O Redondo Vocábulo

26-04-2019
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Abril. Os equívocos e ditames do novo Acordo Ortográfico apoucaram-lhe a ortografia. Não lhe diminuíram a grandeza. Abril. Em abril nos queremos. Em abril nos vemos. Em abril nos revemos. Abril não é sonho, nem utopia. Abril não é um estado de espírito. E, ainda assim, não há abril sem a dimensão do sonho. Não há abril sem o desejo de utopia. Não há abril sem esse imenso e solidário espírito de entrega. De dádiva. Abril não é um estado de exceção. É uma forma de ser. E de estar. É a normalidade adquirida de um país reencontrado com um povo sedento de liberdade. A ansiar democracia.

Abril é um estado em construção. Não é um ponto de chegada. É tão só um início de viagem. Cada um terá o seu próprio abril. Cada um esboçará a sua própria representação de abril. Cada um terá as suas próprias frustrações. A cada um as suas muito particulares revoltas e devoções. Pelo abril que (não) se cumpriu. Em cada rosto se idealiza um percurso. Em cada rosto se narra uma história. Em cada história se desvenda um mundo. São muitos e infinitos os mundos de abril. Às vezes contraditórios. Às vezes incompatíveis. Às vezes conflituais.

Em cada instante abril nasce de novo. Reformula-se. Reequaciona-se. Interpela-nos. Desafia-nos. Abala certezas adquiridas. Questiona verdades tidas por intocáveis. Absolutas. Essa a grandeza de uma data. Essa a glória derramada pela memória do tempo vivido e construído. Em abril. Por abril. E pelo abril sem o qual jamais seríamos o país que somos. Com todas as suas fragilidades. Com todas as suas grandezas. 25 de Abril foi ontem. 25 de Abril é hoje. 25 de Abril será sempre. Se soubermos lutar. Se o soubermos defender. Se o soubermos preservar . Se o soubermos continuar.

Liberto. Sem amarras. Sem donos. Abril é o absoluto e redondo vocábulo.

25 DE ABRIL

Se há hoje na sociedade portuguesa uma marca do 25 de Abril, ela é constituída, sem espaço para dúvidas, pelo Serviço Nacional de Saúde. Na sequela das comemorações da Revolução saltou com mais força para o espaço mediático o que parecem ser as oscilações, as dúvidas, os desencontros do PS com a sua própria história e as suas próprias propostas.

Em causa estão as Parcerias Público Privadas. Catarina Martins, do BE, mostrou-se “chocada” ao constatar que as propostas agora apresentadas pelo PS “não vão ao encontro” do que fora apresentado pelo Governo. António Costa não contribuiu para desfazer as dúvidas da esquerda ao dizer nos jardins do Palácio de São Bento que o Governo está aberto a um amplo consenso, ao mesmo tempo que se defendia ao frisar que o que antes fora apresentado não passara de propostas de trabalho. Só que, ao princípio da noite, o Expresso divulgava o documento do Governo entregue ao BE no qual se propõe o fim das PPP. Umas horas depois, divulgávamos outro documento em que se demonstrava que o Governo entregou ao BE e PCP um guião para ultrapassar o veto anunciado do Presidente da República.

Rui Rio lá foi dizendo que o PSD está no mesmo sítio, isto é, no que consagra a existência de PPP, que parecem ser agora aceites pelo PS. Jerónimo de Sousa sublinhou que “umas devem acabar, outras devem ser renegociadas”, antes do final do atual contrato para depois reverterem para o Estado.

Com a Assembleia da República engalanada e inundada de cravos. O ambiente era mesmo de festa, ao ponto de terem passado pelos corredores da AR mais de cinco mil cidadãos para ali celebrarem o 25 de Abril. Pode ver aqui uma fotogaleria das comemorações no Parlamento. Nas ruas também se festejou, como mostra esta outra fotogaleria da manifestação da Avenida da Liberdade, em Lisboa, ou ainda esta, onde se vê como nem a forte chuva e o frio calaram os gritos de liberdade no Porto. Já agora, veja como, na Invicta, há 45 anos, Abril foi festejado em Maio. Abril também esteve em Vigo. Veja e emocione-se, aqui, com o modo como foi cantada, na íntegra e bem, “Grândola Vila Morena”, no encerramento de um comício da Unidos Podemos com a presença de Pablo Iglesias. O Blitz publicava ontem a história de José Afonso, “o homem que não conhecemos tão bem como julgamos”.

