segundo explica a
gastroenterologista especialista em doenças funcionais Vera Lúcia Ângelo
Andrade, há no organismo um receptor para a frutose, que se chama Glut
-5, responsável por fazer com que o intestino absorva esse açúcar que
recebe. “É como se fosse uma porta de entrada para ele, porém, com o
passar dos anos, esse receptor pode ser perdido e não funcionar 100%”,
afirma. Foi o que ocorreu com Ricardo, ele já não tinha mais o Glut-5 e,
por isso, seu organismo não absorvia a frutose que consumia. De acordo
com Vera Lúcia, quando o intestino não faz essa absorção, o que
permanece é atacado por bactérias. Ela explica que a frutose é absorvida
pelo intestino e transportada pelo Glut-5 até cair na circulação
sanguínea, quando segue para ser metabolizada no fígado, mas, quando
Glut-5 não funciona, ela permanece no órgão intestinal. “Temos cerca de
1,5 quilo de bactérias em nosso intestino. Quando a frutose não é
processada, essa flora bacteriana se alimenta dela e libera hidrogênio,
que vai sendo absorvido pelo organismo e chegando aos pulmões.”Por
isso, uma das maneiras de diagnosticar a intolerância é por meio do
sopro do paciente. Trata-se de um aparelho que mede a quantidade de
hidrogênio no ar expelido pela boca. “Geralmente, damos frutose ao
paciente e, em seguida, ele sopra o cano do aparelho e detectamos a
quantidade de hidrogênio nos pulmões”, explica Vera. Foi assim que
Ricardo descobriu que tinha a intolerância. “Nunca imaginei que as
frutas me fariam mal. Elas foram proibidas na minha dieta e, atualmente,
só posso consumir limão. Como tive dificuldades de encontrar um
nutricionista que trabalhasse esse assunto, foi preciso sair de Belo
Horizonte e me tratar em São Paulo, por médicos da Universidade de São
Paulo (USP). Lá, eles retiraram toda a fruta da minha alimentação e,
hoje, estou bem melhor, cheguei a perder 12 quilos”, conta. As
frutas com mais frutose são a maçã, a pera e o caqui (veja quadro),
além disso, alimentos industrializados também a contêm. “A frutose é 30%
mais doce do que o açúcar normal. Por isso, é usada pela indústria em
muitos produtos”, afirma Vera. Para a médica, as pessoas que correm mais
riscos com a intolerância são os vegetarianos e veganos, que “acabam
retirando de suas dietas alimentos muito importantes e consumindo mais
frutas”. “Além disso, eles usam o sorbitol (adoçante), o que aumenta
ainda mais a frutose no organismo. E se você tem um excesso de frutose
no intestino, há mais gases e um supercrescimento bacteriano do
intestino delgado, um mal que é tratado somente com antibióticos”,
esclarece a gastroenterologista. Vera Lúcia tem percebido, por estudos
de fora do Brasil e também por sua experiência em consultório que a
intolerância a frutose ocorre, geralmente, próximo aos 40 anos, quando o
Glut-5 começa “a envelhecer”. “Adolescentes não comem frutas, a gente
começa a comê-las depois dos 30. Essa pode ser uma explicação”, sugere. EMAGRECIMENTO
Doutor em medicina bioquímica pela Universidade da Califórnia, em Los
Angeles, e nutricionista, Lupércio Cançado Farah costuma definir a
frutose como “doce vilão”, e diz que a substância, além das frutas, está
também nos legumes. “Esse açúcar, quando não absorvido, provoca uma
inflamação nas células e aumenta a produção de radicais livres, o que
pode causar câncer”, alerta, comentando que muitas pessoas retiram
alimentos da dieta, apostando que comer só frutas pode ser benéfico para
a saúde e isso não adianta para o emagrecimento, podendo até
comprometê-lo. “Sabe quando você malha e aquela barriga não desaparece?
Pode ser que haja aí uma intolerância a frutose”, avisa. O único fruto
apontado pelos especialistas como permitido para uma alimentação
saudável é o abacate, que já foi tido como vilão para o colesterol, mas
hoje é apontado como ideal em uma dieta balanceada. Lupércio diz que o
melhor, no caso da intolerância, é diminuir aos poucos a quantidade de
frutas na alimentação. CRIANÇAS Outra má fama
para as frutas está em uma doença rara ligada à intolerância a frutose.
Trata-se da frutosemia, uma enfermidade hereditária, que geralmente
ocorre nos primeiros anos de vida. Foi assim com Davi Melo, filho da
pediatra baiana Andréa Melo. “Até os três meses e meio, ele só se
alimentava de leite materno. Quando dei a ele o primeiro suco, que foi
de melancia, ele passou mal: vomitou, ficou muito ‘molinho’. Tentei o
suco de carambola, e ele apresentou uma crise convulsiva, provavelmente
por hipoglicemia. Na época, nem imaginávamos que seria por causa da
ingestão de frutas. Ele apresentava vômitos, dor abdominal, diarreia,
assaduras e havia estacionado o seu crescimento”, conta Andréa. Davi
desenvolveu um aumento do fígado, e foi aí que passou por uma bateria
de exames, incluindo biópsia hepática. “Ele estava com um acúmulo de
gordura no fígado e teve alterações das enzimas hepáticas e
triglicerídeos elevadíssimos. A frutosemia foi revelada por meio do
exame genético.” No caso dessa doença, a enzima que metaboliza a frutose
no fígado, a aldolase B, está ausente ou diminuída. “É uma doença
genética”, afirma Andréa, dizendo que o tratamento é dietético e
consiste em uma dieta sem frutose, sacarose e sorbitol, que será adotada
por toda a vida.“Ainda há dificuldade em acharmos informações
em tabelas sobre a quantidade de frutose nos alimentos, o que é de
grande importância para calcular a quantidade mínima que o paciente pode
ingerir em alimentos, como arroz e macarrão. Leite, queijo, ovos,
carnes são completamente livres de frutose. A maioria das referências
usadas é de outros países, e fatores como clima e solo podem interferir
na quantidade de frutose encontrada nos alimentos”, acrescenta a
pediatra.

