Maria Begonha diz estar a ser alvo de “estratégia de intimidação”

12-12-2018
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A candidata única à liderança da JS, Maria Begonha, respondeu aos erros no currículo, às falsas informações prestadas à Câmara Municipal de Lisboa e à investigação do Ministério Público, ao dizer que tudo não passa de uma cabala. Maria Begonha escreve, numa mensagem publicada no Facebook na terça-feira à noite, que os seus opositores políticos estão a utilizar “todos os recursos de ataques de carácter, ajudando a propagar o que foi uma mensagem falsa e distorcida“. No mesmo texto — apesar de o contrato e a presidente da junta a desmentir — volta a negar ter prestado falsas declarações no currículo e resume tudo a uma teoria da conspiração a que chama de “estratégia de intimidação.”

Quanto aos problemas da candidatura, Maria Begonha começa por dizer “todos sabemos a história: começou pelos erros da nota biográfica publicada no site da candidatura – erros esses que assumimos imediatamente — e dos quais foi feito aproveitamento mediático e político”. Neste caso, a candidata à liderança da JS refere-se à primeira notícia — noticiada pelo Observador e pelo Público — em que colocou na biografia da candidatura que tinha um mestrado em Ciência Política quando na verdade não o tinha concluído.

Neste caso do falso mestrado, quem foi sacrificado foi o diretor de campanha de Maria Begonha, que assumiu a culpa pelos erros. A candidata alegou que não foi ela a colocar as informações no site. No entanto, esqueceu-se sempre de referir, que tinha a mesma informação no seu Linkedin pessoal, que terá sido, naturalmente, preenchido pela própria. E agora, nesta longa explicação, volta a ignorar esse detalhe.

Depois disso, continua a escrever no post, Maria Begonha diz que “sucedeu-se uma exploração falsa, injuriosa e inaceitável” sobre o seu “percurso profissional” e os seus “salários”. O que Maria Begonha diz ser uma “exploração falsa” são contratos publicitados no site Base.gov, em que em quatro anos ganhou 140 mil euros em avenças da câmara de Lisboa e da junta de Benfica, chegando a ganhar 3.752 euros por mês, aos quais acrescia IVA para os cofres públicos.

Num outro ponto, Maria Begonha volta a negar ter prestado falsas declarações: “A estratégia é de intimidação e de que tenho algo a temer a propósito de supostas falsas declarações dadas no meu currículo.”A candidata à liderança da JS diz ainda que será “muito clara e frontal a este respeito”, e garante: “Não falseei qualquer declaração no meu currículo. Desempenhei durante dois anos funções políticas na Junta de Freguesia de Benfica. Cumpri o meu contrato e desempenhei funções de assessoria política que valorizei no meu currículo como uma experiência fundamental“.

Maria Begonha tenta aqui apresentar uma linha de argumentação para o Ministério Público, mas enfrenta um problema: os factos. O Observador consultou o processo nos serviços camarários e a candidata à liderança da JS coloca de forma clara que foi “assessora de Políticas Públicas e Desenvolvimento de Projetos Autárquicos na junta de freguesia de Benfica.” Mas nunca ocupou essas funções.

Foi a própria presidente da junta de freguesia de Benfica, Inês Drummond, que confirma ao Observador que Maria Begonha “nunca foi assessora na junta nessa área e nunca desempenhou esse tipo de funções, a única função que ocupou é a que está no site Base.gov, de apoio ao secretariado”. Inês Drummond — que até é da mesma cor política de Begonha, o PS — exemplifica que o que Maria Begonha fazia na junta era, por exemplo, “responder a emails dos fregueses”. As declarações da autarca e deputada socialista provam que Maria Begonha mentiu no currículo entregue à câmara.

Além disso, Maria Begonha não poderia alegar que desconhecia as funções que ocupou, já que o contrato que assinou na junta de freguesia de Benfica é claro quanto às funções que ia desempenhar: “Prestação de serviços de apoio ao secretariado“. No objeto do contrato é claro que Maria Begonha prestou serviços de “apoio ao secretariado” e não que foi assessora para as Políticas Públicas e Autárquicas.

Quanto ao processo do Ministério Público, Maria Begonha diz que foi “informada pela comunicação social que um ex-militante da JS com historial de oposição política e pessoal contra os projetos que protagonizo apresentou uma queixa ao Ministério Público”. Maria Begonha está aqui a ser factual: como noticiou o Expresso, foi o militante Gustavo Ambrósio a apresentar a queixa que deu origem à investigação. De qualquer forma, o MP podia ter decidido arquivar e, como faz habitualmente, decidiu investigar. Além disso, no artigo publicado no Observador sobre as falsas declarações, um especialista em Direito Administrativo defende que, perante os factos, dificilmente Maria Begonha se salvaria de um procedimento criminal.

