Pizarro junta tropas para demonstração de força, com uma sombra a nascer em Valongo

30-01-2018
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Manuel Pizarro apresenta este sábado a sua recandidatura à Federação do PS/Porto. Fragilizado pelo processo de divórcio com Rui Moreira — antes das autárquicas — e pela derrota do seu delfim Tiago Barbosa Ribeiro nas eleições para a concelhia socialista portuense, o ex-secretário de Estado da Saúde rodeou-se dos pesos pesados do partido para deixar uma mensagem aos seus adversários internos: não será fácil derrubá-lo.

As eleições autárquicas no Porto deixaram marcas profundas no aparelho socialista. Logo a 3 de outubro de 2017, quando o Observador antecipava uma eventual luta pela liderança do PS naquela cidade, havia já quem pedisse a cabeça do ex-secretário de Estado. Renato Sampaio, que a 20 de janeiro derrotou Tiago Barbosa Ribeiro, foi um dos que foi a jogo exigir a saída de Pizarro.

“É evidente que Manuel Pizarro é responsável pelo resultado [autárquico]. Apesar da grande vitória do PS no país, apesar do esforço de António Costa e da boa vontade do Governo, Manuel Pizarro não conseguiu mais que uma derrota por poucochinho”, dizia, em declarações ao Observador. E ainda profetizava: “Vai haver uma alternativa à atual liderança“.

De acordo com fontes do aparelho socialista portuense, Renato Sampaio, ex-líder da distrital do PS/Porto, chegou a ponderar avançar ele próprio com uma candidatura à Federação. No entanto, o deputado socialista acabou por desistir do eventual confronto por acreditar que não tinha força suficiente para derrubar Pizarro — e voltou-se para a concelhia.

O resultado é conhecido: Renato Sampaio conseguiu derrubar Tiago Barbosa Ribeiro, sucessor de Pizarro, mas por números muito modestos. No Porto, fala-se abertamente em vitória agridoce para Sampaio, que conseguiu a proeza de juntar os principais sindicatos de votos da cidade, outrora rivais. Com 34 votos de diferença (51% contra 49%), Renato Sampaio é formalmente líder da concelhia, mas é Tiago Barbosa Ribeiro quem domina a comissão política (31 homens leais a Sampaio contra 38 próximos a Barbosa Ribeiro).

A vitória pouco expressiva de Renato Sampaio na concelhia do PS/Porto parece ter refreado as ambições dos seus soldados. Segundo fontes próximas do atual presidente da concelhia, havia nomes bem colocados para liderar uma ofensiva contra Manuel Pizarro: Joaquim Couto, presidente da Câmara de Santo Tirso, Eduardo Vítor Rodrigues, autarca de Vila Nova de Gaia, Marco Martins, presidente de Gondomar, ou José Manuel Ribeiro, presidente da câmara de Valongo. Nenhum dos quatro quis ainda hostilizar abertamente Manuel Pizarro, que parece ter conseguido neutralizar praticamente todas as ameaças.

No sábado, quando apresentar a sua recandidatura à Federação, o ex-secretário de Estado vai ter ao seu lado vários membros do Governo naturais da região Norte. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, José Alberto Azeredo Lopes, ministro da Defesa, Fernando Araújo, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Célia Ramos, secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Helena Ribeiro, secretária de Estado Adjunta e da Justiça, e Isabel Oneto, secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna. O sinal é evidente: o Governo (e António Costa) vão estar em força na apresentação da recandidatura de Pizarro.

Esse é o primeiro sinal. O segundo, e o mais importante, é que José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e ex-líder da Federação do PS/Porto (foi sucedido, precisamente, por Pizarro) também vai marcar presença na apresentação da recandidatura do atual líder da distrital. Eternos rivais, José Luís Carneiro é tido por muitos como uma peça fundamental na estratégia de Renato Sampaio para recuperar o controlo do PS no Porto: os homens leais a Carneiro (próximos da ala segurista) apoiaram Sampaio e deram-lhe a concelhia; José Luís Carneiro estará, alegadamente, a juntar apoios para avançar para a Câmara do Porto, em 2021, como contava aqui o Observador. Nesta equação, um dependeria sempre do outro e os dois teriam de derrubar Pizarro.

