A beleza dos Parques Nacionais ameaçada pelas alterações climáticas

24-08-2018
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A beleza dos Parques Nacionais ameaçada pelas alterações climáticas

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ÁREA DE CONSERVAÇÃO DO VALE DE DANUM, Bornéu, Malásia

Incêndios florestais - Aqui vivem alguns dos animais mais ameaçados do planeta, como rinocerontes, orangotangos e panteras-nebulosas. Os incêndios vão arrasando grandes massas florestais na Malásia e na Indonésia, um fenómeno sazonal agora potenciado pela seca e pela agricultura de queima e corte. Fotografia Thomas Marent / Minden/ASA.

Em 2003, um grupo de investigadores da Universidade da Califórnia, começou a reconstituir as pegadas de Joseph Grinnell.

O zoólogo realizara levantamentos fanaticamente pormenorizados da vida selvagem em Yosemite e noutros parques da Califórnia, prevendo que o seu valor só seria “compreendido daqui a muitos anos, possivelmente dentro de um século”. Quando os investigadores de Berkely compararam os seus próprios levantamentos e outros dados recolhidos em Yosemite com o retrato captado por Grinnell há 90 anos, repararam que os domínios de vários mamíferos de pequeno porte se tinham deslocado significativamente para altitudes mais elevadas, em direcção às montanhas da Sierra Nevada. Dois outros mamíferos, em tempos comuns – um esquilo e um rato do campo –, estavam praticamente extintos no parque. O padrão era claro: as alterações climáticas tinham chegado também a Yosemite e os animais estavam a migrar para fugirem ao calor.

No Parque Nacional dos Glaciares, os painéis interpretativos fazem referências breves ao aumento das temperaturas. Os vigilantes da natureza evitam falar sobre as causas.

Durante algum tempo, o Serviço de Parques evitou abordar o assunto. O reconhecimento das alterações climáticas de origem humana era um gesto político e o Serviço de Parques não discute política com os seus visitantes. No Parque Nacional dos Glaciares, os painéis interpretativos fazem referências breves ao aumento das temperaturas. Os vigilantes da natureza evitam falar sobre as causas. “Fomos muito limitados”, recorda William Tweed, antigo chefe de interpretação nos PN Sequóias e Desfiladeiro de Kings. “A mensagem que recebemos foi, essencialmente: ‘Não falem nisso se puderem evitá-lo’.”

O problema, contudo, era muito mais profundo, ultrapassando as transitórias políticas públicas.Há muito que as pessoas visitam os parques nacionais para sentirem a eternidade – ter um vislumbre, por ilusório que seja, da natureza no seu estado estável e “incólume”. A verdade inconveniente das alterações climáticas tornou cada vez mais difícil ao Serviço de Parques proporcionar essa ilusão e ninguém sabia o que as áreas protegidas poderiam oferecer em sua substituição.

Há muito que as pessoas visitam os parques nacionais para sentirem a eternidade.

Quando Nate Stephenson tinha 6 anos, os seus pais ofereceram-lhe um par de botas e uma armação artesanal de madeira para a mochila e o saco-cama. Levaram-no, de mochila às costas, para uma caminhada no Parque Nacional do Desfiladeiro de Kings. Durante a maior parte dos 53 anos decorridos desde então, Nate passeia a pé pelas florestas antigas da Sierra Nevada. “São o centro do meu universo”, afirma. Pouco depois de se formar na Universidade da Califórnia, arrumou as malas no seu automóvel e viajou até ao Sul da Califórnia, onde trabalhou durante o Verão no Parque Nacional das Sequóias. Agora é investigador ecológico no local, estudando as mudanças ocorridas nas florestas do parque.

PARQUE NACIONAL DE NAMIB-NAUKLUFT, Namíbia

Seca - Esta região africana, extremamente árida e vasta, manteve-se estável durante gerações, mesmo com um escasso aporte hídrico. As alterações climáticas, porém, causam uma diminuição ainda maior da pluviosidade, um factor que afecta o equilíbrio instável de um ecossistema tão frágil. Fotografia Matthieu Colin / Hemis /GTRES.