A cerimónia oficial das comemorações na AR teve discursos para todos os gostos. Uns mais empenhados em celebrar o espírito da Revolução e as mudanças proporcionadas pela longa caminhada iniciada há 45 anos, outros, sem evitar uma ou outra referência a Abril, aproveitaram para explorar o momento atual e as fragilidades do Governo.

Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República apelou a um debate baseado em “alternativas políticas claras” e denunciou os efeitos perverso do que possa ser uma “política de casos”. Marcelo Rebelo de Sousa, que começa hoje uma visita de seis dias à China, centrou o seu discurso no pedido de “mais ambição” a todos os níveis da vida política e social do país como caminho para resolver problemas de elevada dimensão, como a demografia, os desafios do mundo do trabalho , ou as questões colocados pela era digital. Mais em baixo, na seleção de frases, fica uma ideia do tom das intervenções dos partidos.

OUTRAS NOTÍCIAS

Portugal é o país onde as licenciaturas valem cada vez menos. O prémio salarial dos trabalhadores com educação superior encolheu 22,8 pontos percentuais entre 2007 e 2016. É a maior queda entre os países da OCDE, indica o "Employment Outlook 2019.

O número de nascimentos em Portugal atingiu o valor mais elevado dos últimos sete anos no primeiro trimestre de 2019, período em que foram rastreados 21.348 recém-nascidos, de acordo com o número de “testes do pezinho” realizados.

Afinal não está confirmada a morte de duas portuguesas no naufrágio de um navio em São Tomé e Príncipe. As buscas continuam após o naufrágio do navio que fazia a ligação entre as duas ilhas.

Está a viver-se de novo o caos em Moçambique. O ciclone Kenneneth está a provocar tempestades violentas.

O célebre e polémico bairro do Aleixo, no Porto, está prestes a ser demolido. Já só lá resta uma meia dúzia de moradores, ansiosos por perceberem o seu futuro. No início de maio, a Câmara do Porto entregará as chaves das três torres do Aleixo ao Fundo Imobiliário que procederá à sua demolição.

Uma vacina contra a malária nas crianças começou ontem a ser aplicada num teste-piloto no Malawi. Transmitida por mosquitos, a malária infeta centenas de milhões de pessoas e mata centenas de milhares de crianças todos os anos, sobretudo em África.

No próximo domingo há umas importantes e disputadíssimas eleições legislativas em Espanha, onde estão a ocorrer dissidências políticas de última hora na área da direita. Em entrevista ao El País, Pedro Sanchéz, líder do PSOE, apontado pelas sondagens como provável vencedor, mas sem maioria para formar governo sem alianças, afirma haver “o risco real de a direita se unir à extrema direita”.

Ainda em Espanha, o Facebook teve de desativar várias redes de extrema direita que estavam a espalhar falsas notícias para perto de 1,7 milhões de pessoas.

Na República Checha, a extrema-direita europeia, com Marine Le Pen e o eurófobo holandés Geert Wilders, está a juntar-se para dar força ao candidato Tomio Okamura, líder da extrema-direita local.

Em Itália, Matteo Salvini recusou-se a celebrar o dia 25 de Abril, que em Itália assinada a libertação do país em 1945 do regime fascista de Mussolini e da ocupação nazi. Segundo Matteo, o 25 de Abril “é apenas um dérbi entre comunsitas e fascistas”.

Em França, Emmanuel Macron, empenhado em deixar para trás o pesadelo dos “coletes amarelos”, apresentou uma redução "significativa" dos impostos sobre o trabalho e menos gastos no Estado. Garantiu ainda que não fecharão escolas nem hospitais até 2022.