O facto de José Luís Carneiro se preparar para aparecer ao lado de Manuel Pizarro na fotografia de família de sábado pode ser um sinal: a oposição interna parece ter desistido de avançar com uma candidatura alternativa. Pelo menos, para já, a esta distância de quatro anos.

“O resultado no Porto dos que se associaram ao Renato Sampaio esvaziou o balão da oposição. Tudo indica que Pizarro seja candidato único”, diz fonte do PS/Porto ao Observador, próxima de Tiago Barbosa Ribeiro.

Há ainda um terceiro sinal: Manuel Pizarro tem ao seu lado todos os autarcas socialistas eleitos pelo PS no distrito do Porto, incluindo Eduardo Vítor Rodrigues, Joaquim Couto e Marco Martins (três dos quatros presidentes de câmara apontados como possíveis sucessores do líder em funções). A exceção é uma e pode residir aí a esperança dos opositores internos de Manuel Pizarro: José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo e recentemente eleito com maioria absoluta.

“É o único autarca que vai faltar à apresentação da recandidatura e que não deu qualquer justificação“, conta fonte próxima de Manuel Pizarro. “Ainda deve estar em contactos, para tentar reunir apoios. Mas não deverá ter grande sorte”, ouve o Observador de socialistas portuenses. “O facto de ser o único a não aparecer, só demonstra que os outros autarcas estão com Manuel Pizarro”.

Junto dos homens próximos de Renato Sampaio, a discrição é agora palavra de ordem. “A hipótese [de José Manuel Ribeiro] não é nada descabida. Mas até ver ainda não há nada em andamento”, garante-se desse lado da barricada. O Observador tentou contactar o próprio autarca de Valongo até à hora de publicação deste artigo, mas não recebeu qualquer resposta. Os candidatos têm até 23 de fevereiro para apresentar a candidatura. Manuel Pizarro já arrancou. Terá adversário?

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Manuel Pizarro apresenta este sábado a sua recandidatura à Federação do PS/Porto. Fragilizado pelo processo de divórcio com Rui Moreira — antes das autárquicas — e pela derrota do seu delfim Tiago Barbosa Ribeiro nas eleições para a concelhia socialista portuense, o ex-secretário de Estado da Saúde rodeou-se dos pesos pesados do partido para deixar uma mensagem aos seus adversários internos: não será fácil derrubá-lo.

As eleições autárquicas no Porto deixaram marcas profundas no aparelho socialista. Logo a 3 de outubro de 2017, quando o Observador antecipava uma eventual luta pela liderança do PS naquela cidade, havia já quem pedisse a cabeça do ex-secretário de Estado. Renato Sampaio, que a 20 de janeiro derrotou Tiago Barbosa Ribeiro, foi um dos que foi a jogo exigir a saída de Pizarro.

“É evidente que Manuel Pizarro é responsável pelo resultado [autárquico]. Apesar da grande vitória do PS no país, apesar do esforço de António Costa e da boa vontade do Governo, Manuel Pizarro não conseguiu mais que uma derrota por poucochinho”, dizia, em declarações ao Observador. E ainda profetizava: “Vai haver uma alternativa à atual liderança“.

De acordo com fontes do aparelho socialista portuense, Renato Sampaio, ex-líder da distrital do PS/Porto, chegou a ponderar avançar ele próprio com uma candidatura à Federação. No entanto, o deputado socialista acabou por desistir do eventual confronto por acreditar que não tinha força suficiente para derrubar Pizarro — e voltou-se para a concelhia.

O resultado é conhecido: Renato Sampaio conseguiu derrubar Tiago Barbosa Ribeiro, sucessor de Pizarro, mas por números muito modestos. No Porto, fala-se abertamente em vitória agridoce para Sampaio, que conseguiu a proeza de juntar os principais sindicatos de votos da cidade, outrora rivais. Com 34 votos de diferença (51% contra 49%), Renato Sampaio é formalmente líder da concelhia, mas é Tiago Barbosa Ribeiro quem domina a comissão política (31 homens leais a Sampaio contra 38 próximos a Barbosa Ribeiro).