Enquanto os gestores do parque se sentem frequentemente consumidos pelas crises imediatas, investigadores como Nate têm a flexibilidade e a responsabilidade de contemplar o futuro mais distante. Na década de 1990, esta visão de longo prazo começou a tornar-se extremamente perturbadora para ele. Nate sempre presumira que as florestas de sequóias e pinheiros à sua volta durariam muito mais tempo do que ele, mas quando considerou os possíveis efeitos da subida das temperaturas e da seca prolongada, ficou menos certo disso. Conseguiu ver a “vinheta da América primitiva” a dissolver-se num passado inacessível. Essa percepção mergulhou-o num pessimismo que durou muitos anos.

“Eu acreditava piamente na missão do Serviço de Parques”, recorda. “De repente, vi que a nossa missão não voltaria a ser a mesma. Já não podíamos usar o passado como meta de restauro – estávamos a entrar numa época em que não só era impossível, como até indesejável.”

Nate deu início àquilo que apelida de “espectáculo itinerante”, fazendo apresentações a colegas do Serviço de Parques sobre a necessidade de uma nova missão. Com uma certa malícia, propôs-lhes uma experiência imaginária: e se o Parque Nacional das Sequóias se tornasse demasiado quente e seco para as árvores que lhe dão o nome? Deveriam os gestores do parque, que supostamente devem deixar a natureza entregue ao seu próprio rumo, regar as sequóias para salvá-las? Deveriam começar a plantar rebentos de sequóia em climas mais frios e húmidos, incluindo fora dos limites do parque? Deveriam fazer ambas as coisas ou nenhuma?

Com uma certa malícia, propôs-lhes uma experiência imaginária: e se o Parque Nacional das Sequóias se tornasse demasiado quente e seco para as árvores que lhe dão o nome?

Os seus ouvintes contorceram-se. Leopold não lhes deixara respostas para este novo desafio.

Num dia de finais de Setembro no Parque Nacional das Sequóias, o céu apresenta-se azul e límpido, graças a um vento forte, livre do fumo do incêndio florestal que grassa do outro lado da crista da Sierra Nevada. Nate e a sua equipa de campo estão a concluir uma temporada de levantamentos florestais, acrescentando dados a um registo que já acumula décadas sobre a saúde da floresta naquela região. Nos seus locais de estudo de mais baixa altitude, abaixo do nível onde se erguem as sequóias, 16% das árvores morreram este ano, aproximadamente dez vezes o volume habitual de mortalidade florestal. “É mais ou menos o que veríamos num território consumido por um incêndio de baixa magnitude”, comenta Nate.

Enfraquecidas por longos anos de seca, muitas das árvores de baixa altitude estão a morrer também devido a pragas de insectos, circunstância que se regista igualmente em várias outras latitudes, incluindo na floresta portuguesa. Em altitudes mais elevadas, nas florestas de sequóias, várias gigantes antigas perderam algumas das suas agulhas num combate ao stress provocado pela seca e outras que já tinham sido flageladas por incêndios morreram mesmo.

Enfraquecidas por longos anos de seca, muitas das árvores de baixa altitude estão a morrer também devido a pragas de insectos.

“As sequóias até estão a aguentar-se relativamente bem. São os pinheiros, os abetos, os cedros que sofrem – é toda a floresta que está afectada”, explica Nate.

O problema das alterações climáticas é o seguinte: muitos efeitos são difíceis de prever. A temperatura média vai subir e a neve dará lugar à chuva, mas não é claro se a precipitação total irá aumentar ou diminuir ou se as alterações serão graduais ou abruptas. “Não sabemos como a acção vai desenrolar-se”, afirma Woody Smeck, superintendente dos PN Sequóias e Desfiladeiro de Kings. O Serviço de Parques já não consegue recriar o passado e não pode contar com um futuro garantido. Em vez disso, deve preparar-se para uma multiplicidade de futuros, muito diferentes entre si.

Em 2009, o director do Serviço de Parques Jonathan Jarvis reuniu uma comissão de peritos externos para reexaminar o Relatório Leopold. O documento resultante, “Relendo Leopold”, propôs um novo conjunto de objectivos para a agência. Em vez de vinhetas primitivas, o Serviço de Parques deveria gerir “uma mudança contínua e ainda não inteiramente compreendida”. Em vez de “paisagens ecológicas”, deveria esforçar-se por preservar “a integridade ecológica e a autenticidade cultural e histórica”. Em vez de panoramas estáticos, os visitantes teriam “experiências transformadoras”. E, talvez o mais importante, os parques “formariam o centro de uma paisagem de conservação nacional terrestre e marítima”. Seriam geridos não como ilhas, mas como parte de uma rede de terras protegidas.