Uma equipa de arqueólogos chefiada por um professor italiano descobriu os restos mumificados de dezenas de antigos egípcios, homens, mulheres e crianças, num túmulo na cidade de Assuão.

PRIMEIRAS PÁGINAS

Sobram 246 mil euros no fundo de greve dos enfermeiros – Público

Há sete anos que não nasciam tantos bebés – JN

17º Sindicato da PSP só tem dirigentes - DN

Governo reconhece categoria de sapadores aos bombeiros municipais – I

Governo já fez 3282 nomeações – Correio da Manhã

Deloit avisou CGD e regulador sobre Berardo em 2008 – Negócios

FRASES

“Portugal é uma impossibilidade com quase 900 anos. Porque haveríamos de ser nós a não acreditar em Portugal?” - Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

“Uma democracia sem direito à informação e sujeita à lei do boato e da pura propaganda não é uma democracia digna desse nome” – Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República

“Estamos, assim, a apenas 45 anos exatos de distância histórica do espírito do Tribunal da Inquisição. Tão perto!...” – Carlos César, deputado do PS

Rejeitamos que critérios ‘clubístico-partidários’ ou de nepotismo se sobreponham ao mérito e ao interesse coletivo” - Pedro Roque, deputado do PSD

“Tal como no passado, a luta foi imprescindível para derrotar o fascismo, também hoje a luta é indispensável para avançar nos direitos e garantir progresso e justiça social” – Diana Ferreira, deputada do PCP

“O Serviço Nacional de Saúde pode voltar a andar de cravo ao peito, como Arnaut o sonhou, ou manterá a porta aberta para o negócio dos privados, em cedência à pressão presidencial?” - Jorge Falcato, deputado do BE

“A promiscuidade com o poder, seja de âmbito económico, partidário ou familiar, é incompatível com a dignidade democrática e atraiçoa Abril” - Filipe Anacoreta Correia, deputado do CDS-PP

“A revolução dos cravos foi apenas o início, o princípio de uma caminhada coletiva” – Heloísa Apolóna, deputada de Os Verdes

“O ambiente pede revolução" – André Silva, deputado do PAN

O QUE ANDO A LER, A OUVIR E A VER

O poder de narrar. O poder de construir verdades dadas como irrefutáveis. O poder de impor verdades únicas para a história. O poder de impedir a circulação de relatos alternativos. O poder de dispor do discurso e impô-lo como inquestionável é uma das muitas armas ao serviço de uma qualquer potencia dominante. Ao refletir sobre este tipo de questões, Edward W. Said, um dos mais importantes intelectuais palestino-americanos, académico, ativista político e crítico literário, partiu para a construção de “Cultura y imperialismo”, que estou a ler na versão espanhola. Trata-se de um ensaio de mais de 500 páginas originalmente publicado em 1993, no qual reflete sobre como, tantas vezes, a noção de império permanece ou está subjacente a grandes obras canónicas que nos habituamos a admirar.

Dividido em quatro partes – comecei a ler a segunda - o livro procura,numa primeira abordagem,demonstrar que ainda hoje, quando se equaciona a ideia de imperialismo e, por exemplo, se debate a aceitação, ou não, de que os EUA sejam uma potência imperial, há a tendência para centrar o debate em questões económicas e políticas. Com isso presta-se menos atenção ao que Said considera ser o papel privilegiado da cultura na experiência imperial moderna.

Entra aí a releitura de obras de escritores tão díspares como Daniel Defoe, Charles Dickens, Joseph Conrad, Richard Kipling, Jane Austen, André Gide e outros. Conrad, autor de “O Coração das Trevas”, é visto como percursor de outra visão do Terceiro Mundo “que encontramos na obra de narradores tão diferentes como Graham Green, V. S. Naipul e Robert Stone; de teóricos do imperialismo como Hanna Arendt; e de viajantes, cineastas e polemistas cuja especialidade é por o mundo não europeu à disposição, tanto das tarefas de análise e valorização, como da satisfação de audiências europeias e norte-americanas com gostos exóticos”. A tese de Eward E. Said – que suscitou polémica na altura da publicação do livro nos EUA – é a de que não obstante todo o seu humanismo, aqueles autores terão contribuído e refletido nas suas obras a visão imperial sobre o outro.