A vitória pouco expressiva de Renato Sampaio na concelhia do PS/Porto parece ter refreado as ambições dos seus soldados. Segundo fontes próximas do atual presidente da concelhia, havia nomes bem colocados para liderar uma ofensiva contra Manuel Pizarro: Joaquim Couto, presidente da Câmara de Santo Tirso, Eduardo Vítor Rodrigues, autarca de Vila Nova de Gaia, Marco Martins, presidente de Gondomar, ou José Manuel Ribeiro, presidente da câmara de Valongo. Nenhum dos quatro quis ainda hostilizar abertamente Manuel Pizarro, que parece ter conseguido neutralizar praticamente todas as ameaças.

No sábado, quando apresentar a sua recandidatura à Federação, o ex-secretário de Estado vai ter ao seu lado vários membros do Governo naturais da região Norte. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, José Alberto Azeredo Lopes, ministro da Defesa, Fernando Araújo, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Célia Ramos, secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Helena Ribeiro, secretária de Estado Adjunta e da Justiça, e Isabel Oneto, secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna. O sinal é evidente: o Governo (e António Costa) vão estar em força na apresentação da recandidatura de Pizarro.

Esse é o primeiro sinal. O segundo, e o mais importante, é que José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e ex-líder da Federação do PS/Porto (foi sucedido, precisamente, por Pizarro) também vai marcar presença na apresentação da recandidatura do atual líder da distrital. Eternos rivais, José Luís Carneiro é tido por muitos como uma peça fundamental na estratégia de Renato Sampaio para recuperar o controlo do PS no Porto: os homens leais a Carneiro (próximos da ala segurista) apoiaram Sampaio e deram-lhe a concelhia; José Luís Carneiro estará, alegadamente, a juntar apoios para avançar para a Câmara do Porto, em 2021, como contava aqui o Observador. Nesta equação, um dependeria sempre do outro e os dois teriam de derrubar Pizarro.

O facto de José Luís Carneiro se preparar para aparecer ao lado de Manuel Pizarro na fotografia de família de sábado pode ser um sinal: a oposição interna parece ter desistido de avançar com uma candidatura alternativa. Pelo menos, para já, a esta distância de quatro anos.

“O resultado no Porto dos que se associaram ao Renato Sampaio esvaziou o balão da oposição. Tudo indica que Pizarro seja candidato único”, diz fonte do PS/Porto ao Observador, próxima de Tiago Barbosa Ribeiro.

Há ainda um terceiro sinal: Manuel Pizarro tem ao seu lado todos os autarcas socialistas eleitos pelo PS no distrito do Porto, incluindo Eduardo Vítor Rodrigues, Joaquim Couto e Marco Martins (três dos quatros presidentes de câmara apontados como possíveis sucessores do líder em funções). A exceção é uma e pode residir aí a esperança dos opositores internos de Manuel Pizarro: José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo e recentemente eleito com maioria absoluta.

“É o único autarca que vai faltar à apresentação da recandidatura e que não deu qualquer justificação“, conta fonte próxima de Manuel Pizarro. “Ainda deve estar em contactos, para tentar reunir apoios. Mas não deverá ter grande sorte”, ouve o Observador de socialistas portuenses. “O facto de ser o único a não aparecer, só demonstra que os outros autarcas estão com Manuel Pizarro”.

Junto dos homens próximos de Renato Sampaio, a discrição é agora palavra de ordem. “A hipótese [de José Manuel Ribeiro] não é nada descabida. Mas até ver ainda não há nada em andamento”, garante-se desse lado da barricada. O Observador tentou contactar o próprio autarca de Valongo até à hora de publicação deste artigo, mas não recebeu qualquer resposta. Os candidatos têm até 23 de fevereiro para apresentar a candidatura. Manuel Pizarro já arrancou. Terá adversário?

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