PARQUE NATURAL DA RIA FORMOSA, Algarve, Portugal

Recuo da linha da costa - O aumento do nível do mar é uma consequência do aquecimento global e terá impactes distintos em várias latitudes do globo. Nesta área protegida algarvia, são previsíveis episódios de recuo da linha de costa e de migração das ilhas-barreira para o continente. A ameaçada população de cavalos-marinhos poderá não resistir. Fotografia Nuno Sá.

O relatório ainda não está a ser seguido como política oficial, mas é o mais claro reconhecimento até à data feito pela agência da ocorrência de mudanças nos parques e da necessidade de geri-las. A forma exacta que essa gestão assumirá ainda não é evidente e grande parte dos objectivos terão de ser individualmente determinados por factores científicos, políticos e financeiros.

Muitos parques esforçam-se por aumentar a sua tolerância à mudança, adaptando as suas próprias infra-estruturas e ajudando a sua flora e fauna a fazerem o mesmo.

Muitos parques esforçam-se por aumentar a sua tolerância à mudança, adaptando as suas próprias infra-estruturas e ajudando a sua flora e fauna a fazerem o mesmo. Na Orla Lacustre Nacional das Dunas de Indiana, investigadores estão a procurar microclimas mais frescos nos carvalhais para os quais o Serviço de Parques possa transportar a espécie ameaçada de borboleta Lycaeides melissa samuelis, praticamente erradicada do parque. No Parque Nacional dos Glaciares, os biólogos já começaram a transportar trutas da espécie Salvelinus confluentus para um lago situado a maior altitude, mais fresco, fora do seu domínio histórico. A ideia é proporcionar aos peixes um refúgio contra as alterações climáticas e uma espécie invasora.

No Parque Nacional das Sequóias, Nate pretende que os directores do parque considerem a plantação de rebentos de sequóia numa zona mais alta e fresca do parque para observar o comportamento dos rebentos e também a reacção pública à realização de experiências com estas árvores emblemáticas. “Temos de começar a fazer experiências”, diz.

“A resposta é afirmativa. Talvez não da mesma maneira e talvez não cheguem lá da mesma maneira. Mas ainda poderão desfrutar deles.”

A beleza dos Parques Nacionais ameaçada pelas alterações climáticas

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ÁREA DE CONSERVAÇÃO DO VALE DE DANUM, Bornéu, Malásia

Incêndios florestais - Aqui vivem alguns dos animais mais ameaçados do planeta, como rinocerontes, orangotangos e panteras-nebulosas. Os incêndios vão arrasando grandes massas florestais na Malásia e na Indonésia, um fenómeno sazonal agora potenciado pela seca e pela agricultura de queima e corte. Fotografia Thomas Marent / Minden/ASA.

Em 2003, um grupo de investigadores da Universidade da Califórnia, começou a reconstituir as pegadas de Joseph Grinnell.

O zoólogo realizara levantamentos fanaticamente pormenorizados da vida selvagem em Yosemite e noutros parques da Califórnia, prevendo que o seu valor só seria “compreendido daqui a muitos anos, possivelmente dentro de um século”. Quando os investigadores de Berkely compararam os seus próprios levantamentos e outros dados recolhidos em Yosemite com o retrato captado por Grinnell há 90 anos, repararam que os domínios de vários mamíferos de pequeno porte se tinham deslocado significativamente para altitudes mais elevadas, em direcção às montanhas da Sierra Nevada. Dois outros mamíferos, em tempos comuns – um esquilo e um rato do campo –, estavam praticamente extintos no parque. O padrão era claro: as alterações climáticas tinham chegado também a Yosemite e os animais estavam a migrar para fugirem ao calor.

No Parque Nacional dos Glaciares, os painéis interpretativos fazem referências breves ao aumento das temperaturas. Os vigilantes da natureza evitam falar sobre as causas.

Durante algum tempo, o Serviço de Parques evitou abordar o assunto. O reconhecimento das alterações climáticas de origem humana era um gesto político e o Serviço de Parques não discute política com os seus visitantes. No Parque Nacional dos Glaciares, os painéis interpretativos fazem referências breves ao aumento das temperaturas. Os vigilantes da natureza evitam falar sobre as causas. “Fomos muito limitados”, recorda William Tweed, antigo chefe de interpretação nos PN Sequóias e Desfiladeiro de Kings. “A mensagem que recebemos foi, essencialmente: ‘Não falem nisso se puderem evitá-lo’.”