Maria Begonha fala depois, na sua defesa no Facebook, que “também o Congresso e os órgãos da Juventude Socialista foram atacados sobre a presunção injustificada e alegações falsas sobre incumprimento dos Estatutos”. Mais uma vez, a presunção não parece tão injustificada assim, já que, segundo noticiou esta quarta-feira o Público, o Conselho de Jurisdição da JS admitiu que havia razões para impugnar o congresso, mas queixa chegou tarde de mais.

A candidata fala ainda em “cartazes difamatórios” sobre os quais recorreu a “uma queixa na Policia de Segurança Pública”. Os cartazes não tinham sido, até agora, noticiados por nenhum órgão de comunicação social, ficando apenas em grupos de WhatsApp trocados pelos “jotas”. É Maria Begonha que ajuda a recuperara o assunto. O Observador teve acesso à imagem de um desses cartazes, colocado junto à sede do PS no Largo do Rato, em Lisboa.

No mesmo post no Facebook, Maria Begonha lança depois uma mensagem para dentro da JS para que não se deixem influenciar pelas figuras do partido que a criticaram: “Temos certamente referências no nosso passado – algumas históricas e outras recentes com quem partilho campos de solidariedade política ou proximidade ideológica – mas os militantes da JS sabem que são apenas eles que decidem, votam e escrutinam os seus destinos com audácia, coragem e o seu sentido de mérito e responsabilidade, que lhes confere toda a legitimidade democrática para convergir ou divergir, em liberdade”.

Maria Begonha diz ainda que tem “coragem para assumir os momentos difíceis que a estrutura de que faço parte e me proponho a liderar tem passado quando os ataques se sucedem à minha candidatura” e deixa aos “militantes da JS” uma “mensagem de orgulho para com a sua resiliência, mas acima de tudo, para que mantenham a força que temos demonstrado em não responder a ataques violentos e desqualificados com nada a não ser elevação e a defesa da nossa candidatura e da nossa estrutura“.

A candidata da JS explica assim que continuará até ao fim, apesar das pressões de que tem sido alvo para abandonar a corrida.

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A candidata única à liderança da JS, Maria Begonha, respondeu aos erros no currículo, às falsas informações prestadas à Câmara Municipal de Lisboa e à investigação do Ministério Público, ao dizer que tudo não passa de uma cabala. Maria Begonha escreve, numa mensagem publicada no Facebook na terça-feira à noite, que os seus opositores políticos estão a utilizar “todos os recursos de ataques de carácter, ajudando a propagar o que foi uma mensagem falsa e distorcida“. No mesmo texto — apesar de o contrato e a presidente da junta a desmentir — volta a negar ter prestado falsas declarações no currículo e resume tudo a uma teoria da conspiração a que chama de “estratégia de intimidação.”

Quanto aos problemas da candidatura, Maria Begonha começa por dizer “todos sabemos a história: começou pelos erros da nota biográfica publicada no site da candidatura – erros esses que assumimos imediatamente — e dos quais foi feito aproveitamento mediático e político”. Neste caso, a candidata à liderança da JS refere-se à primeira notícia — noticiada pelo Observador e pelo Público — em que colocou na biografia da candidatura que tinha um mestrado em Ciência Política quando na verdade não o tinha concluído.

Neste caso do falso mestrado, quem foi sacrificado foi o diretor de campanha de Maria Begonha, que assumiu a culpa pelos erros. A candidata alegou que não foi ela a colocar as informações no site. No entanto, esqueceu-se sempre de referir, que tinha a mesma informação no seu Linkedin pessoal, que terá sido, naturalmente, preenchido pela própria. E agora, nesta longa explicação, volta a ignorar esse detalhe.

Depois disso, continua a escrever no post, Maria Begonha diz que “sucedeu-se uma exploração falsa, injuriosa e inaceitável” sobre o seu “percurso profissional” e os seus “salários”. O que Maria Begonha diz ser uma “exploração falsa” são contratos publicitados no site Base.gov, em que em quatro anos ganhou 140 mil euros em avenças da câmara de Lisboa e da junta de Benfica, chegando a ganhar 3.752 euros por mês, aos quais acrescia IVA para os cofres públicos.