O foco de Said centra-se nas culturas francesa, inglesa e norte-americana para explorar a reminiscência do império na construção das respetivas identidades. Dito de outro modo, sustenta que mesmo podendo ser o império passado, a sua memória, a sua ideologia e prática política persiste com múltiplas ramificações no presente.

Sem paciência para as dicotomias entre o “nós” e os “outros”, o autor de “Orientalismo”, que mudou a percepção do Ocidente sobre o Oriente, subscreve a convicção expressa no século XIX pelo poeta Matthew Arnold de que a cultura, se não neutraliza, pelo menos amortece os estragos da nossa moderna existência humana, agressiva, mercantil e brutalizada. Assim, escreve, “lemos Dante Alighieri ou Shakespeare para poder continuar em contacto com o melhor que se conheceu e pensou e também para nos vermos a nós mesmos, ao nosso povo, à nossa tradição, sob as melhores luzes. Com o tempo, a cultura chega a associar-se, por vezes de maneira agressiva, com a noção de Estado; isto é o que ‘nos’ faz diferentes de ‘eles’, quase sempre com algum grau de xenofobia”.

Por estes dias tenho ouvido vezes sem conta o disco da angolana Anabela Aya. Vi-a ao vivo há dias em Cabo Verde, no Kriol Jazz Festival e pude usufruir de uma voz poderosa, com muito jazz, muito soul, muito gospel, que se derrama por inteiro em “Kuameleli”.

Quem ande pela área do Grande Porto tem à sua disposição o imenso, riquíssimo e imperdível festival Dias da Dança. O difícil é escolher. Mas esse é o exercício a que me dedicarei nos próximos dias.

Está concluído mais um Curto. Despeço-me com esta visão de dez maravilhas do Mundo que já não poderá voltar a ver tal como o foram. Tenha um bom dia e um bom fim de semana que, será de altas temperaturas.. Amanhã terá o Expresso nas bancas. Hoje tê-lo-à ao longo do dia nas plataformas digitais.

Abril. Os equívocos e ditames do novo Acordo Ortográfico apoucaram-lhe a ortografia. Não lhe diminuíram a grandeza. Abril. Em abril nos queremos. Em abril nos vemos. Em abril nos revemos. Abril não é sonho, nem utopia. Abril não é um estado de espírito. E, ainda assim, não há abril sem a dimensão do sonho. Não há abril sem o desejo de utopia. Não há abril sem esse imenso e solidário espírito de entrega. De dádiva. Abril não é um estado de exceção. É uma forma de ser. E de estar. É a normalidade adquirida de um país reencontrado com um povo sedento de liberdade. A ansiar democracia.

Abril é um estado em construção. Não é um ponto de chegada. É tão só um início de viagem. Cada um terá o seu próprio abril. Cada um esboçará a sua própria representação de abril. Cada um terá as suas próprias frustrações. A cada um as suas muito particulares revoltas e devoções. Pelo abril que (não) se cumpriu. Em cada rosto se idealiza um percurso. Em cada rosto se narra uma história. Em cada história se desvenda um mundo. São muitos e infinitos os mundos de abril. Às vezes contraditórios. Às vezes incompatíveis. Às vezes conflituais.

Em cada instante abril nasce de novo. Reformula-se. Reequaciona-se. Interpela-nos. Desafia-nos. Abala certezas adquiridas. Questiona verdades tidas por intocáveis. Absolutas. Essa a grandeza de uma data. Essa a glória derramada pela memória do tempo vivido e construído. Em abril. Por abril. E pelo abril sem o qual jamais seríamos o país que somos. Com todas as suas fragilidades. Com todas as suas grandezas. 25 de Abril foi ontem. 25 de Abril é hoje. 25 de Abril será sempre. Se soubermos lutar. Se o soubermos defender. Se o soubermos preservar . Se o soubermos continuar.

Liberto. Sem amarras. Sem donos. Abril é o absoluto e redondo vocábulo.

