PS a votos. Não há segurismo, mas há Seguro

06-03-2016
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A última vez que o PS foi a votos foi no tempo da grande guerra. Da grande guerra interna que opôs António Costa e António José Seguro e, com eles, 19 federações distritais do partido. No final a conta foi à tangente, a dias das eleições primárias que escolheriam o candidato do PS a primeiro-ministro, Costa contava 10 espingardas (federações ganhas por socialistas que o apoiavam), Seguro 9. Esta sexta e sábado, o PS vai a votos outra vez, mas a direção nacional garante que essa guerra “já passou”. Ainda assim, há Seguro. Um Seguro.

A disputa eleitoral só existe em cinco federações, nas restantes há apenas um candidato, que na maioria das vezes é o atual presidente de federação. A taxa de renovação garantida está na ordem dos 37% (sete em 19 federações). Há uma única federação, Setúbal, onde o atual líder tem oposição, a de Seguro. Carlos Dias Seguro concorre contra Carlos Mendes, que sucedeu à irmã, Ana Catarina Mendes, quando esta passou a secretária-geral adjunta do PS.

Dias Seguro não tem nada a ver com o anterior líder do PS, mas comunga de críticas semelhantes às do outro Seguro, ainda que a nível distrital. Quando lançou a candidatura manifestou-se “sobretudo” contra “a divisão interna causada principalmente por interesses familiares e pessoais, que se colocam muitas vezes à frente dos interesses da população, do país e do PS” que, escreveu no Facebook, “irão ter irreversivelmente os dias contados.

“Resquícios” do segurismo

Da guerra de setembro de 2014, resta pouco. “Resquícios”, resume um antigo apoiante de António José Seguro. Hugo Pires, o secretário-nacional para a organização diz ao Observador que a questão seguristas/costistas “já não se coloca”, “a altura da disputa interna já passou e todos os dirigentes estão concentrados em fazer um bom trabalho nas autárquicas e no apoio ao governo”.

É este pelo menos o caminho apontado pelo ponteiro oficial, ainda assim, nas cinco federações onde há disputa, três têm oposição ao poder instalado, além da já apontada, em Setúbal. A direção garante que “o espírito [de divisão] não está subjacente a nenhuma das candidaturas”. Mas o histórico de apoios está lá. Em Leiria, António Sales (apoiante do antigo líder do PS), enfrenta Odete João (da maioria). Em Viana do Castelo, o costista presidente da Câmara de Caminha, Miguel Alves, concorre contra José Emílio Viana, que tem apoiantes do anterior secretário-geral, caso do presidente da Câmara de Viana e Rui Solheiro. Na Guarda, António Saraiva (do lado Costa) tem concorrência em Eduardo Brito. E há um quinto conflito, em Évora, que opõe duas figuras que apoiaram António Costa: Norberto Patinho e Florbela Fernandes.

Mas onde a temperatura das eleições federativas está mais elevada é onde não vão existir. Em Coimbra, o ato eleitoral foi suspenso pela direção nacional do partido, para resolver um caso que já existe desde 2011, altura em que um dirigente socialista denunciou a existência de cerca de mil militantes-fantasma inscritos no partido. A denúncia foi feita por Catarina Martins, uma militante que atribuía as culpas diretamente ao presidente da federação Pedro Coimbra (da fação do anterior líder do PS). A única consequência na altura foi a expulsão da denunciante.

Agora, cinco anos depois, Hugo Pires diz que o PS recebeu do Ministério Público (que investigou o caso) a relação das fichas dos militantes irregulares. “Decidimos, para o processo ser totalmente transparente, passar a pente fino os cadernos eleitorais”. O secretário nacional para a organização garante ainda que “nas próximas semanas tudo estará resolvido” e que só aí poderão ser marcadas as eleições para aquela federação distrital.

Objetivo: autárquicas

A importância desta reorganização de poderes ao nível distrital tem reação direta com o calendário eleitoral. Com mandatos de dois anos, os líderes do PS nos vários distritos têm pela frente um desafio de peso: as autárquicas de 2017. “O PS está concentrado e empenhado a fundo para ter o maior número de câmaras no país”, diz Hugo Pires.

A fasquia está elevada, já que em 2013 os socialistas bateram um recorde que António José Seguro, então líder, resumiu logo na noite eleitoral: “Esta é a maior vitória de sempre que um partido político alcançou em eleições autárquicas. O PS tinha estabelecido ganhar estas eleições em número de votos, mas também conseguiu obter o maior número de câmaras municipais – e o maior número de câmaras municipais que um partido político já alcançou em Portugal”. Foram 150 câmaras.