O problema, contudo, era muito mais profundo, ultrapassando as transitórias políticas públicas.Há muito que as pessoas visitam os parques nacionais para sentirem a eternidade – ter um vislumbre, por ilusório que seja, da natureza no seu estado estável e “incólume”. A verdade inconveniente das alterações climáticas tornou cada vez mais difícil ao Serviço de Parques proporcionar essa ilusão e ninguém sabia o que as áreas protegidas poderiam oferecer em sua substituição.

Há muito que as pessoas visitam os parques nacionais para sentirem a eternidade.

Quando Nate Stephenson tinha 6 anos, os seus pais ofereceram-lhe um par de botas e uma armação artesanal de madeira para a mochila e o saco-cama. Levaram-no, de mochila às costas, para uma caminhada no Parque Nacional do Desfiladeiro de Kings. Durante a maior parte dos 53 anos decorridos desde então, Nate passeia a pé pelas florestas antigas da Sierra Nevada. “São o centro do meu universo”, afirma. Pouco depois de se formar na Universidade da Califórnia, arrumou as malas no seu automóvel e viajou até ao Sul da Califórnia, onde trabalhou durante o Verão no Parque Nacional das Sequóias. Agora é investigador ecológico no local, estudando as mudanças ocorridas nas florestas do parque.

PARQUE NACIONAL DE NAMIB-NAUKLUFT, Namíbia

Seca - Esta região africana, extremamente árida e vasta, manteve-se estável durante gerações, mesmo com um escasso aporte hídrico. As alterações climáticas, porém, causam uma diminuição ainda maior da pluviosidade, um factor que afecta o equilíbrio instável de um ecossistema tão frágil. Fotografia Matthieu Colin / Hemis /GTRES.

Enquanto os gestores do parque se sentem frequentemente consumidos pelas crises imediatas, investigadores como Nate têm a flexibilidade e a responsabilidade de contemplar o futuro mais distante. Na década de 1990, esta visão de longo prazo começou a tornar-se extremamente perturbadora para ele. Nate sempre presumira que as florestas de sequóias e pinheiros à sua volta durariam muito mais tempo do que ele, mas quando considerou os possíveis efeitos da subida das temperaturas e da seca prolongada, ficou menos certo disso. Conseguiu ver a “vinheta da América primitiva” a dissolver-se num passado inacessível. Essa percepção mergulhou-o num pessimismo que durou muitos anos.

“Eu acreditava piamente na missão do Serviço de Parques”, recorda. “De repente, vi que a nossa missão não voltaria a ser a mesma. Já não podíamos usar o passado como meta de restauro – estávamos a entrar numa época em que não só era impossível, como até indesejável.”

Nate deu início àquilo que apelida de “espectáculo itinerante”, fazendo apresentações a colegas do Serviço de Parques sobre a necessidade de uma nova missão. Com uma certa malícia, propôs-lhes uma experiência imaginária: e se o Parque Nacional das Sequóias se tornasse demasiado quente e seco para as árvores que lhe dão o nome? Deveriam os gestores do parque, que supostamente devem deixar a natureza entregue ao seu próprio rumo, regar as sequóias para salvá-las? Deveriam começar a plantar rebentos de sequóia em climas mais frios e húmidos, incluindo fora dos limites do parque? Deveriam fazer ambas as coisas ou nenhuma?

Com uma certa malícia, propôs-lhes uma experiência imaginária: e se o Parque Nacional das Sequóias se tornasse demasiado quente e seco para as árvores que lhe dão o nome?

Os seus ouvintes contorceram-se. Leopold não lhes deixara respostas para este novo desafio.

Num dia de finais de Setembro no Parque Nacional das Sequóias, o céu apresenta-se azul e límpido, graças a um vento forte, livre do fumo do incêndio florestal que grassa do outro lado da crista da Sierra Nevada. Nate e a sua equipa de campo estão a concluir uma temporada de levantamentos florestais, acrescentando dados a um registo que já acumula décadas sobre a saúde da floresta naquela região. Nos seus locais de estudo de mais baixa altitude, abaixo do nível onde se erguem as sequóias, 16% das árvores morreram este ano, aproximadamente dez vezes o volume habitual de mortalidade florestal. “É mais ou menos o que veríamos num território consumido por um incêndio de baixa magnitude”, comenta Nate.