25 DE ABRIL

Se há hoje na sociedade portuguesa uma marca do 25 de Abril, ela é constituída, sem espaço para dúvidas, pelo Serviço Nacional de Saúde. Na sequela das comemorações da Revolução saltou com mais força para o espaço mediático o que parecem ser as oscilações, as dúvidas, os desencontros do PS com a sua própria história e as suas próprias propostas.

Em causa estão as Parcerias Público Privadas. Catarina Martins, do BE, mostrou-se “chocada” ao constatar que as propostas agora apresentadas pelo PS “não vão ao encontro” do que fora apresentado pelo Governo. António Costa não contribuiu para desfazer as dúvidas da esquerda ao dizer nos jardins do Palácio de São Bento que o Governo está aberto a um amplo consenso, ao mesmo tempo que se defendia ao frisar que o que antes fora apresentado não passara de propostas de trabalho. Só que, ao princípio da noite, o Expresso divulgava o documento do Governo entregue ao BE no qual se propõe o fim das PPP. Umas horas depois, divulgávamos outro documento em que se demonstrava que o Governo entregou ao BE e PCP um guião para ultrapassar o veto anunciado do Presidente da República.

Rui Rio lá foi dizendo que o PSD está no mesmo sítio, isto é, no que consagra a existência de PPP, que parecem ser agora aceites pelo PS. Jerónimo de Sousa sublinhou que “umas devem acabar, outras devem ser renegociadas”, antes do final do atual contrato para depois reverterem para o Estado.

Com a Assembleia da República engalanada e inundada de cravos. O ambiente era mesmo de festa, ao ponto de terem passado pelos corredores da AR mais de cinco mil cidadãos para ali celebrarem o 25 de Abril. Pode ver aqui uma fotogaleria das comemorações no Parlamento. Nas ruas também se festejou, como mostra esta outra fotogaleria da manifestação da Avenida da Liberdade, em Lisboa, ou ainda esta, onde se vê como nem a forte chuva e o frio calaram os gritos de liberdade no Porto. Já agora, veja como, na Invicta, há 45 anos, Abril foi festejado em Maio. Abril também esteve em Vigo. Veja e emocione-se, aqui, com o modo como foi cantada, na íntegra e bem, “Grândola Vila Morena”, no encerramento de um comício da Unidos Podemos com a presença de Pablo Iglesias. O Blitz publicava ontem a história de José Afonso, “o homem que não conhecemos tão bem como julgamos”.

A cerimónia oficial das comemorações na AR teve discursos para todos os gostos. Uns mais empenhados em celebrar o espírito da Revolução e as mudanças proporcionadas pela longa caminhada iniciada há 45 anos, outros, sem evitar uma ou outra referência a Abril, aproveitaram para explorar o momento atual e as fragilidades do Governo.

Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República apelou a um debate baseado em “alternativas políticas claras” e denunciou os efeitos perverso do que possa ser uma “política de casos”. Marcelo Rebelo de Sousa, que começa hoje uma visita de seis dias à China, centrou o seu discurso no pedido de “mais ambição” a todos os níveis da vida política e social do país como caminho para resolver problemas de elevada dimensão, como a demografia, os desafios do mundo do trabalho , ou as questões colocados pela era digital. Mais em baixo, na seleção de frases, fica uma ideia do tom das intervenções dos partidos.

OUTRAS NOTÍCIAS

Portugal é o país onde as licenciaturas valem cada vez menos. O prémio salarial dos trabalhadores com educação superior encolheu 22,8 pontos percentuais entre 2007 e 2016. É a maior queda entre os países da OCDE, indica o "Employment Outlook 2019.

O número de nascimentos em Portugal atingiu o valor mais elevado dos últimos sete anos no primeiro trimestre de 2019, período em que foram rastreados 21.348 recém-nascidos, de acordo com o número de “testes do pezinho” realizados.

Afinal não está confirmada a morte de duas portuguesas no naufrágio de um navio em São Tomé e Príncipe. As buscas continuam após o naufrágio do navio que fazia a ligação entre as duas ilhas.

Está a viver-se de novo o caos em Moçambique. O ciclone Kenneneth está a provocar tempestades violentas.