ATÉ AS FRUTAS FAZEM MAL 

 
Intolerância à frutose causa problemas
intestinais, dores abdominais e até aumento de peso. Além disso, há uma
doença rara, a frutosemia, na qual crianças são as vítimas 

 




Luciane Evans

Estado de Minas: 11/06/2014

Depois de 20 anos em busca de explicações para seu mal-estar, Ricardo Leão descobriu a intolerância a frutas

Sempre
apontadas como grandes aliadas para uma alimentação saudável e
defendidas como supra-sumo para uma dieta equilibrada, as frutas começam
a ser questionadas pela medicina e já são vistas como vilãs para muitos
casos. Isso porque, em algumas pessoas, elas podem acarretar problemas
para o intestino e atrapalhar, inclusive, processos de emagrecimento. A
raiz do problema está na intolerância do organismo à frutose, mal que
nem sempre é detectado com facilidade, e o paciente, que dificilmente
vai suspeitar dos riscos que uma fruta pode oferecer, passa a conviver
com dores abdominais, diarreias e tantos outros sintomas característicos
da intolerância alimentar. O dentista Ricardo Leão, de 58 anos,
levou duas décadas para encontrar esse diagnóstico. Sempre atento com a
própria a alimentação, ele consumia frutas e legumes certo de que
estava fazendo o melhor para a saúde. Mas, há 20 anos, passou a se
sentir muito mal, com cólicas e diarreias. “Fiz exames para intolerância
a glúten e lactose, passei por colonoscopia e até tive um diagnóstico
para síndrome do intestino irritado. Mas isso era subjetivo demais e
nada resolvia. Foi quando uma homeopata desconfiou da frutose”, conta. A
frutose é um monossacarídeo (açúcar simples), que o corpo pode usar
para produzir energia. Ela está presente em muitos alimentos, mas o
principal sãos as frutas e o mel. Segundo explica a
gastroenterologista especialista em doenças funcionais Vera Lúcia Ângelo
Andrade, há no organismo um receptor para a frutose, que se chama Glut
-5, responsável por fazer com que o intestino absorva esse açúcar que
recebe. “É como se fosse uma porta de entrada para ele, porém, com o
passar dos anos, esse receptor pode ser perdido e não funcionar 100%”,
afirma. Foi o que ocorreu com Ricardo, ele já não tinha mais o Glut-5 e,
por isso, seu organismo não absorvia a frutose que consumia. De acordo
com Vera Lúcia, quando o intestino não faz essa absorção, o que
permanece é atacado por bactérias. Ela explica que a frutose é absorvida
pelo intestino e transportada pelo Glut-5 até cair na circulação
sanguínea, quando segue para ser metabolizada no fígado, mas, quando
Glut-5 não funciona, ela permanece no órgão intestinal. “Temos cerca de
1,5 quilo de bactérias em nosso intestino. Quando a frutose não é
processada, essa flora bacteriana se alimenta dela e libera hidrogênio,
que vai sendo absorvido pelo organismo e chegando aos pulmões.”Por
isso, uma das maneiras de diagnosticar a intolerância é por meio do
sopro do paciente. Trata-se de um aparelho que mede a quantidade de
hidrogênio no ar expelido pela boca. “Geralmente, damos frutose ao
paciente e, em seguida, ele sopra o cano do aparelho e detectamos a
quantidade de hidrogênio nos pulmões”, explica Vera. Foi assim que
Ricardo descobriu que tinha a intolerância. “Nunca imaginei que as
frutas me fariam mal. Elas foram proibidas na minha dieta e, atualmente,
só posso consumir limão. Como tive dificuldades de encontrar um
nutricionista que trabalhasse esse assunto, foi preciso sair de Belo
Horizonte e me tratar em São Paulo, por médicos da Universidade de São
Paulo (USP). Lá, eles retiraram toda a fruta da minha alimentação e,
hoje, estou bem melhor, cheguei a perder 12 quilos”, conta. As
frutas com mais frutose são a maçã, a pera e o caqui (veja quadro),
além disso, alimentos industrializados também a contêm. “A frutose é 30%