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A última vez que o PS foi a votos foi no tempo da grande guerra. Da grande guerra interna que opôs António Costa e António José Seguro e, com eles, 19 federações distritais do partido. No final a conta foi à tangente, a dias das eleições primárias que escolheriam o candidato do PS a primeiro-ministro, Costa contava 10 espingardas (federações ganhas por socialistas que o apoiavam), Seguro 9. Esta sexta e sábado, o PS vai a votos outra vez, mas a direção nacional garante que essa guerra “já passou”. Ainda assim, há Seguro. Um Seguro.

A disputa eleitoral só existe em cinco federações, nas restantes há apenas um candidato, que na maioria das vezes é o atual presidente de federação. A taxa de renovação garantida está na ordem dos 37% (sete em 19 federações). Há uma única federação, Setúbal, onde o atual líder tem oposição, a de Seguro. Carlos Dias Seguro concorre contra Carlos Mendes, que sucedeu à irmã, Ana Catarina Mendes, quando esta passou a secretária-geral adjunta do PS.

Dias Seguro não tem nada a ver com o anterior líder do PS, mas comunga de críticas semelhantes às do outro Seguro, ainda que a nível distrital. Quando lançou a candidatura manifestou-se “sobretudo” contra “a divisão interna causada principalmente por interesses familiares e pessoais, que se colocam muitas vezes à frente dos interesses da população, do país e do PS” que, escreveu no Facebook, “irão ter irreversivelmente os dias contados.

“Resquícios” do segurismo

Da guerra de setembro de 2014, resta pouco. “Resquícios”, resume um antigo apoiante de António José Seguro. Hugo Pires, o secretário-nacional para a organização diz ao Observador que a questão seguristas/costistas “já não se coloca”, “a altura da disputa interna já passou e todos os dirigentes estão concentrados em fazer um bom trabalho nas autárquicas e no apoio ao governo”.

É este pelo menos o caminho apontado pelo ponteiro oficial, ainda assim, nas cinco federações onde há disputa, três têm oposição ao poder instalado, além da já apontada, em Setúbal. A direção garante que “o espírito [de divisão] não está subjacente a nenhuma das candidaturas”. Mas o histórico de apoios está lá. Em Leiria, António Sales (apoiante do antigo líder do PS), enfrenta Odete João (da maioria). Em Viana do Castelo, o costista presidente da Câmara de Caminha, Miguel Alves, concorre contra José Emílio Viana, que tem apoiantes do anterior secretário-geral, caso do presidente da Câmara de Viana e Rui Solheiro. Na Guarda, António Saraiva (do lado Costa) tem concorrência em Eduardo Brito. E há um quinto conflito, em Évora, que opõe duas figuras que apoiaram António Costa: Norberto Patinho e Florbela Fernandes.

Mas onde a temperatura das eleições federativas está mais elevada é onde não vão existir. Em Coimbra, o ato eleitoral foi suspenso pela direção nacional do partido, para resolver um caso que já existe desde 2011, altura em que um dirigente socialista denunciou a existência de cerca de mil militantes-fantasma inscritos no partido. A denúncia foi feita por Catarina Martins, uma militante que atribuía as culpas diretamente ao presidente da federação Pedro Coimbra (da fação do anterior líder do PS). A única consequência na altura foi a expulsão da denunciante.

Agora, cinco anos depois, Hugo Pires diz que o PS recebeu do Ministério Público (que investigou o caso) a relação das fichas dos militantes irregulares. “Decidimos, para o processo ser totalmente transparente, passar a pente fino os cadernos eleitorais”. O secretário nacional para a organização garante ainda que “nas próximas semanas tudo estará resolvido” e que só aí poderão ser marcadas as eleições para aquela federação distrital.

Objetivo: autárquicas

A importância desta reorganização de poderes ao nível distrital tem reação direta com o calendário eleitoral. Com mandatos de dois anos, os líderes do PS nos vários distritos têm pela frente um desafio de peso: as autárquicas de 2017. “O PS está concentrado e empenhado a fundo para ter o maior número de câmaras no país”, diz Hugo Pires.

A fasquia está elevada, já que em 2013 os socialistas bateram um recorde que António José Seguro, então líder, resumiu logo na noite eleitoral: “Esta é a maior vitória de sempre que um partido político alcançou em eleições autárquicas. O PS tinha estabelecido ganhar estas eleições em número de votos, mas também conseguiu obter o maior número de câmaras municipais – e o maior número de câmaras municipais que um partido político já alcançou em Portugal”. Foram 150 câmaras.

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