O célebre e polémico bairro do Aleixo, no Porto, está prestes a ser demolido. Já só lá resta uma meia dúzia de moradores, ansiosos por perceberem o seu futuro. No início de maio, a Câmara do Porto entregará as chaves das três torres do Aleixo ao Fundo Imobiliário que procederá à sua demolição.

Uma vacina contra a malária nas crianças começou ontem a ser aplicada num teste-piloto no Malawi. Transmitida por mosquitos, a malária infeta centenas de milhões de pessoas e mata centenas de milhares de crianças todos os anos, sobretudo em África.

No próximo domingo há umas importantes e disputadíssimas eleições legislativas em Espanha, onde estão a ocorrer dissidências políticas de última hora na área da direita. Em entrevista ao El País, Pedro Sanchéz, líder do PSOE, apontado pelas sondagens como provável vencedor, mas sem maioria para formar governo sem alianças, afirma haver “o risco real de a direita se unir à extrema direita”.

Ainda em Espanha, o Facebook teve de desativar várias redes de extrema direita que estavam a espalhar falsas notícias para perto de 1,7 milhões de pessoas.

Na República Checha, a extrema-direita europeia, com Marine Le Pen e o eurófobo holandés Geert Wilders, está a juntar-se para dar força ao candidato Tomio Okamura, líder da extrema-direita local.

Em Itália, Matteo Salvini recusou-se a celebrar o dia 25 de Abril, que em Itália assinada a libertação do país em 1945 do regime fascista de Mussolini e da ocupação nazi. Segundo Matteo, o 25 de Abril “é apenas um dérbi entre comunsitas e fascistas”.

Em França, Emmanuel Macron, empenhado em deixar para trás o pesadelo dos “coletes amarelos”, apresentou uma redução "significativa" dos impostos sobre o trabalho e menos gastos no Estado. Garantiu ainda que não fecharão escolas nem hospitais até 2022.

Uma equipa de arqueólogos chefiada por um professor italiano descobriu os restos mumificados de dezenas de antigos egípcios, homens, mulheres e crianças, num túmulo na cidade de Assuão.

PRIMEIRAS PÁGINAS

Sobram 246 mil euros no fundo de greve dos enfermeiros – Público

Há sete anos que não nasciam tantos bebés – JN

17º Sindicato da PSP só tem dirigentes - DN

Governo reconhece categoria de sapadores aos bombeiros municipais – I

Governo já fez 3282 nomeações – Correio da Manhã

Deloit avisou CGD e regulador sobre Berardo em 2008 – Negócios

FRASES

“Portugal é uma impossibilidade com quase 900 anos. Porque haveríamos de ser nós a não acreditar em Portugal?” - Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

“Uma democracia sem direito à informação e sujeita à lei do boato e da pura propaganda não é uma democracia digna desse nome” – Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República

“Estamos, assim, a apenas 45 anos exatos de distância histórica do espírito do Tribunal da Inquisição. Tão perto!...” – Carlos César, deputado do PS

Rejeitamos que critérios ‘clubístico-partidários’ ou de nepotismo se sobreponham ao mérito e ao interesse coletivo” - Pedro Roque, deputado do PSD

“Tal como no passado, a luta foi imprescindível para derrotar o fascismo, também hoje a luta é indispensável para avançar nos direitos e garantir progresso e justiça social” – Diana Ferreira, deputada do PCP

“O Serviço Nacional de Saúde pode voltar a andar de cravo ao peito, como Arnaut o sonhou, ou manterá a porta aberta para o negócio dos privados, em cedência à pressão presidencial?” - Jorge Falcato, deputado do BE

“A promiscuidade com o poder, seja de âmbito económico, partidário ou familiar, é incompatível com a dignidade democrática e atraiçoa Abril” - Filipe Anacoreta Correia, deputado do CDS-PP

“A revolução dos cravos foi apenas o início, o princípio de uma caminhada coletiva” – Heloísa Apolóna, deputada de Os Verdes