Enfraquecidas por longos anos de seca, muitas das árvores de baixa altitude estão a morrer também devido a pragas de insectos, circunstância que se regista igualmente em várias outras latitudes, incluindo na floresta portuguesa. Em altitudes mais elevadas, nas florestas de sequóias, várias gigantes antigas perderam algumas das suas agulhas num combate ao stress provocado pela seca e outras que já tinham sido flageladas por incêndios morreram mesmo.

Enfraquecidas por longos anos de seca, muitas das árvores de baixa altitude estão a morrer também devido a pragas de insectos.

“As sequóias até estão a aguentar-se relativamente bem. São os pinheiros, os abetos, os cedros que sofrem – é toda a floresta que está afectada”, explica Nate.

O problema das alterações climáticas é o seguinte: muitos efeitos são difíceis de prever. A temperatura média vai subir e a neve dará lugar à chuva, mas não é claro se a precipitação total irá aumentar ou diminuir ou se as alterações serão graduais ou abruptas. “Não sabemos como a acção vai desenrolar-se”, afirma Woody Smeck, superintendente dos PN Sequóias e Desfiladeiro de Kings. O Serviço de Parques já não consegue recriar o passado e não pode contar com um futuro garantido. Em vez disso, deve preparar-se para uma multiplicidade de futuros, muito diferentes entre si.

Em 2009, o director do Serviço de Parques Jonathan Jarvis reuniu uma comissão de peritos externos para reexaminar o Relatório Leopold. O documento resultante, “Relendo Leopold”, propôs um novo conjunto de objectivos para a agência. Em vez de vinhetas primitivas, o Serviço de Parques deveria gerir “uma mudança contínua e ainda não inteiramente compreendida”. Em vez de “paisagens ecológicas”, deveria esforçar-se por preservar “a integridade ecológica e a autenticidade cultural e histórica”. Em vez de panoramas estáticos, os visitantes teriam “experiências transformadoras”. E, talvez o mais importante, os parques “formariam o centro de uma paisagem de conservação nacional terrestre e marítima”. Seriam geridos não como ilhas, mas como parte de uma rede de terras protegidas.

PARQUE NATURAL DA RIA FORMOSA, Algarve, Portugal

Recuo da linha da costa - O aumento do nível do mar é uma consequência do aquecimento global e terá impactes distintos em várias latitudes do globo. Nesta área protegida algarvia, são previsíveis episódios de recuo da linha de costa e de migração das ilhas-barreira para o continente. A ameaçada população de cavalos-marinhos poderá não resistir. Fotografia Nuno Sá.

O relatório ainda não está a ser seguido como política oficial, mas é o mais claro reconhecimento até à data feito pela agência da ocorrência de mudanças nos parques e da necessidade de geri-las. A forma exacta que essa gestão assumirá ainda não é evidente e grande parte dos objectivos terão de ser individualmente determinados por factores científicos, políticos e financeiros.

Muitos parques esforçam-se por aumentar a sua tolerância à mudança, adaptando as suas próprias infra-estruturas e ajudando a sua flora e fauna a fazerem o mesmo.

Muitos parques esforçam-se por aumentar a sua tolerância à mudança, adaptando as suas próprias infra-estruturas e ajudando a sua flora e fauna a fazerem o mesmo. Na Orla Lacustre Nacional das Dunas de Indiana, investigadores estão a procurar microclimas mais frescos nos carvalhais para os quais o Serviço de Parques possa transportar a espécie ameaçada de borboleta Lycaeides melissa samuelis, praticamente erradicada do parque. No Parque Nacional dos Glaciares, os biólogos já começaram a transportar trutas da espécie Salvelinus confluentus para um lago situado a maior altitude, mais fresco, fora do seu domínio histórico. A ideia é proporcionar aos peixes um refúgio contra as alterações climáticas e uma espécie invasora.

No Parque Nacional das Sequóias, Nate pretende que os directores do parque considerem a plantação de rebentos de sequóia numa zona mais alta e fresca do parque para observar o comportamento dos rebentos e também a reacção pública à realização de experiências com estas árvores emblemáticas. “Temos de começar a fazer experiências”, diz.

“A resposta é afirmativa. Talvez não da mesma maneira e talvez não cheguem lá da mesma maneira. Mas ainda poderão desfrutar deles.”

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