Cristas saiu censurada mas com vitória moral sobre o PSD

30-04-2019
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Sem grande surpresa, António Costa resistiu à moção de censura apresentada por Assunção Cristas. Devidamente amparado por Bloco de Esquerda, PCP e PEV (até por André Silva, do PAN), o primeiro-ministro superou os ataques dos democratas-cristãos e viu reforçado o apoio (firme mas não incondicional) da esquerda. A líder do CDS, por sua vez, conseguiu a vitória moral que procurava: afirmar-se como a principal figura da oposição. O PSD interveio… três vezes em três horas.

Num debate que era de censura ao Governo, a líder do CDS acabou muito criticada pela ‘geringonça’ mas gozou da falta de comparência do PSD

Mesmo defendendo-se das críticas a que foi sendo sujeita nos últimas dias (o de estar apenas a tentar “embaraçar o PSD”), Cristas acabou por assumir aquilo ao que vinha: “Ainda bem que há o CDS para fazer oposição. Ainda bem que há o CDS para usar todos os instrumentos parlamentares ao dispor da oposição”, afirmou a líder democrata-cristã. Nas entrelinhas: o PSD tem falhado na sua missão de fazer oposição ao Governo de António Costa, sugeriu a centrista.

De resto, e através de uma bateria de mais de 12 perguntas e intervenções, a bancada do CDS esforçou-se para provar a tese de que este Governo está “esgotado, desnorteado e bloqueado” e a ser “dirigido por um primeiro-ministro perdido”, como defendeu Cristas.

PS e parceiros parlamentares apostaram em três estratégias: recordar a herança de Cristas como ministra, ridicularizar a iniciativa do CDS e sugerir que a líder democrata-cristã estava apenas a tentar criar uma cortina de fumo para esconder a sua alegada participação no negócio da venda do Pavilhão Atlântico a Luís Montez, genro de Cavaco Silva, quando era ministra. Cristas nunca respondeu a este último ponto.

O PSD apareceu em campo com uma mensagem semelhante à do CDS - o Governo falhou em toda a linha e está mais concentrado em “propagandear” do que a resolver os problemas do país -, mas com uma equipa e intensidades muito mais reduzidas. Falaram três deputados - Emídio Guerreiro, Joana Barata Lopes e Ricardo Baptista Leite -, longe de serem pesos pesados da bancada social-democrata. Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD, decidiu não intervir. Este não era um combate para os sociais-democratas.

Esquerda aproveita para pressionar Costa

Apesar de terem centrado grande parte das suas intervenções nos ataques a Cristas, Bloco, PCP e PEV acabaram por definir um caderno de encargos para António Costa e a lembrar que o PS não hesitou em aprovar (ou travar) matérias decisivas com a direita. A ‘geringonça’ não tremeu nem era expectável que tremesse, mas foi palpável algum incómodo da esquerda com os casamentos pontuais do Governo com a direita.

Catarina Martins, aliás, foi clara no desafio: “Ainda há tempo nesta legislatura para se fazer mais e melhor” - na Saúde, nos Transportes e Educação, na legislação laboral, na integração dos precários e na criação do estatuto dos cuidadores informais, elencou a coordenadora bloquista. “Ainda há tempo. Resta saber se o Governo vai encostar-se à direita ou se vai aproveitar os meses que ainda temos para os avanços que faltam. Deixe a direita perdida nos seus jogos”, insistiu a bloquista.

João Oliveira, líder parlamentar do PCP, subscreveu esta leitura. "Em tudo aquilo em que há avanço está a marca do PCP. Em tudo o que há problema por resolver encontramos o apoio do PSD e do CDS ao Governo". E há três dossiês por resolver: legislação laboral, Saúde (investimento no SNS e conflito entre ADSE e privados) e a renacionalização dos CTT. A pergunta do PCP é: o PS alinhará à esquerda ou à direita?

“Nesta legislatura fez-se o que era possível fazer? Não. E aí, senhor primeiro-ministro, a culpa é do PS. Se o PS não se tivesse colado tantas vezes a PSD e a CDS, o país estaria melhor”, concordou Heloísa Apolónia. A terminar, duas perguntas: “Na Saúde vai ceder aos interesses e às chantagens dos privados? Na Educação o Governo vai para a negociação com os professores [com uma posição] irredutível?”.

Num debate em que mereceu um tratamento mais macio à esquerda do que tem sido habitual nas últimas intervenções públicas de dirigentes bloquistas e comunistas, António Costa saiu do Parlamento sem grande embaraço. E Cristas roubou o palco ao PSD.