“O ambiente pede revolução" – André Silva, deputado do PAN

O QUE ANDO A LER, A OUVIR E A VER

O poder de narrar. O poder de construir verdades dadas como irrefutáveis. O poder de impor verdades únicas para a história. O poder de impedir a circulação de relatos alternativos. O poder de dispor do discurso e impô-lo como inquestionável é uma das muitas armas ao serviço de uma qualquer potencia dominante. Ao refletir sobre este tipo de questões, Edward W. Said, um dos mais importantes intelectuais palestino-americanos, académico, ativista político e crítico literário, partiu para a construção de “Cultura y imperialismo”, que estou a ler na versão espanhola. Trata-se de um ensaio de mais de 500 páginas originalmente publicado em 1993, no qual reflete sobre como, tantas vezes, a noção de império permanece ou está subjacente a grandes obras canónicas que nos habituamos a admirar.

Dividido em quatro partes – comecei a ler a segunda - o livro procura,numa primeira abordagem,demonstrar que ainda hoje, quando se equaciona a ideia de imperialismo e, por exemplo, se debate a aceitação, ou não, de que os EUA sejam uma potência imperial, há a tendência para centrar o debate em questões económicas e políticas. Com isso presta-se menos atenção ao que Said considera ser o papel privilegiado da cultura na experiência imperial moderna.

Entra aí a releitura de obras de escritores tão díspares como Daniel Defoe, Charles Dickens, Joseph Conrad, Richard Kipling, Jane Austen, André Gide e outros. Conrad, autor de “O Coração das Trevas”, é visto como percursor de outra visão do Terceiro Mundo “que encontramos na obra de narradores tão diferentes como Graham Green, V. S. Naipul e Robert Stone; de teóricos do imperialismo como Hanna Arendt; e de viajantes, cineastas e polemistas cuja especialidade é por o mundo não europeu à disposição, tanto das tarefas de análise e valorização, como da satisfação de audiências europeias e norte-americanas com gostos exóticos”. A tese de Eward E. Said – que suscitou polémica na altura da publicação do livro nos EUA – é a de que não obstante todo o seu humanismo, aqueles autores terão contribuído e refletido nas suas obras a visão imperial sobre o outro.

O foco de Said centra-se nas culturas francesa, inglesa e norte-americana para explorar a reminiscência do império na construção das respetivas identidades. Dito de outro modo, sustenta que mesmo podendo ser o império passado, a sua memória, a sua ideologia e prática política persiste com múltiplas ramificações no presente.

Sem paciência para as dicotomias entre o “nós” e os “outros”, o autor de “Orientalismo”, que mudou a percepção do Ocidente sobre o Oriente, subscreve a convicção expressa no século XIX pelo poeta Matthew Arnold de que a cultura, se não neutraliza, pelo menos amortece os estragos da nossa moderna existência humana, agressiva, mercantil e brutalizada. Assim, escreve, “lemos Dante Alighieri ou Shakespeare para poder continuar em contacto com o melhor que se conheceu e pensou e também para nos vermos a nós mesmos, ao nosso povo, à nossa tradição, sob as melhores luzes. Com o tempo, a cultura chega a associar-se, por vezes de maneira agressiva, com a noção de Estado; isto é o que ‘nos’ faz diferentes de ‘eles’, quase sempre com algum grau de xenofobia”.

Por estes dias tenho ouvido vezes sem conta o disco da angolana Anabela Aya. Vi-a ao vivo há dias em Cabo Verde, no Kriol Jazz Festival e pude usufruir de uma voz poderosa, com muito jazz, muito soul, muito gospel, que se derrama por inteiro em “Kuameleli”.

Quem ande pela área do Grande Porto tem à sua disposição o imenso, riquíssimo e imperdível festival Dias da Dança. O difícil é escolher. Mas esse é o exercício a que me dedicarei nos próximos dias.

Está concluído mais um Curto. Despeço-me com esta visão de dez maravilhas do Mundo que já não poderá voltar a ver tal como o foram. Tenha um bom dia e um bom fim de semana que, será de altas temperaturas.. Amanhã terá o Expresso nas bancas. Hoje tê-lo-à ao longo do dia nas plataformas digitais.

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