mais doce do que o açúcar normal. Por isso, é usada pela indústria em
muitos produtos”, afirma Vera. Para a médica, as pessoas que correm mais
riscos com a intolerância são os vegetarianos e veganos, que “acabam
retirando de suas dietas alimentos muito importantes e consumindo mais
frutas”. “Além disso, eles usam o sorbitol (adoçante), o que aumenta
ainda mais a frutose no organismo. E se você tem um excesso de frutose
no intestino, há mais gases e um supercrescimento bacteriano do
intestino delgado, um mal que é tratado somente com antibióticos”,
esclarece a gastroenterologista. Vera Lúcia tem percebido, por estudos
de fora do Brasil e também por sua experiência em consultório que a
intolerância a frutose ocorre, geralmente, próximo aos 40 anos, quando o
Glut-5 começa “a envelhecer”. “Adolescentes não comem frutas, a gente
começa a comê-las depois dos 30. Essa pode ser uma explicação”, sugere. EMAGRECIMENTO
Doutor em medicina bioquímica pela Universidade da Califórnia, em Los
Angeles, e nutricionista, Lupércio Cançado Farah costuma definir a
frutose como “doce vilão”, e diz que a substância, além das frutas, está
também nos legumes. “Esse açúcar, quando não absorvido, provoca uma
inflamação nas células e aumenta a produção de radicais livres, o que
pode causar câncer”, alerta, comentando que muitas pessoas retiram
alimentos da dieta, apostando que comer só frutas pode ser benéfico para
a saúde e isso não adianta para o emagrecimento, podendo até
comprometê-lo. “Sabe quando você malha e aquela barriga não desaparece?
Pode ser que haja aí uma intolerância a frutose”, avisa. O único fruto
apontado pelos especialistas como permitido para uma alimentação
saudável é o abacate, que já foi tido como vilão para o colesterol, mas
hoje é apontado como ideal em uma dieta balanceada. Lupércio diz que o
melhor, no caso da intolerância, é diminuir aos poucos a quantidade de
frutas na alimentação. CRIANÇAS Outra má fama
para as frutas está em uma doença rara ligada à intolerância a frutose.
Trata-se da frutosemia, uma enfermidade hereditária, que geralmente
ocorre nos primeiros anos de vida. Foi assim com Davi Melo, filho da
pediatra baiana Andréa Melo. “Até os três meses e meio, ele só se
alimentava de leite materno. Quando dei a ele o primeiro suco, que foi
de melancia, ele passou mal: vomitou, ficou muito ‘molinho’. Tentei o
suco de carambola, e ele apresentou uma crise convulsiva, provavelmente
por hipoglicemia. Na época, nem imaginávamos que seria por causa da
ingestão de frutas. Ele apresentava vômitos, dor abdominal, diarreia,
assaduras e havia estacionado o seu crescimento”, conta Andréa. Davi
desenvolveu um aumento do fígado, e foi aí que passou por uma bateria
de exames, incluindo biópsia hepática. “Ele estava com um acúmulo de
gordura no fígado e teve alterações das enzimas hepáticas e
triglicerídeos elevadíssimos. A frutosemia foi revelada por meio do
exame genético.” No caso dessa doença, a enzima que metaboliza a frutose
no fígado, a aldolase B, está ausente ou diminuída. “É uma doença
genética”, afirma Andréa, dizendo que o tratamento é dietético e
consiste em uma dieta sem frutose, sacarose e sorbitol, que será adotada
por toda a vida.“Ainda há dificuldade em acharmos informações
em tabelas sobre a quantidade de frutose nos alimentos, o que é de
grande importância para calcular a quantidade mínima que o paciente pode
ingerir em alimentos, como arroz e macarrão. Leite, queijo, ovos,
carnes são completamente livres de frutose. A maioria das referências
usadas é de outros países, e fatores como clima e solo podem interferir
na quantidade de frutose encontrada nos alimentos”, acrescenta a
pediatra.

marcar artigo