Sem grande surpresa, António Costa resistiu à moção de censura apresentada por Assunção Cristas. Devidamente amparado por Bloco de Esquerda, PCP e PEV (até por André Silva, do PAN), o primeiro-ministro superou os ataques dos democratas-cristãos e viu reforçado o apoio (firme mas não incondicional) da esquerda. A líder do CDS, por sua vez, conseguiu a vitória moral que procurava: afirmar-se como a principal figura da oposição. O PSD interveio… três vezes em três horas.

Num debate que era de censura ao Governo, a líder do CDS acabou muito criticada pela ‘geringonça’ mas gozou da falta de comparência do PSD

Mesmo defendendo-se das críticas a que foi sendo sujeita nos últimas dias (o de estar apenas a tentar “embaraçar o PSD”), Cristas acabou por assumir aquilo ao que vinha: “Ainda bem que há o CDS para fazer oposição. Ainda bem que há o CDS para usar todos os instrumentos parlamentares ao dispor da oposição”, afirmou a líder democrata-cristã. Nas entrelinhas: o PSD tem falhado na sua missão de fazer oposição ao Governo de António Costa, sugeriu a centrista.

De resto, e através de uma bateria de mais de 12 perguntas e intervenções, a bancada do CDS esforçou-se para provar a tese de que este Governo está “esgotado, desnorteado e bloqueado” e a ser “dirigido por um primeiro-ministro perdido”, como defendeu Cristas.

PS e parceiros parlamentares apostaram em três estratégias: recordar a herança de Cristas como ministra, ridicularizar a iniciativa do CDS e sugerir que a líder democrata-cristã estava apenas a tentar criar uma cortina de fumo para esconder a sua alegada participação no negócio da venda do Pavilhão Atlântico a Luís Montez, genro de Cavaco Silva, quando era ministra. Cristas nunca respondeu a este último ponto.

O PSD apareceu em campo com uma mensagem semelhante à do CDS - o Governo falhou em toda a linha e está mais concentrado em “propagandear” do que a resolver os problemas do país -, mas com uma equipa e intensidades muito mais reduzidas. Falaram três deputados - Emídio Guerreiro, Joana Barata Lopes e Ricardo Baptista Leite -, longe de serem pesos pesados da bancada social-democrata. Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD, decidiu não intervir. Este não era um combate para os sociais-democratas.

Esquerda aproveita para pressionar Costa

Apesar de terem centrado grande parte das suas intervenções nos ataques a Cristas, Bloco, PCP e PEV acabaram por definir um caderno de encargos para António Costa e a lembrar que o PS não hesitou em aprovar (ou travar) matérias decisivas com a direita. A ‘geringonça’ não tremeu nem era expectável que tremesse, mas foi palpável algum incómodo da esquerda com os casamentos pontuais do Governo com a direita.

Catarina Martins, aliás, foi clara no desafio: “Ainda há tempo nesta legislatura para se fazer mais e melhor” - na Saúde, nos Transportes e Educação, na legislação laboral, na integração dos precários e na criação do estatuto dos cuidadores informais, elencou a coordenadora bloquista. “Ainda há tempo. Resta saber se o Governo vai encostar-se à direita ou se vai aproveitar os meses que ainda temos para os avanços que faltam. Deixe a direita perdida nos seus jogos”, insistiu a bloquista.

João Oliveira, líder parlamentar do PCP, subscreveu esta leitura. "Em tudo aquilo em que há avanço está a marca do PCP. Em tudo o que há problema por resolver encontramos o apoio do PSD e do CDS ao Governo". E há três dossiês por resolver: legislação laboral, Saúde (investimento no SNS e conflito entre ADSE e privados) e a renacionalização dos CTT. A pergunta do PCP é: o PS alinhará à esquerda ou à direita?

“Nesta legislatura fez-se o que era possível fazer? Não. E aí, senhor primeiro-ministro, a culpa é do PS. Se o PS não se tivesse colado tantas vezes a PSD e a CDS, o país estaria melhor”, concordou Heloísa Apolónia. A terminar, duas perguntas: “Na Saúde vai ceder aos interesses e às chantagens dos privados? Na Educação o Governo vai para a negociação com os professores [com uma posição] irredutível?”.

Num debate em que mereceu um tratamento mais macio à esquerda do que tem sido habitual nas últimas intervenções públicas de dirigentes bloquistas e comunistas, António Costa saiu do Parlamento sem grande embaraço. E Cristas roubou o palco ao PSD.

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