Num outro ponto, Maria Begonha volta a negar ter prestado falsas declarações: “A estratégia é de intimidação e de que tenho algo a temer a propósito de supostas falsas declarações dadas no meu currículo.”A candidata à liderança da JS diz ainda que será “muito clara e frontal a este respeito”, e garante: “Não falseei qualquer declaração no meu currículo. Desempenhei durante dois anos funções políticas na Junta de Freguesia de Benfica. Cumpri o meu contrato e desempenhei funções de assessoria política que valorizei no meu currículo como uma experiência fundamental“.

Maria Begonha tenta aqui apresentar uma linha de argumentação para o Ministério Público, mas enfrenta um problema: os factos. O Observador consultou o processo nos serviços camarários e a candidata à liderança da JS coloca de forma clara que foi “assessora de Políticas Públicas e Desenvolvimento de Projetos Autárquicos na junta de freguesia de Benfica.” Mas nunca ocupou essas funções.

Foi a própria presidente da junta de freguesia de Benfica, Inês Drummond, que confirma ao Observador que Maria Begonha “nunca foi assessora na junta nessa área e nunca desempenhou esse tipo de funções, a única função que ocupou é a que está no site Base.gov, de apoio ao secretariado”. Inês Drummond — que até é da mesma cor política de Begonha, o PS — exemplifica que o que Maria Begonha fazia na junta era, por exemplo, “responder a emails dos fregueses”. As declarações da autarca e deputada socialista provam que Maria Begonha mentiu no currículo entregue à câmara.

Além disso, Maria Begonha não poderia alegar que desconhecia as funções que ocupou, já que o contrato que assinou na junta de freguesia de Benfica é claro quanto às funções que ia desempenhar: “Prestação de serviços de apoio ao secretariado“. No objeto do contrato é claro que Maria Begonha prestou serviços de “apoio ao secretariado” e não que foi assessora para as Políticas Públicas e Autárquicas.

Quanto ao processo do Ministério Público, Maria Begonha diz que foi “informada pela comunicação social que um ex-militante da JS com historial de oposição política e pessoal contra os projetos que protagonizo apresentou uma queixa ao Ministério Público”. Maria Begonha está aqui a ser factual: como noticiou o Expresso, foi o militante Gustavo Ambrósio a apresentar a queixa que deu origem à investigação. De qualquer forma, o MP podia ter decidido arquivar e, como faz habitualmente, decidiu investigar. Além disso, no artigo publicado no Observador sobre as falsas declarações, um especialista em Direito Administrativo defende que, perante os factos, dificilmente Maria Begonha se salvaria de um procedimento criminal.

Maria Begonha fala depois, na sua defesa no Facebook, que “também o Congresso e os órgãos da Juventude Socialista foram atacados sobre a presunção injustificada e alegações falsas sobre incumprimento dos Estatutos”. Mais uma vez, a presunção não parece tão injustificada assim, já que, segundo noticiou esta quarta-feira o Público, o Conselho de Jurisdição da JS admitiu que havia razões para impugnar o congresso, mas queixa chegou tarde de mais.

A candidata fala ainda em “cartazes difamatórios” sobre os quais recorreu a “uma queixa na Policia de Segurança Pública”. Os cartazes não tinham sido, até agora, noticiados por nenhum órgão de comunicação social, ficando apenas em grupos de WhatsApp trocados pelos “jotas”. É Maria Begonha que ajuda a recuperara o assunto. O Observador teve acesso à imagem de um desses cartazes, colocado junto à sede do PS no Largo do Rato, em Lisboa.

No mesmo post no Facebook, Maria Begonha lança depois uma mensagem para dentro da JS para que não se deixem influenciar pelas figuras do partido que a criticaram: “Temos certamente referências no nosso passado – algumas históricas e outras recentes com quem partilho campos de solidariedade política ou proximidade ideológica – mas os militantes da JS sabem que são apenas eles que decidem, votam e escrutinam os seus destinos com audácia, coragem e o seu sentido de mérito e responsabilidade, que lhes confere toda a legitimidade democrática para convergir ou divergir, em liberdade”.

Maria Begonha diz ainda que tem “coragem para assumir os momentos difíceis que a estrutura de que faço parte e me proponho a liderar tem passado quando os ataques se sucedem à minha candidatura” e deixa aos “militantes da JS” uma “mensagem de orgulho para com a sua resiliência, mas acima de tudo, para que mantenham a força que temos demonstrado em não responder a ataques violentos e desqualificados com nada a não ser elevação e a defesa da nossa candidatura e da nossa estrutura“.

A candidata da JS explica assim que continuará até ao fim, apesar das pressões de que tem sido alvo para abandonar a corrida.

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